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terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Quinta-feira da 6ª semana do Tempo Comum

1ª Leitura (Gen 9,1-13): Deus abençoou Noé e os seus filhos, dizendo: «Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra. Sereis temidos e respeitados por todos os animais da terra, por todas as aves do céu, por tudo quanto rasteja sobre a terra e por todos os peixes do mar: sujeito-os ao vosso poder. Tudo quanto tem movimento e vida vos servirá de alimento; tudo isso vos dou, como vos dei a verdura das plantas. Mas não comereis carne com vida, isto é, com sangue. Do vosso sangue, que é a vossa vida, Eu pedirei contas a todos os animais e pedirei contas ao homem; a cada um pedirei contas da vida de seu irmão. Eu pedirei contas da vida humana. Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem será o seu sangue derramado, porque Deus fez o homem à sua imagem. Quanto a vós, sede fecundos e multiplicai-vos, povoai e dominai a terra. Deus disse a Noé e a seus filhos: «Estabelecerei a minha aliança convosco, com a vossa descendência e com  todos os seres vivos que vos acompanham: as aves, os animais domésticos, os animais selvagens que estão convosco, todos quantos saíram da arca e agora vivem na terra. Estabelecerei convosco a minha aliança: de hoje em diante nenhuma criatura será exterminada pelas águas do dilúvio e nunca mais um dilúvio devastará a terra». Deus disse ainda: «Este é o sinal da aliança que estabeleço convosco e com todos os animais que vivem entre vós, por todas as gerações futuras: farei aparecer o meu arco sobre as nuvens, que será um sinal da aliança entre Mim e a terra».

Salmo Responsorial: 101
R. Do alto do Céu, o Senhor olhou para a terra.

Os povos temerão, Senhor, o vosso nome, todos os reis da terra a vossa glória. Quando o Senhor reconstruir Sião e manifestar a sua glória, atenderá a súplica do infeliz e não desprezará a sua oração.

Escreva-se tudo isto para as gerações vindouras e o povo que se há- de formar louvará o Senhor. Debruçou-Se do alto da sua morada, lá do Céu o Senhor olhou para a terra, para ouvir os gemidos dos cativos, para libertar os condenados à morte.

Os filhos dos vossos servos hão de permanecer e a sua descendência se perpetuará na vossa presença, para ser proclamado em Sião o nome do Senhor e em Jerusalém o seu louvor, quando se reunirem todos os reinos para servirem o Senhor.

Aleluia. As vossas palavras, Senhor, são Espírito e vida: Vós tendes palavras de vida eterna. Aleluia.

Evangelho (Mc 8,27-33): Jesus e seus discípulos partiram para os povoados de Cesareia de Filipe. No caminho, ele perguntou aos discípulos: «Quem dizem as pessoas que eu sou?». Eles responderam: «Uns dizem João Batista; outros, Elias; outros ainda, um dos profetas». Jesus, então, perguntou: «E vós, quem dizeis que eu sou? ». Pedro respondeu: «Tu és o Cristo». E Jesus os advertiu para que não contassem isso a ninguém. E começou a ensinar-lhes que era necessário o Filho do Homem sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, depois de três dias, ressuscitar. Falava isso abertamente. Então, Pedro, chamando-o de lado, começou a censurá-lo. Jesus, porém, voltou-se e, vendo os seus discípulos, repreendeu Pedro, dizendo: «Vai para trás de mim, satanás! Pois não tens em mente as coisas de Deus, e sim, as dos homens!».

«Quem dizem as pessoas que eu sou? (…) E vós, quem dizeis que eu sou?»

Rev. D. Joan Pere PULIDO i Gutiérrez (Sant Feliu de Llobregat, Espanha)

Hoje continuamos a ouvir a Palavra de Deus com a ajuda do Evangelho de São Marcos. Um evangelho com uma inquietação bem clara: descobrir quem é este Jesus de Nazaré. Marcos foi nos oferecendo, com os seus textos, a reação de diferentes personagens perante Jesus: os doentes, os discípulos, os escribas e fariseus. Hoje nos pede diretamente a nós: «E vós, quem dizeis que eu sou?» (Mc 8,29).

Certamente, os que nos chamamos cristãos temos o dever fundamental de descobrir a nossa identidade para dar testemunho da nossa fé, dando bom exemplo com a nossa vida. Este dever urge-nos para poder transmitir uma mensagem clara e compreensível aos nossos irmãos e irmãs que podem encontrar em Jesus uma Palavra de Vida que dê sentido a tudo o que pensam, dizem e fazem, mas este testemunho deve começar sendo nós próprios conscientes do nosso encontro pessoal com Ele. João Paulo II, na sua Carta apostólica “Novo millennio ineunte”, escreveu-nos: «O nosso testemunho seria enormemente deficiente se não fossemos os primeiros contempladores do seu rosto».

São Marcos, com este texto, oferece-nos um bom caminho de contemplação de Jesus. Primeiro Jesus pergunta que dizem as pessoas que Ele é; e podemos responder como os discípulos: João Batista, Elias, uma personagem importante, bom, atraente. Uma resposta boa, sem dúvida, mas ainda longe da Verdade de Jesus. Ele pergunta-nos: «E vós, quem dizeis que eu sou?» (Mc 8,29). É a pergunta da fé, da implicação pessoal. A resposta apenas a encontramos na experiência do silencio e da oração. É o caminho da fé que recorre Pedro, e o que devemos também nós fazer.

Irmãos e irmãs, experimentemos desde a nossa oração a presença libertadora do amor de Deus presente nas nossas vida. Ele continua fazendo aliança conosco com signos claros da sua presença, como aquele arco posto nas nuvens prometido a Noé.

Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Era Necessário que o Filho de Deus padecesse por nós? Era-o, certamente, por duas razões fáceis de deduzir: uma, para remediar os nossos pecados; e a outra, para nos dar o exemplo de como devemos obrar» (Santo Tomás de Aquino)

«Ao longo dos séculos, os cristãos devem ser continuamente instruídos, pelo Senhor, para que assim, sejam conscientes do seu caminho que não é o da gloria nem o do poder terreno, mas, o “caminho da cruz”» (Benedito XVI)

«É o «amor até ao fim» (Jo 13,1) que confere ao sacrifício de Cristo o valor de redenção e reparação, de expiação e satisfação. (...) Nenhum homem, ainda que fosse o mais santo, estava em condições de tornar sobre si os pecados de todos os homens e de se oferecer em sacrifício por todos (...)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 616)

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O Evangelho de hoje fala da cegueira de Pedro que não entende a proposta de Jesus quando este fala do sofrimento e da cruz. Pedro aceita Jesus como messias, mas não como messias sofredor. Ele está influenciado pelo “fermento de Herodes e dos fariseus”, isto é, pela propaganda do governo da época que só falava do messias como rei glorioso. Pedro parecia cego. Não enxergava nada e ainda queria que Jesus fosse como ele, Pedro, o queria. Para entender bem todo o alcance desta cegueira de Pedro é importante colocá-la no seu contexto literário.

* Contexto literário: O evangelho de Marcos traz três anúncios da paixão e morte de Jesus: o primeiro em Marcos 8,27-38; o segundo em Mc 9,30-37 e o terceiro em Mc 10,32-45. Este conjunto, que vai de Mc 8,27 até Mc 10,45, é uma longa instrução de Jesus aos discípulos para ajudá-los a superar a crise provocada pela Cruz. A instrução é introduzida pela cura de um cego (Mc 8,22-26) e, no fim, é encerrada pela cura de outro cego (Mc 10,46-52). Os dois cegos representam a cegueira dos discípulos. A cura do primeiro cego foi difícil. Jesus teve que realizá-la em duas etapas. Igualmente difícil era a cura da cegueira dos discípulos. Jesus teve que fazer uma longa explicação a respeito do significado da Cruz para ajudá-los a enxergar, pois era a cruz que estava provocando neles a cegueira. Vejamos de perto a primeira cura do cego:

* Marcos 8,22-26: A primeira cura do cego. Trouxeram um cego, pedindo que Jesus o curasse. Jesus o curou, mas de um jeito diferente. Primeiro, ele o levou para fora do povoado. Em seguida, cuspiu nos olhos dele, impôs as mãos e perguntou: Você está vendo alguma coisa? O homem responde: Vejo pessoas; parecem árvores que andam! Enxergava só uma parte. Trocava árvore por gente, ou gente por árvore! Foi só na segunda tentativa que Jesus o curou. Esta descrição da cura do cego introduz a instrução aos discípulos. Na realidade, o cego era Pedro. Ele aceitava Jesus como messias, mas só como messias glorioso. Enxergava só uma parte! Não queria o compromisso da Cruz! Será também em várias tentativas que Jesus vai curar a cegueira dos discípulos.

* Marcos 8,27-30. Levantamento da realidade: Quem diz o povo que eu sou? Jesus perguntou: “Quem diz o povo que eu sou?”. Eles responderam relatando as várias opiniões: -“João Batista”. -“Elias ou um dos profetas”. Depois de ouvir as opiniões dos outros, Jesus perguntou: “E vocês, quem dizem que eu sou?”. Pedro respondeu: “O senhor é o Cristo, o Messias!” Isto é, o Senhor é aquele que o povo está esperando! Jesus concordou com Pedro, mas proibiu de falar sobre isto ao povo. Por que Jesus proibiu? É que naquele tempo, todos esperavam a vinda do messias, mas cada um do seu jeito: uns como rei, outros como sacerdote, doutor, guerreiro, juiz, profeta! Ninguém parecia estar esperando o messias servidor e sofredor, anunciado por Isaías (Is 42,1-9).

* Marcos 8,31-33. Primeiro anúncio da paixão. Em seguida, Jesus começa a ensinar que ele é o Messias Servidor e afirma que, como o Messias Servidor anunciado por Isaías, será preso e morto no exercício da sua missão de justiça (Is 49,4-9; 53,1-12). Pedro leva susto, chama Jesus de lado para desaconselhá-lo. E Jesus responde a Pedro: “Vá embora Satanás! Você não pensa as coisas de Deus, mas as dos homens!” Pedro pensava ter dado a resposta certa. De fato, ele disse a palavra certa: “Tu és o Cristo!” Mas não lhe deu o sentido certo. Pedro não entendeu Jesus. Era como o cego. Trocava gente por árvore! A resposta de Jesus foi duríssima: “Vá embora, Satanás!” Satanás é uma palavra hebraica que significa acusador, aquele que afasta os outros do caminho de Deus. Jesus não permite que alguém o afaste da sua missão. Literalmente, o texto diz: “Atrás de mim, Satanás!” Pedro deve seguir Jesus. Não deve inverter os papeis e pretender que Jesus siga a Pedro.

Para um confronto pessoal
1) Acreditamos todos em Jesus. Mas um entende Jesus de um jeito, outro o entende de outro jeito. Qual é, hoje, a imagem mais comum que o povo tem de Jesus? Qual a resposta que o povo daria hoje à pergunta de Jesus? E eu que resposta dou?
2) O que nos impede hoje de reconhecer Jesus como o Messias?

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