Bta
Maria Teresa de São José, Virgem, fundadora das Irmãs Carmelitas do Divino
Coração de Jesus.
1ª
Leitura (Sab 11,22—12,2): Diante de Vós, Senhor, o mundo inteiro é como
um grão de areia na balança, como a gota de orvalho que de manhã cai sobre a
terra. De todos Vos compadeceis, porque sois omnipotente, e não olhais para os
seus pecados, para que se arrependam. Vós amais tudo o que existe e não odiais
nada do que fizestes; porque, se odiásseis alguma coisa, não a teríeis criado.
E como poderia subsistir, se Vós não a quisésseis? Como poderia durar, se não a
tivésseis chamado à existência? Mas a todos perdoais, porque tudo é vosso,
Senhor, que amais a vida. O vosso espírito incorruptível está em todas as
coisas. Por isso castigais brandamente aqueles que caem e advertis os que
pecam, recordando-lhes os seus pecados, para que se afastem do mal e acreditem
em Vós, Senhor.
Salmo
Responsorial: 144
R. Louvarei para sempre o
vosso nome, Senhor, meu Deus e meu Rei.
O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade. O Senhor é bom para com todos e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas.
Graças Vos deem, Senhor, todas as criaturas e bendigam-Vos os vossos fiéis. Proclamem a glória do vosso reino e anunciem os vossos feitos gloriosos.
O Senhor é fiel à sua palavra e perfeito em todas as suas obras. O Senhor ampara os que vacilam e levanta todos os oprimidos.
2ª Leitura (2Tes 1,11—2,2): Irmãos: Oramos continuamente por vós, para que Deus vos considere dignos do seu chamamento e, pelo seu poder, se realizem todos os vossos bons propósitos e se confirme o trabalho da vossa fé. Assim o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo será glorificado em vós, e vós n’Ele, segundo a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo. Nós vos pedimos, irmãos, a propósito da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e do nosso encontro com Ele: Não vos deixeis abalar facilmente nem alarmar por qualquer manifestação profética, por palavras ou por cartas, que se digam vir de nós, pretendendo que o dia do Senhor está iminente.
Aleluia. Deus amou tanto o mundo
que lhe deu o seu Filho unigénito; quem acredita n’Ele tem a vida eterna.
Aleluia.
Evangelho (Lc 19,1-10): Jesus tinha entrado em Jericó e estava passando pela cidade. Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos publicanos e muito rico. Ele procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia, por causa da multidão, pois era baixinho. Então ele correu à frente e subiu numa árvore para ver Jesus, que devia passar por ali. Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima e disse: «Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa» Ele desceu depressa, e o recebeu com alegria. Ao ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: «Foi hospedar-se na casa de um pecador!» Zaqueu pôs-se de pé, e disse ao Senhor: «Senhor, a metade dos meus bens darei aos pobres, e se prejudiquei alguém, vou devolver quatro vezes mais» Jesus lhe disse: «Hoje aconteceu a salvação para esta casa, porque também este é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido»
«Zaqueu, desce depressa! Hoje
eu devo ficar na tua casa»
Rev. D. Joaquim MESEGUER García (Rubí,
Barcelona, Espanha)
Hoje, a narração evangélica
parece como o cumprimento da parábola do fariseu e do publicano (cf. Lc
18,9-14). Humilde e sincero de coração, o publicano orava no seu interior: «Meu Deus, tem compaixão de mim,
que sou pecador!» (Lc 18,13); e hoje contemplamos como Jesus Cristo perdoa e
reabilita Zaqueu, o chefe de publicanos de Jericó, um homem rico e influente,
mas odiado e desprezado por os vizinhos, que se sentiam extorquidos por ele:
Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa» (Lc 19,5).O perdão
divino leva a Zaqueu a se converter; hei aqui uma das originalidades do
Evangelho: O perdão de Deus e gratuito: não é tanto pela causa de nossa conversão
que Deus nos perdoa, senão que acontece ao contrário: a misericórdia de Deus
nos move ao agradecimento e a dar uma resposta.
Como naquela ocasião Jesus, no
seu caminho a Jerusalém, passava por Jericó. Hoje e cada dia, Jesus passa por
nossa vida e nos chama por nosso nome. Zaqueu não tinha visto nunca a Jesus,
tinha ouvido falar Nele e tinha curiosidade por saber quem era aquele mestre
tão célebre. Jesus, porém, sim conhecia a Zaqueu e as misérias da sua vida.
Jesus sabia como tinha se enriquecido e como era odiado e marginado pelos seus
vizinhos; por isso, passou por Jericó para tirá-lo desse poço. «O Filho do
Homem veio procurar e salvar o que estava perdido» (Lc 19,10).
O encontro do Mestre com o publicano mudou radicalmente a vida deste último. Depois de ter ouvido o Evangelho, pense na oportunidade que Deus lhe brinda hoje e que você não deve desaproveitar: Jesus passa por sua vida e o chama por seu nome, porque lhe ama e quer lhe salvar, Em que poço está preso? Assim como Zaqueu subiu a uma arvore para ver a Jesus, sobe você agora com Jesus a arvore da cruz e saberá quem é Ele, conhecera a imensidade do seu amor, já que «escolhe um chefe de publicanos: Quem desesperará de si mesmo quando este alcança a graça?» (Santo Ambrósio).
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Com a mesma rapidez, espontaneidade e alegria espiritual com que este homem o recebeu na sua casa, que Nosso Senhor nos conceda a graça de receber o seu Santíssimo Corpo e Sangue, sua Alma e sua Divindade» (São Tomás More)
«Na casa de Zaqueu, a partir daquele dia entrou a alegria, entrou a paz, entrou a salvação, entrou Jesus» (Francisco)
«Durante a sua vida pública, Jesus não somente perdoou os pecados, como também manifestou o efeito desse perdão: reintegrou os pecadores perdoados na comunidade do povo de Deus, da qual o pecado os tinha afastado ou mesmo excluído. Sinal bem claro disso é o facto de Jesus admitir os pecadores à sua mesa, e mais ainda: de se sentar à mesa deles (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1443)
O Filho do Homem veio procurar
o que estava perdido.
Escrito por P. Américo, no site
Domus Iesu
* Hoje chegou a salvação a
esta casa. S. Lucas é o «evangelista da misericórdia de Deus» e continua a
propor-nos alguns exemplos de figuras que tipificam exatamente a benevolência
de Deus para com alguém que, segundo o modo de raciocinar dos contemporâneos do
mesmo Lucas, não tinha hipótese nenhuma de obter a salvação; como era, por
exemplo, o caso dos pecadores e, em particular, dos pecadores públicos
(cobradores de impostos e outros). Se, por um lado, sabemos que é difícil para
um rico entrar no Reino dos Céus, por outro lado, são-nos propostos estes
exemplos concretos para nos demonstrar que «a Deus nada é impossível». É certo
que Zaqueu era um pecador público, um cobrador de impostos, que tinha
enriquecido à custa da exploração dos mais pobres, mas também não é menos certo
que, quando há vontade, essa situação pode ser modificada, como, de facto
aconteceu. No caso de Zaqueu, os bens materiais não foram impedimento
definitivo à sua mudança; Jesus fez-lhe um convite à conversão plena à justiça
do Reino, que passava pelo fazer bem aos homens e Zaqueu respondeu
afirmativamente. A partir desse momento, estava garantida a sua «recuperação»,
a sua salvação.
É evidente - continuamos nós a pensar - que não é exigida a toda a gente a atitude radical de Zaqueu! Era o que mais faltava! Até porque nem a ele foi exigido nada; pelo menos de forma explícita. Se tomou as decisões que tomou foi pura e simplesmente porque quis, pois Jesus não lhe exigiu nada!... Mas o facto é que Deus tem infinitas maneiras de entrar em contato com as suas criaturas. E as desculpas podem amontoar-se num rosário interminável. Mas, mais razões que encontremos são sempre uma recusa ao convite de Deus que quer que mudemos de vida.
Mas a verdade é que, perante a palavra de Deus, ou fazemos como Zaqueu ou então procuramos defender-nos, «explicando» essa mesma palavra ou esquecendo-a. E assim fechamos o caminho aos «instintos» do coração. E a vida continua como dantes. E a história de Zaqueu - que tem também sabor a parábola - fica sem eficácia.
* Aceitar Jesus é mudar no coração. O encontro com Jesus, costuma-se dizer, provoca sempre uma mudança de coração. Isto é muito fácil de dizer, mas é mais difícil de pôr em prática. No entanto, a verdade é que, se não houver mudança de coração, é muito provável que não tenha havido verdadeiro encontro com Jesus. É doloroso ter que admitir isto, mas, tantas vezes, teremos que admitir que não O levamos muito a sério
O «paradigma», no caso do Evangelho de hoje, é precisamente Zaqueu, um publicano, paradigma do pecador, mais ainda, um chefe dos publicanos, inveterado em velhos hábitos, até porque rico e, por conseguinte, sem consideração de qualquer espécie para com os outros, sobretudo os mais pobres, que ele explora sem pudor nem consciência.
Um dia, esse homem encontra-se com Jesus (ou melhor, Jesus é que entra na sua vida) e algo de estranho acontece: esse Jesus muda-lhe as cartas todas em cima da mesa; a começar pelas do protocolo em relação ao convite para jantar. É curioso que seja o próprio Jesus quem faz o convite. Seja como for, por seu lado, Zaqueu compreende que aceitar Jesus implica necessariamente uma mudança de mentalidade e de conduta. Não bastam os desejos piedosos. Por isso, a mensagem vai muito para além do simples episódio.
A salvação que Deus propõe não é apenas uma coisa piedosa qualquer. Apesar de ser especial, divina, total, ela comporta uma resposta humana. Sem essa mudança interior e a consequente atitude ou atitudes em conformidade com essa mudança, a Palavra de Deus, o convite de Jesus, aquele jantar de Zaqueu, teriam sido inúteis.
* Mentalidade humana: mentalidade cristã. Geralmente, vigora a distinção, ou melhor, a contraposição, entre mentalidade humana e mentalidade cristã. No fundo, deveriam ser complementares, na medida em que, como questão de princípio, não há nada de verdadeiramente cristão que não seja autenticamente humano. Mas a verdade é que, na prática, por vezes acontece que muitos cristãos, de humano, têm bem pouco. A experiência parece ter dado razão ao enunciado segundo o qual a mentalidade humana não tem nada a ver com a mentalidade cristã. Muito possivelmente porque aquilo que passa por mentalidade cristã não é, muitas vezes, senão um «arremedo de cristianismo».
Zaqueu, nesse aspecto, antes do encontro com Jesus, era o representante típico da mentalidade humana ou, mais propriamente, materialista. Tinha dado à sua família o melhor no aspecto material. Ao mudar de mentalidade, tem que mudar também de atitude, não só em relação aos outros, mas também em relação aos membros da sua família. Mas. mesmo supondo que os seus filhos tenham perdido muitas vantagens económicas, temos que admitir que, segundo uma óptica cristã, ele lhes legou a melhor das heranças: o sentido da justiça, a honestidade humana, um amor aberto aos outros.
* Consequência da nova mentalidade. A salvação cristã não é apenas etérea; comporta algumas consequências sociais e económicas. Talvez Zaqueu se tenha visto obrigado a deixar o seu «emprego» de coletor de impostos, perdendo, dessa forma, a sua principal fonte de receitas, mas encontrou a justiça e o amor aos outros. Sob um ponto de vista puramente materialista, ele perdeu, mas, no fundo, ganhou muito mais do que perdeu, porque ganhou a salvação.
É óbvio que a situação social de hoje é diferente da do tempo de Zaqueu. Mas apenas no seu aspecto quantitativo, digamos assim. É que o princípio continua a ser o mesmo: onde a mensagem evangélica não tem repercussões na maneira de empregar os bens, é sinal de que perdeu a sua carga de transformação ou então que não foi compreendida na sua verdadeira essência.
Zaqueu, apesar de rico, foi objeto da salvação de Deus porque, a partir do momento em que se encontrou com Jesus, mudou completamente de atitude em relação aos bens, transferindo-lhes a valência de fim para a valência de meio ao serviço dos outros, que é o que eles devem ser.
* É o coração que abre as mãos. O
gesto de Zaqueu, que restitui o quádruplo àqueles a quem que tinha roubado e
metade dos seus bens aos pobres, nasce duma conversão interior, duma mudança de
mentalidade. Sem esta «conversão interior», um gesto semelhante seria
absolutamente impossível ou então teria tido certamente outro significado.
Teria sido talvez um «investimento» para depois ganhar mais.
Qual o significado dum gesto como
o de Zaqueu? Depende realmente das intenções das pessoas. Dar não quer dizer
sempre e necessariamente fazer bem a outras pessoas. Para muita gente, dar é
sempre «investir», na esperança de recolher depois o capital investido
acrescido dos respetivos juros. E pode ser também uma forma de «deitar poeira»
nos olhos dos outros, uma vez que, sob as aparências de beneficência, se pode
tratar de pretender encobrir jogos obscuros de exploração e ganho fácil e
imoral.
Mas quem se encontra com Jesus tem que mudar completamente a sua atitude para com os outros. A atitude fundamental que Jesus exige é o serviço do amor. Nessa perspectiva, as pessoas já não podem ser consideradas como objetos a explorar, mas como sujeitos a amar. Então, também o dinheiro, os bens, mudam de conotação. E, assim, os bens, em vez de objeto de cobiça, tornam-se instrumentos de comunicação e de enriquecimento da personalidade.
* Exploração e «luta» pela justiça. Então, e quando os ricos não se convertem?! E quando os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres?! Eventualmente, não se poderá imaginar que o interesse dos e pelos pobres não imporá a eliminação, mesmo violenta, dos exploradores? Claro que não se trata senão dum exagero. Porque, eliminados pela violência «os pecadores», não nascerá espontaneamente a geração dos «santos» e Zaqueus só capazes de amar?
Mas a experiência histórica não tem dado razão a esta teoria. O homem novo (está provado) não é o resultado duma ordem nova imposta pela força e pela violência. Sem uma «conversão interior», não há nem homem novo nem ordem nova. Talvez por isso mesmo é que Jesus não eliminou Zaqueu, mas «converteu-o».
É verdade que o Evangelho não nos dá normas sobre o modo como se «deve fazer justiça», mas isso não quer dizer que seja necessário aceitar passivamente as situações de injustiça. O que, em todo o caso, é possível concluir dos princípios evangélicos é que todo o tipo de «justiça» assente na divisão, no ódio, na eliminação do outro e na vingança é destinada ao fracasso. Ao contrário, o amor é a mola infalível que dá coragem para proceder àquelas mudanças sociais que são o resultado da própria mudança interior.
A esse propósito, escutemos a admoestação do papa S. Paulo VI que me parece sempre atual: «A situação dos dias de hoje deve ser enfrentada com coragem, devendo ser combatidas e vencidas as injustiças que existem nela. O desenvolvimento exige transformações audazes, profundamente inovadoras. Reformas urgentes devem ser tomadas sem demora. Cada um aceite generosamente a sua parte».
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