Beato
Carlos da Áustria, leigo e imperador
1ª
Leitura (Ef 4,1-6): Irmãos: Eu, prisioneiro pela causa do Senhor,
recomendo-vos que vos comporteis segundo a maneira de viver a que fostes
chamados: procedei com toda a humildade, mansidão e paciência; suportai-vos uns
aos outros com caridade; empenhai-vos em manter a unidade de espírito pelo
vínculo da paz. Há um só Corpo e um só Espírito, como existe uma só esperança
na vida a que fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só Baptismo. Há
um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, atua em todos e em todos Se
encontra.
Salmo
Responsorial: 23
R. Esta é a geração dos que
procuram o Senhor.
Do Senhor é a terra e o que nela
existe, o mundo e quantos nele habitam. Ele a fundou sobre os mares e a
consolidou sobre as águas.
Quem poderá subir à montanha do Senhor? Quem habitará no seu santuário? O que tem as mãos inocentes e o coração puro, que não invocou o seu nome em vão nem jurou falso.
Este será abençoado pelo Senhor e recompensado por Deus, seu Salvador. Esta é a geração dos que O procuram, que procuram a face do Deus de Jacob.
Aleluia. Bendito sejais, ó
Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelastes aos pequeninos os mistérios do
reino. Aleluia.
Evangelho (Lc 12,54-59): Naquele tempo, Jesus dizia também às multidões: Quando vedes uma nuvem vinda do ocidente, logo dizeis que vem chuva. E assim acontece. Quando sentis soprar o vento sul, logo dizeis que vai fazer calor. E assim acontece. Hipócritas! Sabeis avaliar o aspecto da terra e do céu. Como é que não sabeis avaliar o tempo presente? Por que não julgais por vós mesmos o que é justo? Quando, pois, estás indo com teu adversário apresentar-te diante do magistrado, procura resolver o caso com ele enquanto ainda a caminho. Senão ele te levará ao juiz, o juiz te entregará ao oficial de justiça, e o oficial de justiça te jogará na prisão. Eu te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo.
«Como é que não sabeis avaliar
(...) o tempo presente? Por que não julgais por vós mesmos o que é justo»
Rev. D. Frederic RÀFOLS i Vidal (Barcelona,
Espanha)
Hoje, Jesus quer que levantemos
os olhos para o céu. Esta manhã, depois de três dias de chuva persistente, o
céu apareceu luminoso e claro num dos dias mais esplêndidos deste outono. Vamos
entendendo o tema das mudanças do tempo, já que agora os meteorologistas são
quase da família. Pelo contrário, custa-nos mais a entender em que tempo
estamos ou vivemos: «Sabeis avaliar o aspecto da terra e do céu. Como é que não
sabeis avaliar o tempo presente?». (Lc 12,56). Muitos dos que escutavam Jesus
perderam uma oportunidade única na História de toda a Humanidade. Não viram em
Jesus o Filho de Deus. Não perceberam o tempo, a hora da salvação.
O Concílio Vaticano II, na
Constituição Gaudium et Spes (n. 4), atualiza o Evangelho de hoje: «Pesa sobre
a Igreja o dever permanente de escutar a fundo os sinais dos tempos e
interpretá-los à luz do Evangelho (...)». É preciso, portanto, conhecer e
compreender o mundo em que vivemos e as suas esperanças, as suas aspirações, o
seu modo de ser, frequentemente dramático.
Quando vemos a história, não nos custa muito assinalar as ocasiões perdidas pela Igreja por não ter descoberto o momento que então se vivia. Mas, Senhor: «Quantas ocasiões não teremos perdido agora por não descobrir os sinais dos tempos ou, o que significa o mesmo, por não viver e iluminar a problemática atual com a luz do Evangelho? Por que não julgais por vós mesmos o que é justo?» (Lc 12,57), continua a recordar-nos hoje Jesus.
Não vivemos num mundo de maldade, ainda que também haja bastante. Deus não abandonou o seu mundo. Como recordava São João da Cruz, habitamos uma terra onde andou o próprio Deus e que ele encheu de formosura. Santa Teresa de Calcutá captou os sinais dos tempos, e o tempo, o nosso tempo, entendeu santa Teresa de Calcutá. Que ela nos estimule. Não deixemos de olhar para o alto, sem perder de vista a terra.
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«A oração intensa não nos afasta do compromisso com a história: ao abrir o nosso coração ao amor de Deus, abrimo-lo também ao amor aos nossos irmãos, e isso torna-nos capazes de construir a história de acordo com os desígnios de Deus» (São João Paulo II)
«Devemos caminhar firmes na fé em Cristo, firmes na verdade do Evangelho; mas a nossa atitude deve mover-se continuamente de acordo com os sinais dos tempos» (Francisco)
«(...) Toda a pessoa humana, criada à imagem de Deus, tem o direito natural de ser reconhecida como ser livre e responsável. Todos devem a todos este dever do respeito (...), nomeadamente em matéria moral e religiosa (...)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.738)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* O evangelho de hoje traz um apelo da parte de
Jesus para aprendermos a ler os Sinais dos Tempos. Foi este texto que inspirou
o Papa João XXIII a convocar a Igreja para prestar atenção aos Sinais dos
Tempos e perceber melhor os apelos de Deus nos acontecimentos da história.
* Lucas 12,54-55: Todos sabem interpretar os
aspectos da terra e do céu, ... “Jesus também dizia às multidões:
"Quando vocês veem uma nuvem vinda do ocidente, vocês logo dizem que vem
chuva; e assim acontece. Quando vocês sentem soprar o vento do sul, vocês dizem
que vai fazer calor; e assim acontece”. Jesus verbaliza uma experiência humana
universal. Todos e todas, cada qual no seu país e na sua região, sabemos ler os
aspectos do céu e da terra. O próprio corpo sente quando ameaça chuva ou quando
o tempo começa a mudar: “Vamos ter chuva!” Jesus se refere à contemplação da
natureza como sendo uma das fontes mais importantes do conhecimento e da
experiência que ele mesmo tinha de Deus. Foi a contemplação da natureza que o
ajudou a descobrir aspectos novos na fé e na história do seu povo. Por exemplo,
a chuva que cai sobre bons e maus, e o sol que nasce sobre justos injustos, o
ajudaram a formular uma das mensagens mais revolucionários: “Amais os vossos
inimigos!” (Mt 5,43-45).
* Lucas 12,56-57: ..., mas não sabem ler os sinais dos tempos. E Jesus tira a conclusão para os seus contemporâneos e para todos nós: “Hipócritas! Vocês sabem interpretar o aspecto da terra e do céu. Como é que vocês não sabem interpretar o tempo presente?” Santo Agostinho dizia que a natureza, a criação, é o primeiro livro que Deus escreveu. Por meio dela Deus nos fala. O pecado embaralhou as letras do livro da natureza e, por isso, já não conseguimos ler a mensagem de Deus estampada nas coisas da natureza e nos fatos da vida. A Bíblia, o segundo livro de Deus, foi escrito não para ocupar ou substituir a Vida, mas para nos ajudar a interpretar a natureza e a vida e aprender de novo a descobrir os apelos de Deus nos acontecimentos. “Por que vocês não julgam por si mesmos o que é justo?” Partilhando entre nós o que enxergamos na natureza, iremos descobrindo o apelo de Deus na vida.
* Lucas 12,58-59: Saber tirar a lição para a vida. “Quando, pois, você está para se apresentar com seu adversário diante do magistrado, procure resolver o caso com o adversário enquanto estão a caminho, senão este o levará ao juiz, e o juiz entregará você ao guarda, e o guarda o jogará na cadeia. Eu digo: daí você não sairá, enquanto não pagar o último centavo”. Um dos pontos em que Jesus mais insistia é a reconciliação. Naquela época havia muitas tensões e conflitos entre grupos radicais com tendências diferentes, sem diálogo: zelotes, essênios, fariseus, saduceus, herodianos. Ninguém queria ceder diante do outro. As palavras de Jesus sobre a reconciliação pedindo acolhimento e compreensão iluminam esta situação. Pois o único pecado que Deus não consegue perdoar é a nossa falta de perdão aos outros (Mt 6,14). Por isso, ele aconselha procurar a reconciliação antes que seja tarde demais! Quando chegar a hora do julgamento, será tarde demais. Enquanto tiver tempo, procure mudar de vida, de comportamento e de modo de pensar e procure acertar o passo (cf. Mt 5,25-26; Col 3,13; Ef 4,32; Mc 11,25).
Para um confronto pessoal
1) Ler os Sinais dos Tempos. Quando escuto ou leio as notícias na TV ou nos jornais, tenho a preocupação de perceber os apelos de Deus nesses fatos?
2) Reconciliar é o pedido mais insistente de Jesus. Como procuro colaborar na reconciliação entre as pessoas, as raças, os povos, as tendências?
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