Santo
Inácio de Antioquia, bispo e mártir
1ª
Leitura (Ef 2,1-10): Irmãos: Vós estáveis mortos pelas faltas e pecados
em que vivestes outrora, segundo o modo de ser deste mundo e obedecendo ao
príncipe do mal que impera nos ares, esse espírito que atua nos homens
rebeldes. Todos nós, que também éramos como eles, vivíamos antigamente
submetidos aos desejos da nossa carne, satisfazendo os caprichos dos instintos
e da imaginação e sendo por natureza filhos da ira, como os outros. Mas Deus,
que é rico em misericórdia, pela grande caridade com que nos amou, a nós, que
estávamos mortos por causa dos nossos pecados, restituiu-nos à vida com Cristo
– é pela graça que fostes salvos – e com Ele nos ressuscitou e com Ele nos fez
sentar nos Céus. Assim quis mostrar aos séculos futuros a abundante riqueza da
sua graça e da sua bondade para conosco, em Jesus Cristo. De facto, é pela
graça que fostes salvos, por meio da fé. A salvação não vem de vós: é dom de
Deus. Não se deve às obras: ninguém se pode gloriar. Na verdade, nós somos obra
de Deus, criados em Jesus Cristo, em vista das boas obras que Deus de antemão
preparou, como caminho que devemos seguir.
R. O Senhor nos criou, pertencemos ao Senhor.
Aclamai o Senhor, terra inteira, servi o Senhor com alegria, vinde a Ele com cânticos de júbilo.
Sabei que o Senhor é Deus, Ele nos fez, a Ele pertencemos, somos o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.
Entrai pelas suas portas, dando graças, penetrai em seus átrios com hinos de louvor, glorificai-O, bendizei o seu nome.
Porque o Senhor é bom, eterna é a sua misericórdia, a sua fidelidade estende-se de geração em geração.
Aleluia. Bem-aventurados os
pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Aleluia.
Evangelho (Lc 12,13-21): Alguém do meio da multidão disse a Jesus: Mestre, diz ao meu irmão que reparta a herança comigo. Ele respondeu: Homem, quem me encarregou de ser juiz ou árbitro entre vós? E disse-lhes: Atenção! Guardai-vos de todo tipo de ganância, pois mesmo que se tenha muitas coisas, a vida não consiste na abundância de bens. E contou-lhes uma parábola: A terra de um homem rico deu uma grande colheita. Ele pensava consigo mesmo: Que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita. Então resolveu: Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, goza a vida! Mas Deus lhe diz: Tolo! Ainda nesta noite, tua vida te será retirada. E para quem ficará o que acumulaste? Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não se torna rico diante de Deus.
«A vida não consiste na
abundância de bens»
Frei Lluc TORCAL Monje del
Monastério de Sta. Mª de Poblet (Santa Maria de Poblet, Tarragona, Espanha)
Hoje, o Evangelho, se não nos
tapamos os ouvidos e não fechamos os olhos, provocará em nós uma grande comoção
pela sua clareza: E disse então ao povo: Guardai-vos escrupulosamente de toda a
avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não
depende de suas riquezas (Lc 12,15). Que é o que garante a vida do homem?
Sabemos muito bem em que está
garantida a vida de Jesus, porque Ele mesmo disse: Pois como o Pai tem a vida
em si mesmo, assim também deu ao Filho o ter a vida em si mesmo (Jo 5,26).
Sabemos que a vida de Jesus não somente procede do Pai, mas que consiste em
fazer sua vontade, já que este é seu alimento, e a vontade do Pai equivale a
realizar sua grande obra de salvação entre os homens, dando a vida por seus
amigos, signo do mais sublime amor. A vida de Jesus é, pois, uma vida recebida
totalmente do Pai e entregada totalmente ao mesmo Pai e, por amor ao Padre, aos
homens. A vida humana poderá ser então suficiente em si mesma? Poderá negar-se
que nossa vida é um dom, que a recebemos e que, somente por isso, já devemos
agradecer? Que ninguém pense que é dono de sua própria vida (São Jerônimo).
Seguindo esta lógica, só falta perguntar-nos: Que sentido pode ter nossa vida se se encerra em si mesma, se tem prazer ao dizer: E direi à minha alma: ó minha alma, tens muitos bens em depósito para muitíssimos anos; descansa, come, bebe e regala-te (Lc 12,19) Se a vida de Jesus é um dom recebido e entregue sempre em amor, nossa vida; que não podemos negar ter recebido; deve converter-se, seguindo à de Jesus, em uma doação total a Deus e aos irmãos, porque, Quem ama a sua vida, perdê-la-á; mas quem odeia a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna (Jo 12,25).
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Minha presunção exagerada me decepcionou, meu Cristo: caí muito baixo das alturas. Mas levanta-me de novo agora, pois vejo que me enganei a mim próprio» (São Gregório de Nazianzo)
«As realidades da verdade e do amor —nosso autêntico caminho— não se encontram no mundo das quantidades» (Bento XVI)
«A economia da Lei e da Graça desvia o coração dos homens da cobiça e da inveja (…). O Deus das promessas desde sempre pôs o homem em sentinela contra a sedução daquilo que, desde as origens, aparece como ‘bom para comer, de atraente aspecto e precioso para esclarecer a inteligência’ (Gn 3, 6)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.541)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* O episódio narrado no evangelho de hoje só se
encontra no Evangelho de Lucas e não tem paralelo nos outros evangelhos. Ele
faz parte da longa descrição da viagem de Jesus, desde a Galileia até Jerusalém
(Lc 9,51 a 19,28), na qual Lucas colocou a maior parte das informações que ele
conseguiu coletar a respeito de Jesus e que não se encontram nos outros três
evangelhos (cf. Lc 1,2-3). O evangelho de hoje traz a resposta de Jesus à
pessoa que lhe pediu para ser mediador na repartição de uma herança.
* Lucas 12,13: Um pedido para repartir herança.
“Do meio da multidão, alguém disse a Jesus: "Mestre, dize ao meu irmão
que reparta a herança comigo". Até hoje, a distribuição da herança entre
os familiares sobreviventes é sempre uma questão delicada e, muitas vezes,
ocasião de brigas e tensões sem fim. Naquele tempo, a herança tinha a ver
também com a identidade das pessoas (1Rs 21,1-3) e com a sua sobrevivência (Nm
27,1-11; 36,1-12). O problema maior era a distribuição das terras entre os
filhos do falecido pai. Sendo a família grande, havia o perigo de a herança se
esfacelar em pequenos pedaços de terra que já não poderiam garantir a
sobrevivência de todos. Por isso, para evitar o esfacelamento ou desintegração
da herança e manter vivo o nome da família, o mais velho recebia o dobro dos
outros filhos (Dt 21,17; cf. 2Rs 2,11).
* Lucas 12,16-19: Parábola que faz pensar no sentido da vida. Em seguida, Jesus conta uma parábola para ajudar as pessoas a refletir sobre o sentido da vida: "A terra de um homem rico deu uma grande colheita. E o homem pensou: O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita”. O homem rico está totalmente fechado dentro da preocupação com os seus bens que aumentaram de repente por causa de uma colheita abundante. Ele só pensa em acumular para garantir-se uma vida despreocupada. Ele diz: “Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir outros maiores; e neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro, você possui um bom estoque, uma reserva para muitos anos; descanse, coma e beba, alegre-se!”
* Lucas 12,20: Primeira conclusão da parábola. “Mas Deus lhe disse: Louco! Nesta mesma noite você vai ter que devolver a sua vida. E as coisas que você preparou, para quem vão ficar?” A morte é uma chave importante para redescobrir o sentido verdadeiro da vida. Ela relativiza tudo, pois mostra o que perece e o que permanece. Quem só busca o ter e esquece o ser perde tudo na hora da morte. Aqui transparece um pensamento muito frequente nos livros sapienciais: para que acumular bens nesta vida, se você não sabe para quem vão ficar os bens que você acumulou, nem sabe o que vai fazer o herdeiro com aquilo que você deixou para ele (Ecle 2,12.18-19.21).
* Lucas 12,21: Segunda conclusão da parábola. “Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus”. Como tornar-se rico para Deus? Jesus deu várias sugestões e conselhos: quem quer ser o primeiro, seja o último (Mt 20,27; Mc 9,35; 10,44); é melhor dar que receber (At 20,35); o maior é o menor (Mt 18,4; 23,11; Lc 9,48) preserva vida quem perde a vida (Mt 10,39; 16,25; Mc 8,35; Lc 9,24).
Para um confronto pessoal
1) O homem pediu a Jesus para ajudar na repartição da herança. E você, o que você pede a Deus nas suas orações?
2) O consumismo cria necessidades e desperta em nós a ganância. Como você faz para não ser vítima da ganância provocado pelo consumismo?
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