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quarta-feira, 12 de outubro de 2022

14 de outubro - FESTA DE NOSSA SENHORA DIVINA PASTORA, Padroeira do Estado de Sergipe

LEITURA I (Gn 3, 9-15.20) - Depois de Adão ter comido da árvore, o Senhor Deus chamou-o e disse-lhe: «Onde estás?». Ele respondeu: «Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim e, como estava nu, tive medo e escondi-me». Disse Deus: «Quem te deu a conhecer que estavas nu? Terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira comer?». Adão respondeu: «A mulher que me destes por companheira deu-me do fruto da árvore e eu comi». O Senhor Deus perguntou à mulher: «Que fizeste?». E a mulher respondeu: «A serpente enganou-me e eu comi». Disse então o Senhor Deus à serpente: «Por teres feito semelhante coisa, maldita sejas entre todos os animais domésticos e todos os animais selvagens. Hás de rastejar e comer do pó da terra todos os dias da tua vida. Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela. Esta, há de atingir-te na cabeça e tu a atingirás no calcanhar». O homem deu à sua mulher o nome de ‘Eva’, porque ela foi a mãe de todos os viventes

SALMO RESPONSORIAL Judite 13, l8bcde.19
R: Tu és a honra do nosso povo.

Bendita sejas, minha filha, pelo Deus Altíssimo, mais do que todas as mulheres da terra; e bendito seja o Senhor nosso Deus, criador do céu e da terra.

Ele enalteceu de tal forma o teu nome que nunca mais deixarão os homens de celebrar os teus louvores e recordarão eternamente o poder de Deus

LEITURA II (Gal 4, 4-7) - Irmãos: Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adoptivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abbá! Pai!». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus

Aleluia. Sois ditosa, ó Virgem Santa Maria, sois digníssima de todos os louvores, porque de Vós nasceu o sol da justiça, Cristo, nosso Deus. Aleluia.

EVANGELHO (Jo 19, 25-27) - Naquele tempo, estavam junto à cruz de Jesus sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Ao ver sua Mãe e o discípulo predileto, Jesus disse a sua Mãe: «Mulher, eis o teu filho». Depois disse ao discípulo: «Eis a tua Mãe». E a partir daquela hora, o discípulo recebeu-a em sua casa.

O discípulo levou a mãe de Jesus para morar dali em diante na casa dele.

João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei

Hoje a Igreja do Estado de Sergipe celebra sua Padroeira, Nossa Senhora Divina Pastora, e o trecho do evangelho proposto é muito oportuno para aprofundarmos nossa intimidade com aquela que só viveu para seu Deus e, como serva, gerou para nós o Filho do Altíssimo.

Nos evangelhos sinóticos, há o trecho de um episódio interessante, quando a mãe e os irmãos de Jesus o procuram e Ele, avisado disso, aponta para seus discípulos e diz: “Vejam! Aqui estão a minha mãe e os meus irmãos. Pois quem faz a vontade do meu Pai, que está no céu, é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt12, 49-50).

Comparando o trecho do evangelho de hoje e esse outro que acabo de recordar, percebemos, no primeiro, um carinho e cuidado extremos de Jesus em relação a Maria, enquanto, no segundo, parece haver um distanciamento de Jesus em relação à sua mãe, o que nos dá uma sensação de estranhamento.

Situações assim, que encontramos muitas vezes nos evangelhos, são importantes para nos forçar um mergulho em águas mais profundas. Afinal, o que o Senhor quer nos ensinar?

Penso que podemos aprender muitas coisas e, cada vez que voltarmos a orar com esses textos, mais poderemos aprender. Contudo, escolho um ponto para aprofundarmos hoje.

Todo aquele que faz a vontade de Deus é irmão, irmã e mãe de Jesus. A vontade de Deus é que todos possam conhecer Jesus. Por seu Filho, Deus será glorificado. Então, para isso, precisamos gerar a Palavra de Deus em nós, como fez Maria, e entregá-la ao mundo.

Quantas vezes estaremos nós também, ao pé da cruz, chorando e sofrendo por ver que, apesar de todo nosso esforço, o mundo ainda não vive em paz e não aceita o amor como a lei maior?

Contemplar Maria ao pé da cruz é contemplar a nós mesmos chorando por vermos que a Palavra de Deus ainda não rege o mundo.

Receber Maria em nossa casa, como nossa Mãe, é a oportunidade de aprendermos dela como caminhar, afinal, ela continua com a comunidade, fazendo-se presente nos momentos em que mais se necessita de Deus: “Eles sempre se reuniam todos juntos para orar com as mulheres, a mãe de Jesus e os irmãos dele” (At 1, 14).

Nós, que somos discípulos amados de Jesus, somos convidados a receber Maria como nossa mãe, para aprendermos dela, a primeira discípula, como gerar a Palavra de Deus, como entregar a Palavra ao mundo e como perseverar na fé e na esperança, mesmo que tudo nos possa parecer perdido.

Maria, Divina Pastora, queremos recebê-la e amá-la como o próprio Jesus a amou. Confiamos em sua amizade e companhia. Amém!

Reflexão  

Hoje, festa de Nossa Senhora Divina Pastora, o evangelho do dia traz a passagem em que Maria, a mãe de Jesus, e o discípulo amado se encontram no calvário diante da Cruz. A Mãe de Jesus aparece duas vezes no evangelho de João: no começo, nas bodas de Caná (Jo 2,1-5), e no fim, ao pé da Cruz (Jo 19,25-27). Estes dois episódios, exclusivos do evangelho de João, têm um valor simbólico muito profundo. O evangelho de João, comparado com os outros três evangelhos é como quem tira raio-X onde os outros três só tiram fotografia. O raio-X da fé ajuda a descobrir dimensões nos acontecimentos que os olhos comuns não chegam a perceber. O evangelho de João, além de descrever os fatos, revela a dimensão simbólica que neles existe. Assim, nos dois casos, em Caná e na Cruz, a Mãe de Jesus representa simbolicamente o Antigo Testamento que aguarda a chegada do Novo Testamento e, nos dois casos, ela contribui para que o Novo chegue. Maria aparece como o elo entre o que havia antes e o que virá depois. Em Caná, ela simboliza o AT, percebe os limites do Antigo e toma a iniciativa para que o Novo possa chegar. Ela vai falar ao Filho: “Eles não têm mais vinho!” (Jo 2,3). E no Calvário? Vejamos:

* João 19, 25: As mulheres e o Discípulo Amado junto à Cruz. Assim diz o Evangelho: “A mãe de Jesus, a irmã da mãe dele, Maria de Cléofas, e Maria Madalena estavam junto à cruz”. A “fotografia” mostra a mãe junto do filho, em pé. Mulher forte, que não se deixa abater. “Stabat Mater Dolorosa!” Ela é uma presença silenciosa que apoia o filho na sua entrega até à morte, e morte de cruz (Flp 2,8). Além disso, o “raio-X” da fé mostra como se realiza a passagem do AT para o NT. Como em Caná, a Mãe de Jesus representa o AT. O Discípulo Amado representa o NT, a comunidade que cresceu ao redor de Jesus. É o filho que nasceu do AT, a nova humanidade que se forma a partir da vivência do Evangelho do Reino. No fim do primeiro século, alguns cristãos achavam que o AT já não era necessário. De fato, no começo do segundo século, Márcion recusou todo o AT e ficou só com uma parte do NT. Por isso, muitos queriam saber qual a vontade de Jesus a este respeito.

* João 19,26-28: O Testamento ou a Vontade de Jesus. As palavras de Jesus são significativas. Vendo sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: "Mulher, eis aí o seu filho." Depois disse ao discípulo: "Eis aí a sua mãe." Os Antigo e o Novo Testamento devem caminhar juntos. A pedido de Jesus, o discípulo amado, o filho, o NT, recebe a Mãe, o AT, em sua casa. É na casa do Discípulo Amado, na comunidade cristã, que se descobre o sentido pleno do AT. O Novo não se entende sem o Antigo, nem o Antigo é completo sem o Novo. Santo Agostinho dizia: “Novum in vetere latet, Vetus in Novo patet”. (O Novo está escondido no Antigo. O Antigo desabrocha no Novo). O Novo sem o Antigo seria um prédio sem fundamento. E o Antigo sem o Novo seria uma árvore frutífera que não chegou a dar fruto.

* Maria no Novo Testamento. De Maria se fala pouco no NT, e ela mesma fala menos ainda. Maria é a Mãe do silêncio. A Bíblia conservou apenas sete palavras de Maria. Cada uma destas sete palavras é como uma janela que permite olhar para dentro da casa de Maria e descobrir como ela se relacionava com Deus. A chave para entender tudo isso é dada por Lucas nesta frase: “Felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática." (Lc 11,27-28)
1ª Palavra: "Como pode ser isso se eu não conheço homem algum!" (Lc 1,34)
2ª Palavra: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!" (Lc 1,38)
3ª Palavra: "Minha alma louva o Senhor, exulta meu espírito em Deus meu Salvador!" (Lc 1,46-55)
4ª Palavra: "Meu filho por que nos fez isso? Teu pai e eu, aflitos, te procurávamos" (Lc 2,48)
5ª Palavra: “Eles não têm mais vinho!" (Jo 2,3)
6ª Palavra: "Fazei tudo o que ele vos disser!" (Jo 2,5)
7ª Palavra:  O silêncio ao pé da Cruz, mais eloquente que mil palavras! (Jo 19,25-27)

Para um confronto pessoal
1) Maria ao pé da Cruz. Mulher forte, silenciosa. Como é minha devoção a Maria, a mãe de Jesus?
2) Na Pietá de Michelangelo, Maria aparece bem jovem, mais jovem que o próprio filho crucificado, quando já devia ter no mínimo em torno de 50 anos. Perguntado por que tinha esculpido o rosto da Maria tão jovem, Michelangelo respondeu: “As pessoas apaixonadas por Deus não envelhecem nunca”. Apaixonada por Deus! Existe paixão por Deus em mim?

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