São
João Gabriel Perboyre, presbítero e mártir
1ª
Leitura (Ex 32,7-11.13-14): Naqueles dias, o Senhor falou a Moisés,
dizendo: «Desce depressa, porque o teu povo, que tiraste da terra do Egito,
corrompeu-se. Não tardaram em desviar-se do caminho que lhes tracei. Fizeram um
bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele, ofereceram-lhe sacrifícios
e disseram: ‘Este é o teu Deus, Israel, que te fez sair da terra do Egito’». O
Senhor disse ainda a Moisés: «Tenho observado este povo: é um povo de dura
cerviz. Agora deixa que a minha indignação se inflame contra eles e os destrua.
De ti farei uma grande nação». Então Moisés procurou aplacar o Senhor seu Deus,
dizendo: «Por que razão, Senhor, se há de inflamar a vossa indignação contra o
vosso povo, que libertastes da terra do Egito com tão grande força e mão tão
poderosa? Lembrai-Vos dos vossos servos Abraão, Isaac e Israel, a quem jurastes
pelo vosso nome, dizendo: ‘Farei a vossa descendência tão numerosa como as
estrelas do céu e dar-lhe-ei para sempre em herança toda a terra que vos
prometi’». Então o Senhor desistiu do mal com que tinha ameaçado o seu povo.
R. Vou partir e vou ter com
meu pai.
Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade, pela vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados. Lavai-me de toda a iniquidade e purificai-me de todas as faltas.
Criai em mim, ó Deus, um coração puro e fazei nascer dentro de mim um espírito firme. Não queirais repelir-me da vossa presença e não retireis de mim o vosso espírito de santidade.
Abri, Senhor, os meus lábios e a minha boca anunciará o vosso louvor. Sacrifício agradável a Deus é um espírito arrependido: não desprezeis, Senhor, um espírito humilhado e contrito.
2ª Leitura (1Tim 1,12-17): Caríssimo: Dou graças Àquele que me deu força, Jesus Cristo, Nosso Senhor, que me julgou digno de confiança e me chamou ao seu serviço, a mim que tinha sido blasfemo, perseguidor e violento. Mas alcancei misericórdia, porque agi por ignorância, quando ainda era descrente. A graça de Nosso Senhor superabundou em mim, com a fé e a caridade que temos em Cristo Jesus. É digna de fé esta palavra e merecedora de toda a aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores e eu sou o primeiro deles. Mas alcancei misericórdia, para que, em mim primeiramente, Jesus Cristo manifestasse toda a sua magnanimidade, como exemplo para os que hão de acreditar n’Ele, para a vida eterna. Ao Rei dos séculos, Deus imortal, invisível e único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém.
Aleluia. Em Cristo, Deus
reconcilia o mundo consigo e confiou-nos a palavra da reconciliação. Aleluia.
Evangelho (Lc 15,1-32): Todos os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar. Os fariseus e os escribas, porém, murmuravam contra ele. «Este homem acolhe os pecadores e come com eles». Então ele contou-lhes esta parábola: «Quem de vós que tem cem ovelhas e perde uma, não deixa as noventa e nove no deserto e vai atrás daquela que se perdeu, até encontrá-la? E quando a encontra, alegre a põe nos ombros e, chegando em casa, reúne os amigos e vizinhos, e diz: ‘Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida ’ Eu vos digo: assim haverá no céu alegria por um só pecador que se converte, mais do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão. E se uma mulher tem dez moedas de prata e perde uma, não acende a lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente até encontrá-la? Quando a encontra, reúne as amigas e vizinhas, e diz: ‘Alegrai-vos comigo! Encontrei a moeda que tinha perdido!’ Assim, eu vos digo, haverá alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte». E Jesus continuou. «Um homem tinha dois filhos. O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada. Quando tinha esbanjado tudo o que possuía, chegou uma grande fome àquela região, e ele começou a passar necessidade. Então, foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu sítio cuidar dos porcos. Ele queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam. Então caiu em si e disse: «Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. Vou voltar para meu pai e dizer-lhe: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados’. Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e foi tomado de compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e o cobriu de beijos. O filho, então, lhe disse: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos empregados: «Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. Colocai-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei um novilho gordo e matai-o, para comermos e festejarmos. Pois este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’. E começaram a festa. O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. Ele respondeu: ‘É teu irmão que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque recuperou seu filho são e salvo’. Mas ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai, saindo, insistiu com ele. Ele, porém, respondeu ao pai: ‘Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. Mas quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com as prostitutas, matas para ele o novilho gordo’. Então o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado’».
«Haverá (...) alegria entre os
anjos de Deus por um só pecador que se converte»
Rev. D. Alfonso RIOBÓ Serván (Madrid,
Espanha)
Hoje consideramos uma das
parábolas mais conhecidas do Evangelho: a do filho pródigo, que, advertindo a
gravidade da ofensa feita ao seu pai, regressa a ele e é acolhido com grande
alegria.
Podemos retornar ao começo da
passagem, para encontrar a ocasião que permite a Jesus Cristo expor esta
parábola. Sucedia, segundo nos diz a Escritura, que «Todos os publicanos e
pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar» (Lc 15,1), e isto surpreendia
aos fariseus e escribas, que murmuravam: «Os fariseus e os escribas, porém,
murmuravam contra ele. «Este homem acolhe os pecadores e come com eles» (Lc
15,2). Parece-lhes que o Senhor não deveria compartilhar seu tempo e sua
amizade com pessoas de vida pouco correta. Fecham-se ante quem, longe de Deus,
necessita conversão.
Nesta parábola não somente é convidado à conversão quem patentemente a necessita, mas também quem não acha necessitá-la. Seus destinatários não são somente os publicanos e pecadores, mas igualmente os fariseus e escribas; não são somente os que vivem dando as costas a Deus, e talvez nós, que recebemos tanto Dele e que, no entanto, nos conformamos com o que lhe damos em troca e não são generosos no tratamento com os outros. Introduzido no mistério do amor de Deus — nos diz o Concilio Vaticano II— recebemos uma chamada a começar uma relação pessoal com Ele mesmo, a empreender um caminho espiritual para passar do homem velho ao novo homem perfeito segundo Cristo.
A conversão que necessitamos poderia ser menos chamativa, mas talvez haja de ser mais radical e profunda, e mais constante e mantida: Deus nos pede que nos convertamos ao amor.
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«A alegria é um dom cristão. Só se oculta quando ofende a Deus, porque o pecado é produto do egoísmo, e o egoísmo é causa de tristeza. Se nos purificarmos no santo Sacramento da Penitência, Deus vem ao nosso encontro e perdoa-nos» (São Josemaria)
«Ele é o Deus da misericórdia: ele nunca se cansa de nos perdoar. Somos nós que nos cansamos de pedir perdão, mas Ele não se cansa; Ele ganha no amor» (Francisco)
«Ao celebrar o sacramento da Penitência, o sacerdote exerce o ministério do Bom Pastor que procura a ovelha perdida: do bom Samaritano que cura as feridas; do Pai que espera pelo filho pródigo e o acolhe no seu regresso (...) Em resumo, o sacerdote é sinal e instrumento do amor misericordioso de Deus para com o pecador» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.465)
Este meu filho estava morto,
mas agora está vivo.
Escrito por P. Américo no site
DOMUS IESU
Este texto evangélico faz parte
dum conjunto de três parábolas sobre a misericórdia de Deus: a da ovelha
perdida, a da dracma perdida e a do chamado filho pródigo (que, pessoalmente,
prefiro chamar «Parábola do Pai misericordioso»). Têm todas o mesmo fundo
comum: Jesus responde aos fariseus e escribas que O criticam por privilegiar
nas suas atitudes de compreensão e bondade os que eram marginalizados: «Este
acolhe os pecadores e come com eles» (Lc 15,2b). O evangelista Lucas tem um
gosto especial em realçar a misericórdia de Deus (por isso mesmo se diz que o
seu é o Evangelho da Misericórdia) e as parábolas de hoje são disso o exemplo
mais cabal, nomeadamente a do Pai Misericordioso. O pai da parábola, como é
óbvio, é a figura central da história e, no fundo, o convite que é feito
àqueles que se julgam justos e cumpridores (como o filho mais velho, que
simboliza os fariseus e escribas) é no sentido de que tenham um coração grande,
capaz de acolher a todos, incluindo os pecadores. Sem necessidade de fazermos uma
leitura social ou política das parábolas (que não é essa a intenção da Bíblia),
há que chegar à conclusão de que, para Deus, nada é impeditivo de que os mais
marginalizados sejam objeto do seu perdão e do seu amor. Aliás, é o próprio
Deus que toma a iniciativa de «correr» para os necessitados, para os filhos
pródigos, a fim de os acolher nos braços infinitos da sua bondade. As histórias
contadas por Jesus são de facto um convite explícito a que saibamos abrir o
coração para acolher aqueles que mais precisam.
* A experiência do perdão. Eu disse num comentário às leituras dum dos domingos precedentes que ao cristão não compete julgar as pessoas, mas sim amá-las e compreendê-las. O tema deste domingo que é, sem dúvida, o do perdão, insere-se perfeitamente na mesma lista de princípios. O texto básico, como não podia deixar de ser, é o evangélico (exclusivo de S. Lucas), ou seja, a «Parábola do Pai Misericordioso, popularmente mais conhecida por «Parábola do Filho Pródigo».
É escusado dizer que o pai da parábola a quem se refere Jesus é o próprio Deus, cuja maneira de «ver» as pessoas e as coisas é muito diferente da maneira de ver dos homens. Trata-se de uma parábola totalmente em oposição à mentalidade dos contemporâneos de Jesus e também à mentalidade dos dias de hoje. Nesse sentido, é estranha. Como me parece estranha outra parábola: a parábola do patrão que sai a várias horas do dia para convidar operários para a sua vinha e, no fim da jornada, paga a todos a mesma coisa, ou seja, o que tinha combinado com todos.
E a conclusão pode ser mais ou menos a mesma: «Porventura tu hás de ser mau só porque eu sou bom?» (comparar Lc 15,1-32 com Mt 20,1-16).
* A face de Deus é o amor. A atitude de Jesus em relação aos pecadores e aos marginalizados abate as barreiras de carácter religioso e social. Perante isso, os representantes religiosos de Israel murmuram, sentem-se orgulhosos da sua segurança moral, pensam que a religião é uma prerrogativa deles e não podem suportar que alguém (no caso, Jesus) fale dum Deus que «pertence» também aos outros.
O «Deus de Jesus Cristo» destrói as estruturas de pensamento dos que pensam que lhes é possível apropriarem-se de Deus. Obviamente, ao contar a parábola em questão, Jesus não tem a intenção de louvar os pecadores, as prostitutas, os publicanos, o filho pródigo, mas dizer sem margem para dúvidas que é errado apresentar a Deus exclusivamente como um juiz impiedoso que está só à espera do mínimo deslize para mandar as pessoas para as profundezas do inferno.
Deus dá sempre novas oportunidades às pessoas (sejam quais forem os caminhos que porventura tenham seguido) para voltar à casa paterna, onde lhes oferece, perdão, amor e um ambiente de festa para morar. E ainda bem, acrescento eu, porque essas pessoas - quem sabe - podemos ser precisamente nós.
É este, antes de mais, o rosto de bondade do Pai que Jesus quer mostrar aos homens. Seria incorreto afirmar que, no fim, quaisquer que sejam as opções que os homens façam, tudo é passado com uma esponja. Pessoalmente, acho que não temos necessidade de nos aventurarmos nesse campo. Agora, o que me parece incorreto afirmar categoricamente que Deus, ao conceder oportunidades contínuas às pessoas, está a ser «injusto», porque - somos nós sempre a pensar - os injustos merecem o castigo. Mas por que carga de água é que nunca nos pomos na categoria dos injustos?
* O ponto fulcral da parábola. A parábola do «Pai Misericordioso» não termina nem atinge o seu ponto mais alto nesta cena encantadora do abraço paterno ao filho pródigo (embora na apresentação da leitura evangélica eu tenha omitido a segunda parte por falta de espaço). Esse abraço fraterno é algo de estupendo para cada um de nós, porque também nós, duma maneira ou doutra, somos precisamente esse filho pródigo.
Para Jesus, o amor do pai que perdoa é um fato descontado e Ele limita-se a confirmar essa bondade de um Pai que manda fazer festa pelo filho pródigo que volta a casa. Agora, o que me parece que a Ele mais lhe importe é realçar a maneira de reagir do chamado «filho bom», que nunca tinha feito nada de mal e que se recusa a entrar em casa para fazer festa em honra do «malvado» filho mais novo que tinha voltado. E, já agora, posso acrescentar que, hoje, esse filho bom pode ser qualquer um de nós. No contexto do Evangelho, o filho bom é o próprio Israel que, por sua vez, é o paradigma de qualquer outro povo e também de qualquer indivíduo.
Dito de outra maneira, os justos de Israel (como o irmão mais velho da parábola como que se «mordem» todos pelo facto de o Pai acolher os pecadores e de lhes oferecer o seu banquete. Eles pensavam que a salvação era propriedade sua e assim julgavam que podiam organizar à sua vontade as leis do bem e do mal. Agora, porém, descobrem que a lei daquele Pai é diversa e, com isso, sentem-se traídos e desiludidos.
Daqui podemos tirar pelos menos três grandes conclusões: Deus revela-se nas parábolas (e não apenas na do presente trecho evangélico) como princípio dum amor que procura o que estava perdido, que perdoa e que recria continuamente. No fundo, o Evangelho define-se partindo desta revelação de amor. S. João dirá mais tarde simplesmente que Deus é amor. Em segundo lugar, quando nos escandizamos pela maneira de proceder de Deus, isso está a indicar, no fundo, que, no fundo, recusamos a verdadeira natureza de Deus, que é bondade de amor. É que, afinal de contas, temos que reconhecer, pela parábola, que Deus não é aquele que nós julgamos que é, porque o rosto de Deus é o amor e o perdão, como nos é revelado por Jesus Cristo.
* Perdoai-nos a nós pecadores. Normalmente, pode acontecer que, quando lemos qualquer página do Evangelho (como, por exemplo, esta parábola) fiquemos de fora como espectadores neutrais. No caso desta parábola que temos entre mãos, somos bem capazes de julgar o jovem que sai de casa como rebelde, estroina e malcomportado e, depois, quem sabe, acabar por julgar também o irmão mais velho, que não teve a generosidade suficiente para perdoar ao seu irmão mais novo. E nós lá nos vamos acomodando numa espécie de meio termo, em que não temos que nos responsabilizar nem quanto ao comportamento do mais novo nem quanto ao do mais velho, cuja característica é a indiferença.
Ora, aqui é preciso proceder a uma inversão purificadora de mentalidade. E a operação, no fundo, é muito simples. Trata-se de aplicar a nós próprios os textos que lemos, que não aos outros e somente aos outros. De resto, é para isso mesmo que a Igreja no-los apresenta. Culpabilizar os dois jovens da parábola e inclusivamente culpabilizar as pessoas de hoje é relativamente fácil. Culpabilizar-se a si mesmo é que é mais difícil, mas mais necessário. Mas culpabilizar-se não quer dizer deixar-me invadir por um sentimento de pessimismo e de falta de confiança nas minhas possibilidades, mas, sim, para criar aquele ambiente que me permita regressar ao Pai, exatamente como fez o filho mais novo, depois de ter levado uma vida que não tinha nada de recomendável.
* O perdão é uma necessidade. Quer
a nossa vida se assemelhe à do filho mais novo, quer se assemelhe à do mais
velho, é certo que não estamos livres de ter que levar alguma «reprimenda»,
sobretudo quando baseamos as nossas exigências em princípios de justiça como
nós a entendemos e que imaginamos sempre como a verdadeira. Só que a justiça de
Deus não é exatamente a nossa justiça. Como diz Isaías da maneira de ser de
Deus, «os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos
caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais
altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos
caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos» (Is
55,8-9).
Discutir, pois, com Deus sobre a justeza ou não das suas atitudes equivale a querer que Ele seja feito à nossa imagem e semelhança. Ora é precisamente ao contrário que as coisas se passam. Que direito nós temos de «pleitear» com Ele?
Era esta uma pergunta que se fazia já o autor do livro de Jó. E é uma pergunta que me parece eternamente atual. Por conseguinte, o que podemos fazer é pedir perdão pelo mal que fizemos ou pelo bem que deixarmos de fazer, ao mesmo tempo que alimentamos uma confiança ilimitada na bondade e no amor de Deus, que enviou o seu filho não propriamente por causa dos justos, mas por causa dos pecadores, dos abandonados, dos pobres e dos necessitados. E Jesus não veio por causa dos «justos», porque esses, pelas suas atitudes, demonstram que não querem saber dele para nada.
* O homem hodierno precisa de Deus. Há na sociedade de hoje uma profunda inquietação. Vivemos submersos pelo movimento, pelas multidões, estamos sempre a empurrar-nos uns aos outros. E, no entanto, são incontáveis as pessoas que não são amadas por ninguém. Dá a impressão que não conta mais nada senão a eficiência económica. E, no entanto, parece que mesmo os que se apresentam como modelos supremos de eficiência económica não são felizes.
É que a felicidade só nasce se realmente as pessoas são reconhecidas como tais, se são estimadas, apreciadas e sobretudo amadas. Não existe «verdadeira experiência humana» sem esse respeito pela pessoa como tal.
Ora bem, Jesus revelou-nos um Deus que se interessa por cada um de nós, independentemente do que possamos ter. Ele é um Deus de amor e misericórdia, um Deus que vê os corações e que nos trata não com as regras da «justiça», mas nos envolve com o abraço do amor e do perdão. Mais, Ele é um Deus que quer que nós tratemos também os nossos irmãos com critérios que privilegiem a pessoa humana na sua profundidade e não nas vantagens que possa representar para a nossa conta bancária.
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