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segunda-feira, 12 de setembro de 2022

14 de setembro: Exaltação da Santa Cruz

Ven. João de São Sansão, religioso de nossa Ordem

1ª Leitura (Num 21,4b-9): Naqueles dias, o povo de Israel impacientou-se e falou contra Deus e contra Moisés: «Porque nos fizeste sair do Egito, para morrermos neste deserto? Aqui não há pão nem água e já nos causa fastio este alimento miserável». Então o Senhor mandou contra o povo serpentes venenosas que mordiam nas pessoas e morreu muita gente de Israel. O povo dirigiu-se a Moisés, dizendo: «Pecámos, ao falar contra o Senhor e contra ti. Intercede junto do Senhor, para que afaste de nós as serpentes». E Moisés intercedeu pelo povo. Então o Senhor disse a Moisés: «Faz uma serpente de bronze e coloca-a sobre um poste. Todo aquele que for mordido e olhar para ela ficará curado». Moisés fez uma serpente de bronze e fixou-a num poste. Quando alguém, era mordido por uma serpente, olhava para a serpente de bronze e ficava curado.

Salmo Responsorial: 77
R. Não esqueçais as obras do Senhor.

Escuta, meu povo, a minha instrução, presta ouvidos às palavras da minha boca. Vou falar em forma de provérbio, vou revelar os mistérios dos tempos antigos.

Quando Deus castigava os antigos, eles O procuravam, tornavam a voltar-se para Ele e recordavam-se de que Deus era o seu protetor, o Altíssimo o seu redentor.

Eles, porém, enganavam-no com a boca e mentiam-Lhe com a língua; o seu coração não era sincero, nem eram fiéis à sua aliança.

Mas Deus, compadecido, perdoava o pecado e não os exterminava. Muitas vezes reprimia a sua cólera e não executava toda a sua ira.

2ª Leitura (Flp 2,6-11): Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.

Aleluia. Nós Vos adoramos e bendizemos, Senhor Jesus Cristo, que pela vossa santa Cruz remistes o mundo. Aleluia.

Evangelho (Jo 3,13-17): Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu: o Filho do Homem. Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também será levantado o Filho do Homem, a fim de que todo o que nele crer tenha vida eterna. De fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele».

«A fim de que todo o que nele crer tenha vida eterna»

Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Hoje, o Evangelho é uma profecia, isto é, uma olhada no espelho da realidade que nos introduz em sua verdade, mais além do que nos dizem nossos sentidos: a Cruz, a Santa Cruz de Jesus Cristo, é o Trono do Salvador. Por isso, Jesus afirma que «deve que ser levantado o Filho do homem» (Jo 3,14).

Bem sabemos que a cruz era o suplício mais atroz e vergonhoso de seu tempo. Exaltar a Santa Cruz não deixaria de ser um cinismo se não fosse porque aí está o Crucificado. A cruz, sem o Redentor, é simples cinismo; com o Filho do Homem é a nova árvore da sabedoria. Jesus Cristo, «oferecendo-se livremente à paixão» da Cruz abriu o sentido e o destino de nosso viver: subir com Ele à Santa Cruz para abrir os braços e o coração ao Dom de Deus, num intercâmbio admirável. Também aqui nos convém escutar a voz do Pai desde o céu: «Este é meu Filho (...), em quem me comprazo» (Mc 1,11). Encontrarmos crucificados com Jesus e ressuscitar com Ele: Eis aqui o porquê de tudo! Há esperança, há sentido, há eternidade, há vida! Nós os cristãos não estamos loucos quando na Vigília Pascal, de maneira solene, quer dizer, no Pregão Pascal, cantamos, louvando o pecado original: «Oh! Culpa tão feliz, que tem merecido a graça de tão grande Redentor», que com sua dor tem impresso sentido à mesma dor.

«Olhai a árvore da cruz, foi sacrificado o Salvador do mundo: vem e adoremos» (Liturgia da Sexta-Feira Santa). Se conseguirmos superar o escândalo e a loucura de Cristo crucificado, não há nada mais que adorá-lo e agradecer-lhe seu Dom. E procurar decididamente a Santa Cruz em nossa vida, para termos a certeza de que, «por Ele, com Ele e Nele», nossa doação será transformada, nas mãos do Pai, pelo Espírito Santo, em vida eterna: «Derramada por vós e por muitos para o perdão dos pecados».

Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Onde quer que um cristão gaste a sua vida honradamente, aí deve colocar, com o seu amor, a Cruz de Cristo, que atrai a Si todas as coisas» (S. Josemaria)

«O cristianismo não existe sem a Cruz e não existe Cruz sem Jesus Cristo. Assim um cristão que não se sabe glorificar em Cristo crucificado não percebeu o que significa ser cristão» (Francisco)

«A oração da Igreja venera e honra o Coração de Jesus, tal como invoca o seu santíssimo Nome. Adora o Verbo encarnado e o seu Coração que, por amor dos homens, Se deixou trespassar pelos nossos pecados. A oração cristã gosta de percorrer o caminho da cruz (Via-Sacra) no seguimento do Salvador. As estações, do Pretório ao Gólgota e ao túmulo, assinalam o caminho de Jesus que, pela sua santa cruz, remiu o mundo.» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.669)

Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele

Armando Rodrigues Dias e Geraldo Morujão

A festa de hoje leva-nos ao Mistério pascal de Cristo que a nossa Eucaristia atualiza. Todos somos convidados a olhar na perspectiva de Deus, a centrar o nosso olhar no rosto de Cristo, rosto de misericórdia e rosto de esperança. Somos convidados a centrar toda a nossa existência em Cristo Salvador e a comprometer a nossa vida com o seu projeto de salvação.

O texto é tirado do «discurso» de Jesus a Nicodemos. Não é fácil distinguir nos discursos de Jesus em S. João, quando é que o evangelista apresenta as próprias palavras de Jesus de quando apresenta a sua reflexão divinamente inspirada sobre elas. Aqui costuma-se considerar a meditação do evangelista a partir do v. 13, meditação que, do v. 16 ao 21, é o chamado querigma joanino.

13 «Filho do Homem» tem em S. João um sentido glorioso, indicando a origem divina de Jesus, o Filho de Deus pré-existente enviado ao mundo para salvar os homens e que «subiu ao Céu», uma realidade que pertence às coisas do Céu (v. 12); nos Sinópticos, conserva mais o sentido da literatura apocalíptica (cf. Dn 7, 13; 4 Esd; Henoc Etiópico), indicando o Messias, o salvador do povo que virá no fim dos tempos e também o Messias-sofredor. Mas expressão na Filho do homem nem sempre fica bem claro o título cristológico, pois por vezes poderia não passar de um mero ateísmo, uma figura de linguagem para Jesus se referir discretamente à sua pessoa: este homem = eu.

14 «Elevado», na Cruz, entenda-se. Mas S. João joga com os dois sentidos da elevação, na Cruz e na glória. E isto não é um simples artifício literário, mas encerra um mistério profundo, pois é na Paixão que se manifesta todo o amor de Jesus (cf. Jo 13, 1), todo o seu poder divino salvífico de dar o Espírito e a vida eterna (cf. 7, 38; 12, 23-24; 17, 1.2.19), numa palavra, a sua glória, que culmina na Ressurreição (cf. 12, 16). Para a alusão à serpente de bronze, ver Nm 21, 4-9 (1ª leitura de hoje); Sab 16, 5-15 e o Targum que fala mesmo dum lugar elevado onde Moisés a colocou.

16 «Deus... entregou o seu Filho Unigénito». Parece haver aqui uma alusão ao sacrifício de Isaac (cf. Gn 22, 1-12), que os Padres consideravam uma figura de Cristo, até por aquele pormenor de Isaac subir o monte Moriá com a lenha às costas, figura de Jesus subindo o monte Calvário carregando a Cruz.

17 «Não… para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo». Jesus contraria as ideias judaicas da época, que imaginavam o Messias como um juiz que antes de mais vinha para julgar e condenar todos os que ficavam fora do Reino de Deus, ou se lhe opunham.

Deus é o Salvador. A serpente que aparece no Génesis seduz os nossos primeiros pais a elaborar um plano de vida como se Deus não existisse. A sedução astuciosa foi como veneno injetado tendo forte repercussão nas suas vidas pessoais e dos seus descendentes. Frente a esta «desgraça» relaciona-se o Deus amigo e Salvador anunciando a vitória.

Na sua caminhada e êxodo de libertação, da busca da plenitude da vida, o Povo de Deus, não está isento de inúmeras dificuldades, tentações e obstáculos. Uma dessas dificuldades são as serpentes que fazem sucumbir a muitos. Injetando o seu veneno mortal dão às suas vítimas pouco tempo de vida.

O nosso Deus é o Deus da solução. Só não se consegue solução quando não se busca a perspectiva e a lógica de Deus. Colocados na perspectiva de Deus, olhando para a serpente colocada no poste, o Povo de Deus, compreende que o seu coração deve estar colocado em Deus e assim possuir imunidade diante dos ataques do mal.

Mas esse olhar permite vislumbrar o seu ponto culminante, a centralidade da Vida, da História e da Palavra de Deus: Jesus Cristo.

Ele é já a procura do Povo da Antiga Aliança e vindo ao mundo tornou-se resposta plena, última e definitiva ao ser humano, às suas buscas e caminhadas.

Centralidade de Cristo. O mistério pascal de Cristo é a centralidade de toda a peregrinação humana e o que essa peregrinação significa na vida pessoal, comunitária, na história, na revelação de Deus e do Homem. No mistério Pascal de Cristo somos salvos de todo o pecado e da morte. Nele ilumina-se em exaltação a nossa dignidade de filhos de Deus e vive-se a esperança da vitória definitiva. Em Cristo que contemplamos como Filho de Deus e Salvador alcançamos a salvação e o remédio para os nossos males.

Contemplá-Lo como crucificado significa assumir em si mesmo este projeto de salvação e doar-se sem medo, sem barreiras e sem fronteiras. Significa que no meio da nossa caminhada não estamos isentos do veneno da ganância, do ódio, da inveja, da luxúria… do pecado. Mas em Cristo crucificado vemos sintetizado um projeto e uma proposta de vida oferecida em doação da verdade, da fidelidade, do serviço oblativo, da aceitação da humilhação evangélica, e do caminho para a vida.

Encontro e compromisso. A cruz de Cristo é proposta na nossa caminhada. É poderosa referência à autenticidade e legado mais útil a todas as gerações.

Quem constrói na cruz de Cristo constrói na verdade e na dignidade, pois ela convida e incita a que o ser humano não se deixe vencer pelas seduções do aparente desenvolvimento ou libertação. Ela desmascara toda a falsidade dos esquemas que na nossa caminhada querem destruir a vida. A cruz desmascara todos os esquemas que atacam o homem e semeiam a morte. Ela desmascara o que não é cristão e apela constantemente ao mais genuíno no seguimento e compromisso com Cristo.

A Cruz é a exaltação do serviço e da fraternidade com os outros, sobretudo os mais débeis, os fracos e os pequeninos, que se tornam muito vulnerável e frágeis diante de potentes poderes destruidores. Ela é garantia da derrota do «monstro» que se salienta pelo orgulho e soberba. Ela é a vitória daquele que deu a vida por todos, para que todos encontrem a salvação.

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