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sexta-feira, 5 de agosto de 2022

XIX Domingo do Tempo Comum

 Santo Alberto da Sicília, presbítero e Pai de Nossa Ordem
S. Caetano, presbítero

1ª Leitura (Sab 18,6-9): A noite em que foram mortos os primogénitos do Egito foi dada previamente a conhecer aos nossos antepassados, para que, sabendo com certeza a que juramentos tinham dado crédito, ficassem cheios de coragem. Ela foi esperada pelo vosso povo, como salvação dos justos e perdição dos ímpios, pois da mesma forma que castigastes os adversários, nos cobristes de glória, chamando-nos para Vós. Por isso os piedosos filhos dos justos ofereciam sacrifícios em segredo e de comum acordo estabeleceram esta lei divina: que os justos seriam solidários nos bens e nos perigos; e começaram a cantar os hinos de seus antepassados.

Salmo Responsorial: 32
R. Feliz o povo que o Senhor escolheu para sua herança.

Justos, aclamai o Senhor, os corações retos devem louvá-lo. Feliz a nação que tem o Senhor por seu Deus, o povo que Ele escolheu para sua herança.

Os olhos do Senhor estão voltados para os que O temem, para os que esperam na sua bondade, para libertar da morte as suas almas e os alimentar no tempo da fome.

A nossa alma espera o Senhor, Ele é o nosso amparo e protetor. Venha sobre nós a vossa bondade, porque em Vós esperamos, Senhor.

2ª Leitura (Heb 11,1-2.8-19): Irmãos: A fé é a garantia dos bens que se esperam e a certeza das realidades que não se veem. Ela valeu aos antigos um bom testemunho. Pela fé, Abraão obedeceu ao chamamento e partiu para uma terra que viria a receber como herança; e partiu sem saber para onde ia. Pela fé, morou como estrangeiro na terra prometida, habitando em tendas, com Isaac e Jacob, herdeiros, como ele, da mesma promessa, porque esperava a cidade de sólidos fundamentos, cujo arquiteto e construtor é Deus. Pela fé, também Sara recebeu o poder de ser mãe já depois de passada a idade, porque acreditou na fidelidade d’Aquele que lho prometeu. É por isso também que de um só homem – um homem que a morte já espreitava – nasceram descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e como a areia que há na praia do mar. Todos eles morreram na fé, sem terem obtido a realização das promessas. Mas vendo-as e saudando-as de longe, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Aqueles que assim falam mostram claramente que procuram uma pátria. Se pensassem na pátria de onde tinham saído, teriam tempo de voltar para lá. Mas eles aspiravam a uma pátria melhor, que era a pátria celeste. E como Deus lhes tinha preparado uma cidade, não Se envergonha de Se chamar seu Deus. Pela fé, Abraão, submetido à prova, ofereceu o seu filho único Isaac, que era o depositário das promessas, como lhe tinha sido dito: «Por Isaac será assegurada a tua descendência». Ele considerava que Deus pode ressuscitar os mortos; por isso, numa espécie de prefiguração, ele recuperou o seu filho.

Aleluia. Vigiai e estai preparados, porque na hora em que não pensais virá o Filho do homem. Aleluia.

Evangelho (Lc 12,32-48): «Não tenhas medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar a vós o Reino. Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei para vós bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói. Pois onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. Ficai de prontidão, com o cinto amarrado e as lâmpadas acesas. Sede como pessoas que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrir a porta, logo que ele chegar e bater. Felizes os servos que o Senhor encontrar acordados quando chegar. Em verdade, vos digo: ele mesmo vai arregaçar sua veste, os fará sentar à mesa e passará para servi-los. E caso ele chegue pela meia-noite ou já perto da madrugada, felizes serão, se assim os encontrar! Ficai certos: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, não deixaria que fosse arrombada sua casa. Vós também ficai preparados! Pois na hora em que menos pensais, virá o Filho do Homem». Então Pedro disse: «Senhor, é para nós ou para todos que contas esta parábola?». O Senhor respondeu: «Quem é o administrador fiel e atento, que o senhor encarregará de dar à criadagem a ração de trigo na hora certa? Feliz aquele servo que o senhor, ao chegar, encontrar agindo assim! Em verdade, vos digo: ele lhe confiará a administração de todos os seus bens. Ora, se um outro servo pensar: ‘Meu senhor está demorando’ e começar a bater nos criados e nas criadas, a comer, beber e embriagar-se, o senhor daquele servo chegará num dia inesperado e numa hora imprevista, ele o excluirá e lhe imporá a sorte dos infiéis. O servo que, conhecendo a vontade do senhor, nada preparou, nem agiu conforme a sua vontade, será chicoteado muitas vezes. O servo, porém, que não conhecendo essa vontade fez coisas que merecem castigo, será chicoteado poucas vezes. Portanto, todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será pedido; a quem muito foi confiado, dele será exigido muito mais!».

«Vós também ficai preparados! Pois na hora em que menos pensais, virá o Filho do Homem»

Rev. D. Melcior QUEROL i Solà (Ribes de Freser, Girona, Espanha)

Hoje, o Evangelho recorda-nos e exige-nos que fiquemos em atitude de vigília «pois na hora em que menos pensais, virá o Filho do Homem» (Lc 12,40). Há que vigiar sempre, vivendo numa saudável tensão, “desinstalados”, pois somos peregrinos num mundo que passa, sendo que nossa verdadeira pátria é o céu. É rumo a esse destino que devemos orientar a nossa vida; quer queiramos quer não, a nossa existência terrena é um projeto que tem como fim o encontro definitivo com o Senhor, e neste encontro «a quem muito foi dado, muito lhe será pedido; a quem muito foi confiado, dele será exigido muito mais!» (Lc 12,48). Não será este, por acaso, o momento culminante da nossa vida? Vivamos a vida de maneira inteligente, dando conta de qual é o verdadeiro tesouro! Não andemos atrás dos tesouros deste mundo, como tanta gente faz. Não tenhamos a mesma mentalidade!

Segundo a mentalidade mundana; tanto tens tanto vales! As pessoas são valorizadas pelo dinheiro que possuem, pela sua categoria social, pelo seu prestígio, pelo seu poder. Tudo isso, aos olhos de Deus, nada vale por si só! Suponhamos que hoje você descobre que tem uma doença incurável e que os médicos lhe estimam, no máximo, mais um mês de vida... Que faria então com o dinheiro que acumulou? De que lhe serviria o seu poder, o seu prestígio, a sua classe social? Não lhe serviriam para nada! Dê-se conta que tudo aquilo que o mundo tanto valoriza, no momento da verdade, não vale nada? E então, ao olhar para trás e à sua volta, a sua escala de valores muda radicalmente: a relação com as pessoas que lhe rodeiam, o amor, aquele olhar de paz e de compreensão, passam a ser os verdadeiros valores, autênticos tesouros que você —buscando os falsos deuses mundanos— sempre tinha menosprezado.

Que tenha a inteligência evangélica para discernir qual é o verdadeiro tesouro! Que as riquezas do seu coração não sejam os deuses deste mundo, mas sim o amor, a verdadeira paz, a sabedoria e todos os dons que Deus concede aos seus filhos prediletos.

Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Cada um de nós deve se preparar para o final: o último dia não trouxera dano nenhum para todo aquele que viva cada dia como se for o último: vive de forma que posa morrer tranquilo, porque o que more cada dia não morre para sempre» (Santo Agostinho)

«A sonolência dos discípulos segui sendo ao longo dos séculos uma ocasião favorável para o poder do mal. Esta sonolência é um embotamento da alma, que não se deixa inquietar por toda a injustiça e o sofrimento que devastam a terra» (Bento XVI)

«Positivamente, o combate contra o nosso eu, possessivo e dominador, consiste na vigilância, a sobriedade do coração. Quando Jesus insiste na vigilância, esta refere-se sempre a Ele, à sua vinda, no último dia e em cada dia:” hoje” (...)» (Catecismo da Igreja Católica, n° 2730)

O vosso Coração estará sempre onde estiverem as vossas riquezas. Se as Riquezas estiverem no céu, lá estará também o coração.

Escrito por P. Américo no site Domus Iesu

* Se as riquezas estiverem no céu, lá estará também o vosso coração. Depois do convite à confiança na Providência (texto que antecede este), Lucas insiste em que aos que procuram, antes de mais, o Reino de Deus, tudo será dado por acréscimo. Por isso, nada mais natural que o convite feito aos cristãos no sentido de tratarem de guardar o seu tesouro no céu. Este é um ponto difícil de atuar, porque a tendência que se verifica é as pessoas porem a sua confiança nos bens, como se de uma finalidade da vida se tratasse. Por um lado, sabe-se que o homem atual, embora na aparência, tenha tudo, ainda não aprendeu a ser feliz. Por outro lado, compreendemos também que, mais do que das coisas (que obviamente não deixam de ser bens), precisamos de razões de viver. O problema é realmente fazer o salto da realidade simplesmente terrestre para a realidade que realmente conta. O evangelista Lucas não se exime mesmo de, através duma espécie de parábola, dar um exemplo concreto de como convém voltarmos a nossa atenção inteiramente para Deus. Com efeito, a imagem do próprio «patrão» que se cinge com a toalha, nos manda sentar e se porá a servir-nos é uma demonstração inequívoca de que só temos a ganhar em mais prestar mais atenção ao que Deus promete: o Reino. Se de facto estivermos conscientes do que isso significa, então não teremos qualquer problema em fazer todos os sacrifícios para não descurar esse aspecto essencial da vida.

* Um tema fundamental. Após uma leitura, mesmo que superficial, das leituras deste domingo, chega-se com relativa facilidade à conclusão de que o tema fundamental é o da opção entre riqueza e pobreza. E é sobretudo o trecho evangélico que fala desse tema. Se, na primeira parte do referido trecho (que não faz parte da leitura) se falava da riqueza, agora esmiúça-se ainda mais a ideia. Assim, prossegue-se, de alguma forma, o tema do domingo anterior, que nos dizia que os bens devem ser um meio e não uma finalidade.

Rico, para o mundo, é aquele que como que nada em bens, é o pagão cujo objetivo é assegurar a sua via com os bens (cf. parábola do homem rico do domingo anterior). Rico, para Deus, é, ao contrário, aquele que está aberto a outra realidade e partilha os seus bens com os outros. Este é um tema fundamental, não só porque é a opção que o Evangelho apresenta, mas também porque é a realidade constante de todos os tempos, desde que o homem é homem. As lutas que se travam continuamente, no fundo, não são senão a tentativa de ter cada vez mais e, para isso, é que se luta pelo poder, não olhando a meios para atingir esse objetivo.

À primeira vista, parece que toda a gente corre atrás dos bens. Mas, por outro lado, o homem, na sua reflexão moral mais rigorosa, sempre teve a capacidade de ver nas riquezas um perigo de alienação. Isso acontece no momento em que os bens não servem para satisfazer as necessidades do homem, mas são os patrões da vida inteira, são o metro de todas as suas ações e iniciativas. Isso acontece quando os bens são mais importantes que o próprio homem, que é sacrificado em detrimento do que se costuma chamar o dinheiro. Felizmente, devo dizer que hoje em dia, apesar de tudo, há já muita gente que começa a convencer-se cada vez mais de que a dimensão económica não é tudo na vida das pessoas e das sociedades.

* Riqueza ou pobreza? Depende! Alguns homens de pensamento (inclusivamente místico) têm apelado para a necessidade de o homem se destacar do ter em vista da libertação e da realização pessoal. Até autores considerados modernos e desempoeirados, e por sinal nada suspeitos, como Eric Fromm, (sobretudo com o seu livro Ter ou Ser) têm apelado para o ser em vez do ter.

Mas a pobreza a que se refere o Evangelho não é bem isso, porque não basta não ter nada. Por outras palavras, o Evangelho, como acontece sempre, transcende o problema da pobreza em si mesma, dando-lhe outra dimensão. Ou seja, os bens não têm em si carga moral e, por isso, não se pode dizer que sejam maus. Antes pelo contrário, até porque lhes chamamos bens. Agora pode ser mau ou bom o uso que deles se faz.

É por isso que não é necessariamente mau aquele que tens bens nem necessariamente bom aquele que os não tem. Para ser bom bastaria então automaticamente não ter nada. Mas, como é óbvio, não é bem essa a questão. «Procurai, antes de mais, o Reino de Deus e o resto (também os bens?) vos será dado por acréscimo» está mesmo a indicar que o problema se põe a nível de prioridade e importância.

* Há uma solução pré-fabricada? Quando se fala deste tema dos bens, é quase obrigatório, por um lado, «defender» os pobres e, por outro lado, «atacar» os ricos. É de bom tom, é politicamente correto (como se diz agora). E pode ser esta também a leitura que muitos fazem da posição da Igreja, que fala, há alguns anos, de opção preferencial pelos pobres. Ora bem, a primeira constatação a que se deve chegar é que não pode ser feita uma leitura redutiva aplicando a expressão à sua componente puramente material.

Ou seja, a pobreza ou a riqueza não se medem apenas por parâmetros de materialidade, se assim se pode dizer. Também se medem por eles, mas não só. No caso das exigências de Jesus, como não podemos nunca esquecer, elas referem-se à riqueza e à pobreza no seu conteúdo quantitativo e qualitativo. Ou seja, Jesus não se limitar a dizer simplesmente que o homem deve ser pobre e pronto. Ele mostra ao homem a verdadeira riqueza, fazendo-lhe descobrir, antes de mais, a sua condição de ser inquieto em tensão sempre para algo que o ultrapassa continuamente.

Não se trata, portanto, de pregar o advento dum «reino» que será inaugurado quando morrerem ou forem destronados definitivamente os ricos da terra. O Evangelho não advoga a morte e a destruição de ninguém; nem sequer dos ricos. Essa seria uma posição política redutiva. Por outro lado, a partir do momento em que os discípulos de Jesus sabem e experimentam que os bens em si não são a coisas mais importante da vida, então são já «grandes e ricos», até porque sabem que têm a Deus, «dono» de todos os bens, como Pai.

Mas então isso não será um convite à passividade e ao adormecimento? Antes pelo contrário, isso é um convite a que tudo se faça para que todos sejam filhos do mesmo Pai e, por isso, fundamentalmente iguais; sem excluir a participação nos bens terrenos. Por outras palavras, lutar porque todos sejam fundamentalmente iguais, implica também contribuir para o progresso material da sociedade. Querendo falar em termos de igualdade, não se pode seguir outro caminho. Doutra forma, a pobreza duns é a riqueza doutros e vice-versa.

* A riqueza não é boa? A riqueza, como é «definida» pelo Evangelho, em certo sentido, pode configurar-se como algo que é exatamente a «pobreza evangélica». Ou seja, a convicção do homem de que pode passar sem Deus é a pior pobreza que alguém pode preparar para si. E, nesse sentido, sim, Jesus põe os seus ouvintes de sobreaviso. Nesse sentido, a riqueza pode ser o maior perigo, na medida em que impede de perceber o que é mais importante na vida e de intuir a última chamada de Deus.

A riqueza material, quando é a face da autossuficiência daqueles que julgam que podem tudo sem ter que prestar contas a ninguém, nem sequer a Deus, é a ausência daquela liberdade radical de coração que, ao contrário, é absolutamente necessária para aceitar em plenitude o Reino de Deus. É por esse motivo exato que Jesus pede aos que O querem seguir para renunciarem aos bens. Não por serem um mal em termos ontológicos - é o contrário - mas por incluírem o perigo de fazer pensar que, com bens, não precisamos de mais nada; nem sequer de Deus.

A riqueza, segundo a ótica de Jesus, torna-se assim um perigo quase absoluto pelo facto de que o homem, para ter, está disposto a tudo, a começar pela exploração e derrube dos outros. Se o sinal da vinda do Reino de Deus é a comunhão entre os homens e Deus, então tudo o que se opõe a essa comunhão é mau.

* Pobreza voluntária: sinal do Reino. A pobreza voluntária, ou seja, em última análise, o pôr o dinheiro no plano do serviço, é a situação privilegiada para entender o espaço primordial que tem que se conceder a Deus na vida. Aquele que é capaz de pôr isso em prática é livre para amar desinteressadamente os outros e, por conseguinte, para criar espaços de harmonia e fraternidade, construindo o Reino de Deus, não receando sequer utilizar os bens como meio para atingir esse fim.

O autêntico encontro com os outros e com Deus dá-se precisamente nesta situação de total despojamento e disponibilidade, que são resultado da convicção de que, depois de Deus, o homem é o valor mais alto e, portanto, o valor a ser tido justamente em maior consideração.

Não se fala, pois, de justiça social simplesmente, mas de fé e de amor, de pôr, como se disse, a Deus acima de todas as coisas e ao homem como tal logo a seguir, na escala de valores. Que aqui esteja o segredo da verdadeira e real eliminação da sociedade de classes?!

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