Salmo
Responsorial: 30
R. Pai, em vossas mãos entrego
o meu espírito.
Em Vós, Senhor, me refugio,
jamais serei confundido, pela vossa justiça, salvai-me. Em vossas mãos entrego
o meu espírito, Senhor, Deus fiel, salvai-me.
Tornei-me o escárnio dos meus
inimigos, o desprezo dos meus vizinhos e o terror dos meus conhecidos: todos
evitam passar por mim. Esqueceram-me como se fosse um morto, tornei-me como um objeto
abandonado.
Eu, porém, confio no Senhor:
Disse: «Vós sois o meu Deus, nas vossas mãos está o meu destino». Livrai-me das
mãos dos meus inimigos e de quantos me perseguem.
Fazei brilhar sobre mim a vossa
face, salvai-me pela vossa bondade. Tende coragem e animai-vos, vós todos que
esperais no Senhor.
2ª
Leitura (Heb 4,14-16; 5,7-9): Irmãos: Tendo nós um sumo sacerdote que
penetrou os Céus, Jesus, Filho de Deus, permaneçamos firmes na profissão da
nossa fé. Na verdade, nós não temos um sumo sacerdote incapaz de Se compadecer
das nossas fraquezas. Pelo contrário, Ele mesmo foi provado em tudo, à nossa
semelhança, exceto no pecado. Vamos, portanto, cheios de confiança, ao trono da
graça, a fim de alcançarmos misericórdia e obtermos a graça de um auxílio
oportuno. Nos dias da sua vida mortal, Ele dirigiu preces e súplicas, com
grandes clamores e lágrimas, Àquele que O podia livrar da morte, e foi atendido
por causa da sua piedade. Apesar de ser Filho, aprendeu a obediência no
sofrimento. E, tendo atingido a sua plenitude, tornou-Se, para todos os que Lhe
obedecem, causa de salvação eterna.
Cristo obedeceu até à morte e
morte de cruz. Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de
todos os nomes.
Evangelho
(Jo 18,1—19,42): Dito isso, Jesus saiu com seus discípulos para o outro
lado da torrente do Cedron. Lá havia um jardim, no qual ele entrou com os seus
discípulos. Também Judas, o traidor, conhecia o lugar, porque Jesus muitas
vezes ali se reunia com seus discípulos. Judas, pois, levou o batalhão romano e
os guardas dos sumos sacerdotes e dos fariseus, com lanternas, tochas e armas,
e chegou ali. Jesus, então, sabendo tudo o que ia acontecer com ele, saiu e
disse: «A quem procurais?» — «A Jesus de Nazaré!», responderam. Ele disse: «Sou
eu». Judas, o traidor, estava com eles. Quando Jesus disse «Sou eu», eles
recuaram e caíram por terra. De novo perguntou-lhes: «A quem procurais?» Responderam:
«A Jesus de Nazaré», Jesus retomou: «Já vos disse que sou eu. Se é a mim que
procurais, deixai que estes aqui se retirem». Assim se cumpria a palavra que
ele tinha dito: «Não perdi nenhum daqueles que me deste». Simão Pedro, que
tinha uma espada, puxou-a e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a
ponta da orelha direita. O nome do servo era Malco. Jesus disse a Pedro:
«Guarda a tua espada na bainha. Será que não vou beber o cálice que o Pai me
deu?». O batalhão, o comandante e os guardas dos judeus prenderam Jesus e o
amarraram. Primeiro, conduziram-no a Anás, sogro de Caifás, o sumo sacerdote
daquele ano. Caifás é quem tinha aconselhado aos judeus: «É conveniente que um
só homem morra pelo povo». Simão Pedro e um outro discípulo seguiam Jesus. Este
discípulo era conhecido do sumo sacerdote. Ele entrou com Jesus no pátio do
sumo sacerdote. Pedro ficou do lado de fora, perto da porta. O outro discípulo,
que era conhecido do sumo sacerdote, saiu, conversou com a empregada da porta e
levou Pedro para dentro. A criada da porta disse a Pedro: «Não pertences tu
também aos discípulos desse homem?». Ele respondeu: «Não». Os servos e os
guardas tinham feito um fogo, porque fazia frio; estavam se aquecendo, e Pedro
estava com eles para se aquecer. O sumo sacerdote interrogou Jesus a respeito
dos seus discípulos e do seu ensinamento. Jesus respondeu: «Eu falei
abertamente ao mundo. Eu sempre ensinei nas sinagogas e no templo, onde os
judeus se reúnem. Nada falei às escondidas. Por que me interrogas? Pergunta aos
que ouviram o que eu falei; eles sabem o que eu disse». Quando assim falou, um
dos guardas que ali estavam deu uma bofetada em Jesus, dizendo: «É assim que
respondes ao sumo sacerdote?». Jesus replicou-lhe: «Se falei mal, mostra em que
falei mal; e se falei certo, por que me bates?». Anás, então, mandou-o,
amarrado, a Caifás. Simão Pedro continuava lá, aquecendo-se. Disseram-lhe: «Não
és tu, também, um dos discípulos dele?». Pedro negou: «Não». Então um dos
servos do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro tinha cortado a orelha,
disse: «Será que não te vi no jardim com ele?». Pedro negou de novo, e na mesma
hora o galo cantou. De Caifás, levaram Jesus ao palácio do governador. Era de
madrugada. Eles mesmos não entraram no palácio, para não se contaminarem e
poderem comer a Páscoa. Pilatos saiu ao encontro deles e disse: «Que acusação
apresentais contra este homem?». Eles responderam: «Se não fosse um malfeitor,
não o teríamos entregue a ti!». Pilatos disse: «Tomai-o vós mesmos e julgai-o
segundo vossa lei». Os judeus responderam: «Não nos é permitido matar ninguém».
Assim se realizava o que Jesus tinha dito, indicando de que morte havia de
morrer. Pilatos entrou, de volta, no palácio, chamou Jesus e perguntou-lhe: «Tu
és o Rei dos Judeus?». Jesus respondeu: «Estás dizendo isto por ti mesmo, ou
outros te disseram isso de mim?». Pilatos respondeu: «Acaso sou eu judeu? Teu
povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?». Jesus respondeu:
«O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus
guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas, o meu reino
não é daqui». Pilatos disse: «Então, tu és rei?». Jesus respondeu: «Tu dizes
que eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade.
Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz». Pilatos lhe disse: «Que é a
verdade?». Dito isso, saiu ao encontro dos judeus e declarou: «Eu não encontro
nele nenhum motivo de condenação. Mas existe entre vós um costume de que, por
ocasião da Páscoa, eu vos solte um preso. Quereis que eu vos solte o Rei dos
Judeus?». Eles, então, se puseram a gritar: «Este não, mas Barrabás!». Ora,
Barrabás era um assaltante. Pilatos, então, mandou açoitar Jesus. Os soldados
trançaram uma coroa de espinhos, a puseram na cabeça de Jesus e o vestiram com
um manto de púrpura. Aproximavam-se dele e diziam: «Viva o Rei dos Judeus!».; e
batiam nele. Pilatos saiu outra vez e disse aos judeus: «Olhai! Eu o trago aqui
fora, diante de vós, para que saibais que eu não encontro nele nenhum motivo de
condenação». Então, Jesus veio para fora, trazendo a coroa de espinhos e o
manto de púrpura. Ele disse-lhes: «Eis o homem».! Quando o viram, os sumos
sacerdotes e seus guardas começaram a gritar: «Crucifica-o! Crucifica-o!”.
Pilatos respondeu: «Levai-o, vós mesmos, para o crucificar, porque eu não
encontro nele nenhum motivo de condenação». Os judeus responderam-lhe: «Nós
temos uma Lei, e segundo esta Lei ele deve morrer, porque se fez Filho de
Deus». Quando Pilatos ouviu isso, ficou com mais medo ainda. Entrou no palácio
outra vez e perguntou a Jesus: «De onde és tu?». Jesus ficou calado. Então
Pilatos disse-lhe: «Não me respondes? Não sabes que tenho poder para te soltar
e poder para te crucificar?». Jesus respondeu: «Tu não terias poder algum sobre
mim, se não te fosse dado do alto. Por isso, quem me entregou a ti tem maior
pecado». Por causa disso, Pilatos procurava soltar Jesus. Mas os judeus
continuavam gritando: «Se soltas este homem, não és amigo de César. Todo aquele
que se faz rei, declara-se contra César». Ouvindo estas palavras, Pilatos
trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar conhecido como
Pavimento ( em hebraico: Gábata). Era o dia da preparação da páscoa, por volta
do meio-dia. Pilatos disse aos judeus: «Eis o vosso rei». Eles, porém,
gritavam: «Fora! Fora! Crucifica-o!». Pilatos disse: «Vou crucificar o vosso
rei?». Os sumos sacerdotes responderam: «Não temos rei senão César». Pilatos,
então, lhes entregou Jesus para ser crucificado. Eles tomaram conta de Jesus. Carregando
a sua cruz, ele saiu para o lugar chamado Calvário (em hebraico: Gólgota). Lá,
eles o crucificaram com outros dois, um de cada lado, ficando Jesus no meio.
Pilatos tinha mandado escrever e afixar na cruz um letreiro; estava escrito
assim: «Jesus de Nazaré, o Rei dos Judeus». Muitos judeus leram o letreiro,
porque o lugar onde Jesus foi crucificado era perto da cidade; e estava escrito
em hebraico, em latim e em grego. Os sumos sacerdotes disseram então a Pilatos:
«Não escrevas: ‘O Rei dos Judeus’, e sim: ‘Ele disse: Eu sou o Rei dos Judeus’.
Pilatos respondeu: «O que escrevi, escrevi». Depois que crucificaram Jesus, os
soldados pegaram suas vestes e as dividiram em quatro partes, uma para cada
soldado. A túnica era feita sem costura, uma peça só de cima em baixo. Eles
combinaram: «Não vamos rasgar a túnica. Vamos tirar sorte para ver de quem
será». Assim cumpriu-se a Escritura: «Repartiram entre as minhas vestes e
tiraram a sorte sobre minha túnica». Foi isso que os soldados fizeram. Junto à
cruz de Jesus estavam de pé sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e
Maria Madalena. Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele
amava, disse à mãe: «Mulher, eis o teu filho!». Depois disse ao discípulo: «Eis
a tua mãe!». A partir daquela hora, o discípulo a acolheu no que era seu. Depois
disso, sabendo Jesus que tudo estava consumado, e para que se cumprisse a
Escritura até o fim, disse: «Tenho sede!». Havia ali uma jarra cheia de
vinagre. Amarraram num ramo de hissopo uma esponja embebida de vinagre e a
levaram à sua boca. Ele tomou o vinagre e disse: “Está consumado”. E,
inclinando a cabeça, entregou o espírito. Era o dia de preparação do sábado, e
este seria solene. Para que os corpos não ficassem na cruz no sábado, os judeus
pediram a Pilatos que mandasse quebrar as pernas dos crucificados e os tirasse
da cruz. Os soldados foram e quebraram as pernas, primeiro a um dos
crucificados com ele e depois ao outro. Chegando a Jesus viram que já estava
morto. Por isso, não lhe quebraram as pernas, mas um soldado golpeou-lhe o lado
com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água. (Aquele que viu dá
testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro; ele sabe que fala a verdade, para
que vós, também, acrediteis.) Isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura
que diz: «Não quebrarão nenhum dos seus ossos». E um outro texto da Escritura
diz: «Olharão para aquele que traspassaram». Depois disso, José de Arimatéia
pediu a Pilatos para retirar o corpo de Jesus; ele era discípulo de Jesus às
escondidas, por medo dos judeus. Pilatos o permitiu. José veio e retirou o
corpo. Veio também Nicodemos, aquele que anteriormente tinha ido a Jesus de
noite; ele trouxe uns trinta quilos de perfume feito de mirra e de aloés. Eles
pegaram o corpo de Jesus e o envolveram, com os perfumes, em faixas de linho,
do modo como os judeus costumam sepultar. No lugar onde Jesus foi crucificado
havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo, onde ninguém tinha sido ainda
sepultado. Por ser dia de preparação para os judeus, e como o túmulo estava
perto, foi lá que eles colocaram Jesus.
«Ele tomou o vinagre e disse:
“Está consumado”. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito»
+ Rev. D. Francesc CATARINEU i
Vilageliu (Sabadell, Barcelona, Espanha)
Escutamos na leitura da Paixão
que nos transmite o testemunho de São João, presente no Calvário com Maria, a
Mãe do Senhor e as mulheres. É um relato rico em simbologia, onde cada pequeno
detalhe tem sentido. Mas também o silêncio e a austeridade da Igreja, hoje nos
ajudam a viver num clima de oração, atentos ao dom que celebramos.
Diante deste mistério tão grande,
estamos chamados —mais que tudo— a ver. A fé cristã não é a relação reverencial
a um Deus que está longe e abstrato que desconhecemos, senão a adesão a uma
Pessoa, verdadeiro homem como nós e também verdadeiro Deus. O “Invisível”
fez-se carne da nossa carne, e assumiu ser homem até a morte e morte de cruz.
Foi uma morte aceitada como resgate por todos, morte redentora, morte que nos
dá vida. Aqueles que estavam aí e o viram, nos transmitiram os fatos e ao mesmo
tempo, nos descobrem o sentido daquela morte.
Ante isto, sentimo-nos
agradecidos e admirados. Conhecemos o preço do amor: «Ninguém tem maior amor do
que aquele que dá a sua vida por seus amigos» (Jo 15,13). A oração cristã não é
só pedir, senão— e principalmente— admirar agradecidos.
Para nós, Jesus é modelo que
temos que imitar, quer dizer, reproduzir em nós as suas atitudes. Temos que ser
pessoas que amam até darmo-nos e que confiamos no Pai em toda adversidade.
Isto contrasta com a atmosfera
indiferente da nossa sociedade; por isso o nosso testemunho tem que ser mais
valente do que nunca, já que o dom é para todos. Como diz Melitão de Sardes,
«Ele nos fez passar da escravidão à liberdade, das trevas à luz, da morte à
vida. Ele é a Páscoa da nossa salvação».
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«A cruz é a inclinação mais
profunda da Divindade para com o homem. A cruz é como um toque de amor eterno
nas feridas mais dolorosas da existência terrena do homem» (São João Paulo II)
«O perdão custa algo, sobretudo a
quem perdoa (…). Deus só pode vencer a culpa e o sofrimento dos homens
intervindo pessoalmente, sofrendo Ele próprio no seu Filho, que carregou este
fardo e o superou dando-se a si mesmo» (Bento XVI)
«Este desejo de fazer seu o plano
do amor de redenção do seu Pai, anima toda a vida de Jesus. A sua paixão
redentora é a razão de ser da Encarnação: ‘Pai, salva-Me desta hora! Mas por
causa disto, é que Eu cheguei a esta hora’ (Jo 12, 27). ‘O cálice que o Pai Me
deu, não havia de bebê-lo?’ (Jo 18, 11). E ainda na cruz, antes de ‘tudo estar
consumado’ (Jo 19, 30), diz: ‘Tenho sede’» (Catecismo da Igreja Católica, nº
607)
A hora de Jesus no Horto de
Getsêmani
Elaborado com base nos textos de Bento XVI (Città del Vaticano, Vaticano)
Hoje o Monte das Oliveiras — o
mesmo de então—um dos lugares mais venerados do cristianismo. Nele encontramos
um dramático ponto culminante do mistério de nosso Redentor: ai Jesus
experimentou a "última solidão", toda a tribulação do ser homem. Aí,
o abismo do pecado e do mal chegou até o fundo da alma. Aí se estremeceu diante
da morte eminente. Aí o beijou o traidor. Ai todos os discípulos o abandonaram.
São João recolhe todas estas
experiências e dá uma interpretação teológica do lugar: com a palavra
"horto" faz alusão à narração do Paraíso e do pecado original. Quer
nos dizer que ao se retomar aquela história. Naquele horto, no
"jardim" do Éden, se produz uma traição, mas "horto" é
também o lugar da ressurreição.
No horto Jesus aceitou até o
fundo a vontade do Pai, a fez sua, e assim deu uma transformação a história.
Aqui Ele lutou também por mim!
A Paixão de Cristo
Rev. D. Antoni CAROL i
Hostench(Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
Deus podia nós redimir de mil
modos diferentes. Escolheu o caminho do sofrimento até dar a vida. “Perder a
vida” é a manifestação mais radical de amor. Não há improvisação: Profetizado
já no Antigo Testamento, Jesus o predisse várias vezes; na Última Ceia nos deu
de presente como alimento seu "Corpo que será entregue"; em Getsemani
reza e diz "sim" a Deus-Pai. Na Cruz — plenamente consciente — mais
uma vez diz “SIM”, entregando com liberdade e serenidade seu espírito.
Jesus, meu Redentor, cuidarei de
ti com minhas mãos, te defenderei com meus braços, te exaltarei com
inteligência, te adorarei com todo meu coração. O farei com tua e nossa Bendita
Mãe, Santa Maria.
A postura do orador: Jesus
reza de joelhos
Hoje, depois da exortação à
vigilância dirigida aos Apóstolos, Jesus se distancia um pouco. Começa
propriamente a oração do Monte das Oliveiras. Mateus e Marcos nos dizem que
Jesus caiu com o rosto na terra: a postura de oração que expressa a extrema
submissão à vontade de Deus, o abandono mais radical a Ele; uma postura que a
liturgia ocidental inclui ainda na sexta-feira Santa e na profissão monástica,
assim como na Ordenação de diáconos, presbíteros e bispos.
No entanto, Lucas diz que Jesus
orou de joelhos. Introduz assim, baseando-se na postura de oração, esta luta
noturna de Jesus no contexto da história da oração cristã: enquanto a
lapidavam, Estevão dobra os joelhos e ora (cf. At 7,60); Pedro se ajoelha antes
de ressuscitar a Tabita da morte (cf. At 9,40); se ajoelha Paulo quando se
despede dos presbíteros de Efésio (cf. At 20,36)…
Contemplemos Jesus, o Servo
sofredor. O que não sofreu para nos salvar!
Pe Antônio Rivero LC
Em primeiro lugar, quem resiste
contemplar este Servo sofredor? Desprezado, sem estima, leproso, ferido de
Deus, humilhado, trespassado pelas nossas rebeliões (1ª leitura), com medo,
pavor, tristeza, tédio, gritos, lágrimas. Ai, jogado no horto das oliveiras.
Ai, aniquilado e sangrando na flagelação. Ai, blasfemado, injuriado, insultado
na cruz. Aí, pregado mãos e pés no madeiro ignominioso da cruz. Ai, com o
flanco sangrando pela culpa dessa lança cruel. Ai, deitado na cruz, o céu
fechado sem a voz do seu Pai e uma noite escura interior terrível.
Em segundo lugar, não obstante,
esse Servo sofredor é modelo e exemplo para nós (2ª leitura). Modelo de
obediência ao Pai acima de tudo. Modelo de amor pelos homens até dar a vida por
eles. Modelo de perdão sem medida. Modelo de mansidão, que diante de tanta
injustiça não esperneou nem sequer se rebelou. Modelo de generosidade, que
enquanto ao seu redor cada um tirava um proveito para si, Ele nada reservou
para si mesmo. Modelo na hora de sofrer com paciência tanto atropelamento,
golpes, empurrões, cusparadas, bofetadas, açoites, coroa de espinhos. Modelo de
fidelidade até o final ao plano de Deus. Modelo de confiança nas mãos do seu
Pai.
Finalmente, cada um de nós tem
algo de culpa na dor deste Servo sofredor. Os Judas que traem Jesus e o vendem
por umas moedas de prazer. Os Pedros que negam Jesus para salvar a sua pele. Os
outros discípulos que o abandonam de medo da cruz. Os que o martirizam e
crucificam fazendo sofrer os seus irmãos, com os quais Cristo se identifica. Os
Anás que estão bem apoltronados no seu sofá amidonado, que escondem no seu
palácio uma máfia, sendo ele o padrinho onipotente, cético e agnóstico,
disposto a dar uma bofetada em Jesus diante da força da verdade que ele não
aceitava; sim, esse Anás que passará para a história como o protótipo de homem
que faz valer os seus direitos de “autoridade aposentada”, para humilhar os
outros, dar-se importância… E como não pôde, recorreu à violência baixa e
própria de vilões. Homem orgulhoso, expeditivo, frontal, prático, seguro de sim
mesmo. Também estão os Caifás. Caifás era homem mais político que ético: estava
interessado na religião do “interesse”, disposto a praticá-la, embora tivesse
que passar por cima da morte, enquanto lhe proporcionasse algo. Este era
Caifás: um juiz que pronunciou a sentença, muito antes que o juízo começasse.
Homem orgulhoso, expeditivo, frontal, cortante, prático, seguro de sim mesmo.
Culpa também têm os covardes Pilatos de turno que preferem lavar as mãos para
não perder o posto de prestígio, embora tenham que sacrificar a verdade e dar
morte ao inocente. Claro está que têm o seu peso de culpa os Herodes
supersticiosos, sensuais, frívolos que pretendem servir-se de Jesus como
diversão da festa. E também os Barrabás, baderneiros, criminais, assassinos.
Menos mal que também estavam os que consolaram Jesus: a sua santa Mãe, João
evangelista, o Cireneu, as santas mulheres, a Verônica.
Para
refletir: Quero acompanhar Cristo
na sua Paixão e Morte, ou serei mais um na lista de quem fizer Cristo sofrer
neste ano? Qual personagem da Paixão eu quero protagonizar neste ano?
Para
rezar: Senhor, piedade e
misericórdia. Senhor, obrigado por ter me salvado. Senhor, dai-me a graça de
lutar contra o pecado e de levar a minha própria cruz, pequeno pedaço da vossa
enorme cruz.
Qualquer
sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
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