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quarta-feira, 27 de abril de 2022

Sexta-feira da 2ª semana da Páscoa

Santa Catarina de Sena, virgem e doutora da Igreja
Beato Nicolau de Narbonne, Presbítero e 8º Prior Geral de nossa Ordem

1ª Leitura (At 5,34-42): Naqueles dias, levantou-se um homem no Sinédrio, um fariseu chamado Gamaliel, doutor da Lei venerado por todo o povo, e mandou sair os Apóstolos por uns momentos. Depois disse: «Israelitas, tende cuidado com o que ides fazer a estes homens. Há tempos, apareceu Teudas, que dizia ser alguém, e seguiram-no cerca de quatrocentos homens. Ele foi liquidado e todos os seus partidários foram destroçados e reduzidos a nada. Depois dele, nos dias do recenseamento, apareceu Judas, o Galileu, que arrastou o povo atrás de si. Também ele pereceu e todos os seus partidários foram dispersos. Agora vou dar-vos um conselho: Não vos metais com estes homens: deixai-os. Porque se esta iniciativa, ou esta obra, vem dos homens, acabará por si mesma. Mas se vem de Deus, não podereis destrui-la e correis o risco de lutar contra Deus». Eles aceitaram o seu conselho. Chamaram de novo os Apóstolos à sua presença e, depois de os terem mandado açoitar, proibiram-nos falar no nome de Jesus e soltaram-nos. Os Apóstolos saíram da presença do Sinédrio cheios de alegria, por terem merecido serem ultrajados por causa do nome de Jesus. E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar e anunciar a boa nova de que Jesus era o Messias.

Salmo Responsorial: 26

R. Uma só coisa peço ao Senhor: habitar na sua morada.

O Senhor é minha luz e salvação: a quem hei de temer? O Senhor é a defesa da minha vida: de quem hei de ter medo?

Uma coisa peço ao Senhor, por ela anseio: habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para gozar da suavidade do Senhor e visitar o seu santuário.

Espero vir a contemplar a bondade do Senhor na terra dos vivos. Confia no Senhor, sê forte. Tem confiança e confia no Senhor.

Aleluia. Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Aleluia.

Evangelho (Jo 6,1-15): Depois disso, Jesus foi para o outro lado do mar da Galileia, ou seja, de Tiberíades. Uma grande multidão o seguia, vendo os sinais que ele fazia a favor dos doentes. Jesus subiu a montanha e sentou-se lá com os seus discípulos. Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus. Levantando os olhos e vendo uma grande multidão que vinha a ele, Jesus disse a Filipe: «Onde vamos comprar pão para que estes possam comer?». Disse isso para testar Filipe, pois ele sabia muito bem o que ia fazer. Filipe respondeu: «Nem duzentos denários de pão bastariam para dar um pouquinho a cada um”. Um dos discípulos, André, irmão de Simão Pedro, disse: «Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas, que é isso para tanta gente?». Jesus disse: «Fazei as pessoas sentar-se». Naquele lugar havia muita relva, e lá se sentaram os homens em número de aproximadamente cinco mil. Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu aos que estavam sentados, tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes. Depois que se fartaram, disse aos discípulos: «Juntai os pedaços que sobraram, para que nada se perca!». Eles juntaram e encheram doze cestos, com os pedaços que sobraram dos cinco pães de cevada que comeram. À vista do sinal que Jesus tinha realizado, as pessoas exclamavam: «Este é verdadeiramente o profeta, aquele que deve vir ao mundo». Quando Jesus percebeu que queriam levá-lo para proclamá-lo rei, novamente se retirou sozinho para a montanha.

«Disse isso para testar Filipe, pois ele sabia muito bem o que ia fazer»

Rev. D. Jordi POU i Sabater (Sant Jordi Desvalls, Girona, Espanha)

Hoje lemos o Evangelho da multiplicação dos pães: «Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu aos que estavam sentados, tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes» (Jo 6, 11). A preocupação dos Apóstolos diante de tanta gente faminta nos faz pensar hoje em uma multidão atual, não faminta, mas ainda pior: afastada de Deus, com uma “anorexia espiritual” que impede de participar da Páscoa e conhecer a Jesus. Não sabemos como chegar a tanta gente… Alenta-nos na leitura de hoje uma mensagem de esperança: não importa a falta de meios, mas os recursos sobrenaturais; não sejamos “realistas”, mas “confiantes” em Deus. Assim, quando Jesus pergunta a Filipe onde podia comprar pão para todos, na realidade «disse isso para testar Filipe, pois ele sabia muito bem o que ia fazer» (Jo 6, 5-6). O Senhor espera que confiemos Nele.

Ao contemplar esses “sinais dos tempos”, não queremos passividade (preguiça, fraqueza por falta de luta…), mas esperança: o Senhor, para fazer o milagre, quer a dedicação dos Apóstolos e a generosidade do jovem que entrega alguns pães e peixes. Jesus aumenta nossa fé, obediência e audácia, embora não vejamos logo o fruto do trabalho, da mesma forma como o camponês não vê brotar a planta logo depois da semeadura. «Fé, portanto, sem permitir que o desalento nos desanime; sem que paremos em cálculos meramente humanos. Para superar os obstáculos, há que se começar trabalhando, empenhando-nos inteiramente na tarefa, de modo que o nosso próprio esforço nos leve a abrir novos caminhos» (São Josemaria Escrivá), que aparecerão de forma insuspeita.

Não esperemos o momento ideal para fazer a nossa parte: devemos fazê-la o quanto antes, pois Jesus nos espera para fazer o milagre. «As dificuldades que o panorama mundial apresenta neste começo do novo milênio nos induzem a pensar que só uma intervenção do alto pode fazer-nos esperar um futuro menos obscuro», escreveu João Paulo II. Acompanhemos, pois, esse panorama com o Rosário da Virgem, pois sua intercessão se tem feito notar em muitos momentos delicados sobre quais tem deixado sua marca profunda a história da Humanidade.

Pensamentos para o Evangelho de hoje

«Jesus não tinha bens materiais suficientes (…). O que a razão humana não ousou esperar, com Jesus tornou-se realidade graças ao coração generoso de um menino» (São João Paulo II)

«Jesus não permite que a necessidade do homem se reduza ao pão, às necessidades biológicas e materiais. ‘Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’ (Mt 4,4; Dt 8,3)» (Bento XVI)

«Ao libertar certos homens dos males terrenos da fome (297), da injustiça (298) da doença e da morte (299) – Jesus realizou sinais messiânicos; no entanto, Ele não veio para abolir todos os males deste mundo (300), mas para libertar os homens da mais grave das escravidões, a do pecado (301), que os impede de realizar a sua vocação de filhos de Deus e é causa de todas as servidões humanas» (Catecismo da Igreja Católica, nº 549)

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

* Hoje começa a leitura do capítulo 6 do evangelho de João que se prolongará por vários dias. Sinal da importância deste capítulo para a vivência da nossa fé. O capítulo 6 traz dois sinais ou milagres: a multiplicação dos pães (Jo 6,1-15) e a caminhada sobre as águas (Jo 6,16-21). Em seguida, traz o longo diálogo sobre o Pão da Vida (Jo 6,22-71). João situa o fato perto da festa de Páscoa (Jo 6,4). O enfoque central é o confronto entre a antiga Páscoa do Êxodo e a nova Páscoa que se realiza em Jesus. O diálogo sobre o pão da vida vai esclarecer a nova páscoa que se realiza em Jesus.

* João 6,1-4: A situação.  Na antiga páscoa, o povo atravessou o Mar Vermelho. Na nova páscoa, Jesus atravessa o Mar da Galileia. Uma grande multidão seguia a Moisés. Uma grande multidão segue Jesus neste novo êxodo. No primeiro êxodo, Moisés subiu a Montanha. Jesus, o novo Moisés, também sobe à montanha. O povo seguia Moisés que realizou grandes sinais. O povo segue a Jesus porque tinha visto os sinais que ele fazia para os doentes.

* João 6,5-7: Jesus e Filipe.  Vendo a multidão, Jesus confronta os discípulos com a fome do povo e pergunta a Filipe: "Onde vamos comprar pão para esse povo poder comer?" No primeiro êxodo, Moisés tinha conseguido alimento para o povo faminto. Jesus, o novo Moisés, irá fazer a mesma coisa. Mas Filipe, em vez de olhar a situação à luz da Escritura, olhava a situação com os olhos do sistema e respondeu: "Duzentos denários não bastam!" Um denário era o salário-mínimo de um dia. Filipe constata o problema e reconhece a sua total incapacidade para resolvê-lo. Faz o lamento, mas não apresenta nenhuma solução.

* João 6,8-9: André e o menino. André, em vez de lamentar, busca solução. Ele encontra um menino com cinco pães e dois peixes. Cinco pães de cevada e dois peixes eram o sustento diário do pobre. O menino entrega o seu sustento! Ele poderia ter dito: "Cinco pães e dois peixes, o que é isso para tanta gente? Não vai dar para nada! Vamos partilhá-los aqui entre nós com duas ou três pessoas!" Em vez disso, ele teve a coragem de entregar os cinco pães e os dois peixes para alimentar 5000 pessoas (Jo 6,10)!  Quem faz isso, ou é louco ou tem muita fé, acreditando que, por amor a Jesus, todos se disponham a partilhar sua comida como fez o menino!

* João 6,10-11: A multiplicação . Jesus pede para o povo se acomodar na grama. Em seguida, multiplicou o sustento, a ração do pobre. Diz o texto: "Jesus tomou os pães e, depois de ter dado graças, distribuiu-os aos presentes, assim como os peixes, tanto quanto queriam!" Com esta frase, escrita no ano 100 depois de Cristo, João evoca o gesto da Última Ceia (1Cor 11,23-24). A Eucaristia, quando celebrada como deve, levará as pessoas à partilha como levou o menino a entregar seu sustento para ser partilhado.

* João 6,12-13: A sobra dos doze cestos. O número doze evoca a totalidade do povo com suas doze tribos. João não informa se sobrou algo dos peixes. O que interessa a ele é evocar o pão como símbolo da Eucarística. O evangelho de João não tem a descrição da Ceia Eucarística, mas descreve a multiplicação dos pães como símbolo do que deve acontecer nas comunidades através da celebração da Ceia Eucarística. Se entre os povos cristãos houvesse real partilha, haveria comida abundante para todos e sobrariam doze cestos para muitos outros povos!

* João 6,14-15: Querem fazê-lo rei. O povo interpreta o gesto de Jesus dizendo: "Esse é verdadeiramente o profeta que deve vir ao mundo!" A intuição do povo é correta. Jesus de fato é o novo Moisés, o Messias, aquele que o povo estava esperando (Dt 18,15-19). Mas esta intuição tinha sido desviada pela ideologia da época que queria um grande rei que fosse forte e dominador. Por isso, vendo o sinal, o povo proclama Jesus como Messias e avança para fazê-lo rei! Jesus percebendo o que ia acontecer, refugia-se sozinho na montanha. Não aceita esta maneira de ser messias e aguarda o momento oportuno para ajudar o povo a dar um passo.

Para um confronto pessoal

1) Diante do problema da fome no mundo, você age como Filipe, como André ou como o menino?

2) O povo queria um messias que fosse rei forte e poderoso. Hoje, muitos vão atrás de líderes populistas. O que o evangelho de hoje nos tem a dizer sobre isto?

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