Salmo
Responsorial: 26
R. O Senhor é a minha luz e a
minha salvação.
O Senhor é minha luz e salvação:
a quem hei de temer? O Senhor é protetor da minha vida: de quem hei de ter
medo?
Quando os malvados me assaltaram
para devorar a minha carne, foram eles, meus inimigos e adversários, que
vacilaram e caíram.
Se um exército me vier cercar, o
meu coração não temerá. Se contra mim travarem batalha, mesmo assim terei
confiança.
Espero vir a contemplar a bondade
do Senhor na terra dos vivos. Confia no Senhor, sê forte. Tem coragem e confia
no Senhor.
Salve, Senhor, nosso Rei; só
Vós tivestes piedade dos nossos erros.
Evangelho
(Jo 12,1-11): Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde
morava Lázaro, que ele tinha ressuscitado dos mortos. Lá, ofereceram-lhe um
jantar. Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. Maria,
então, tomando meio litro de perfume de nardo puro e muito caro, ungiu os pés
de Jesus e os enxugou com os cabelos. A casa inteira encheu-se do aroma do
perfume. Judas Iscariotes, um dos discípulos, aquele que entregaria Jesus,
falou assim: “Por que este perfume não foi vendido por trezentos denários para
se dar aos pobres?». Falou assim, não porque se preocupasse com os pobres, mas,
porque era ladrão: ele guardava a bolsa e roubava o que nela se depositava.
Jesus, porém, disse: «Deixa-a! que ela o guarde em vista do meu sepultamento.
Os pobres, sempre os tendes convosco. A mim, no entanto, nem sempre tereis». Muitos
judeus souberam que ele estava em Betânia e foram para lá, não só por causa
dele, mas também porque queriam ver Lázaro, que Jesus tinha ressuscitado dos
mortos. Os sumos sacerdotes, então, decidiram matar também Lázaro, pois por
causa dele muitos se afastavam dos judeus e começaram a crer em Jesus».
«Ungiu os pés de Jesus e os
enxugou com os cabelos»
Rev. D. Jordi POU i Sabater (Sant
Jordi Desvalls, Girona, Espanha)
Qualquer protesto deve ser um ato
de responsabilidade: ao protestar devemos pensar como seria se nós o tivéssemos
feito, o que estamos dispostos a fazer. Caso contrário o protesto pode ser
apenas —como neste caso— a queixa dos que atuam mal perante os que procuram
fazer as coisas o melhor que conseguem.
Maria unge os pés de Jesus e
seca-os com os seus cabelos, porque acredita ser o que deve fazer. É uma ação
pintada de excelente magnanimidade: fê-lo tomando meio litro de perfume de
nardo puro e muito caro» (Jo 12,3). É um ato de amor e, como todo o ato de
amor, difícil de entender pelos que não o partilham. Creio que a partir daquele
momento, Maria entendeu o que séculos mais tarde Santo Agostinho escreveria:
«provavelmente, nesta terra, os pés do Senhor ainda estejam necessitados. Pois,
quem, fora dos seus membros, disse: “Tudo o que fizerdes a um destes mais
pequenos… é a mim que o fazeis? Vós gastais aquilo que vos sobra, mas fizestes
o que é de agradecer aos meus pés».
O protesto de Judas não tem
nenhuma utilidade, apenas leva à traição. A ação de Maria leva-a a amar mais ao
seu Senhor e, como consequência, a amar mais os “pés” de Cristo que existem
neste mundo.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Ó dom preciosíssimo da Cruz! Que
tem uma aparência muito esplendorosa! Não contém, como a árvore do paraíso, o
bem e o mal misturados. É uma árvore que gera vida, sem causar a morte; que
ilumina sem produzir sombras; que introduz no paraíso, sem expulsar a ninguém»
(Santo Teodoro Estudita)
«O amor não calcula, não mede,
não repara em gastos, não coloca barreiras, mas sabe doar com alegria, busca
somente o bem do outro, vence a mesquinhez, a avareza, os ressentimentos, o
fechamento que o homem as vezes carrega em seu coração» (Bento XVI)
«Jesus faz sua esta palavra:”
Pobres, sempre os haveis de ter convosco; a Mim, nem sempre Me tereis” (Jo
12,8). Com isto não faz caducar à forca dos oráculos antigos:” Compraremos os
necessitados por dinheiro e os pobres por um par de sandálias” (Am 8,6), mas
convida-nos a reconhecer a sua presença na pessoa dos pobres que são seus
irmãos» (Catecismo da Igreja Católica, n° 2449)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
* João 12,1-2: Jesus,
perseguido pelos judeus, vai a Betânia. Seis dias antes da Páscoa, Jesus
vai a Betânia na casa das suas amigas Marta e Maria e de Lázaro. Betânia
significa Casa da Pobreza. Ele estava sendo perseguido pela polícia (Jo 11,57).
Queriam matá-lo (Jo 11,50). Mesmo sabendo que a polícia estava atrás de Jesus,
Maria, Marta e Lázaro receberam Jesus em casa e ofereceram um jantar para ele.
Acolher em casa uma pessoa perseguida e oferecer-lhe um jantar era perigoso.
Mas o amor faz superar o medo
* João 12,3: Maria unge Jesus.
Durante o jantar, Maria unge os pés de Jesus com meio litro de perfume de nardo
puro (cf. Lc 7,36-50). Era um perfume cheiroso, caríssimo, de trezentos
denários. Em seguida, ela enxuga os pés de Jesus com seus cabelos. A casa
inteira ficou cheia do perfume. Em todo este episódio, Maria não fala. Só age.
O gesto cheio de simbolismo fala por si mesmo. Lavando os pés, Maria se faz
servidora. Jesus vai repetir o gesto na última ceia (Jo 13,5).
* João 12,4-6: Reação de
Judas. Judas critica o gesto de Maria. Acha que é um desperdício. De fato,
trezentos denários eram o salário de trezentos dias! O salário de quase um ano
inteiro foi gasto de uma só vez! Judas acha que o dinheiro deveria ser dado aos
pobres. O evangelista comenta que Judas não tinha nenhuma preocupação com os
pobres, mas que era um ladrão. Tinha a bolsa comum e roubava dinheiro.
Julgamento forte que condena Judas. Não condena a preocupação com os pobres,
mas sim a hipocrisia que usa os pobres para se promover e se enriquecer. Nos
seus interesses egoístas, Judas só pensava em dinheiro. Por isso não percebeu o
que estava no coração de Maria. Jesus enxerga o coração e defende Maria.
* João 12,7-8: Jesus defende a
mulher. Judas olha o gasto e critica a mulher. Jesus olha o gesto e defende
a mulher: “Deixa-a! Ela o conservou para o dia da minha sepultura!" Em seguida, Jesus diz: "Pobres sempre
tereis, mas a mim nem sempre tereis!"
Quem dos dois vivia mais perto de Jesus: Judas ou Maria? Como discípulo,
Judas convivia com Jesus há quase três anos, vinte e quatro horas por dia.
Fazia parte do grupo. Maria só o encontrava uma ou duas vezes ao ano, por
ocasião das festas, quando Jesus vinha a Jerusalém e visitava a casa dela. Só a
convivência sem o amor não faz conhecer. Tolhe o olhar. Judas era cego. Muita
gente convive com Jesus e até o louva com muito canto, mas não o conhece de
verdade nem o revela (cf. Mt 7,21). Duas afirmações de Jesus merecem um
comentário mais detalhado: (1) “Pobres sempre tereis”, e (2) “Ela
guardou o perfume para me ungir no dia do meu sepultamento”.
* 1. “Pobres sempre tereis”. Será que Jesus quis dizer que não devemos
preocupar-nos com os pobres, visto que sempre vai haver gente pobre? Será que a
pobreza é um destino imposto por Deus? Como entender esta frase? Naquele tempo,
as pessoas conheciam o Antigo Testamento de memória. Bastava Jesus citar o
começo de uma frase do AT, e as pessoas já sabiam o resto. O começo da frase
dizia: “Vocês vão ter sempre os pobres com vocês!” (Dt 15,11a). O resto da
frase que o povo já conhecia e que Jesus quis lembrar, era este: “Por isso, eu
ordeno: abra a mão em favor do seu irmão, do seu pobre e do seu indigente, na
terra onde você estiver!” (Dt 15,11b). Conforme esta Lei, a comunidade deve
acolher os pobres e partilhar com eles seus próprios bens. Mas Judas, em vez de
“abrir a mão em favor do pobre” e de partilhar com ele seus próprios bens,
queria fazer caridade com o dinheiro dos outros! Queria vender o perfume de
Maria por trezentos denários e usá-los para ajudar os pobres. Jesus cita a Lei
de Deus que ensinava o contrário. Quem, como Judas, faz campanha com o dinheiro
da venda dos bens dos outros, não incomoda. Mas aquele que, como Jesus, insiste
na obrigação de acolher os pobres e de partilhar com eles os próprios bens,
este incomoda e corre o perigo de ser condenado.
* 2.
"Ela guardou esse perfume para me ungir no dia do meu sepultamento" A morte na cruz era o castigo terrível e
exemplar, adotado pelos romanos para castigar os subversivos que se opunham ao
império. Uma pessoa condenada à morte de cruz não recebia sepultura e não podia
ser ungida, pois ficava pendurada na cruz até que os animais comessem o
cadáver, ou recebia sepultura rasa de indigente. Além disso, conforme a Lei do
Antigo Testamento, ela devia ser considerada como "maldita por Deus"
(Dt 21, 22-23). Jesus ia ser condenado à morte de cruz, consequência do seu
compromisso com os pobres e da sua fidelidade ao Projeto do Pai. Não ia ter
enterro. Por isso, depois de morto, não poderia ser ungido. Sabendo disso,
Maria se antecipa e o unge antes de ser crucificado. Com este gesto, ela mostra
que aceitava Jesus como Messias, mesmo crucificado! Jesus entende o gesto dela e o aprova.
* João 12,9-11: A multidão e
as autoridades. Ser amigo de Jesus pode ser perigoso. Lázaro corre perigo
de morte por causa da vida nova que recebeu de Jesus. Os judeus decidiram
matá-lo. Um Lázaro vivo era prova viva de que Jesus era o Messias. Por isso, a
multidão o procurava, pois o povo queria experimentar de perto a prova viva do
poder de Jesus. Uma comunidade viva corre perigo de vida porque é prova viva da
Boa Nova de Deus!
Para um confronto pessoal
1) Maria foi mal
interpretada por Judas. Você já foi mal interpretado/a alguma vez? Como você
reagiu?
2) O que nos ensina o
gesto de Maria? Que alerta nos traz a reação de Judas?
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