Salmo
Responsorial: Jer 31
R. Como o pastor guarda o seu
rebanho, assim nos guarda o Senhor.
Escutai, ó povos, a palavra do
Senhor e anunciai-as às ilhas distantes: Aquele que dispersou Israel vai
reuni-lo e guardá-lo como um pastor ao seu rebanho.
O Senhor resgatou Jacob e
libertou-o das mãos do seu dominador. Regressarão com brados de alegria ao
monte Sião, acorrendo às bênçãos do Senhor.
A virgem dançará alegremente,
exultarão os jovens e os velhos. Converterei o seu luto em alegria e a sua dor
será mudada em consolação e júbilo.
Deixai todos os vossos pecados,
diz o Senhor; criai um coração novo e um espírito novo.
Evangelho
(Jo 11,45-56): Muitos judeus que tinham ido à casa de Maria e viram o
que Jesus fizera, creram nele. Alguns, porém, foram contar aos fariseus o que
Jesus tinha feito. Os sumos sacerdotes e os fariseus, então, reuniram o
sinédrio e discutiam: «Que vamos fazer? Este homem faz muitos sinais. Se
deixarmos que ele continue assim, todos vão acreditar nele; os romanos virão e
destruirão o nosso Lugar Santo e a nossa nação». Um deles, chamado Caifás, sumo
sacerdote naquele ano, disse: «Vós não entendeis nada! Não percebeis que é
melhor um só morrer pelo povo do que perecer a nação inteira?». Caifás não
falou isso por si mesmo. Sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus
iria morrer pela nação; e não só pela nação, mas também para reunir os filhos
de Deus dispersos. A partir desse dia, decidiram matar Jesus. Por isso, Jesus
não andava mais em público no meio dos judeus. Ele foi para uma região perto do
deserto, para uma cidade chamada Efraim. Lá permaneceu com os seus discípulos.
A Páscoa dos judeus estava próxima. Muita gente da região tinha subido a
Jerusalém para se purificar antes da Páscoa. Eles procuravam Jesus e, reunidos
no templo, comentavam: «Que vos parece? Será que ele não vem para a festa?»
Entretanto, os sumos sacerdotes e os fariseus tinham dado a seguinte ordem: se
alguém soubesse onde Jesus estava, devia comunicá-lo, para que o prendessem.
«Jesus iria morrer
pela nação; e não só pela nação, mas também para reunir os filhos de Deus
dispersos»
Rev. D. Xavier ROMERO i Galdeano (Cervera,
Lleida, Espanha)
As palavras negativas de Caifás, «Vocês não percebem que é melhor um só homem morrer pelo povo, do que a nação inteira perecer?» (Jo 11,50), Jesus as assumirá positivamente na redenção feita por nós. Jesus, o Filho Unigênito de Deus, morre na cruz por amor a todos! Morre para realizar o plano do Pai, quer dizer, «E não só pela nação, mas também para reunir os filhos de Deus que estavam dispersos» (Jo 11,52).
E esta é a maravilha e a
criatividade de nosso Deus! Caifás, com sua sentença («Convém que morra um
só...») não faz mais que, por ódio, eliminar a um idealista; por outro lado,
Deus Pai, enviando o seu Filho por amor a nós, faz algo maravilhoso: converter
aquela sentença malévola em una obra de amor redentora, porque para Deus Pai,
cada homem vale todo o sangue derramado por Jesus Cristo!
Daqui a uma semana cantaremos —em
solene vigília— o Pregão Pascoal. A través dessa maravilhosa oração, a Igreja
faz louvor ao pecado original. E não o faz porque desconheça sua gravidade, e
sim porque Deus —em sua bondade infinita— tem feito proezas como resposta ao
pecado do homem. Isto é, ante o “desgosto original”, Ele respondeu com a
Encarnação, com o sacrifício pessoal e com a instituição da Eucaristia. Por
isso, a liturgia cantará no próximo sábado: «Que assombroso benefício de teu
amor por nós! Que incomparável ternura e caridade! Oh feliz culpa que mereceu
tal Redentor!».
Espero que nossas sentenças,
palavras e ações não sejam impedimentos para a evangelização, uma vez que nós
também recebemos de Cristo a responsabilidade, de reunir os filhos de Deus
dispersos: «Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus
discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo» (Mt
28,19).
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Só um morreu por todos; e este
mesmo é aquele que agora por todas as igrejas, no mistério do pão e do vinho,
morto, nos alimenta; acreditado, nos vivifica; consagrado, santifica quem os
consagra» (São Gaudêncio de Brescia)
«Para os cristãos sempre haverá
perseguições, incompreensões. Mas devem de ser encaradas com a certeza de que
Jesus é o Senhor, e este é o desafio e a cruz da nossa fé» (Francisco)
«(…) A Bíblia venera algumas
grandes figuras das "nações", como "o justo Abel", o rei e
sacerdote Melquisedec (…), ou os justos "Noé, Daniel e Job". Deste
modo, a Escritura exprime o alto grau de santidade que podem atingir os que
vivem segundo a aliança de Noé, na expectativa de que Cristo ‘reúna, na
unidade, todos os filhos de Deus dispersos’ (Jo 11, 52)» (Catecismo da Igreja
Católica, nº 58)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* A pequena comunidade de Betânia, onde Jesus
gostava de hospedar-se, reflete a situação e o estilo de vida das pequenas
comunidades do Discípulo Amado no fim do primeiro século lá na Ásia Menor.
Betânia quer dizer "Casa dos pobres". Eram comunidades pobres de
gente pobre. Marta quer dizer "Senhora" (coordenadora): uma mulher
coordenava a comunidade. Lázaro significa "Deus ajuda": a comunidade
pobre esperava tudo de Deus. Maria significa "amada de Javé": era a
discípula amada, imagem da comunidade. O episódio da ressurreição de Lázaro
comunicava esta certeza: Jesus traz vida para a comunidade dos pobres. Jesus é
fonte de vida para todos que nele acreditam.
* João 11,45-46: A repercussão do sétimo Sinal no meio do povo. - Depois da ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-44), vem a descrição da repercussão deste sinal no meio do povo. O povo estava dividido. “Muitos judeus, que tinham ido à casa de Maria e que viram o que Jesus fez, acreditaram nele”. Mas outros “foram ao encontro dos fariseus e contaram o que Jesus tinha feito. Estes últimos fizeram a denúncia. Para poder entender esta reação negativa de uma parte do povo é preciso levar em conta que a metade da população de Jerusalém dependia em tudo do Templo para poder viver e sobreviver. Por isso, dificilmente eles iriam apoiar um desconhecido profeta da Galileia que criticava o Templo e as autoridades. Isto também explica como alguns se prestavam para ser informantes das autoridades.
* João 11,47-53: A repercussão do sétimo Sinal no meio das autoridades. - A notícia da ressurreição de Lázaro fez crescer a popularidade de Jesus. Por isso, os líderes religiosos convocam o conselho, o sinédrio, a autoridade máxima, para discernir o que fazer. Pois, “esse homem está realizando muitos sinais. Se deixamos que ele continue assim, todos vão acreditar nele; os romanos virão e destruirão o Templo e toda a nação”. Eles tinham medo dos romanos. De fato, o passado, desde a invasão romano em 64 antes de Cristo até à época de Jesus, já tinha mostrado várias vezes que os romanos reprimiam com toda a violência qualquer tentativa de rebelião popular (cf Atos 5,35-37). No caso de Jesus, a reação romana poderia levar à perda de tudo, inclusive do Templo e da posição privilegiada dos sacerdotes. Por isso, Caifás, o sumo sacerdote, decide: “É melhor um só homem morrer pelo povo, do que a nação inteira perecer”. E o evangelista faz este bonito comentário: “Caifás não falou isso por si mesmo. Sendo sumo sacerdote nesse ano, profetizou que Jesus ia morrer pela nação. E não só pela nação, mas também para reunir juntos os filhos de Deus que estavam dispersos”. Assim, a partir deste momento, os líderes, preocupados com o crescimento da liderança de Jesus e motivados pelo medo dos romanos, decidem matar Jesus.
* João 11,54-56: A repercussão do sétimo Sinal
na vida de Jesus. O resultado final é que Jesus tinha que viver como
clandestino. “Ele não andava mais em público entre os judeus. Retirou-se para
uma região perto do deserto. Foi para uma cidade chamada Efraim, onde ficou com
seus discípulos”. A Páscoa estava próxima. Nessa época do ano, a população de
Jerusalém triplicava por causa do grande número de peregrinos e romeiros. A
conversa de todos era em torno de Jesus: "Que é que vocês acham? Será que
ele não vem para a festa?" Da mesma maneira, na época em que foi escrito o
evangelho, no fim do primeiro século, época da perseguição do imperador
Domiciano (81 a 96), as comunidades cristãs que traziam a vida para os outros
viam-se obrigadas a viver na clandestinidade.
* Uma chave para entender o sétimo sinal da
ressurreição de Lázaro - Lázaro estava doente. As irmãs Marta e Maria
mandaram chamar Jesus: "Aquele a quem amas está doente!" (Jo 11,3.5).
Jesus atende ao pedido e explica aos discípulos: "Essa doença não é
mortal, mas é para a glória de Deus, para que por nela seja glorificado o Filho
de Deus!" (Jo 11,4) No evangelho de João, a glorificação de Jesus acontece
através da sua morte (Jo 12,23; 17,1). Uma das causas da sua condenação à morte
vai ser a ressurreição de Lázaro (Jo 11,50; 12,10). Muitos judeus estavam na
casa de Marta e Maria para consolá-las da perda do irmão. Os judeus,
representantes da Antiga Aliança, só sabem consolar. Não trazem vida nova.
Jesus é que vai trazer vida nova! Assim, de um lado, a ameaça de morte contra
Jesus! De outro lado, Jesus chegando para vencer a morte! É neste contexto de
conflito entre vida e morte, que se realiza o sétimo sinal da ressurreição de
Lázaro.
* Marta diz que crê na
ressurreição. Os fariseus e a maioria do povo também acreditavam na
Ressurreição (At 23,6-10; Mc 12,18). Acreditavam, mas não a revelavam. Era
apenas fé na ressurreição no fim dos tempos e não na ressurreição presente na
história, aqui e agora. Esta fé antiga não renovava a vida. Pois não basta crer
na ressurreição que vai acontecer no final dos tempos, mas tem que crer que a Ressurreição
já está presente aqui e agora na pessoa de Jesus e naqueles que acreditam em
Jesus. Sobre estes a morte já não tem mais nenhum poder, porque Jesus é a
"ressurreição e a vida". Mesmo sem ver o sinal concreto da
ressurreição de Lázaro, Marta confessa a sua fé: "Eu creio que tu és o
Cristo, o filho de Deus que vem ao mundo" (Jo 11,27).
* Jesus manda tirar a pedra.
Marta reage: "Senhor, já cheira mal! É o quarto dia!"(Jo 11,39). Novamente, Jesus a desafia apelando para a fé
na ressurreição, aqui e agora, como um sinal da glória de Deus: "Não te
disse que, se creres, verás a glória de Deus?" (Jo 11,40). Retiraram a
pedra. Diante do sepulcro aberto e diante da incredulidade das pessoas, Jesus
se dirige ao Pai. Na sua prece, primeiro, faz ação de graças: "Pai, dou-te
graças, porque me ouviste. Eu sabia que tu sempre me ouves!" (Jo
11,41-42). Jesus conhece o Pai e confia nele. Mas agora ele pede um sinal por
causa da multidão que o rodeia, para que possa acreditar que ele, Jesus, é o
enviado do Pai. Em seguida, ele grita em alta voz, grito criador: "Lázaro,
vem para fora!" E Lázaro veio para fora (Jo 11,43-44). É o triunfo da vida
sobre a morte, da fé sobre a incredulidade! Um agricultor comentou: "A nós
cabe retirar a pedra! E aí Deus ressuscita a comunidade. Tem gente que não quer
tirar a pedra, e por isso a comunidade deles não tem vida!"
Para um confronto pessoal
1) O que significa para
mim, bem concretamente, crer na ressurreição?
2) Parte do povo aceitava
Jesus, parte não aceitava. Hoje, parte do povo aceita a renovação da igreja, e
parte não aceita. E eu?
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