Páginas

terça-feira, 12 de abril de 2022

Quinta-feira da Semana Santa (Missa vespertina da Ceia do Senhor)

1ª Leitura (Ex 12,1-8.11-14): Naqueles dias, o Senhor disse a Moisés e a Aarão na terra do Egito: «Este mês será para vós o princípio dos meses; fareis dele o primeiro mês do ano. Falai a toda a comunidade de Israel e dizei-lhe: No dia dez deste mês, procure cada qual um cordeiro por família, uma rês por cada casa. Se a família for pequena demais para comer um cordeiro, junte-se ao vizinho mais próximo, segundo o número de pessoas, tendo em conta o que cada um pode comer. Tomareis um animal sem defeito, macho e de um ano de idade. Podeis escolher um cordeiro ou um cabrito. Deveis conservá-lo até ao dia catorze desse mês. Então, toda a assembleia da comunidade de Israel o imolará ao cair da tarde. Recolherão depois o seu sangue, que será espalhado nos dois umbrais e na padieira da porta das casas em que o comerem. E comerão a carne nessa mesma noite; comê-la-ão assada ao fogo, com pães ázimos e ervas amargas. Quando o comerdes, tereis os rins cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão. Comereis a toda a pressa: é a Páscoa do Senhor. Nessa mesma noite, passarei pela terra do Egito e hei de ferir de morte, na terra do Egito, todos os primogénitos, desde os homens até aos animais. Assim exercerei a minha justiça contra os deuses do Egito, Eu, o Senhor. O sangue será para vós um sinal, nas casas em que estiverdes: ao ver o sangue, passarei adiante e não sereis atingidos pelo flagelo exterminador, quando Eu ferir a terra do Egito. Esse dia será para vós uma data memorável, que haveis de celebrar com uma festa em honra do Senhor. Festejá-lo-eis de geração em geração, como instituição perpétua».

Salmo Responsorial: 115

R. O cálice de bênção é comunhão do Sangue de Cristo.

Como agradecerei ao Senhor tudo quanto Ele me deu? Elevarei o cálice da salvação, invocando o nome do Senhor.

É preciosa aos olhos do Senhor a morte dos seus fiéis. Senhor, sou vosso servo, filho da vossa serva: quebrastes as minhas cadeias.

Oferecer-Vos-ei um sacrifício de louvor, invocando, Senhor, o vosso nome. Cumprirei as minhas promessas ao Senhor, na presença de todo o povo.

2ª Leitura (1Cor 11,23-26): Irmãos: Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor Jesus, na noite em que ia ser entregue, tomou o pão e, dando graças, partiu-o e disse: «Isto é o meu Corpo, entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim». Do mesmo modo, no fim da ceia, tomou o cálice e disse: «Este cálice é a nova aliança no meu Sangue. Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim». Na verdade, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha.

Dou-vos um mandamento novo, diz o Senhor: Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.

Evangelho (Jo 13,1-15): Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora, hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. Foi durante a ceia. O diabo já tinha seduzido Judas Iscariotes para entregar Jesus. Sabendo que o Pai tinha posto tudo em suas mãos e que de junto de Deus saíra e para Deus voltava, Jesus levantou-se da ceia, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a à cintura. Derramou água numa bacia, pôs-se a lavar os pés dos discípulos e enxugava-os com a toalha que trazia à cintura. Chegou assim a Simão Pedro. Este disse: «Senhor, tu vais lavar-me os pés?». Jesus respondeu: «Agora não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás». Pedro disse: «Tu não me lavarás os pés nunca!». Mas Jesus respondeu: «Se eu não te lavar, não terás parte comigo». Simão Pedro disse: «Senhor, então lava-me não só os pés, mas também as mãos e a cabeça». Jesus respondeu: «Quem tomou banho não precisa lavar senão os pés, pois está inteiramente limpo. Vós também estais limpos, mas não todos». Ele já sabia quem o iria entregar. Por isso disse: «Não estais todos limpos». Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto e voltou ao seu lugar. Disse aos discípulos: «Entendeis o que eu vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque sou. Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais assim como eu fiz para vós».

«Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros»

Mons. José Angel SAIZ Meneses, Arcebispo de Sevilha (Sevilla, Espanha)

Hoje lembramos aquela primeira Quinta-feira Santa da história, na qual Jesus Cristo se reúne com os seus discípulos para celebrar a Páscoa. Então inaugurou a nova Páscoa da nova Aliança, na que se oferece em sacrifício pela salvação de todos.

Na Santa Ceia, ao mesmo tempo que a Eucaristia, Cristo institui o sacerdócio ministerial. Mediante este, poderá se perpetuar o sacramento da Eucaristia. O prefácio da Missa Crismal revela-nos o sentido: «Ele escolhe alguns para fazê-los participes de seu ministério santo; para que renovem o sacrifício da redenção, alimentem a teu povo com a tua Palavra e o reconfortem com os teus sacramentos».

E aquela mesma Quinta-feira, Jesus nos dá o mandamento do amor: «Amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei» (Jo 13,34). Antes, o amor fundamentava-se na recompensa esperada em troca, ou no cumprimento de uma norma imposta. Agora, o amor cristão fundamenta-se em Cristo. Ele nos ama até dar a vida: essa tem que ser a medida do amor do discípulo, e esse tem que ser o sinal, a característica do reconhecimento cristão.

Mas, o homem não tem a capacidade para amar assim. Não é simplesmente o fruto de um esforço, senão dom de Deus. Afortunadamente, Ele é amor e —ao mesmo tempo— fonte de amor que se nos dá no Pão Eucarístico.

Finalmente, hoje contemplamos o lavatório dos pés. Na atitude de servo, Jesus lava os pés dos Apóstolos, e lhes recomenda que o façam uns aos outros (cf. Jo 13,14).

Há algo mais que uma lição de humildade neste gesto do Mestre. É como uma antecipação, como um símbolo da Paixão, da humilhação total que sofrerá para salvar todos os homens.

O teólogo Romano Guardini diz que «a atitude do pequeno que se inclina ante o grande, ainda não é humildade. É, simplesmente, verdade. O grande que se humilha ante o pequeno, é o verdadeiro humilde». Por isto Jesus Cristo é autenticamente humilde. Ante este Cristo humilde, nossos moldes se quebram. Jesus Cristo inverte os valores humanos e convida-nos a segui-lo para construir um mundo novo e diferente desde o serviço.

Pensamentos para o Evangelho de hoje

«A utilidade do rebaixamento humano é tão grande que até o recomendou com seu exemplo a sublimidade divina, porque o homem orgulhoso pereceria para sempre, se o humilde Deus não o tivesse encontrado» (Santo Agostinho)

«Viver implica sujar os pés pelos caminhos poeirentos da vida, da história. Todos nós precisamos ser purificados, ser lavados» (Francisco)

«Tendo amado os seus, o Senhor amou-os até ao fim. Sabendo que era chegada a hora de partir deste mundo para regressar ao Pai, no decorrer duma refeição, lavou-lhes os pés e deu-lhes o mandamento do amor. Para lhes deixar uma garantia deste amor, para jamais se afastar dos seus e para os tornar participantes da sua Páscoa, instituiu a Eucaristia como memorial da sua morte e da sua ressurreição, e ordenou aos seus Apóstolos que a celebrassem até ao seu regresso, constituindo-os, então, sacerdotes do Novo Testamento» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.337)

Tanto os gestos e ações, como as palavras e os silêncios de Jesus são quase “sacramentos” de Cristo que realizam o que significam e demostram a seriedade e a sublimidade do momento.

Pe Antonio Rivero LC

Com a missa de hoje damos por concluída a Quaresma e iniciamos o Tríduo Pascal, que abarcará os três dias seguintes: Sexta-feira, Sábado e Domingo. Tradicionalmente na manhã desta Quinta-feira se celebrava a missa de reconciliação dos que durante a Quaresma tinham feito o caminho dos “penitentes”. A missa de hoje recorda a instituição da Eucaristia, a mandamento do amor fraterno e a instituição do ministério sacerdotal.

Em primeiro lugar, os gestos. Primeiro gesto: Jesus se levanta da mesa, tira o manto, pega a toalha, se cinge, põe ague num jarro e lava os pés dos discípulos. Todas as ações são sinal visível de um significado invisível, portador da graça divina aqui e agora para nós. Com esse primeiro gesto, Jesus estava entregando à sua Igreja o mandamento da caridade fraterna e do serviço eclesial; todos somos irmãos e com a mesma dignidade. Segundo gesto da Quinta-feira Santa: o pão e o vinho que Ele consagra, convertendo-os no seu Corpo glorioso e no seu Sangue abençoado para a nossa transformação Nele e alimento para o caminho. Terceiro gesto: impõe as mãos sobre os doze discípulos, fazendo-os seus sacerdotes, continuadores dos seus mistérios de salvação. E eles, a seu tempo, deverão continuar com essa corrente, prolongando o sacerdócio de Cristo por todos os cantos da terra, quem Deus chamou a tão sublime vocação.

Em segundo lugar, as palavras que realizam o que significam, pois são eficazes. Primeira palavra: “Amai-vos uns aos outros, como Eu vos tenho amado”, imperativo que podemos viver com graça de Cristo. Segunda palavra: “Tomai e comei… Tomai e bebei”, imperativo que transformou em realidade o que tinha sido uma figura na Páscoa judaica; Cristo será o Cordeiro de Deus e em cada Eucaristia fazemos presentes a nova ceia pascal inaugurada por Cristo nessa Quinta-feira Santa, pois cada vez que se celebre este rito se recordará a morte do Senhor até o dia da sua vinda. Terceira palavra: “Fazei isto em memoria de mim”; palavra esta que a Igreja sempre meditou e na que fundamentou o sacramento da Ordem Sacerdotal, pelo que um homem de carne e osso é configurado com Cristo Cabeça e Pastor, quem com o seu ministério sacerdotal faz visível Cristo na comunidade.

Finalmente, os silêncios. Quantos silêncios nesta noite santa da Quinta-feira! Silêncio da alma e da sua vontade para não gritar ao Pai diante da Paixão que se avizinhava e que seu Pai quis para nos redimir. Silêncio dos sentimentos que nesses momentos estavam convulsionados diante da traição de Judas, a resistência de Pedro, o abandono do resto dos apóstolos, a prisão e a agonia… Sentimentos para serem controlados, sublimados. Silêncio das suas paixões irascíveis, submetidas todas à força e ao bálsamo do amor. Silêncio dos olhos para ver todos com os olhos misericordiosos do Pai, sem ódio, sem reprimendas; só derramariam lágrimas e manifestavam um véu de tristeza. Silêncio da boca, para só pronunciar essas palavras sacramentais, e guardar as suas palavras de queixas, para crucificá-las na cruz na Sexta-Feira Santa. Silêncio dos pés para não ir procurar consolos humanos, mas se prostrar no chão em oração ao Pai.    

Para refletir: Agradeço todos os dias o dom da Eucaristia, do Sacerdócio e do Mandamento da caridade? Vivo a Eucaristia cada com mais fervor e me compromete a ser eu Eucaristia para os meus irmãos mediante o sacrifício da minha vida? Trato todos os homens e mulheres como irmãos em Cristo e os trato como trataria Cristo? Rezo todos os dias pelos sacerdotes e lhes agradeço pelo serviço insubstituível que realizam para o bem da minha alma?

Para rezar: Senhor, obrigado pelo dom da Eucaristia, que vos comamos e vos assimilemos com a alma limpa. Obrigado, pelo mandamento da caridade fraterna que cura os nossos egoísmos e ambições. Obrigado, por dar-nos sacerdotes segundo o vosso coração; guardai-os na fidelidade a Vós e a vossa Igreja.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DEIXE AQUI SEU SUA SUGESTÃO