Salmo
Responsorial: 8
R. Como sois grande em toda a
terra, Senhor, nosso Deus!
Senhor, nosso Deus, como é
admirável o vosso nome em toda a terra! Que é o homem para que Vos lembreis
dele, o filho do homem para dele Vos ocupardes?
Fizestes dele quase um ser
divino, de honra e glória o coroastes; destes-lhe poder sobre a obra das vossas
mãos, tudo submetestes a seus pés:
Ovelhas e bois, todos os
rebanhos, e até os animais selvagens, as aves do céu e os peixes do mar, tudo o
que se move nos oceanos.
Aleluia. Este é o dia que o Senhor
fez: exultemos e cantemos de alegria. Aleluia.
Evangelho
(Lc 24,35-48): Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho,
e como o tinham reconhecido ao partir o pão. Ainda estavam falando, quando o
próprio Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: «A paz esteja convosco!».
Eles ficaram assustados e cheios de medo, pensando que estavam vendo um
espírito. Mas ele disse: «Por que estais preocupados, e por que tendes dúvidas
no coração? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um
espírito não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho». E dizendo
isso, ele mostrou-lhes as mãos e os pés. Mas eles ainda não podiam acreditar,
tanta era sua alegria e sua surpresa. Então Jesus disse: «Tendes aqui alguma
coisa para comer?». Deram-lhe um pedaço de peixe assado. Ele o tomou e comeu
diante deles. Depois disse-lhes: «São estas as coisas que eu vos falei quando
ainda estava convosco: era necessário que se cumprisse tudo o que está escrito
sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos». Então ele abriu a
inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras, e disse-lhes: «Assim
está escrito: o Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, e no
seu nome será anunciada a conversão, para o perdão dos pecados, a todas as
nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas destas coisas».
«A paz esteja convosco»
Rev. D. Joan Carles MONTSERRAT i
Pulido (Cerdanyola del Vallès, Barcelona, Espanha)
Ele não é um fantasma, é
totalmente real, mas, às vezes, o medo na nossa vida vai tomando corpo como se
fosse a única realidade. Em ocasiões é a falta de fé e de vida interior o que
vai mudando as coisas: o medo passa a ser a realidade e Cristo vai-se
desbotando da nossa vida. Por outro lado, a presença de Cristo na vida do
cristão afasta as dúvidas, ilumina a nossa existência, especialmente os
recantos que nenhuma explicação humana pode esclarecer. São Gregório de
Nazianzo exorta-nos: «Deveríamos envergonharmo-nos ao prescindir da saudação da
paz, que o Senhor nos deixou quando ia sair do mundo. A paz é um nome e uma
coisa saborosa, que sabemos provem de Deus, segundo diz o Apóstolo aos
filipenses: “A paz de Deus”; e que é de Deus o mostra também quando diz aos
efésios: “Ele é a nossa paz”».
A ressurreição de Cristo é o que
dá sentido a todas as vicissitudes e sentimentos, o que nos ajuda a recuperar a
calma e a serenarmos nas trevas da nossa vida. As outras pequenas luzes que
encontramos na vida só têm sentido nesta Luz.
«Era necessário que se cumprisse
tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos».
Então «ele abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras»
(Lc 24, 44-45), como já o havia feito com os discípulos de Emaús. Também quer o
Senhor abrir-nos a nós o sentido das Escrituras para a nossa vida; deseja
transformar o nosso pobre coração num coração que seja também ardente, como o
seu: com a explicação da Escritura e a fração do Pão, a Eucaristia. Por outras
palavras: a tarefa do cristão é ir vendo como a sua história Ele a quer
converter em história de salvação.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Oh amor exuberante para os
homens! Cristo foi quem recebeu os cravos nas suas mãos e pés imaculados,
sofrendo grandes dores, e a mim, sem sentir nenhuma dor ou angústia, me foi
dada a salvação pela comunhão com as suas dores» (São Cirilo de Jerusalém)
«O conteúdo do testemunho cristão
não é uma teoria, mas uma mensagem de salvação, um acontecimento concreto,
aliás, uma Pessoa: é o Cristo ressuscitado, vivo e único Salvador de todos»
(Francisco)
«A morte redentora de Jesus deu
cumprimento sobretudo à profecia do Servo sofredor. O próprio Jesus apresentou
o sentido da sua vida e da sua morte à luz do Servo sofredor. Após a sua
ressurreição, deu esta interpretação das Escrituras aos discípulos de Emaús e
depois aos próprios Apóstolos» (Catecismo da Igreja Católica, nº 601)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm
* Lucas 24,35: O resumo de Emaús. De retorno a Jerusalém, os dois discípulos
encontram a comunidade reunida e comunicam a experiência que tiveram. Narram o
que aconteceu no caminho e como reconheceram Jesus na fração do pão. A
comunidade reunida, por sua vez, comunica a eles como Jesus aparecera a Pedro.
Foi uma partilha mútua da experiência de ressurreição, como até hoje acontece
quando as comunidades se reúnem para partilhar e celebrar sua fé, sua esperança
e seu amor.
* Lucas 24,36-37: A aparição
de Jesus causa espanto nos discípulos. Neste momento, Jesus se faz presente
no meio deles e diz: “A Paz esteja com vocês!”
É a saudação mais frequente de Jesus: “A Paz esteja com vocês!” (Jo
14,27; 16,33; 20,19.21.26). Mas os discípulos, ao verem Jesus, ficam com medo.
Eles se espantam e não reconhecem Jesus. Diante deles está o Jesus real, mas
eles imaginam estar vendo um espírito, um fantasma. Há um desencontro entre
Jesus de Nazaré e Jesus ressuscitado. Não conseguem crer.
* Lucas 24,38- 40: Jesus os
ajuda a superar o medo e a incredulidade.
Jesus faz duas coisas para ajudar os discípulos a superar o espanto e a
incredulidade. Ele mostra as mãos e os pés, dizendo: “Sou eu!”, e manda apalpar
o corpo, dizendo: “Espírito não tem carne nem osso como vocês estão vendo que
eu tenho!” Jesus mostra as mãos e os
pés, porque é neles que estão as marcas dos pregos (cf. Jo 20,25-27). O Cristo
ressuscitado é Jesus de Nazaré, o mesmo que foi morto na Cruz, e não um Cristo
fantasma como imaginavam os discípulos ao vê-lo. Ele mandou apalpar o corpo,
porque a ressurreição é ressurreição da pessoa toda, corpo e alma. A
ressurreição não tem nada a ver com a teoria da imortalidade da alma, ensinada
pelos gregos.
* Lucas 24,41-43: Outro gesto
para ajudá-los a superar a incredulidade.
Mas não bastou. Lucas diz que por causa de tanta alegria eles não podiam
crer. Jesus pede que lhe deem algo para comer. Eles deram um pedaço de peixe e
ele comeu diante deles, para ajudá-los a superar a dúvida.
* Lucas 24,44-47: Uma chave de
leitura para compreender o sentido novo da Escritura. Uma das maiores
dificuldades dos primeiros cristãos era aceitar um crucificado como sendo o
messias prometido, pois a própria lei de Deus ensinava que uma pessoa
crucificada era “um maldito de Deus” (Dt 21,22-23). Por isso, era importante
saber que a própria Escritura já tinha anunciado que “o Cristo devia sofrer e
ressuscitar dos mortos ao terceiro dia e que em seu nome fosse proclamado o
arrependimento para o perdão dos pecados a todas as nações”. Jesus mostrou a
eles como isto já estava escrito na Lei de Moisés, nos profetas e nos Salmos.
Jesus ressuscitado, vivo no meio deles, se torna a chave para abrir o sentido
total da Sagrada Escritura.
* Lucas 24,48: Vocês são
testemunhas disso. Nesta ordem final está toda a missão das comunidades
cristãs: ser testemunha da ressurreição, para que se torne manifesto o amor de
Deus que nos acolhe e nos perdoe, e quer que vivamos em comunidade como seus
filhos e filhas, irmãos e irmãs uns dos outros.
Para um confronto pessoal
1) Às vezes, a
incredulidade e a dúvida se aninham no coração e procuram enfraquecer a certeza
que a fé nos dá a respeito da presença de Deus em nossa vida. Você já viveu
isto alguma vez? Como o superou?
2) Ser testemunha do amor de Deus revelado em Jesus é a nossa missão, a minha missão. Será que eu sou?
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