Salmo
Responsorial: 68
R. Pela vossa grande
misericórdia, no tempo da graça, atendei-me, Senhor.
Por Vós tenho suportado afrontas,
cobrindo-se meu rosto de confusão. Tornei-me um estranho para os meus irmãos,
um desconhecido para a minha família. Devorou-me o zelo da vossa casa e
recaíram sobre mim os insultos contra Vós.
O insulto despedaçou-me o coração
e eu desfaleço. Esperei por compaixão e não apareceu, nem encontrei quem me
consolasse. Misturaram-me fel na comida e deram-me vinagre a beber.
Louvarei com cânticos o nome de
Deus e em ação de graças O glorificarei. Vós, humildes, olhai e alegrai-vos,
buscai o Senhor e o vosso coração se reanimará. O Senhor ouve os pobres e não
despreza os cativos.
Salve, Senhor, nosso Rei; só Vós tivestes piedade dos nossos erros.
Evangelho
(Mt 26,14-25): Um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os
sumos sacerdotes e disse: «Que me dareis se eu vos entregar Jesus?». Combinaram
trinta moedas de prata. E daí em diante, ele procurava uma oportunidade para
entregá-lo. No primeiro dia dos Pães sem fermento, os discípulos aproximaram-se
de Jesus e perguntaram: «Onde queres que façamos os preparativos para comeres a
Páscoa?». Jesus respondeu: «Ide à cidade, procurai certo homem e dizei-lhe: ‘O
Mestre manda dizer: o meu tempo está próximo, vou celebrar a ceia pascal em tua
casa, junto com meus discípulos’». Os discípulos fizeram como Jesus mandou e
prepararam a ceia pascal. Ao anoitecer, Jesus se pôs à mesa com os Doze.
Enquanto comiam, ele disse: «Em verdade vos digo, um de vós me vai entregar».
Eles ficaram muito tristes e, um por um, começaram a perguntar-lhe: «Acaso sou
eu, Senhor?». Ele respondeu: «Aquele que se serviu comigo do prato é que vai me
entregar. O Filho do Homem se vai, conforme está escrito a seu respeito. Ai,
porém, daquele por quem o Filho do Homem é entregue! Melhor seria que tal homem
nunca tivesse nascido!». Então Judas, o traidor, perguntou: «Mestre, serei
eu?». Jesus lhe respondeu: «Tu o dizes».
«Acaso sou eu?»
Rev. P. Higinio Rafael ROSOLEN
IVE (Cobourg, Ontario, Canadá)
A palavra “entregar”
(“paradidōmi” em grego) é repetida seis vezes e serve de elo entre esses três
momentos: (1) quando Judas entrega
Jesus; (2) Páscoa, que é uma figura
do sacrifício da cruz, onde Jesus dá a vida; e (3)
a Última Ceia, na qual se manifesta a entrega de Jesus, que se cumprirá na
Cruz.
Queremos parar aqui na Ceia
Pascal, onde Jesus Cristo manifesta que seu corpo será dado e seu sangue
derramado. As suas palavras: «Garanto-vos que um de vós me entregará» (Mt
26,20), convida cada um dos Doze, sobretudo Judas, a um exame de consciência.
Estas palavras estendem-se a todos nós, também chamados por Jesus. São um
convite a refletir sobre nossas ações, sejam elas boas ou más; nossa dignidade;
nos perguntamos o que estamos fazendo neste momento com nossas vidas; para onde
vamos e como respondemos ao chamado de Jesus. Devemos responder uns aos outros
com sinceridade, humildade e franqueza.
Vamos lembrar que podemos
esconder nossos pecados de outras pessoas, mas não podemos escondê-los de Deus,
que os vê em segredo. Jesus, verdadeiro Deus e homem, tudo vê e sabe. Ele sabe
o que está em nossos corações e do que somos capazes. Nada está escondido de
seus olhos. Evitemos enganar a nós mesmos e só depois de sermos sinceros
conosco é que devemos olhar para Cristo e perguntar-lhe: " Acaso sou
eu?" (Mt 26,22). Tenhamos presente o que diz o Papa Francisco: «Jesus,
amando-nos, convida-nos a permitir-nos a reconciliação com Deus e a regressar a
Ele para nos redescobrir».
Olhemos para Jesus, ouçamos suas
palavras e peçamos a graça de doarmos, unindo-nos ao seu sacrifício na Cruz.
«Em verdade vos digo, um de
vós me vai entregar»
P. Raimondo M. SORGIA Mannai OP (San
Domenico de Fiesole, Florença, Itália)
A segunda consideração refere-se
à misteriosa escolha do lugar donde Jesus quer consumir sua ceia Pascal. «Jesus
respondeu: “Ide à cidade, procurai certo homem e dizei-lhe: ‘O Mestre manda
dizer: o meu tempo está próximo, vou celebrar a ceia Pascal em tua casa, junto
com meus discípulos’» (Mt 26,18). O dono da casa, talvez, não fosse um dos
amigos declarados do Senhor; mas devia ter o ouvido atento para escutar o
chamado “interior”. O Senhor lhe teria falado intimamente —como frequentemente
nos fala—, a través de mil incentivos para que lhe abrisse a porta. Sua
fantasia e sua onipotência, suportes do amor infinito com o qual nos ama, não
conhecem fronteiras e se expressam de modo sempre apto a cada situação pessoal.
Quando escutemos o chamado devemos “render-nos”, deixando à parte as sutilezas
e aceitando com alegria esse “mensageiro libertador”. É como se alguém estivesse
se apresentado à porta do cárcere e nos convida a segui-lo, como fez o Anjo com
Pedro dizendo-lhe: « Levanta-te depressa! As correntes caíram-lhe das mãos» (At
12,7).
O terceiro motivo de meditação
nos oferece o traidor que tenta esconder seu crime ante a presença examinadora
do Onisciente. O próprio Adão já tinha tentado, depois, seu filho fratricida
Caim, embora, inutilmente. Antes de ser nosso perfeito Juiz, Deus se apresenta
como pai e mãe, que não se rende ante a ideia de perder a um filho. A Jesus lhe
dói o coração não tanto por ter sido traído, mas por ver a um filho
distanciar-se irremediavelmente Dele.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Bendito sejas, meu Senhor Jesus
Cristo, que anunciaste antecipadamente a tua morte e, na última ceia,
consagraste o pão material, transformando-o no teu corpo glorioso, e pelo teu
amor o deste aos apóstolos como memorial da tua digna paixão e lavaste os seus
pés com tuas preciosas mãos sagradas, mostrando assim humildemente tua maior
humildade» (Santa Brígida)
«Nos próximos dias comemoraremos
o confronto supremo entre a Luz e as Trevas. Também nós devemos situar-nos
neste contexto, conscientes da nossa 'noite', das nossas faltas e responsabilidades,
se queremos reviver o mistério pascal com proveito espiritual.» (Bento XVI)
«Jesus escolheu a altura da
Páscoa para cumprir o que tinha anunciado em Cafarnaum: dar aos seus discípulos
o seu corpo e o seu sangue» (Catecismo da Igreja Católica, n.º 1.339)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* Mateus 26,14-16: A Decisão
de Judas de trair Jesus. Judas tomou a decisão, depois que Jesus não
aceitou a crítica dos discípulos a respeito da mulher que gastou um perfume
caríssima só para ungir Jesus (Mt 26,6-13). Ele foi até os sacerdotes e
perguntou: “Quanto vocês me pagam se eu o entregar?” Combinaram trinta moedas
de prata. Mateus evoca as palavras do profeta Zacarias para descrever o preço
combinado (Zc 11,12). Ao mesmo tempo, a traição de Jesus por trinta moedas
evoca a venda de José pelos seus próprios irmãos, avaliado pelos compradores em
vinte moedas (Gn 37,28). Evoca ainda o preço de trinta moedas a ser pago pelo
ferimento a um escravo (Ex 21,32).
* Mateus 26,17-19: A
Preparação da Páscoa. Jesus era da Galileia.
Não tinha casa em Jerusalém. Ele passava as noites no Horto das Oliveiras (cf.
Jo 8,1). Nos dias da festa de Páscoa a população de Jerusalém triplicava por
causa da quantidade enorme de peregrinos que vinham de toda a parte. Não era
fácil para Jesus encontrar uma sala ampla para poder celebrar a Páscoa junto
com os peregrinos que tinham vindo com ele desde a Galileia. Ele manda os
discípulos encontrar uma pessoa em cuja casa decidiu celebrar a Páscoa. O
evangelho não oferece ulteriores informações e deixa que a imaginação complete
o que falta nas informações. Era um conhecido de Jesus? Um parente? Um
discípulo? Ao longo dos séculos, a imaginação dos apócrifos soube completar a
falta de informação, mas com pouca credibilidade.
* Mateus 26,20-25: Anúncio da
traição de Judas. Jesus sabe que vai ser traído. Apesar de Judas fazer as
coisas em segredo, Jesus está sabendo. Mesmo assim, ele faz questão de se
confraternizar com o círculo dos amigos, do qual Judas faz parte. Estando todos
reunidos pela última vez, Jesus anuncia quem é o traidor. É "aquele que
põe a mão no prato comigo". Esta maneira de anunciar a traição acentua o
contraste. Para os judeus a comunhão de mesa, colocar juntos a mão no mesmo
prato, era a expressão máxima da amizade, da intimidade e da confiança. Mateus
sugere assim que, apesar da traição ser feita por alguém muito amigo, o amor de
Jesus é maior que a traição!
* O que chama a atenção é a
maneira de Mateus descrever estes fatos. Entre a traição e a negação ele
colocou a instituição da Eucaristia (Mt 26,26-29): a traição de Judas, antes
(Mt 25,20-25); a negação de Pedro e a fuga dos discípulos, depois (Mt
25,30-35). Deste modo, ele destaca para todos nós a inacreditável gratuidade do
amor de Jesus, que supera a traição, a negação e a fuga dos amigos. O seu amor
não depende do que os outros fazem por ele.
Para um confronto pessoal
1) Será que eu seria capaz
de ser como Judas e de negar e trair a Deus, a Jesus, aos amigos e amigas?
2) Na semana santa é importante eu reservar algum momento para compenetrar-me da inacreditável gratuidade do amor de Deus por mim.
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