Sto. Antonio de Sant’Ana Galvão, presbítero
Bto João Ângelo Porro, presbítero
Salmo Responsorial: 67
R. O Senhor, nosso
Deus, vem salvar-nos.
Levanta-Se Deus, dispersam-se os inimigos e fogem diante
d’Ele os que O odeiam. Os justos, porém, alegram-se e exultam na presença de
Deus e transbordam de alegria.
Pai dos órfãos e defensor das viúvas, é Deus na sua morada
santa. Aos abandonados Deus prepara uma casa, conduz os cativos à liberdade.
Bendito seja o Senhor, dia após dia: preocupa-Se conosco o
Deus, nosso Salvador. O nosso Deus é um Deus que salva, da morte nos livra o
Senhor.
Aleluia. A vossa palavra, Senhor, é a verdade: consagrai-nos na
verdade. Aleluia.
Evangelho (Lc 13,10-17): Naquele tempo, Jesus
estava ensinando numa sinagoga, num dia de sábado. Havia aí uma mulher que,
dezoito anos já, estava com um espírito que a tornava doente. Era encurvada e
totalmente incapaz de olhar para cima. Vendo-a, Jesus a chamou e lhe disse:
«Mulher, estás livre da tua doença». Ele impôs as mãos sobre ela, que
imediatamente se endireitou e começou a louvar a Deus. O chefe da sinagoga,
porém, furioso porque Jesus tinha feito uma cura em dia de sábado, se pôs a
dizer à multidão: Há seis dias para trabalhar. Vinde, pois, nesses dias para
serdes curados, mas não em dia de sábado. O Senhor respondeu-lhe: «Hipócritas!
Não solta cada um de vós seu boi ou o jumento do curral, para dar-lhe de beber,
mesmo que seja em dia de sábado? Esta filha de Abraão, que Satanás amarrou
durante dezoito anos, não devia ser libertada dessa prisão, mesmo em dia de
sábado?». Essa resposta envergonhou todos os inimigos de Jesus. E a multidão inteira
se alegrava com as maravilhas que ele fazia.
«O chefe da sinagoga, porém, furioso porque Jesus tinha feito uma cura
em dia de sábado»
Rev. D. Francesc JORDANA i Soler (Mirasol, Barcelona, Espanha)
Eu gostaria que nos concentrássemos na atitude deste
personagem. Sempre me surpreendeu que, diante de um milagre evidente, alguém
seja capaz de fechar-se de tal modo que o que Ele viu, não lhe afeta no mais
mínimo. É como se não tivesse visto o que acabava de ocorrer e o que isso
significa. O motivo está na vivência equivocada das mediações que muitos judeus
tinham naquele tempo. Por diferentes motivos - antropológicos, culturais, desígnio
divino- é inevitável que entre Deus e o homem haja umas mediações. O problema é
que alguns judeus fazem da mediação um absoluto. De maneira que a mediação não
lhes põe em comunicação com Deus, e sim, ficam na sua própria mediação.
Esquecem que são os últimos e ficam no meio. Dessa maneira não pode
comunicar-lhes suas graças, seus dons, seu amor e, portanto sua experiência
religiosa não enriquecerá sua vida.
Tudo isso lhes conduz a uma vivência rigorosa da religião, a
encerrar seu deus em uns meios. Fazem um deus sob medida e não o deixam entrar
em suas vidas. Na sua religiosidade acham que tudo está solucionado se cumprem
com algumas normas. Compreende-se assim a reação de Jesus: «Hipócritas!
disse-lhes o Senhor. Não desamarra cada um de vós no sábado o seu boi ou o seu
jumento da manjedoura, para os levar a beber?» (Lc 13,15). Jesus descobre a
falta de sentido dessa equivocada vivência do sabath.
Esta palavra de Deus deveria nos ajudar a examinar nossa
vivência religiosa e descobrir se realmente as mediações que utilizamos nos põe
em comunicação com Deus e com a vida. Somente desde a correta vivência das
mediações podemos entender a frase de Santo Agostinho: «Ama e faz o que
queiras».
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
* Lucas 13,10-11: A
situação que vai provocar a ação de Jesus. Jesus está na sinagoga num dia
do repouso. Ele cumpre a lei, guardando o sábado e participando da celebração
com seu povo. Lucas informa que Jesus estava ensinando. Havia na sinagoga uma
mulher encurvada. Lucas diz que um espírito de fraqueza a impedia de tomar posição
reta. Era a maneira do povo daquele tempo explicar as doenças. Já fazia dezoito
anos que a mulher estava nessa situação. Ela não fala, não tem nome, não pede
para ser curada, não toma nenhuma iniciativa. Sua passividade chama a atenção.
* Lucas 13,12-13:
Jesus cura a mulher. Vendo a mulher, Jesus a chama e lhe diz: “Mulher, você
está livre da sua doença!”. A ação de libertar é realizada pela palavra,
dirigida diretamente à mulher, e pelo toque da imposição das mãos.
Imediatamente, ela fica de pé e começa a louvar o Senhor. Há uma relação entre
o colocar-se de pé e dar glória a Deus. Jesus faz a mulher ficar de pé, para
que ela possa louvar a Deus no meio do povo reunido em assembleia. A sogra de
Pedro, quando curada, levantou-se e se pôs a servir (Mc 1,31). Louvar a Deus e
servir aos irmãos!
* Lucas 13,14: A
reação do chefe da sinagoga. O chefe da sinagoga ficou furioso com a ação
de Jesus, por ele ter feito a cura num dia de sábado: “Há seis dias para o
trabalho! Portanto, venham num destes dias para serem curados e não no dia de
sábado!”. Na crítica do chefe da sinagoga ao povo ressoa a palavra da Lei de
Deus que dizia: “Lembre-se do dia de sábado, para santificá-lo. Trabalhe
durante seis dias e faça todas as suas tarefas. O sétimo dia, porém, é o sábado
de Javé seu Deus. Não faça nenhum trabalho”. (Ex 20,8-10). Nesta reação
autoritária do chefe temos uma chave para entender por que motivo o povo estava
tão oprimido e por que a mulher não podia participar naquele tempo. A dominação
das consciências através da manipulação da lei de Deus era muito forte. Era
esta a maneira de eles manterem o povo submisso e encurvado.
* Lucas 13,15-16: A
resposta de Jesus ao chefe da sinagoga. O chefe condenou as pessoas porque
ele queria que observassem a Lei de Deus. Aquilo que para o chefe da sinagoga é
observância da lei de Deus, é hipocrisia para Jesus: "Hipócritas! Cada um
de vocês não solta do curral o boi ou o jumento para dar-lhe de beber, mesmo
que seja dia de sábado? Aqui está uma filha de Abraão que Satanás amarrou
durante dezoito anos. Será que não deveria ser libertada dessa prisão, em dia
de sábado?" Com este exemplo tirado da vida diária, Jesus mostra a
incoerência desse tipo de observância da lei de Deus. Se é permitido desamarrar
um boi e um jumento em dia de sábado só para dar-lhes de beber, muito mais é
permitido desamarrar uma filha de Abraão para liberta-la do poder do mal. O
verdadeiro sentido da observância da Lei que agrada a Deus é este: libertar as
pessoas do poder do mal e colocá-las de pé, para que possam glorificar a Deus e
render-lhe homenagem. Jesus imita Deus que endireita os encurvados (Sl 145,14;
146,8).
* Lucas 13,17: A
reação do povo diante da ação de Jesus. O ensinamento de Jesus deixa
confusos os seus adversários, mas a multidão se enche de alegria pelas coisas
maravilhosas que Jesus está realizando: “Toda a multidão se alegrava com as
maravilhas que Jesus fazia”. Na Palestina do tempo de Jesus, a mulher vivia
encurvada, submissa ao marido, aos pais e aos chefes religiosos do seu povo. Esta
situação de submissão era justificada pela religião. Mas Jesus não quer que ela
fique encurvada. Desatar e libertar as pessoas não tem dia marcado. É todos os
dias, mesmo em dia de sábado!
Para um confronto
pessoal
1. Será que a situação da mulher mudou muito de lá para cá?
Qual a situação da mulher hoje na sociedade e na igreja? Tem alguma relação
entre religião e opressão da mulher?
2. A multidão se alegrou com a ação de Jesus. Qual a
libertação que está acontecendo hoje e que está levando a multidão a se alegrar
e dar graças a Deus?
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