S. Inácio de Antioquia, bispo e mártir
Salmo Responsorial: 32
R. Desça sobre nós a
vossa misericórdia, porque em Vós esperamos, Senhor.
A palavra do Senhor é certa, da fidelidade nascem as suas
obras. Ele ama a justiça e a retidão: a terra está cheia da bondade do Senhor.
Os olhos do Senhor estão voltados para os que O temem, para
os que esperam na sua bondade, para libertar da morte as suas almas e os
alimentar no tempo da fome.
A nossa alma espera o Senhor: Ele é o nosso amparo e protetor.
Venha sobre nós a vossa bondade, porque em Vós esperamos, Senhor.
2ª Leitura (Heb 4,14-16): Irmãos: Tendo nós um
sumo sacerdote que penetrou os Céus, Jesus, Filho de Deus, permaneçamos firmes
na profissão da nossa fé. Na verdade, nós não temos um sumo sacerdote incapaz
de se compadecer das nossas fraquezas. Pelo contrário, Ele mesmo foi provado em
tudo, à nossa semelhança, exceto no pecado. Vamos, portanto, cheios de
confiança ao trono da graça, a fim de alcançarmos misericórdia e obtermos a
graça de um auxílio oportuno.
Aleluia. O Filho do homem veio para servir e dar a vida pela redenção
de todos. Aleluia.
Evangelho (Mc 10,35-45): Tiago e João, filhos de
Zebedeu, aproximaram-se de Jesus e lhe disseram: Mestre, queremos que faças por
nós o que te vamos pedir. Ele perguntou: Que quereis que eu vos faça?
Responderam: Permite que nos sentemos, na tua glória, um à tua direita e o
outro à tua esquerda! Jesus lhes disse: Não sabeis o que estais pedindo. Podeis
beber o cálice que eu vou beber? Ou ser batizados com o batismo com que eu vou
ser batizado? Responderam: Podemos. Jesus então lhes disse: Sim, do cálice que
eu vou beber, bebereis, com o batismo com que eu vou ser batizado, sereis
batizados. Mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não depende de
mim; é para aqueles para quem foi preparado. Quando os outros dez ouviram isso,
começaram a ficar zangados com Tiago e João. Jesus então os chamou e disse:
Sabeis que os que são considerados chefes das nações as dominam, e os seus
grandes fazem sentir seu poder. Entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser o
maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre
vós seja o escravo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido,
mas para servir e dar a vida em resgate por muitos.
«Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve»
Rev. D. Antoni CAROL i
Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
Hoje, novamente, Jesus altera nossos esquemas. Provocadas por Santiago e João, chegam até nós palavras cheias de autenticidade: Porque o filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção. (Mc 10,45).
Como gostamos de estar bem servidos! Pensemos, por exemplo,
no agradável que nos resulta a eficácia, pontualidade e pulcritude dos serviços
públicos; ou nossas queixas quando, depois de haver pago um serviço, não
recebemos o que esperávamos. Jesus Cristo nos ensina com seu exemplo. Ele não
só é servidor da vontade do Pai, que inclui nossa redenção e, que além disso
paga! E, o preço de nosso resgate é seu Sangue, na que recebemos a salvação de
nossos pecados. Grande paradoxo este, que nunca chegaremos a entender! Ele, o
grande rei, o filho de David, o que devia vir em nome do Senhor, mas
aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos
homens (...). E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda
mais, tornando-se obediente até a morte, e uma morte de cruz. (Fl 2,7-8). Que
expressivas são as representações de Cristo vestido como um Rei cravado na
cruz! Em Catalunha temos muitas e recebem o nome de Santa Majestade. Na
catequese contemplamos como servir é reinar e, como o exercício de qualquer
autoridade será sempre um serviço.
Jesus transtorna de tal maneira as categorias deste mundo
que também esclarece o sentido da atividade humana. Não é melhor a encomenda
que mais brilha, e sim o que realizamos mais identificados com Jesus
Cristo-servo, com maior Amor a Deus e aos irmãos. Se realmente acreditamos que:
Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos (Jo
15,13), então também nos esforçaremos em oferecer um serviço de qualidade
humana e de competência profissional com nosso trabalho, cheio de um profundo
sentido cristão de serviço. Como dizia a Madre Teresa de Calcutá: O fruto da fé
é o amor, o fruto do amor é o serviço, o fruto do serviço é a paz.
Quem quiser ser o primeiro, seja o servo de todos.
Anselmo Chagas de
Paiva, OSB, Mosteiro de São Bento / RJ
Logo no início do evangelho é ressaltada a pretensão de
Tiago e de João, filhos de Zebedeu que, apoiados pela mãe, reivindicam um lugar
de honra no Reino que vai ser instaurado, um à direita e outro à esquerda de
Jesus. Os dois irmãos, Tiago e João, se
apresentam a Jesus dizendo: “Mestre, queremos que faças por nós o que vamos
pedir” (v. 35). Eles parecem exigir esta
honra: “Queremos”, dizem.
Diante desta manifestação de ambição, honrarias e
privilégios, Jesus não se mostra de forma alguma condescendente, porque toda
ambição contraria os fundamentos da sua proposta. Em relação a João e Tiago, Jesus é severo:
“Vós não sabeis o que pedis. Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber?
Podeis ser batizados com o batismo com que vou ser batizado?” (v. 38). E para ajudá-los a superar a própria
incompreensão, serve-se de duas figuras: a do cálice e a do batismo.
O cálice é uma referência aos sofrimentos pelos quais Jesus
teria que passar. Em sua agonia na cruz,
teria dito: “Pai, se for possível, afasta de mim este cálice” (Lc 22,42). Esta imagem do cálice aparece ainda com frequência
na Sagrada Escritura. O cálice indica o
destino, favorável ou não de uma pessoa.
Jesus está ciente que o aguarda um cálice de sofrimentos, um cálice dos
quais gostaria de ser poupado. Com esta
imagem do cálice, Ele assegura aos dois discípulos a possibilidade de serem
associados plenamente ao seu destino de sofrimento, mas sem garantir os
desejados lugares de honra. A sua resposta é um convite a segui-lo pelo caminho
do amor e do serviço, rejeitando a tentação mundana de querer sobressair
perante os outros.
Já o batismo, de acordo com o texto, é uma referência ao mar
de sofrimentos nos quais Jesus será mergulhado.
A imagem do batismo tem o mesmo sentido: indica a passagem através das
águas da morte. Os sofrimentos e as
aflições que o justo deve suportar são frequentemente comparados pela Bíblia a
uma imersão em águas profundas ou à agitação de águas impetuosas (cf. Sl
69,2-3; 42,8). Evoca a participação e
imersão na paixão e morte de Jesus (cf. Rm 6,3-4).
Certamente Tiago e João imaginam que o Reino proposto por
Jesus seria algo poderoso e glorioso e, por isto, almejam, desde logo, lugares
de honra ao lado dele. O fato mostra como Tiago e João, mesmo depois de toda a
catequese que receberam durante o caminho para Jerusalém, ainda não entenderam
a lógica do Reino de Deus e ainda continuam a refletir e a sentir de acordo com
a lógica do mundo. Para fazer parte da
comunidade do Reino de Deus é preciso, portanto, que os discípulos estejam
dispostos a percorrer, com Jesus, o caminho do sofrimento que irá culminar com
a morte. Apesar de Tiago e João manifestarem, com toda a sinceridade, a sua
disponibilidade para percorrer este caminho, Jesus não lhes garante uma
resposta positiva a esta pretensão.
Na segunda parte do nosso texto (vv. 41-45), temos a reação
indignada dos discípulos à pretensão dos dois irmãos, o que indica que todos
eles tinham as mesmas pretensões e revela que Tiago e João estavam longe de ter
assimilado o pensamento do Mestre.
Novamente Jesus toma a palavra e outra vez lhes ensina. Foi preciso que
Jesus mostrasse qual deve ser a atitude dos seus discípulos, tendo a si mesmo
como referência: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e
dar a sua vida em resgate por muitos” (v. 45). Na tradição bíblica, a expressão
“Filho do Homem” indica aquele que recebe de Deus “as soberanias, a glória e a
realeza” (Dn 7,14). Jesus enche de novo sentido esta imagem, especificando que
ele tem a soberania enquanto servo, a glória enquanto capaz de se humilhar, a
autoridade real enquanto disponível ao dom total da vida. Assim, Jesus se apresenta como o modelo a ser
seguido. Sua vida sempre foi pautada
como um serviço, aos pecadores, aos desprezados, aos últimos. O ponto
culminante dessa vida de doação e de serviço foi a morte na cruz, expressão
máxima e total do seu amor.
E Jesus aproveita a circunstância para reiterar a sua
instrução. Inicia recordando a eles o modelo dos governantes das nações e dos
grandes do mundo (v. 42). Eles afirmam sua autoridade absoluta, dominam os
povos pela força e submetem-nos, exigem honras, privilégios e títulos,
promovem-se à custa da comunidade, exercem o poder de uma forma
arbitrária. Ora, este esquema não pode
servir de modelo para os seus discípulos. Eles devem ter como referência a lei
do amor e do serviço. Os seus membros devem sentir-se “servos” dos irmãos,
dedicados em servir com humildade e simplicidade, sem qualquer pretensão de
mandar ou de dominar.
Jesus ainda enfatiza: “Quem quiser ser o primeiro, será o
último de todos e o servo de todos” (v. 44). Para os seguidores de Cristo a
única grandeza é a grandeza de quem, com humildade e simplicidade, faz da
própria vida um serviço. Jesus nos
convida a servir e partilhar com os irmãos os dons que Deus nos concedeu. Chama a nossa atenção que, quando por ocasião
da redação do Evangelho de São Marcos, um dos dois irmãos, Tiago, já teria dado
a sua vida por Cristo, morrendo como mártir em Jerusalém (cf. At 12,2) e o
outro, João, estaria pregando o evangelho, dando, assim, prova de que
compreenderam o ensinamento do Mestre.
A mensagem que o Evangelho deste domingo nos deixa está no
sentido do serviço e aponta para a porta que leva à grandeza evangélica: estar
a serviço do próximo. É o caminho que o
próprio Cristo percorreu até à cruz, em um itinerário de doação e de amor.
Muitos santos deixaram se guiar por esta lógica. Podemos citar São Vicente de Paulo e Santa
Teresa de Calcutá, pois com coragem heroica eles assumiram o serviço generoso
aos irmãos mais necessitados
Jesus disse certa vez: “Sempre que fizestes isto a um destes
meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25,40). É uma verdade
fundamental para compreender o sentido do serviço que devemos realizar em prol
dos mais necessitados. Esta é a base
para a vivência do Evangelho de Jesus.
Os santos tiveram consciência de que, ao tocar os corpos enfraquecidos
dos pobres, tocavam o corpo de Cristo. O serviço que eles realizavam
destinava-se ao próprio Jesus, escondido nos mais humildes. O que realça o
significado mais profundo desse serviço está no gesto de amor feito aos
famintos, aos sequiosos, aos estrangeiros, a quem está doente ou na prisão,
pois neles está o próprio Cristo (cf. Mt 25,34ss).
Peçamos ao Senhor que nos faça colocar em prática o dom do
serviço e da humildade e que sejamos bons e autênticos servidores da paz, do
amor e da fraternidade, levando a todos, a esperança e a paz. Assim seja.
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