São Pio X, papa
Salmo Responsorial: 127
R. Será abençoado o homem que teme o Senhor.
Feliz de ti, que temes o Senhor e
andas nos seus caminhos. Comerás do trabalho das tuas mãos, serás feliz e tudo
te correrá bem.
Tua esposa será como videira
fecunda no íntimo do teu lar; teus filhos serão como ramos de oliveira ao redor
da tua mesa.
Assim será abençoado o homem que
teme o Senhor. De Sião te abençoe o Senhor: vejas a prosperidade de Jerusalém
todos os dias da tua vida.
Aleluia. Um só é o vosso Pai, o Pai celeste; um só é o vosso mestre,
Jesus Cristo. Aleluia.
Evangelho (Mt 23,1-12): Naquele
tempo, Jesus falou às multidões e aos discípulos: «Os escribas e os fariseus
sentaram-se no lugar de Moisés para ensinar. Portanto, tudo o que eles vos
disserem, fazei e observai, mas não imiteis suas ações! Pois eles falam e não
praticam. Amarram fardos pesados e insuportáveis e os põem nos ombros dos
outros, mas eles mesmos não querem movê-los, nem sequer com um dedo. Fazem
todas as suas ações só para serem vistos pelos outros, usam faixas bem largas
com trechos da Lei e põem no manto franjas bem longas. Gostam do lugar de honra
nos banquetes e dos primeiros assentos nas sinagogas, de serem cumprimentados
nas praças públicas e de serem chamados de "Rabi". Quanto a vós, não
vos façais chamar de "Rabi", pois um só é vosso Mestre e todos vós
sóis irmãos. Não chameis a ninguém na terra de "Pai", pois um só é
vosso Pai, aquele que está nos céus. Não deixeis que vos chamem de
"Guia", pois um só é o vosso Guia, o Cristo. Pelo contrário, o maior
dentre vós deve ser aquele que vos serve. Quem se exaltar será humilhado, e
quem se humilhar será exaltado».
«Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado»
Rev. D. Antoni CAROL i
Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
Hoje, Jesus Cristo chama-nos novamente à humildade, é um convite para situarmos no lugar certo, que nos pertence: «Quanto a vós, não vos façais chamar de ‘rabi’, (...). Não chameis a ninguém na terra de ‘pai’, pois um só é vosso Pai, aquele que está nos céus. Não deixeis que vos chamem de ‘guia’, pois um só é o vosso Guia, o Cristo» (Mt 23,8-10). Antes de nos apropriar de todos esses títulos, procuremos dar graças a Deus, por tudo o que temos e que recebemos dele.
Como diz São Paulo, «Que tens que
não tenhas recebido? Mas, se recebeste tudo que tens, por que, então, te
glorias, como se não o tivesses recebido?» (I Cor 4,7). De maneira que, quando
tenhamos consciência de ter agido corretamente, faremos bem em repetir: «Somos
simples servos, fizemos o que devíamos fazer» (Lc 17,10).
O homem moderno padece de uma
lamentável amnésia: vivemos e agimos como se fôssemos, nós mesmos, os autores
da vida e os criadores do mundo. Ao contrário disto, Aristóteles provoca
admiração, ele quem na sua teologia natural —desconhecia o conceito de "criação"
(noção conhecida naqueles tempos somente pela Divina Revelação), ao menos,
tinha claro que este mundo dependia da Divindade (a "causa
incausada"). João Paulo II chama-nos a conservar a memória da dívida que
temos contraída com nosso Deus: «É preciso que o homem dê honra ao Criador,
oferecendo-lhe, em ação de graças e louvores, tudo o que dele tem recebido. O
homem não pode perder o sentido desta dívida, que somente Ele, dentre todas as
outras realidades terrestres, pode reconhecer».
Além do mais, pensando na vida
sobrenatural, nossa colaboração — Ele não fará nada sem nossa autorização, sem
nosso esforço! — consiste em não perturbar o trabalho do Espírito Santo: Deixar
Deus fazer! Que a santidade não a "fabricamos" nós, mas Ele a
outorga, Ele que é Mestre, Pai e Guia. Em todo caso, se acreditamos que somos e
temos algo, esforcemo-nos em colocá-lo ao serviço dos outros: «o maior dentre
vós deve ser aquele que vos serve» (Mt 23,11).
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
* Ao ler estes textos fortemente contrários aos fariseus devemos
tomar muito cuidado para não sermos injustos com o povo judeu. Nós cristãos,
durante séculos, tivemos atitudes anti-judaicas e, por isso mesmo, anticristãs.
O que importa ao meditar estes textos é descobrir o seu objetivo: Jesus condena
a incoerência e a falta de sinceridade no relacionamento com Deus e com o
próximo. Ele está falando contra a hipocrisia tanto a deles de ontem, como a
nossa de hoje!
* Mateus 23,1-3: O erro básico: dizem mas não fazem. Jesus se
dirige à multidão e aos discípulos e faz uma crítica aos escribas e fariseus. O
motivo do ataque é a incoerência entre a palavra e a prática. Falam e não
praticam. Jesus reconhece a autoridade e o conhecimento dos escribas. “Estão
sentados na cátedra de Moisés. Por isso, observai o que eles mandam! Mas não
imitai suas ações, pois dizem mas não fazem!”
* Mateus 23,4-7: O erro básico se manifesta de várias maneiras. O
erro básico é a incoerência: “Dizem mas não fazem”. Jesus enumera vários pontos que revelam a
incoerência. Alguns escribas e fariseus impunham leis pesadas ao povo. Eles
conheciam bem as leis mas não as praticavam, nem usavam o seu conhecimento para
aliviar a carga nos ombros do povo. Faziam tudo para serem vistos e elogiados,
usavam roupas especiais de oração, gostavam dos lugares de honra e das
saudações em praça pública. Queriam ser chamados de “Mestre!” Eles
representavam um tipo de comunidade que mantinha, legitimava e alimentava as
diferenças de classe e de posição social. Legitimava os privilégios dos grandes
e a posição inferior dos pequenos. Ora, se há uma coisa de que Jesus não
gostava é de aparências que enganam.
* Mateus 23,8-12: Como combater o erro básico. Como deve ser uma
comunidade cristã? Todas as funções comunitárias devem ser assumidas como um
serviço: “O maior entre você será aquele que serve!” A ninguém devem chamar de
Mestre (Rabino), nem de Pai, nem de Guia. Pois a comunidade de Jesus deve
manter, legitimar e alimentar não as diferenças, mas sim a fraternidade. Esta é
a lei básica: “Vocês todos são irmãos e irmãs!” A fraternidade nasce da
experiência de que Deus é Pai, o que faz de todos nós irmãos e irmãs. “Aquele
que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado!”
* O grupo dos Fariseus. O grupo dos fariseus nasceu no século II
antes de Cristo com a proposta de uma observância mais perfeita da Lei de Deus,
sobretudo das prescrições da pureza. Eles eram mais abertos às novidades do que
os saduceus. Por exemplo, aceitavam a fé na ressurreição e a fé nos anjos,
coisa que os saduceus não aceitavam. A vida dos fariseus era um testemunho
exemplar: rezavam e estudavam a lei durante oito horas por dia; trabalhavam durante
oito horas para poder sobreviver; faziam descanso e lazer durante oito horas.
Por isso, tinham grande liderança junto do povo. Deste modo, eles ajudaram o
povo a conservar sua identidade e a não se perder, ao longo dos séculos.
* A mentalidade chamada farisaica.
Com o tempo, porém, os fariseus se agarraram ao poder e já não escutavam
os apelos do povo nem deixavam o povo falar. A palavra “fariseu” significa
“separado”. A observância deles era tão estrita e rigorosa, que eles se
distanciavam do comum do povo. Por isso, eram chamados de “separados”. Daí
nasce a expressão "mentalidade farisaica" É de pessoas que pensam
poder conquistar a justiça através de uma observância estrita e rigorosa da Lei
de Deus. Geralmente, são pessoas medrosas, que não têm coragem de assumir o
risco da liberdade e da responsabilidade. Elas se escondem atrás das leis e das
autoridades. Quando estas pessoas alcançam uma função de mando, tornam-se duras
e insensíveis para esconder a sua imperfeição.
* Rabino, Guia, Mestre, Pai. São os quatro títulos que Jesus proíbe
a gente de usar. Hoje, na igreja, os sacerdotes são chamados de “pai” (padre).
Muitos estudam nas universidades da igreja e conquistam o título de “Doutor”
(mestre). Muita gente faz direção espiritual e se aconselha com pessoas que são
chamadas “Diretor espiritual” (guia). O que importa é que se tenha em conta o
motivo que levou Jesus a proibir o uso destes títulos. Se forem usados para a
pessoa se firmar numa posição de autoridade e de poder, ela estará errada e cai
debaixo da crítica de Jesus. Se forem usados para alimentar e aprofundar a
fraternidade e o serviço, não caem debaixo da crítica de Jesus.
Para um confronto pessoal
1. Quais as motivações que eu tenho para viver e trabalhar na
comunidade?
2. Como a comunidade vem me ajudando a corrigir e melhorar minhas
motivações?
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