São João Mª Vianney, presbítero
Salmo Responsorial: 105
R. Lembrai-Vos de nós, Senhor, por
amor do vosso povo.
Pecámos
como os nossos pais, fizemos o mal e praticámos a iniquidade. Nossos pais na
terra do Egito não entenderam os vossos prodígios.
Depressa
esqueceram os seus feitos grandiosos e não confiaram nos seus desígnios. E
entregaram-se à orgia no deserto e tentaram a Deus no descampado.
Esqueceram
a Deus que os salvara, que realizara prodígios no Egito, maravilhas na terra de
Cam, feitos gloriosos no Mar Vermelho.
E pensava
já em exterminá-los, se Moisés, o seu eleito, não intercedesse junto d’Ele e
aplacasse a sua ira para não os destruir.
Aleluia. Apareceu
entre nós um grande profeta: Deus visitou o seu povo. Aleluia.
Evangelho (Mt
15,21-28): Naquele tempo, Jesus foi para a
região de Tiro e Sidônia. Uma mulher Cananéia, vinda daquela região, pôs-se a
gritar: «Senhor, filho de Davi, tem compaixão de mim: minha filha é cruelmente
atormentada por um demônio!». Ele não lhe respondeu palavra alguma. Seus
discípulos aproximaram-se e lhe pediram: «Manda embora essa mulher, pois ela
vem gritando atrás de nós». Ele tomou a palavra: «Eu fui enviado somente às
ovelhas perdidas da casa de Israel». Mas a mulher veio prostrar-se diante de
Jesus e começou a implorar: «Senhor, socorre-me!». Ele lhe disse: «Não fica bem
tirar o pão dos filhos para jogá-lo aos cachorrinhos». Ela insistiu: «É
verdade, Senhor; mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa
de seus donos!». Diante disso, Jesus respondeu: «Mulher, grande é tua fé! Como
queres, te seja feito!». E a partir daquela hora, sua filha ficou curada.
«Mulher, grande é tua
fé»
Rev. D. Jordi CASTELLET i Sala (Sant Hipòlit de
Voltregà, Barcelona, Espanha)
Esta
passagem do Evangelho chama a nossa atenção para aquela mãe Cananéia que pede
uma graça para sua filha, reconhecendo em Jesus o Filho de Davi: «Senhor, filho
de Davi, tem compaixão de mim: minha filha é cruelmente atormentada por um
demônio!» (Mt 15,22). O Mestre é surpreso: «Mulher, grande é tua fé!», e não
pode fazer outra coisa senão atuar em favor daquelas pessoas: «Como queres, te
seja feito!» (Mt 15,28), ainda que isto não pareça estar em seus planos. Apesar
da realidade humana, a graça de Deus sempre se manifesta.
A fé não é
patrimônio de uns quantos, nem tampouco é propriedade dos que se creem bons ou
dos que o foram, ou de quem tem esta etiqueta social ou eclesial. A ação de
Deus precede a ação da Igreja e, o Espírito Santo está atuando já em pessoas
que não havíamos suspeitado que nos trouxessem uma mensagem de parte de Deus,
uma solicitação em favor dos mais necessitados. Diz São Leão: «Amados meus, a
virtude e a sabedoria da fé cristã são o amor a Deus e ao próximo: nada falta a
nenhuma obrigação de piedade a quem procura dar culto a Deus e a ajudar a seu
irmão».
Reflexão
Enquanto ia
pelo caminho, é alcançado por uma mulher que vem de lugares pagãos. Mateus
apresenta esta mulher com o nome de "Cananeia", que aparece no Antigo
Testamento com toda a sua dureza. No livro do Deuteronômio, os habitantes de
Canaã são vistos como um povo cheio de pecado e por consequência um povo mau e
idólatra.
• Dinâmica da história. Enquanto Jesus desenvolvia sua
atividade na Galileia e está a caminho de Tiro e de Sidônia, uma mulher se
aproxima dele e começa a incomodá-lo com um pedido de ajuda para sua filha
doente. A mulher aborda Jesus com o título de "filho de Davi", um
título que soa estranho na boca de um pagão e poderia se justificar pela
extrema necessidade em que vivia aquela mulher. Poderia se pensar que esta
mulher já acreditava de alguma forma na pessoa de Jesus como o salvador final,
mas se exclui visto que só no v. 28 aparece reconhecido seu ato de fé,
precisamente por Jesus.
No diálogo
com a mulher, parece que Jesus mostra a mesma distância e desconfiança que
existia entre o povo de Israel e os pagãos. Por um lado, Jesus manifesta à
mulher a prioridade de Israel em relação à salvação, e diante do insistente
pedido de sua interlocutora, Jesus parece tomar distância, uma atitude
incompreensível para o leitor, mas na intenção de Jesus expressa um alto valor
pedagógico. A primeira súplica "Tem misericórdia de mim, Senhor, Filho de
Davi", Jesus não responde. À segunda intervenção, desta vez pelos
discípulos que o convidam para atender a mulher, apenas expressa uma rejeição
que sublinha a distância secular entre o povo escolhido e os povos pagãos (vv.
23b-24). Mas, devido a insistência da mulher que se prostra ante Jesus, segue
uma resposta difícil e misteriosa: "Não convém jogar aos cachorrinhos o
pão dos filhos" (v. 26). Ela vai além da dureza das palavras de Jesus e
apega a um pequeno sinal de esperança: a mulher reconhece que o plano de Deus
que Jesus realiza inicialmente afeta o povo escolhido e Jesus pede a
observância deste prioridade; a mulher explora esta prioridade, a fim de
apresentar um motivo forte para o milagre: “os cachorrinhos ao menos comem as
migalhas que caem da mesa de seus donos” (v. 27). A mulher superou a prova de
fé: "Ó mulher, grande é tua fé!" (v. 28); na verdade, à humilde
insistência de sua fé, Jesus responde com um gesto de salvação.
Este
episódio dirige a todo leitor do Evangelho um convite para ter uma atitude de
"abertura" para todos, crentes ou não, ou seja, disponibilidade e
aceitação sem reserva para qualquer pessoa.
Para um confronto pessoal
1. A palavra Deus convida-o a romper
seu fechamento e seus esquemas pequenos. Você é capaz de acolher todos os
irmãos que vêm até você?
2. Você está ciente de sua pobreza para ser capaz, como
a Cananeia, de confiar na palavra salvadora de Jesus?
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