Festa das Santas Chagas de Jesus
Salmo Responsorial
146/147
R. Louvai a Deus, porque ele é bom e
conforta os corações.
Louvai a
Deus, porque ele é bom, cantai ao nosso Deus, porque é suave: ele é digno de
louvor, ele o merece! * O Senhor reconstruiu Jerusalém e os dispersos de Israel
juntou de novo.
Ele conforta
os corações despedaçados, ele enfaixa suas feridas e as cura; * fixa o número
de todas as estrelas e chama a cada uma por seu nome.
É grande e
onipotente o nosso Deus, seu saber não tem medida nem limites. * O Senhor Deus
é o amparo dos humildes, mas dobra até o chão os que são ímpios.
2ª Leitura (1 Cor
9,16-19.22-23): Anunciar o Evangelho não é glória
para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o
Evangelho! Se o fizesse de minha iniciativa, mereceria recompensa. Se o faço
independentemente de minha vontade, é uma missão que me foi imposta. Então em
que consiste a minha recompensa? Em que, na pregação do Evangelho, o anuncio
gratuitamente, sem usar do direito que esta pregação me confere. Embora livre
de sujeição de qualquer pessoa, eu me fiz servo de todos para ganhar o maior
número possível. Fiz-me fraco com os fracos, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me
tudo para todos, a fim de salvar a todos. E tudo isso faço por causa do
Evangelho, para dele me fazer participante.
Aleluia. Cristo tomou
sobre si nossas dores, carrego em seu corpo as nossas fraquezas. Aleluia
Evangelho (Mc
1,29-39): Logo que saíram da sinagoga, foram
com Tiago e João para a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama,
com febre, e logo falaram dela a Jesus. Ele aproximou-se e, tomando-a pela mão,
levantou-a; a febre a deixou, e ela se pôs a servi-los. Ao anoitecer, depois do
pôr do sol, levavam a Jesus todos os doentes e os que tinham demônios. A cidade
inteira se ajuntou à porta da casa. Ele curou muitos que sofriam de diversas
enfermidades; expulsou também muitos demônios, e não lhes permitia falar,
porque sabiam quem ele era. De madrugada, quando ainda estava bem escuro, Jesus
se levantou e saiu rumo a um lugar deserto. Lá, ele orava. Simão e os que
estavam com ele se puseram a procurá-lo. E quando o encontraram, disseram-lhe:
«Todos te procuram». Jesus respondeu: «Vamos a outros lugares, nas aldeias da
redondeza, a fim de que, lá também, eu proclame a Boa Nova. Pois foi para isso
que eu saí». E foi proclamando nas sinagogas por toda a Galileia, e expulsava
os demônios.
«Todos te procuram»
Rev. D. Francesc CATARINEU i Vilageliu (Sabadell,
Barcelona, Espanha)
Aproxima-se aos pobres-doentes que lhe levam e os cura apenas alargando a mão; somente com um breve contato com Ele, que é fonte de vida, são salvados – liberados.
Todos
procuram a Cristo, alguns de uma maneira expressa e esforçada, outros não são
conscientes disso, já que «nosso coração está inquieto e não encontra descanso
até que descansa Nele» (São Agostinho).
Mas, assim
como nós o procuramos porque necessitamos que nos livre do mal e do Maligno,
Ele se nos acerca para fazer possível aquilo que nunca poderíamos conseguir
sozinhos. Ele fez-nos frágeis para ganhar-nos a nós, «fez-se todo para todos
para ganhar ao menos alguns» (1Cor 9,22).
Há uma mão
aberta que nos espera quando nos sentimos cansados por tantos males; temos
bastante com abrir a nossa e nos encontraremos de pé e renovados para o
serviço. Podemos “abrir” a mão mediante a oração, tomando o exemplo do Senhor:
«De madrugada, quando ainda estava bem escuro, Jesus se levantou e saiu rumo a
um lugar deserto. Lá ele orava» (Mc 1,35).
Além disso,
a Eucaristia de cada domingo é o encontro com o Senhor que vem a levantar-nos
do pecado da rotina e do desânimo para fazer de nós testemunhos vivos de um
encontro que nos renova constantemente e que faz-nos livres de verdade com
Jesus Cristo.
Comentário do Pe.
Thomaz Hughes, SVD
A cura da
sogra de Pedro faz contraste com a cura no texto no trecho anterior (1, 23-28).
Aquela cura se dava em um lugar considerado “sagrado” - a sinagoga - enquanto a
de hoje se realiza em um lugar considerado “profano” - a casa; aquela era de um
homem, a de hoje de uma mulher; a primeira em um lugar público, a da sogra em
um lugar privado. Assim, Marcos enfatiza que a missão libertadora de Jesus
abrange tudo e todos, sem distinção de gênero, condição social, ou local. Jesus
mostra que na verdade não existem locais “sagrados” ou “profanos”, pois Deus
está, e age, em todo lugar onde há os seus filhos e filhas. A sogra, quando
curada, levanta-se e começa a servir os discípulos - ou seja, quem é libertado
por Jesus não se satisfaz com isso, mas em resposta coloca-se a serviço da
comunidade. O encontro com Jesus nunca é algo somente intimista, como querem
tantos grupos e movimentos hoje, mas sempre leva à comunidade e à missão.
A cura das
multidões de doentes nos mostra a situação do povo do interior da Galileia no
tempo de Jesus - muitos doentes de todos os tipos, por falta de recursos. Muito
semelhante ao Brasil de hoje. Jesus expulsa os demônios - que significavam, na
linguagem daquela época, tudo que oprimisse a pessoa humana, todas as
manifestações do mal. Como o texto anterior, o atual também nos convida a
descobrir quais as manifestações do mal que devem ser afugentadas da nossa sociedade
de hoje - as que deixam tantas pessoas sem saúde, sem recursos, sem uma vida
digna dos filhos/as de Deus. Nos convida a lutar, não através de “exorcismos”,
muitas vezes teatrais e chocantes, mas através de uma luta permanente e firme
em favor dos Direitos Humanos do nosso povo sofrido.
A terceira
parte do texto nos traz o segredo da força da missão de Jesus. Mesmo esgotado
com o trabalho em favor do povo, ele se levanta de madrugada para ficar na
intimidade com o Pai. Na solidão do sertão, em oração, ele reza a sua missão e
se abastece com a força do Pai. Na solidão do mato, Jesus achou a força para
poder levar a sua missão até o fim na fidelidade - até o ponto de fracassar,
humanamente falando! A atitude de Pedro e dos companheiros é outra - “Todos estão
te procurando!” Isso significa, “Você está fazendo sucesso em Cafarnaum - volte
para lá, faça mais sucesso ainda!” A tentação permanente do poder e da fama -
onde no fundo se busca mais a auto-realização e o prestígio do que a vontade de
Deus. Tentação muito atual para nós, nos dias de hoje, com tanta manipulação da
religião pelos meios de comunicação. Mas Jesus não cai - a resposta d’Ele é
contundente: “Vamos para outros lugares, pois foi para isso que eu vim”. Jesus
não deixa que a fama e o prestígio o tirem do caminho do Servo de Javé - ele
anda pelas aldeias da Galileia, no “fim da picada”, para levar a compaixão de
Deus aos mais abandonados e sofridos, nos becos-sem-saída de Israel.
Esse trecho demonstra a dinâmica interna
da vida de Jesus, que deve ser a da cada vida cristã. Quanto mais ele trabalha
na missão, mais ele sente a necessidade de rezar. Mas, mais que reza, mais tem
força para voltar à missão. Jesus não está a serviço d’Ele mesmo, nem de uma
estrutura - mas do Pai e do povo, dois aspectos da mesma missão. O texto nos
adverte contra duas tentações tão comuns na Igreja de hoje - a de só trabalhar,
sem aprofundar a vida íntima com Deus e a de só “rezar” de uma maneira
individualista e intimista, sem a dedicação à missão. Jesus mostra que a missão
leva à oração e a oração leva à missão - e não a qualquer missão, mas à missão
da libertação do povo sofrido e oprimido, sinal da presença do Reino de Deus
entre nós.
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