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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

V Domingo do Tempo Comum

 Festa das Santas Chagas de Jesus

1ª Leitura (Jó 7,1-4.6-7): A vida do homem sobre a terra é uma luta, seus dias são como os dias de um mercenário. Como um escravo que suspira pela sombra, e o assalariado que espera seu soldo, assim também eu tive por sorte meses de sofrimento, e noites de dor me couberam por partilha. Apenas me deito, digo: Quando chegará o dia? Logo que me levanto: Quando chegará a noite? E até a noite me farto de angústias. Minha carne se cobre de podridão e de imundície, minha pele racha e supura. Meus dias passam mais depressa do que a lançadeira, e se desvanecem sem deixar esperança. Lembra-te de que minha vida nada mais é do que um sopro, de que meus olhos não mais verão a felicidade.

Salmo Responsorial 146/147

R. Louvai a Deus, porque ele é bom e conforta os corações.

Louvai a Deus, porque ele é bom, cantai ao nosso Deus, porque é suave: ele é digno de louvor, ele o merece! * O Senhor reconstruiu Jerusalém e os dispersos de Israel juntou de novo.

Ele conforta os corações despedaçados, ele enfaixa suas feridas e as cura; * fixa o número de todas as estrelas e chama a cada uma por seu nome.

É grande e onipotente o nosso Deus, seu saber não tem medida nem limites. * O Senhor Deus é o amparo dos humildes, mas dobra até o chão os que são ímpios.

2ª Leitura (1 Cor 9,16-19.22-23): Anunciar o Evangelho não é glória para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho! Se o fizesse de minha iniciativa, mereceria recompensa. Se o faço independentemente de minha vontade, é uma missão que me foi imposta. Então em que consiste a minha recompensa? Em que, na pregação do Evangelho, o anuncio gratuitamente, sem usar do direito que esta pregação me confere. Embora livre de sujeição de qualquer pessoa, eu me fiz servo de todos para ganhar o maior número possível. Fiz-me fraco com os fracos, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, a fim de salvar a todos. E tudo isso faço por causa do Evangelho, para dele me fazer participante.

Aleluia. Cristo tomou sobre si nossas dores, carrego em seu corpo as nossas fraquezas. Aleluia

Evangelho (Mc 1,29-39): Logo que saíram da sinagoga, foram com Tiago e João para a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama, com febre, e logo falaram dela a Jesus. Ele aproximou-se e, tomando-a pela mão, levantou-a; a febre a deixou, e ela se pôs a servi-los. Ao anoitecer, depois do pôr do sol, levavam a Jesus todos os doentes e os que tinham demônios. A cidade inteira se ajuntou à porta da casa. Ele curou muitos que sofriam de diversas enfermidades; expulsou também muitos demônios, e não lhes permitia falar, porque sabiam quem ele era. De madrugada, quando ainda estava bem escuro, Jesus se levantou e saiu rumo a um lugar deserto. Lá, ele orava. Simão e os que estavam com ele se puseram a procurá-lo. E quando o encontraram, disseram-lhe: «Todos te procuram». Jesus respondeu: «Vamos a outros lugares, nas aldeias da redondeza, a fim de que, lá também, eu proclame a Boa Nova. Pois foi para isso que eu saí». E foi proclamando nas sinagogas por toda a Galileia, e expulsava os demônios.

«Todos te procuram»

Rev. D. Francesc CATARINEU i Vilageliu (Sabadell, Barcelona, Espanha)

Hoje contemplamos a Jesus em Cafarnaum, centro do seu ministério, e concretamente em casa de Simão Pedro: «Logo que saíram da sinagoga, foram (...) para a casa de Simão i André» (Mc 1,29). Lá encontra a sua família, a de aqueles que escutam a Palavra e a cumprem (cf. Lc 8,21). A sogra de Pedro está doente em cama e Ele, com um gesto que ultrapassa a anedota, lhe dá a mão, levanta-a da sua prostração e a devolve ao serviço.

Aproxima-se aos pobres-doentes que lhe levam e os cura apenas alargando a mão; somente com um breve contato com Ele, que é fonte de vida, são salvados – liberados.

Todos procuram a Cristo, alguns de uma maneira expressa e esforçada, outros não são conscientes disso, já que «nosso coração está inquieto e não encontra descanso até que descansa Nele» (São Agostinho).

Mas, assim como nós o procuramos porque necessitamos que nos livre do mal e do Maligno, Ele se nos acerca para fazer possível aquilo que nunca poderíamos conseguir sozinhos. Ele fez-nos frágeis para ganhar-nos a nós, «fez-se todo para todos para ganhar ao menos alguns» (1Cor 9,22).

Há uma mão aberta que nos espera quando nos sentimos cansados por tantos males; temos bastante com abrir a nossa e nos encontraremos de pé e renovados para o serviço. Podemos “abrir” a mão mediante a oração, tomando o exemplo do Senhor: «De madrugada, quando ainda estava bem escuro, Jesus se levantou e saiu rumo a um lugar deserto. Lá ele orava» (Mc 1,35).

Além disso, a Eucaristia de cada domingo é o encontro com o Senhor que vem a levantar-nos do pecado da rotina e do desânimo para fazer de nós testemunhos vivos de um encontro que nos renova constantemente e que faz-nos livres de verdade com Jesus Cristo.

Comentário do Pe. Thomaz Hughes, SVD

O nosso texto de hoje pode ser dividido em três partes: vv 29-31 - a cura da sogra de Pedro; vv 32-34: curas em Cafarnaum; vv 35-39: Jesus reforça a sua vocação e missão pela oração. O conjunto forma uma unidade que pode nos ensinar coisas importantes para a nossa vida de cristãos.

A cura da sogra de Pedro faz contraste com a cura no texto no trecho anterior (1, 23-28). Aquela cura se dava em um lugar considerado “sagrado” - a sinagoga - enquanto a de hoje se realiza em um lugar considerado “profano” - a casa; aquela era de um homem, a de hoje de uma mulher; a primeira em um lugar público, a da sogra em um lugar privado. Assim, Marcos enfatiza que a missão libertadora de Jesus abrange tudo e todos, sem distinção de gênero, condição social, ou local. Jesus mostra que na verdade não existem locais “sagrados” ou “profanos”, pois Deus está, e age, em todo lugar onde há os seus filhos e filhas. A sogra, quando curada, levanta-se e começa a servir os discípulos - ou seja, quem é libertado por Jesus não se satisfaz com isso, mas em resposta coloca-se a serviço da comunidade. O encontro com Jesus nunca é algo somente intimista, como querem tantos grupos e movimentos hoje, mas sempre leva à comunidade e à missão.

A cura das multidões de doentes nos mostra a situação do povo do interior da Galileia no tempo de Jesus - muitos doentes de todos os tipos, por falta de recursos. Muito semelhante ao Brasil de hoje. Jesus expulsa os demônios - que significavam, na linguagem daquela época, tudo que oprimisse a pessoa humana, todas as manifestações do mal. Como o texto anterior, o atual também nos convida a descobrir quais as manifestações do mal que devem ser afugentadas da nossa sociedade de hoje - as que deixam tantas pessoas sem saúde, sem recursos, sem uma vida digna dos filhos/as de Deus. Nos convida a lutar, não através de “exorcismos”, muitas vezes teatrais e chocantes, mas através de uma luta permanente e firme em favor dos Direitos Humanos do nosso povo sofrido.

A terceira parte do texto nos traz o segredo da força da missão de Jesus. Mesmo esgotado com o trabalho em favor do povo, ele se levanta de madrugada para ficar na intimidade com o Pai. Na solidão do sertão, em oração, ele reza a sua missão e se abastece com a força do Pai. Na solidão do mato, Jesus achou a força para poder levar a sua missão até o fim na fidelidade - até o ponto de fracassar, humanamente falando! A atitude de Pedro e dos companheiros é outra - “Todos estão te procurando!” Isso significa, “Você está fazendo sucesso em Cafarnaum - volte para lá, faça mais sucesso ainda!” A tentação permanente do poder e da fama - onde no fundo se busca mais a auto-realização e o prestígio do que a vontade de Deus. Tentação muito atual para nós, nos dias de hoje, com tanta manipulação da religião pelos meios de comunicação. Mas Jesus não cai - a resposta d’Ele é contundente: “Vamos para outros lugares, pois foi para isso que eu vim”. Jesus não deixa que a fama e o prestígio o tirem do caminho do Servo de Javé - ele anda pelas aldeias da Galileia, no “fim da picada”, para levar a compaixão de Deus aos mais abandonados e sofridos, nos becos-sem-saída de Israel.

       Esse trecho demonstra a dinâmica interna da vida de Jesus, que deve ser a da cada vida cristã. Quanto mais ele trabalha na missão, mais ele sente a necessidade de rezar. Mas, mais que reza, mais tem força para voltar à missão. Jesus não está a serviço d’Ele mesmo, nem de uma estrutura - mas do Pai e do povo, dois aspectos da mesma missão. O texto nos adverte contra duas tentações tão comuns na Igreja de hoje - a de só trabalhar, sem aprofundar a vida íntima com Deus e a de só “rezar” de uma maneira individualista e intimista, sem a dedicação à missão. Jesus mostra que a missão leva à oração e a oração leva à missão - e não a qualquer missão, mas à missão da libertação do povo sofrido e oprimido, sinal da presença do Reino de Deus entre nós.

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