IMACULADA CONCEIÇÃO DE LOURDES
Salmo Responsorial:
127
R. Felizes os que esperam no Senhor.
Feliz de
ti, que temes o Senhor e andas nos seus caminhos. Comerás do trabalho das tuas
mãos, serás feliz e tudo te correrá bem.
Tua esposa
será como videira fecunda no íntimo do teu lar; teus filhos serão como ramos de
oliveira ao redor da tua mesa.
Assim será
abençoado o homem que teme o Senhor. De Sião te abençoe o Senhor: vejas a
prosperidade de Jerusalém todos os dias da tua vida.
Aleluia. Acolhei
docilmente a palavra em vós plantada, que pode salvar as vossas almas. Aleluia.
Evangelho (Mc
7,24-30): Jesus se pôs a caminho e, dali, foi
para a região de Tiro. Entrou numa casa e não queria que ninguém soubesse onde
ele estava. Mas não conseguia ficar escondido. Logo, uma mulher que tinha uma
filha com um espírito impuro, ouviu falar dele. Ela foi e jogou-se a seus pés.
A mulher não era judia, mas de origem siro-fenícia, e pedia que ele expulsasse
o demônio de sua filha. Jesus lhe disse: «Deixa que os filhos se saciem
primeiro; pois não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-lo aos
cachorrinhos». Ela respondeu: «Senhor, também os cachorrinhos, debaixo da mesa,
comem as migalhas que os filhos deixam cair». Jesus, então, lhe disse: «Por
causa do que acabas de dizer, podes voltar para casa. O demônio já saiu de tua
filha». Ela voltou para casa e encontrou sua filha deitada na cama. O demônio
havia saído dela.
«Ela foi e jogou-se a
seus pés. Pedia que ele expulsasse o demônio de sua filha»
Rev. D. Enric CASES i Martín (Barcelona, Espanha)
São Agostinho dizia que muitos não conseguem o que pedem pois são «aut mali, aut male, aut mala». Ou são maus e a primeira coisa que teriam que pedir seria ser bons; ou pedem erroneamente, sem insistência, em vez de pedir com paciência, com humildade, com fé e por amor; ou pedem coisas ruins que se recebessem fariam dano à alma ou ao corpo ou aos outros. Devemos nos esforçar, pois, por pedir bem. A mulher siro-fenícia é boa mãe, pede algo bom («que expulsasse de sua filha o demônio») e pede bem («veio e jogou-se aos seus a pés»).
O Senhor
nos faz usar perseverantemente a oração de petição. Certamente, existem outros
tipos de pregaria —a adoração, a expiação, a oração de agradecimento—, mas
Jesus insiste em que nós frequentemos muito a oração de petição.
Por que?
Muitos poderiam ser os motivos: porque necessitamos da ajuda de Deus para
alcançar nosso fim; porque expressa esperança e amor; porque é um clamor de fé.
Mas existe um que talvez seja pouco considerando: Deus quer que as coisas sejam
um pouco como nós queremos. Deste modo, nossa petição —que é um ato livre—
unida à liberdade onipotente de Deus, faz com que o mundo seja como Deus quer e
um pouco como nós queremos. É maravilhoso o poder da oração!
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm
* Jesus vai tentando abrir a
mentalidade dos discípulos e do povo para além da visão tradicional. Na multiplicação dos pães, ele
tinha insistido na partilha (Mc 6,30-44). Na discussão sobre o puro e o impuro,
tinha declarado puros todos os alimentos (Mc 7,1-23). Agora, neste episódio da
Mulher Cananéia, ele ultrapassa as fronteiras do território nacional e acolhe
uma mulher estrangeira que não era do povo e com a qual era proibido conversar.
Estas iniciativas de Jesus, nascidas da sua experiência de Deus como Pai, eram
estranhas para a mentalidade do povo da época. Jesus ajuda o povo a abrir sua
maneira de experimentar Deus na vida.
* Marcos 7.24: Jesus sai do
território
No texto
diretamente anterior a este (Mc 7,1-23), Jesus tinha criticado a incoerência da
“Tradição dos Antigos” e tinha ajudado o povo e os discípulos a sair da prisão
das leis da pureza. Aqui, em Mc 7,24, ele sai da Galileia. Parece querer sair
da prisão do território e da raça. Estando no estrangeiro, ele não quer ser
conhecido. Mas a sua fama já tinha chegado antes. O povo ficou sabendo e faz
apelo a Jesus.
* Marcos 7.25-26: A situação
Uma mulher
chega perto e começa a pedir pela filha doente. Marcos diz explicitamente que
ela era de outra raça e de outra religião. Isto é, era uma pagã. Ela se lança
aos pés de Jesus e começa a suplicar pela cura da filha que estava possuída por
um espírito impuro. Os pagãos não tinham problema em recorrer a Jesus. Os
judeus é que tinham problemas em conviver com os pagãos!
* Marcos 7.27: A resposta de Jesus
Fiel às
normas da sua religião, Jesus diz que não convém tirar o pão dos filhos e dar
aos cachorrinhos. Frase dura. A comparação vinha da vida em família. Até hoje,
criança e cachorro é o que mais tem nos bairros pobres. Jesus afirma uma coisa
certa: nenhuma mãe tira o pão da boca dos filhos para dar aos cachorrinhos. No
caso, os filhos eram o povo judeu e os cachorrinhos, os pagãos. Na época do AT,
por causa da rivalidade entre os povos, um povo costumava chamar o outro povo
de “cachorro” (1Sam 17,43). Nos outros evangelhos Jesus explica o porquê da sua
recusa: “Não fui enviado a não ser para as ovelhas perdidas da casa de Israel”
(Mt 15,24). Ou seja: “O Pai não quer que eu atenda à senhora!”
* Marcos 7,28: A reação da mulher
Ela
concorda com Jesus, mas amplia a comparação e a aplica ao caso dela: “É
verdade, Jesus! Mas também os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa
das crianças!” É como se dissesse: “Se sou cachorrinho, então tenho o direito
dos cachorrinhos, a saber, as migalhas me pertencem!” Ela simplesmente tirou as
conclusões da parábola que Jesus contou e mostrou que, até na casa de Jesus, os
cachorrinhos comiam das migalhas que caíam da mesa das crianças. E na “casa de
Jesus”, isto é, na comunidade cristã, a multiplicação do pão para os filhos foi
tão abundante que estavam sobrando doze cestos (Mc 6,42) para os
“cachorrinhos”, isto é, para ela, para os pagãos!
* Marcos 7,29-30: A reação de Jesus:
“Pelo que
disseste: Vai! O demônio saiu da tua filha!” Nos outros evangelhos se
explicita: “Grande é a tua fé! Seja feito como queres!” (Mt 15,28). Se Jesus
atende ao pedido da mulher, é porque compreendeu que, agora, o Pai queria que
ele acolhesse o pedido dela. Este episódio ajuda a perceber algo do mistério
que envolvia a pessoa de Jesus e como ele convivia com o Pai. Era observando as
reações e as atitudes das pessoas, que Jesus descobria a vontade do Pai nos
acontecimentos da vida A atitude da mulher abriu um novo horizonte na vida de
Jesus. Através dela, ele descobriu melhor que o projeto do Pai é para todos os
que buscam a vida e procuram libertá-la das cadeias que aprisionam a sua
energia. Assim, ao longo das páginas do evangelho de Marcos há uma abertura
crescente em direção aos outros povos. Deste modo, Marcos leva os leitores e as
leitoras a abrir-se, aos poucos, para a realidade do mundo ao redor e a superar
os preconceitos que impediam a convivência pacífica entre os povos. Esta
abertura para os pagãos aparece de maneira muito clara na ordem final dada por
Jesus aos discípulos, depois da sua ressurreição:” Ide por todo o mundo,
proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15).
Para um confronto pessoal
1. Como você faz, concretamente, para conviver em paz com
pessoas de outras igrejas cristãs ou com espíritas? No bairro onde você vive
tem gente de outras religiões? Quais? Você conversa normalmente com pessoas de
outra religião?
2. Qual a abertura que este texto pede de nós, hoje, na
família e na comunidade?
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