São Martinho de Tours, bispo
Salmo Responsorial: 22
R. O Senhor é meu pastor: nada me
faltará.
O Senhor é
meu pastor: nada me falta. Leva-me a descansar em verdes prados, conduz-me às
águas refrescantes e reconforta a minha alma.
Ele me guia
por sendas direitas por amor do seu nome. Ainda que tenha de andar por vales
tenebrosos, não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo: o vosso cajado e
o vosso báculo me enchem de confiança.
Para mim preparais
a mesa à vista dos meus adversários; com óleo me perfumais a cabeça e o meu
cálice transborda.
A bondade e
a graça hão de acompanhar-me todos os dias da minha vida, e habitarei na casa
do Senhor para todo o sempre.
Aleluia. Em todo o
tempo e lugar dai graças a Deus, porque esta é a sua vontade a vosso respeito
em Cristo Jesus. Aleluia.
Evangelho (Lc
17,11-19): Um dia, caminhando para Jerusalém,
Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. Estava para entrar num povoado,
quando dez leprosos vieram ao seu encontro. Pararam a certa distância e
gritaram: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!» Ao vê-los, Jesus disse: «Ide apresentar-vos
aos sacerdotes». Enquanto estavam a caminho, aconteceu que ficaram curados. Um
deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz;
prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu. E este era um samaritano. Então
Jesus lhe perguntou: «Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão?
Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?» E
disse-lhe: «Levanta-te e vai! Tua fé te salvou».
«Prostrou-se aos pés
de Jesus e lhe agradeceu»
P. Conrad J. MARTÍ i Martí OFM (Valldoreix, Barcelona,
Espanha)
Com um
pouco de imaginação, pode cada um de nós reproduzir a imagem dos marginalizados
da sociedade, que têm nome como nós: imigrantes, drogados, delinquentes,
doentes de aids, desempregados, pobres... Jesus quer restabelecê-los, remediar
os seus sofrimentos, resolver os seus problemas; e pede-nos colaboração de
forma desinteressada, gratuita, eficaz... por amor.
Além disso,
tornamos mais presente em cada um de nós a lição que dá Jesus. Somos pecadores
e necessitados de perdão, somos pobres que todo o esperam dele. Seríamos
capazes de dizer como o leproso «Jesus, Mestre, tem compaixão de mim» (cf. Lc
17, 13) Sabemos recorrer a Jesus com uma oração profunda e confiante?
Imitamos o
leproso curado, que volta a Jesus para lhe agradecer? De fato, só «Um deles, ao
perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz» (Lc 17,15).
Jesus sente a falta dos outros nove: «Não foram dez os curados? E os outros
nove, onde estão?» (Lc 17,17). Santo Agostinho deixou a seguinte sentença:
«Graças a Deus`: não há nada que alguém possa dizer com maior brevidade (...)
nem fazer com maior utilidade que estas palavras». Portanto, nós, como
agradecemos a Jesus o grande dom da vida, a nossa e a da família; a graça da
fé, a santa Eucaristia, o perdão dos pecados...? Não acontece alguma vez que
não lhe agradecemos pela Eucaristia, apesar de participar frequentemente nela?
A Eucaristia é —não duvidemos— a nossa maior vivência de cada dia.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
* Lucas 17,11: Jesus em viagem para
Jerusalém
Lucas
lembra que Jesus estava de viagem para Jerusalém, passando da Samaria para a Galileia.
Desde o começo da viagem (Lc 9,52) até agora (Lc 17,11), Jesus andou pela
Samaria. Só agora está saindo da Samaria, passando pela Galileia para poder
chegar em Jerusalém. Isto significa que os importantes ensinamentos, dados
nestes capítulos todos de 9 até 17, foram todos dados em território que não era
judeu. Ouvir isto deve ter sido motivo de muita alegria para as comunidades de
Lucas, vindas do paganismo. Jesus, o peregrino, continua a sua viagem até
Jerusalém. Continua tirando as desigualdades que os homens criaram. Continua a
longa e dolorosa caminhada da periferia para a capital, de uma religião fechada
sobre si mesma para a religião aberta que sabe acolher os outros como irmãos e
irmãs, filhos e filhas do mesmo Pai. Esta abertura vai aparecer no acolhimento
dado aos dez leprosos.
* Lucas 17,12-13: O grito dos
leprosos
Dez
leprosos aproximam-se de Jesus, param de longe e gritam: "Jesus, mestre,
tem piedade de nós!" O leproso era uma pessoa excluída. Era marginalizado
e desprezado, sem o direito de conviver com suas famílias. Segundo a lei da
pureza, os leprosos deviam andar com roupa rasgada e cabelos desgrenhados,
gritando: “Impuro! Impuro!” (Lv 13,45-46). Para os leprosos, a busca da cura
significava o mesmo que buscar a pureza para poder ser reintegrados na
comunidade. Não podiam aproximar-se dos outros (Lv 13,45-46). Qualquer toque
num leproso causava impureza e criava um impedimento para a pessoa poder
dirigir-se a Deus. Através do grito, eles expressam a fé de que Jesus pode
curá-los e devolver-lhes a pureza. Obter a pureza significava sentir-se,
novamente, acolhido por Deus, e poder dirigir-se a Ele para receber a bênção
prometida a Abraão.
* Lucas 17,14: A resposta de Jesus e
a cura
Jesus
reponde: "Vão mostrar-se aos sacerdotes!" (cf. Mc 1,44). Era o
sacerdote que devia verificar a cura e dar o atestado de pureza (Lv 14,1-32). A
resposta de Jesus exigia muita fé da parte dos leprosos. Devem ir ao sacerdote
como se já estivessem curados, quando, na realidade, o corpo deles continuava
coberto de lepra. Mas eles acreditaram na palavra de Jesus e foram em direção
ao sacerdote. E aconteceu que, enquanto iam caminhando, manifestou-se a cura.
Ficaram purificados. Esta cura evoca a história da purificação de Naaman da
Síria (2Rs 5,9-10). O profeta Eliseu mandou o homem lavar-se no Jordão. Naaman
tinha de crer na palavra do profeta. Jesus mandou os dez apresentar-se aos
sacerdotes. Eles tinham de crer na palavra de Jesus.
* Lucas 17,15-16: Reação do
samaritano
“Ao
perceber que estava curado, um deles voltou atrás dando glória a Deus em alta
voz. Jogou-se no chão, aos pés de Jesus, e lhe agradeceu. E este era um
samaritano.” Por que os outros não voltaram? Por que só o samaritano? Na
opinião dos judeus de Jerusalém, o samaritano não observava a lei como devia.
Entre os judeus havia a tendência de observar a lei para poder merecer ou
conquistar a justiça. Pela observância, eles iam acumulando méritos e créditos
diante de Deus. Gratidão e gratuidade não fazem parte do vocabulário de pessoas
que vivem assim o seu relacionamento com Deus. Talvez seja por isso que não
agradeceram o benefício recebido. Na parábola do evangelho de ontem, Jesus
tinha formulado a pergunta sobre a gratidão: “Será que vai agradecer ao
empregado, porque este fez o que lhe havia mandado?” (Lc 17,9) E a resposta
era: “Não!” O samaritano representa as pessoas que têm consciência clara de que
nós, seres humanos, não temos mérito, nem crédito diante de Deus. Tudo é graça,
a começar pelo dom da própria vida!
*
Lucas 17,17-19: A observação final de Jesus
Jesus
estranhou: “Os dez não ficaram purificados? Onde estão os outros nove? Não
houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro!” Para
Jesus, agradecer os outros pelo benefício recebido é uma maneira de dar a Deus
o louvor que lhe é devido. Neste ponto, os samaritanos davam lição aos judeus.
Hoje são os pobres, que fazem o papel de samaritano e nos ajudam a redescobrir
esta dimensão da gratuidade da vida. Tudo que recebemos deve ser visto como um
dom de Deus que vem até nós através do irmão e da irmã.
* A acolhida dada aos samaritanos no
evangelho de Lucas. Para Lucas, o lugar que Jesus dava aos
samaritanos é o mesmo que as comunidades deviam reservar aos pagãos. Jesus
apresenta um samaritano como modelo de gratidão (Lc 17,17-19) e de amor ao
próximo (Lc 10,30-33). Isto devia ser muito chocante, pois, para os judeus,
samaritano ou pagão era a mesma coisa. Não podiam ter acesso aos átrios
interiores do Templo de Jerusalém, nem participar do culto. Eram considerados
portadores de impureza, impuros desde o berço. Para Lucas, porém, a Boa Nova de
Jesus dirige-se, em primeiro lugar, às pessoas e grupos considerados indignos
de recebê-la. A salvação de Deus que chega até nós em Jesus é puro dom. Não
depende dos méritos de ninguém.
Para um confronto pessoal
1. E você, costuma agradecer às pessoas? Agradece por
convicção ou por mero costume? E na oração: agradece ou esquece?
2. Viver na gratidão é um sinal da presença do Reino no
meio de nós. Como transmitir para os outros a importância de viver na gratidão e
na gratuidade?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI SEU SUA SUGESTÃO