Salmo Responsorial:
111
R. Feliz o homem que espera no
Senhor.
Feliz o
homem que teme o Senhor e ama ardentemente os seus preceitos. A sua
descendência será poderosa sobre a terra, será abençoada a geração dos justos.
Haverá em
sua casa abundância e riqueza, a sua generosidade permanece para sempre. Brilha
aos homens retos, como luz nas trevas, o homem misericordioso, compassivo e
justo.
Ditoso o
homem que se compadece e empresta e dispõe das suas coisas com justiça. Este
jamais será abalado; o justo deixará memória eterna.
Aleluia. Deus
chamou-nos por meio do Evangelho, para alcançarmos a glória de Nosso Senhor
Jesus Cristo. Aleluia.
Evangelho (Lc 18,1-8):
Jesus contou aos discípulos uma parábola, para
mostrar-lhes a necessidade de orar sempre, sem nunca desistir: «Numa cidade
havia um juiz que não temia a Deus, nem respeitava homem algum. Na mesma cidade
havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, e lhe pedia: Fazei-me justiça
contra o meu adversário! Durante muito tempo, o juiz se recusou. Por fim, ele
pensou: Não temo a Deus e não respeito ninguém. Mas esta viúva já está me
importunando. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha, por fim, a me
agredir!». E o Senhor acrescentou: «Escutai bem o que diz esse juiz iníquo! E
Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele?
Será que vai fazê-los esperar? Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem
depressa. Mas o Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar fé sobre a
terra?».
«A necessidade de orar
sempre, sem nunca desistir»
+ Rev. D. Joan FARRÉS i Llarisó (Rubí, Barcelona,
Espanha)
Deus, que é
Pai de todos, também o espera, Jesus nos diz muitas vezes no Evangelho, e
sabemos que falar com Deus é fazer oração. A oração é a voz da fé, da nossa
crença nele, também da nossa confiança, e tomara fosse sempre manifestação do
nosso amor.
Para que a
nossa oração seja perseverante e confiada, diz São Lucas, que «Jesus contou aos
discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de orar sempre, sem
nunca desistir» (Lc 18,1). Sabemos que a oração se pode fazer louvando o Senhor
ou dando graças, ou reconhecendo a própria debilidade humana -o pecado-,
implorando a misericórdia de Deus, mas na maioria das vezes será pedindo alguma
graça ou favor. E, mesmo que no momento não se consiga o que se pede, só o fato
de se poder dirigir a Deus, o fato de poder contar a esse Alguém a pena ou a
preocupação, já é a obtenção de algo, e seguramente, -mesmo que não de
imediato, mas no tempo-, obterá resposta, porque «Deus, não fará justiça aos
seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? (Lc 18,7).
São João Climaco,
a propósito desta parábola evangélica, diz que «aquele juiz que não temia a
Deus, cede frente à insistência da viúva para não ter mais o peso de a ouvir.
Deus fará justiça à alma, viúva dele pelo pecado, frente ao Corpo, o seu
primeiro inimigo, e frente aos demônios, os seus adversários invisíveis. O
Divino Comerciante saberá intercambiar bem as nossas boas mercadorias, pôr à
disposição os seus grandes bens com amorosa solicitude e estar pronto para
acolher as nossos súplicas».
Perseverança
na oração, confiança em Deus. Dizia Tertuliano que «só a oração vence a Deus».
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
* Lucas 18,1: A introdução
Lucas
introduz a parábola com a seguinte frase: "Contou-lhes ainda uma parábola
para mostrar a necessidade de orar sempre, sem jamais desanimar". A
recomendação para “orar sem desanimar” aparece muitas vezes no Novo Testamento
(1 Tes 5,17; Rm 12,12; Ef 6,18; etc). Este é um traço característico da
espiritualidade das primeiras comunidades cristãs.
* Lucas 18,2-5: A parábola
Em seguida,
Jesus traz dois personagens da vida real: um juiz sem consideração por Deus e
sem consideração para com as pessoas, e uma viúva que luta pelos seus direitos
junto do juiz. O simples fato de Jesus trazer estes dois personagens revela a
consciência crítica que ele tinha da sociedade do seu tempo. A parábola
apresenta o povo pobre lutando no tribunal pelos seus direitos. O juiz resolve
atender à viúva e fazer-lhe justiça. O motivo é este: ficar livre da chateação
da viúva e não ser esbofeteado por ela. Motivo bem interesseiro. Mas a viúva
conseguiu o que ela queria! Este é o fato da vida diária, usado por Jesus para
ensinar como rezar.
* Lucas 18,6-8: A aplicação
Jesus
aplica a parábola: "Escutem o que está dizendo esse juiz injusto. E Deus
não faria justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que
vai fazê-los esperar? Eu lhes declaro que Deus fará justiça para eles, e bem depressa”.
Se não fosse Jesus, nós não teríamos tido a coragem de comparar Deus com um
Juiz ateu sem moral! No fim, Jesus expressa uma dúvida: "Mas, o Filho do
Homem, quando vier, será que vai encontrar a fé sobre a terra?" Ou seja,
será que vamos ter a coragem de esperar, de ter paciência, mesmo que Deus
demore em atender?
* Jesus orante. Os primeiros cristãos conservaram
uma imagem de Jesus orante, em contato permanente com o Pai. De fato, a
respiração da vida de Jesus era fazer a vontade do Pai (Jo 5,19). Jesus rezava
muito e insistia, para que o povo e seus discípulos também rezassem. Pois é no
confronto com Deus, que a verdade aparece e que a pessoa se encontra consigo
mesma em toda a sua realidade e humildade.
Lucas é o evangelista que mais nos informa sobre a vida de oração de
Jesus. Ele apresenta Jesus em constante oração. Eis alguns dos momentos em que
Jesus aparece rezando. Você pode completar a lista:
- Aos doze
anos de idade, ele vai no Templo, na Casa do Pai (Lc 2,46-50).
- Na hora
de ser batizado e de assumir a missão, ele reza (Lc 3,21).
- Na hora
de iniciar a missão, passa quarenta dias no deserto (Lc 4,1-2).
- Na hora
da tentação, ele enfrenta o diabo com textos da Escritura (Lc 4,3-12).
- Jesus tem
o costume de participar das celebrações nas sinagogas aos sábados (Lc 4,16)
- Procura a
solidão do deserto para rezar (Lc 5,16; 9,18).
- Na
véspera de escolher os doze Apóstolos, passa a noite em oração (Lc 6,12).
- Reza
antes das refeições (Lc 9,16; 24,30).
- Na hora
de fazer levantamento da realidade e de falar da sua paixão, ele reza (Lc
9,18).
- Na crise,
sobe o Monte para rezar e é transfigurado enquanto reza (Lc 9,28).
- Diante da
revelação do Evangelho aos pequenos, ele diz: “Pai eu te agradeço!” (Lc 10,21)
- Rezando,
desperta nos apóstolos vontade de rezar (Lc 11,1).
- Rezou por
Pedro para ele não desfalecer na fé (Lc 22,32).
- Celebra a
Ceia Pascal com seus discípulos (Lc 22,7-14).
- No Horto
das Oliveiras, ele reza, mesmo suando sangue (Lc 22,41-42).
- Na angústia
da agonia pede aos amigos para rezar com ele (Lc 22, 40.46).
- Na hora
de ser pregado na cruz, pede perdão pelos carrascos (Lc 23,34).
- Na hora
da morte, ele diz: "Em tuas mãos entrego meu espírito!" (Lc 23,46; Sl
31,6)
- Jesus
morre soltando o grito do pobre (Lc 23,46).
* Esta longa lista mostra o
seguinte. Para
Jesus, a oração estava intimamente ligada à vida, aos fatos concretos, às
decisões que devia tomar. Para poder ser fiel ao projeto do Pai, ele buscava
ficar a sós com ele. Escutá-lo. Nos momentos difíceis e decisivos de sua vida,
Jesus rezava os Salmos. Como todo judeu piedoso, conhecia-os de memória. A
recitação dos Salmos não matou nele a criatividade. Pelo contrário. Jesus
chegou a fazer um salmo que ele transmitiu para nós. É o Pai Nosso. Sua vida
era uma oração permanente: "Eu a cada momento faço o que o Pai me mostra
para fazer!" (Jo 5, 19.30) A ele se aplica o que diz o Salmo: "Eu sou
oração!" (Sl 109,4)
Para um confronto pessoal
1. Tem gente que diz que não sabe rezar, mas conversa com
Deus o dia todo. Você conhece pessoas assim? Conte. Há muitas maneiras do povo
hoje expressar a sua devoção e oração. Quais?
2. O que estas duas parábolas nos ensinam sobre a oração?
O que elas nos ensinam sobre a maneira de ver a vida e as pessoas?
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