Salmo Responsorial:
138
R. Conduzi-me, Senhor, pelo caminho
da eternidade.
Senhor, Vós
conheceis o íntimo do meu ser: sabeis quando me sento e quando me levanto. De
longe penetrais o meu pensamento, observais todos os meus passos.
Vós
formastes as entranhas do meu corpo e me criastes no seio de minha mãe. Dou-Vos
graças por me terdes feito tão maravilhosamente: admiráveis são as vossas
obras.
Sondai-me,
Senhor, e vede o meu coração, observai a intimidade dos meus pensamentos. Vede
que não ande pelo mau caminho, conduzi-me pelo caminho da eternidade.
Aleluia. Se nos
amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito.
Aleluia.
Evangelho (Lc
6,27-38): Naquele tempo, disse Jesus a seus
discípulos: «A vós, porém, que me escutais, eu digo: amai os vossos inimigos e
fazei o bem aos que vos odeiam. Falai bem dos que falam mal de vós e orai por aqueles
que vos caluniam. Se alguém te bater numa face, oferece também a outra. E se
alguém tomar o teu manto, deixa levar também a túnica. Dá a quem te pedir e, se
alguém tirar do que é teu, não peças de volta. Assim como desejais que os
outros vos tratem, tratai-os do mesmo modo. Se amais somente aqueles que vos
amam, que generosidade é essa? Até os pecadores amam aqueles que os amam. E se
fazeis o bem somente aos que vos fazem o bem, que generosidade é essa? Os
pecadores também agem assim. E se prestais ajuda somente àqueles de quem
esperais receber, que generosidade é essa? Até os pecadores prestam ajuda aos
pecadores, para receberem o equivalente. Amai os vossos inimigos, fazei o bem e
prestai ajuda sem esperar coisa alguma em troca. Então, a vossa recompensa será
grande. Sereis filhos do Altíssimo, porque ele é bondoso também para com os
ingratos e maus. Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso. Não
julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai
e sereis perdoados. Dai e vos será dado. Uma medida boa, socada, sacudida e
transbordante será colocada na dobra da vossa veste, pois a medida que usardes
para os outros, servirá também para vós».
«Sede misericordiosos
como vosso Pai é misericordioso»
Rev. D. Jaume AYMAR i Ragolta (Badalona, Barcelona,
Espanha)
Todas as
religiões têm uma máxima de ouro: «Não faças aos outros o que não queres que te
façam a ti». Jesus é o único que a formula de modo positivo: «Assim como
desejais que os outros vos tratem, tratai-os do mesmo modo» (Lc 6,31). Esta
regra de ouro constitui o fundamento de toda a moral. São João Crisóstomo,
comentando este versículo, ensina-nos: «Ainda há mais, porque Jesus não disse
somente: desejai todo o bem para os outros, mas fazei o bem aos outros»; logo,
a máxima de ouro proposta por Jesus não pode reduzir-se a um mero desejo, mas
tem que se traduzir em obras.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
* Lucas 6,27-30: Amar os inimigos!
As palavras
que Jesus dirige a este povo são exigentes e difíceis: amar os inimigos, não
amaldiçoar, oferecer a outra face a quem bate no rosto, não reclamar quando
alguém toma o que é nosso. Tomadas ao pé da letra, estas frases parecem
favorecer os ricos que roubam. Mas nem o próprio Jesus as observou ao pé da
letra. Quando o soldado lhe bateu no rosto, não ofereceu a outra face, mas
reagiu com firmeza. “Se falei errado, prove! Se falei certo, porque me bates?”
(Jo 18,22-23). Então, como entender estas palavras? Os versículos seguintes
ajudam a entender o que Jesus quer ensinar.
* Lucas 6,31-36: A Regra de Ouro! Imitar Deus
Duas frases
de Jesus ajudam a entender o que ele quis ensinar. A primeira frase é a assim
chamada Regra de Ouro: "O que vocês desejam que os outros lhes façam,
façam vocês a eles!” (Lc 6,31). A segunda frase é: "Procurem ser
misericordiosos como o Pai do céu é misericordioso!" (Lc 6,36). Estas duas
frases mostram que Jesus não quer simplesmente virar a mesa ou inverter a
situação, pois aí nada mudaria. Ele quer mudar o sistema. O Novo que ele quer
construir vem da nova experiência de Deus como Pai cheio de ternura que acolhe
a todos! As palavras de ameaça contra os ricos não podem ser ocasião para os
pobres se vingarem. Jesus manda ter a atitude contrária: "Amai os vossos
inimigos!" O amor não pode depender do que eu recebo do outro. O amor
verdadeiro deve querer o bem do outro independentemente do que ele ou ela faz
por mim. O amor deve ser criativo, pois assim é o amor de Deus por nós:
"Procurem ser misericordiosos como o Pai do céu é misericordioso!". Mateus diz a mesma coisa com outras palavras:
“Sede perfeitos como vosso Pai do céu é perfeito” (Mt 5,48). Nunca ninguém
poderá chegar a dizer: Hoje fui perfeito como o Pai do céu é perfeito! Fui
misericordioso como o Pai do céu é misericordioso”. Estaremos sempre abaixo da
medida que Jesus colocou diante de nós.
* No evangelho de Lucas, a Regra de Ouro diz: "O que
vocês desejam que os outros lhes façam, façam vocês a eles!” (Lc 6,31) O
evangelho de Mateus traz uma formulação um pouco diferente: "Tudo o que vocês
desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles” e acrescenta:
“Pois nisso consistem a Lei e os Profetas" (Mt 7,12). Praticamente todas
as religiões do mundo inteiro tem a mesma Regra de ouro com formulações
diversas. Sinal de que aqui se expressa uma intuição ou um desejo universal que
nasce do fundo do coração humano.
* Lucas 6,37-38: A medida que vocês
usarem para os outros, será usada para vocês.
"Não
julguem, e vocês não serão julgados; não condenem, e não serão condenados;
perdoem, e serão perdoados. Deem, e será
dado a vocês; colocarão nos braços de vocês uma boa medida, calcada, sacudida,
transbordante. Porque a mesma medida que vocês usarem para os outros, será
usada para vocês”. São quatro conselhos: dois na forma negativa: não julgar,
não condenar; e dois na forma positiva: perdoar e doar com medida abundante.
Quando diz “e será dado a vocês”, Jesus alude ao tratamento que Deus quer ter
para conosco. Mas quando a nossa maneira de tratar os outros é mesquinha, Deus
não pode usar para conosco a medida abundante e transbordante que Ele gostaria
de usar.
* Celebrar a visita de Deus
O Sermão da
Planície ou Sermão da Montanha, desde o seu começo, leva os ouvintes a fazer
uma escolha, uma opção, a favor dos pobres. No Antigo Testamento, várias vezes,
Deus colocou o povo diante da mesma escolha de bênção ou de maldição. Ao povo
era concedida a liberdade para escolher: "Eu lhes propus a vida ou a
morte, a bênção ou a maldição. Escolha, portanto, a vida, para que você e seus
descendentes possam viver" (Dt 30,19). Não é Deus quem condena, mas é o
próprio povo de acordo com a escolha que fará entre a vida e a morte, entre o
bem e o mal. Estes momentos de escolha são os momentos da visita de Deus ao seu
povo (Gn 21,1; 50,24-25; Ex 3,16; 32,34; Jr 29,10; Sl 59,6; Sl 65,10; Sl 80,15,
Sl 106,4). Lucas é o único evangelista a empregar esta imagem da visita de Deus
(Lc 1,68. 78; 7,16; 19,44; At 15,16). Para Lucas Jesus é a visita de Deus que
coloca o povo diante da escolha da bênção ou da maldição: "Felizes vocês,
pobres!" e "Ai de vocês, ricos!" Mas o povo não reconheceu a
visita de Deus (Lc 19,44).
Para um confronto pessoal
1) Será que nós olhamos a vida e as pessoas com o mesmo
olhar de Jesus?
2) O que quer dizer hoje "ser misericordioso como o Pai do céu é misericordioso"?
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