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segunda-feira, 27 de julho de 2020

Quarta-feira da 17ª semana do Tempo Comum

Sta Marta

1ª Leitura (Ex 32,15-24.30-34): Naqueles dias, Moisés desceu do monte Sinai, trazendo na mão as duas tábuas da Lei, escritas de ambos os lados, em uma e outra face. As tábuas eram obra de Deus; a escritura era letra de Deus gravada nas tábuas. Josué ouviu a vozearia do povo e disse a Moisés: «Há gritos de guerra no acampamento». Moisés respondeu-lhe: «Não são gritos de vitória, nem lamentos de derrota; o que eu ouço são vozes de gente a cantar». Ao aproximar-se do acampamento, viu o bezerro e as danças. Então Moisés, inflamado em cólera, arremessou as tábuas e fê-las em pedaços no sopé do monte. Pegou no bezerro que eles tinham fabricado, queimou-o e triturou-o até o reduzir a pó; espalhou-o na água e deu-a a beber aos filhos de Israel. Moisés perguntou a Aarão: «Que te fez este povo, para o induzires a pecado tão grave?». Aarão respondeu-lhe: «Não se acenda a cólera do meu senhor. Bem sabes como este povo é inclinado para o mal. Foram eles que me disseram: ‘Faz-nos um deus que vá à nossa frente, porque a esse Moisés, o homem que nos fez sair da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu’. Então eu disse-lhes: ‘Quem tem ouro?’ Eles desfizeram-se do ouro que tinham e deram-mo. Depois eu lancei-o ao fogo e saiu este bezerro». No dia seguinte, Moisés disse ao povo: «Vós cometestes um grande pecado. Mas agora vou subir à presença do Senhor, para ver se posso obter o perdão do vosso pecado». Moisés voltou à presença do Senhor e disse-Lhe: «Este povo cometeu um grande pecado, fabricando um deus de ouro. Se quisésseis ainda perdoar-lhe este pecado... Se não, peço que me risqueis do livro que escrevestes». O Senhor respondeu a Moisés: «Riscarei do meu livro aquele que pecou contra Mim. Agora vai e conduz o povo para onde Eu te disse, que o meu Anjo irá à tua frente. Mas no dia em que Eu tiver de intervir, castigarei o seu pecado».

Salmo Responsorial: 105
R. Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom.

Fizeram um bezerro no Horeb e adoraram um ídolo de metal fundido. Trocaram a sua glória pela figura de um boi que come feno.

Esqueceram a Deus que os salvara, que realizara prodígios no Egito, maravilhas na terra de Cam, feitos gloriosos no Mar Vermelho.

E pensava já em exterminá-los, se Moisés, o seu eleito, não intercedesse junto d’Ele e aplacasse a sua ira para os não destruir.

Aleluia. Deus Pai nos gerou pela palavra da verdade, para sermos as primícias das suas criaturas. Aleluia.

Evangelho (Lc 10,38-42): Naquele tempo, Jesus entrou num povoado, e uma mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa. Ela tinha uma irmã, Maria, a qual se sentou aos pés do Senhor e escutava a sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com os muitos afazeres da casa. Ela aproximou-se e disse: «Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda pois que ela venha me ajudar!». O Senhor, porém, lhe respondeu: «Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada».

«Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária»

Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Hoje, também nós que estamos ocupados com muitas coisas devemos ouvir o que o Senhor nos recorda: «No entanto, uma só é necessária» (Lc 10,42): o amor, a santidade. Este é o objetivo, o horizonte que não podemos perder nunca de vista no meio de nossas ocupações cotidianas.

Porque ocupados estaremos sempre se obedecermos à indicação do Criador: «Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a!» (Gn 1,28). A Terra! O mundo: é aqui o nosso lugar de encontro com o Senhor. «Eu não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes do maligno» (Jo 17,15). Sim, o mundo é o altar para nós e para nossa entrega a Deus e aos outros.

Somos do mundo, mas não podemos ser mundanos. Muito pelo contrário, somos chamados a ser como a bela expressão de João Paulo II sacerdotes da criação, sacerdotes do nosso mundo, de um mundo que amamos apaixonadamente.

Eis aqui a questão: o mundo e a santidade, o trabalho diário e a única coisa necessária. Não são duas realidades opostas: temos que procurar a confluência de ambas. E essa confluência se produz em primeiro lugar e sobre tudo em nosso coração, que é onde se pode unir o céu e a terra. Porque no coração humano é onde pode nascer o diálogo entre o Criador e a criatura.

É necessário, portanto, a oração. «O nosso tempo é um tempo em constante movimento, que frequentemente desemboca no ativismo, com o risco fácil de acabar fazendo por fazer. Temos que resistir a essa tentação, procurando ser antes de fazer. Recordamos a este respeito a reprovação de Jesus a Marta: «Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária (Lc 10,41-42)» (João Paulo II).

Não há oposição entre o ser e o fazer, mas sim há uma ordem de prioridade, de precedência: «Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada» (Lc 10,42).

MARTA E MARIA! (DOIS LADOS DE UM ÚNICO EU)

Pe. Ancelmo Dantas

Diante de Jesus estão duas mulheres, de nomes Marta e Maria. Aparentadas no sangue e no biológico, porém, diferenciadas nos sentimentos e emoções. A primeira, dada aos afazeres, mulher da lida concreta e diária; alguém que levava a própria vida calcada no chão concreto da história. Se na vida, alguma vez, Marta fosse questionada sobre o amor, certamente afirmaria: “Amar é servir; quem não serve não ama”.
A segunda, Maria, conduzia a própria vida na arte da contemplação. Ao contrário de sua irmã, preferia observar, admirar, contemplar; apenas assistir não satisfazia o elevado espírito de Maria. Caso esta fosse questionada sobre o amor, não pensaria duas vezes em afirmar que: “Amar é contemplar, é admirar, é sofrer as demoras aos pés do amado”.

Acaso estas figuras do pretérito podem encontrar espaços no homem e na mulher modernos? De que maneira?

Marta representa a parcela da humanidade que se acostumou a fazer tudo pelo outro, e sempre em benefício do outro, criando dentro de si o falso conceito de que o outro nada pode sem seus serviços. Isso, nas relações diárias com os outros e, lamentavelmente, até com Deus. Uma espécie de salvadores do mundo, protagonistas da vida, dos sonhos, da filantropia e da fé.

Na “atmosfera de Marta” podemos encontrar os raros dons da prontidão, sensibilidade e doação. Ao passo que encontramos, também, a feiura da autossuficiência, exibicionismo e o velho orgulho do ativismo.

Nas vestes de Maria, ao contrário, podemos encontrar tantos homens e mulheres que aprenderam, positivamente, a tornar a fé o núcleo da sua vida. Contudo, pode haver neles a feiura de crer de modo mágico, supersticioso e pietista. Por vezes, são chamados, popularmente, de beatos de sacristia, que o tempo inteiro criticam tudo e todos, mas, no mais profundo do coração, carregam lembranças e devaneios inimagináveis.

Sobre estes, é cabível a seguinte reflexão: “Quantas vezes, no ínterim entre o retorno da Igreja para casa não passamos em frente a um bar e vimos jovens dançando…”. Não é verdade que, momentaneamente, dois sentimentos se colidem dentro de nós? O primeiro: “Que falta de vergonha! Como as coisas mudaram!”. O segundo: “Nunca tive oportunidade de experimentar isso quando podia; agora, não tenho mais idade para isso!”.

Esta pequenina e simples reflexão quer apenas concluir uma verdade que sempre foi entendida no seu avesso. Não é que Marta fosse, no plano existencial e catequético, uma, e Maria outra. Não! Ambas convivem dentro de cada eu humano. Todas as vezes que, semelhante a um pêndulo, quisermos, por hora, minutos e segundos, fazer de tudo, seremos Marta. Em contrapartida, todas as vezes que presidirmos nossa vida pela arte de parar, admirar, encantar-se, o que, modernamente, supõe perda de tempo e lentidão, seremos um pouco Maria.

Mas, quem afinal de contas somos nós? Ora beatos e tementes, ora incrédulos e concretos. Ora de fé e confiança em Deus, ora de achar que salvamos Deus pelos nossos feitos e maravilhas. No fundo, somos mesmo Marta e Maria, porque nosso mundo, por causa da tecnologia, se tornou uma pequenina “aldeia global”, tal qual, era Betânia.

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