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quarta-feira, 10 de junho de 2020

SOLENIDADE DO CORPO DE DEUS


1ª Leitura (Dt 8,2-3.14b-16a) - Moisés falou ao povo, dizendo: Lembra-te de todo o caminho por onde o Senhor teu Deus te conduziu, esses quarenta anos, no deserto, para te humilhar e te pôr à prova, para saber o que tinhas no teu coração, e para ver se observarias ou não seus mandamentos. Ele te humilhou, fazendo-te passar fome e alimentando-te com o maná que nem tu nem teus pais conhecíeis, para te mostrar que nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor. Não te esqueças do Senhor teu Deus que te fez sair do Egito, da casa da escravidão, e que foi teu guia no vasto e terrível deserto, onde havia serpentes abrasadoras, escorpiões, e uma terra árida e sem água nenhuma. Foi ele que fez jorrar água para ti da pedra duríssima, e te alimentou no deserto com maná, que teus pais não conheciam.

Salmo Responsorial (Sl 147)
R. Glorifica o Senhor, Jerusalém; celebra teu Deus, ó Sião!

Glorifica o Senhor, Jerusalém! Ó Sião, canta louvores ao teu Deus!
Pois reforçou com segurança as tuas portas, e os teus filhos eu teu seio abençoou.

A paz em teus limites garantiu e te dá como alimento a flor do trigo.
Ele envia suas ordens para a terra, e a palavra que ele diz corre veloz.

Anuncia a Jacó sua palavra, seus preceitos e suas leis a Israel.
Nenhum povo recebeu tanto carinho, a nenhum outro revelou os seus preceitos.

2ª Leitura (1Cor 10,16-17) -  Irmãos: O cálice da bênção, o cálice que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? E o pão que partimos, não é comunhão com o corpo de Cristo? Porque há um só pão, nós todos somos um só corpo, pois todos participamos desse único pão.

Aleluia. Eu sou o pão descido do céu; quem deste pão come, sempre há de viver! Aleluia

Evangelho (Jo 6,51-58) - Naquele tempo, disse Jesus às multidões dos judeus: “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo”. Os judeus discutiam entre si, dizendo: “Como é que ele pode dar a sua carne a comer?” Então Jesus disse: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue, verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por causa do Pai, assim aquele que me recebe como alimento viverá por causa de mim. Este é o pão que desceu do céu. Não é como aquele que os vossos pais comeram. Eles morreram. Aquele que come este pão viverá para sempre”.

Eucaristia e Novo Êxodo

Frei Calos Mesters O.Carm.

O Evangelho de João ao descrever a multiplicação dos pães, Jesus que caminha sobre as águas e o discurso do Pão da Vida, sugere um paralelismo com o Êxodo. Este paralelismo ensina que mediante a Eucaristia realiza-se um novo Êxodo. A Eucaristia ensina-nos a viverem estado de permanente Êxodo:

A multiplicação dos pães (Jo 6, 1-15)
Jesus tem diante de si uma multidão esfomeada e o desafio de dar pão a todos. Também Moisés enfrentou este desafio ao longo da caminhada do povo pelo deserto (Ex 16, 1-35; Num 11, 18-23). Depois de terem comido, as pessoas reconhecem Jesus como o novo Moisés, o “Profeta que devia vir ao mundo” (Jo 6, 14), segundo o que está anunciada na Lei da Aliança (Dt 18, 15-22).

Jesus caminha sobre o mar (Jo 6, 16-21)
No Êxodo, o povo está em marcha para alcançar a liberdade e enfrenta e vence o mar (Ex 14,22). Também Jesus, como Moisés, domina e vence o mar, impede que a barca dos seus discípulos seja engolida pelas águas e faz com que todos alcancem salvos a margem.

O discurso sobre o Pão da Vida
O discurso evoca o capítulo 16 do Êxodo onde se descreve a história do maná. Quando Jesus fala de um “alimento que não perece” (Jo 6, 27), está a recordar o maná que perece e que cada vez mais sabe mal (Ex 16, 20). Os judeus “murmurando” contra Jesus (Jo 6, 41) fazem o mesmo que os israelitas no deserto, que duvidavam da presença de Deus no meio deles na marcha pelo deserto (Ex 16, 2; 17, 3; Num 11, 1). Os judeus duvidavam da presença de Deus em Jesus de Nazaré (Jo 6, 42). Jesus é o verdadeiro maná que nos dá a vida para sempre.

O discurso sobre o Pão da Vida (Jo 6, 22-71) é uma sequência de sete breves diálogos entre Jesus e as pessoas que se encontram com Ele depois da multiplicação dos pães. Jesus procura abrir os olhos do povo, fazendo com que entenda que não basta somente lutar pelo pão material. A luta diária pelo pão material não chega à raiz, se não é acompanhada por uma mística. Não só de pão vive o homem (Dt 8, 3)! Os sete breves diálogos são uma bela catequese que explica às pessoas o significado profundo da multiplicação dos pães e da Eucaristia. Ao longo de todo o diálogo aparecem as exigências que a vivência da fé em Jesus traz para a nossa vida. O povo reage. Fica admirado com as palavras de Jesus. Mas Jesus não cede, não altera as suas exigências. Por causa disto muitos abandonam-no. Hoje acontece a mesma coisa: quando o Evangelho começa a exigir um compromisso sério, muitas pessoas abandonam-no. À medida que o discurso de Jesus avança menos pessoas ficam com Ele. No final restam apenas os Doze e Jesus. Nem mesmo neles pode confiar! Eis a sequência dos sete diálogo que compõem o discurso sobre o Pão da Vida:

Comentário sobre os sete diálogos que compõem o discurso do Pão da Vida

João 6, 22-27: As pessoas procuram Jesus porque querem mais pão.
O povo vê o milagre mas não entende que se trata de um sinal de algo maior e mais profundo. Fica na superfície do acontecimento, na distribuição do pão. Procura o pão da vida mas somente para o corpo. Segundo as pessoas, Jesus fez o que Moisés já tinha feito no passado. Dar alimento a todos. E as pessoas querem que o passado se repita. Por isso Jesus pede-lhes que deem um outro passo: não cansar-se pelo pão que perece mas procurar o pão que não perece. Este novo alimento que não perece dá a vida que dura para sempre.

João 6, 28-33:Jesus pede às pessoas que trabalhem pelo verdadeiro pão.  
O povo pergunta: o que se deve fazer para realizar a obra de Deus? Jesus responde: crer no enviado de Deus! Ou seja, acreditar em Jesus. O povo reage: dá-nos um sinal para entender que verdadeiramente és tu o enviado de Deus. Os nossos pais comeram o maná que lhes foi dado por intermédio de Moisés! Segundo o povo, Moisés continua a ser o grande chefe em quem se deve acreditar. Se Jesus quer que as pessoas acreditem n'Ele deve realizar um sinal maior do que o de Moisés. Jesus responde que não é o pão dado por Moisés que é o verdadeiro pão, porque não garantia a vida a ninguém. Todos morreram no deserto. O pão verdadeiro de Deus é o que vence a morte e dá a vida. Jesus procura ajudar as pessoas a libertarem-se dos esquemas do passado. Para Jesus, a fidelidade ao passado significa aceitar o que é novo, que é fruto da semente semeada no passado. João 6, 34-40:O pão verdadeiro é fazer a vontade de Deus. As pessoas pedem a Jesus que lhes dê sempre desse pão. Pensavam que Jesus estivesse a falar de um pão especial. Então, Jesus responde claramente: “Eu sou o pão da vida!”. Comer o pão do céu é o mesmo que crer em Jesus e aceitar o caminho que Ele ensinou, ou seja: “A minha comida é fazer a vontade de meu Pai que está no céu!” (Jo 4, 34). Este é o verdadeiro alimento que sustém a pessoa, que nos dá para sempre uma vida nova. É semente com garantia de ressurreição!

João 6, 41-51:Quem se abre a Deus aceita Jesus e a sua proposta.
O discurso torna-se cada vez mais exigente. Agora são os judeus. Ou seja, os chefes do povo, os que murmuram: “Não é este Jesus, o filho de José, de quem conhecemos o pai e a mãe? Como pode dizer que desceu do céu?”. Eles estavam convencidos de conhecer e reconhecer o que vem de Deus. Mas equivocam-se. Se estivessem abertos verdadeiramente às coisas de Deus, sentiriam em si o impulso de Deus que os atrai para Jesus e reconheceriam que Jesus vem de Deus (Jo 6,45). Na celebração da Páscoa os judeus recordavam o pão do deserto. Jesus ajuda-os a dar um passo em frente. Quem celebra a Páscoa recordando unicamente o pão que os antepassados comeram no deserto, morrerá como todos eles! O verdadeiro sentido da Páscoa não é o de recordar o maná que no passado caiu do céu, mas aceitar Jesus Pão da Vida, que desceu do céu, e seguir o caminho traçado por Ele. Não quer dizer comer a carne do cordeiro pascal, mas a carne de Jesus, que desceu do céu para dar a vida ao mundo!

João 6, 52-58:Carne e sangue: expressão da vida e do dom total.
Os judeus reagem: “Como pode ele dar-nos a comer a sua carne?”. Eles não entendiam estas palavras de Jesus porque o respeito profundo que tinham pela vida exigia desde os tempos do Antigo Testamento a proibição de comer sangue, porque o sangue era sinal de vida (Dt 12, 16.23; At 15, 29). Além disso estava perto a Páscoa e dentro de poucos dias todos comeriam a carne e o sangue do cordeiro pascal na celebração da noite de Páscoa. Tomaram à letra a palavra de Jesus e por Isso não a compreenderam. Comer a carne de Jesus significava aceitar Jesus como o novo Cordeiro Pascal, e que o seu sangue os libertaria da escravidão. O sangue de Jesus significava assimilar a mesma maneira de viver de Jesus. O que dá vida não é celebrar o maná do passado, mas comer este novo pão que é Jesus, a sua carne e o seu sangue. Participando na Ceia Eucarística, assimilando a sua vida, a sua entrega, a sua doação. João 6, 59-66:Sem a luz do Espírito estas palavras não são compreendidas. Aqui termina o discurso de Jesus na sinagoga de Cafarnaum. Muitos dos discípulos pensavam: “Jesus está a passar-se. Está a pôr fim à celebração da Páscoa. Está a ocupar o lugar central da nossa religião!”. Por causa disto muitos afastaram-se da comunidade e já não seguiam Jesus. Jesus reage dizendo: “É o espírito que dá vida; a carne não serve para nada; as palavras que vos disse são espírito e vida”. Só com a ajuda da luz do Espírito Santo é possível entender o sentido pleno de tudo o que Jesus diz (Jo 14, 25-26; 16, 12-13).

João 6, 67-71:Confissão de Pedro.
No fim, ficaram unicamente os Doze. Jesus pergunta-lhes: “Também vós quereis ir?”. Para Jesus o importante não é o número de pessoas que o segue. Não altera o discurso quando elas não gostam. Jesus fala para revelar o Pai e não para agradar a quem quer que seja. Prefere ficar sozinho do que estar acompanhado por quem não se compromete com o projeto do Pai. É bela a resposta de Pedro: “A quem iremos? Só tu tens palavras de vida eterna!”. Mesmo sem entender tudo Pedro aceita Jesus e acredita n'Ele. Apesar de todas as suas limitações, Pedro não é como Nicodemos que queria ver tudo claro para confirmar as suas ideias. Mas também entre os Doze havia alguns que não aceitavam a proposta de Jesus.

Cristo é o Pão vivo com sabor de vida eterna.

Pe. Antonio Rivero, L.C.

O homem, durante o seu peregrinar na terra, é um ser radical e espiritualmente faminto (primeira leitura). E Deus na Eucaristia veio para satisfazer essa fome interior humana (evangelho). Ao comer a Eucaristia, não só alimentamos a nossa alma, mas também formamos um só corpo com Cristo (segunda leitura).


Em primeiro lugar, temos muitos quilômetros para percorrer nesta terra até chegar à eternidade. Temos que levar suficientes provisões na nossa mochila, senão desfalecemos irremediavelmente no caminho. Se existe algo que não deve faltar é o Pão da Eucaristia, sem o qual não teríamos forças para avançar e cantar, e morreríamos de fome. Durante a nossa travessia somos seduzidos por tantos restaurantes que vemos na esquerda e na direita, tentando-nos e oferecendo-nos um cardápio suculento que satisfaz o nosso ventre e os nossos sentidos.

Em segundo lugar, Deus, sabendo da nossa fome radical, nos prepara um banquete para a nossa alma com o Corpo e o Sangue do seu Filho. Este Pão é remédio da imortalidade, como diz são Inácio de Antioquia, isto é, o Pão que nos garante a ressurreição, inclusive do nosso corpo. Mas também este Pão neste dia de Corpus Christi é pão no só para ser comido no banquete da missa, mas também para ser contemplado e adorado. Por isso, passeamos pelas ruas dos povoados e das cidades, assentado na custódia, esse Pão consagrado que é Cristo. Podemos vê-lo, contemplá-lo e adorá-lo com gozo. É a presença de Cristo oferecida para alento nas nossas tristezas, e para que também nós nos convertamos em pão fresco para os nossos irmãos; pão que se parte; pão que se reparte e se comparte; e assim os nossos irmãos tenham vida e ninguém morra de fome.

Finalmente, na sequência, que foi composta por santo Tomás de Aquino, cantamos hoje: Este Pão “comem Dele bons e maus, com proveito diferente; para uns é vida; para outros, morte”. Para comer este Pão com dignidade e respeito, a nossa alma tem que estar limpa, o nosso coração bem decente. Não podemos jogar este Pão dos anjos aos cachorros das nossas paixões. É para os filhos que se aproximam do banquete com o traje de gala da graça e da amizade com Deus. Para Santo Agostinho de Hipona, a Eucaristia tem como finalidade última a união dos cristãos com Cristo e entre si. É o que são Paulo na segunda leitura de hoje nos diz: “formamos um só corpo, porque todos comemos do mesmo pão”. A Eucaristia é o meio privilegiado para edificar a Igreja. Por isso podemos dizer com santo Agostinho que a Eucaristia é “sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade”.

Para refletir: Tenho fome do Pão de vida eterna, ou tenho o estômago cheio de manjares mundanos? Noto que a Eucaristia me transforma em Jesus, e me faz pensar, sentir e amar como Cristo? Comungo em estado de amizade com o Senhor? Procuro tempo para contemplar e adorar a Cristo Eucaristia na Igreja uma vez por semana?

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

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