São Cirilo de Constantinopla 3º Prior Geral de nossa Ordem |
Salmo Responsorial: 129
R. Se olhais para os nossos pecados, Senhor, quem poderá salvar-se?
Do profundo abismo chamo por Vós,
Senhor, Senhor, escutai a minha voz. Estejam os vossos ouvidos atentos à voz da
minha súplica.
Se tiverdes em conta as nossas
faltas, Senhor, quem poderá salvar-se? Mas em Vós está o perdão, para Vos
servirmos com reverência.
Eu confio no Senhor, a minha alma
espera na sua palavra. A minha alma espera pelo Senhor
mais do que as sentinelas pela
aurora.
Porque no Senhor está a
misericórdia e com Ele abundante redenção. Ele há de libertar Israel
de todas as suas faltas.
Deixai todos os vossos pecados, diz o Senhor; criai um coração novo e
um espírito novo.
Evangelho (Mt 5,20-26): Porque Eu
vos digo: Se a vossa justiça não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus,
não entrareis no Reino do Céu. Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não
matarás. Aquele que matar terá de responder em juízo. Eu, porém, digo-vos: Quem
se irritar contra o seu irmão será réu perante o tribunal; quem lhe chamar
'imbecil' será réu diante do Conselho; e quem lhe chamar 'louco' será réu da
Geena do fogo. Se fores, portanto, apresentar uma oferta sobre o altar e ali te
recordares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta
diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; depois, volta
para apresentar a tua oferta. Com o teu adversário mostra-te conciliador,
enquanto caminhardes juntos, para não acontecer que ele te entregue ao juiz e
este à guarda e te mandem para a prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá
até que pagues o último centavo.»
«Deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te
com o teu irmão»
Fr. Thomas LANE (Emmitsburg,
Maryland, Estados Unidos)
Hoje, o Senhor, ao falar-nos do
que se passa nos nossos corações, incita-nos à conversão. O mandamento diz-nos
«Não matarás» (Mt 5,21), mas Jesus recorda-nos que existem outras formas de
matar a vida nos outros. Podemos fazê-lo abrigando no nosso coração uma ira
excessiva contra eles, ou tratando-os sem respeito e de forma insultuosa
(«imbecil»; «louco»: cf. Mt 5,22).
O Senhor chama-nos a ser pessoas
íntegras: «Deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te
com o teu irmão» (Mt 5,24), querendo dizer-nos que a fé que professamos quando
celebramos a Liturgia deve influenciar a nossa vida quotidiana e determinar a
nossa conduta. Portanto, Jesus pede-nos que nos reconciliemos com os nossos
inimigos. Um primeiro passo no caminho da reconciliação é orar pelos nossos
inimigos, como Jesus solicitou. E se tal nos parecer difícil, então será bom
recordar imaginando, na nossa mente, Jesus Cristo morrendo por aqueles de quem
não gostamos. Se fomos seriamente prejudicados por outros, oremos para que
cicatrizem as recordações dolorosas e para que obtenhamos a graça de os
perdoarmos. E, de cada vez que orarmos, peçamos ao Senhor que revisite conosco
o tempo e o lugar da ferida —substituindo-a com o Seu amor— para que assim
sejamos livres para poder perdoar.
Nas palavras de Bento XVI, «se
queremos apresenta-nos perante Ele, também devemos pôr-nos a caminho no sentido
de nos encontrarmos uns com os outros. Para isso, é necessário aprender a
grande lição do perdão: não deixar que o ressentimento se instale no nosso
coração, mas sim abri-lo à magnanimidade da escuta do outro, abri-lo à
compreensão, à eventual aceitação dos seus pedidos de desculpa e à generosa
oferta dos nossos próprios».
«Se a vossa justiça não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus,
não entrareis no Reino do Céu»
Rev. D. Joaquim
MESEGUER García (Rubí, Barcelona, Espanha)
Hoje, Jesus chama-nos a irmos
para lá da legalidade: «Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não superar a
dos doutores da Lei e dos fariseus, não entrareis no Reino do Céu» (Mt 5,20). A
Lei de Moisés aponta o mínimo necessário para garantir a convivência; mas o
cristão, instruído por Jesus Cristo e cheio do Espírito Santo, deve procurar
superar este mínimo para chegar ao máximo do amor possível. Os doutores da Lei
e os fariseus eram cumpridores estritos dos mandamentos; ao rever a nossa vida,
qual de nós poderia dizer o mesmo? Andemos com cuidado, por tanto, para não
menosprezar sua vivência religiosa.
O que hoje Jesus nos ensina é a
não darmos como certo o fato de que se cumprirmos esforçadamente determinados
requisitos possamos reclamar méritos a Deus, como faziam os doutores da Lei e
os fariseus. De preferência, devemos pôr a ênfase no amor a Deus e aos nossos
irmãos, amor esse que nos leva para lá da Lei fria e a reconhecer as nossas
faltas numa conversão sincera.
Há quem diga: “Eu sou bom porque
não roubo, nem mato, nem faço mal a ninguém”; mas Jesus diz-nos que isto não é
suficiente, pois existem outras formas de roubar ou matar. Podemos matar as
ilusões do outro, podemos menosprezar o próximo, anulá-lo ou deixá-lo
marginalizado, podemos ter-lhe rancor; e tudo isto é matar, não com uma morte
física, mas com uma morte moral e espiritual.
No decorrer da nossa vida podemos
encontrar muitos adversários, mas o pior de todos eles somos nós próprios
quando nos afastamos do caminho do Evangelho. Por isso mesmo, na procura da
reconciliação com os irmãos, devemos, em primeiro lugar, estar reconciliados
conosco. Santo Agostinho diz-nos: «Enquanto fores adversário de ti próprio, a
Palavra de Deus será tua adversária. Torna-te amigo de ti mesmo e te
reconciliarás com ela».
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
* O texto do evangelho de
hoje faz parte de uma unidade maior de Mt 5,20 até Mt 5,48. Nela Mateus mostra
como Jesus interpreta e explica a Lei de Deus. Por cinco vezes ele repete a
frase: "Antigamente foi dito, mas eu vos digo!" (Mt 5,21.
27.33.38.43). Um pouco antes, ele tinha dito: “Não pensem que vim acabar com a
Lei e os Profetas. Não vim acabar, mas sim dar-lhes pleno cumprimento (Mt 5,17).
A atitude de Jesus frente à lei é, ao mesmo tempo, de ruptura e de
continuidade. Ele rompe com as interpretações erradas, mas mantém firme o
objetivo que a lei quer alcançar: a prática da justiça maior que é o Amor.
* Mateus 5,20: A justiça maior
que a justiça dos fariseus.
Este primeiro versículo dá a
chave geral de tudo que segue no conjunto de Mt 5,20-48. A palavra Justiça
aparece nenhuma vez em Marcos, e sete vezes no Evangelho de Mateus (Mt 3,15;
5,6.10.20; 6,1.33; 21,32). Isto tem a ver com a situação das comunidades para
as quais Mateus escreve. O ideal religioso dos judeus da época era "ser
justo diante de Deus". Os fariseus ensinavam: "A pessoa alcança a
justiça diante de Deus quando chega a observar todas as normas da lei em todos
os seus detalhes!" Este ensinamento gerava uma opressão legalista e trazia
muita angústia para as pessoas, pois era muito difícil alguém observar todas as
normas (cf. Rom 7,21-24). Por isso, Mateus recolhe palavras de Jesus sobre a
justiça mostrando que ela deve ultrapassar a justiça dos fariseus (Mt 5,20).
Para Jesus, a justiça não vem do que eu faço por Deus observando a lei, mas sim
do que Deus faz por mim, acolhendo-me como filho ou filha. O novo ideal que
Jesus propõe é este: "Ser perfeito com o Pai do céu é perfeito!" (Mt
5,48). Isto quer dizer: eu serei justo diante de Deus, quando procuro acolher e
perdoar as pessoas da mesma maneira como Deus me acolhe e me perdoa, apesar dos
meus defeitos e pecados.
* Por meio de cinco exemplos
bem concretos, Jesus vai mostrar como fazer para alcançar esta justiça maior
que supera a justiça dos escribas e dos fariseus. Como veremos, o evangelho de
hoje traz o primeiro exemplo relacionado com a nova interpretação do quinto
mandamento: Não matarás! Jesus vai revelar o que Deus queria quando entregou
este mandamento a Moisés.
* Mateus 5,21-22: A lei diz
"Não matarás!" (Ex 20,13)
Para observar plenamente este quinto
mandamento não basta evitar o assassinato. É preciso arrancar de dentro de si
tudo aquilo que de uma ou de outra maneira possa levar ao assassinato, como por
exemplo, raiva, ódio, xingamento, desejo de vingança, exploração, etc.
* Mateus 5,23-24: O culto
perfeito que Deus quer.
Para poder ser aceito por Deus e
estar unido a ele, é preciso estar reconciliado com o irmão, com a irmã. Antes
da destruição do Templo, no ano 70, quando os judeus cristãos participavam das
romarias a Jerusalém para fazer suas ofertas no altar e pagar suas promessas,
eles sempre se lembravam desta frase de Jesus. Nos anos 80, no momento em que Mateus
escreve, o Templo e o Altar já não existem. Tinham sido destruídos pelos
romanos. A própria comunidade e a celebração comunitária passam ser o Templo e
o Altar de Deus.
* Mateus 5,25-26: Reconciliar.
Um dos pontos em que o Evangelho
de Mateus mais insiste é a reconciliação. Isto mostra que, nas comunidades
daquela época, havia muitas tensões entre grupos radicais com tendências
diferentes e até opostas. Ninguém queria ceder diante do outro. Não havia
diálogo. Mateus ilumina esta situação com palavras de Jesus sobre a
reconciliação que pedem acolhimento e compreensão. Pois o único pecado que Deus
não consegue perdoar é a nossa falta de perdão aos outros (Mt 6,14). Por isso,
procure a reconciliação, antes que seja tarde demais!
Para um confronto pessoal
1) Hoje, há muitas pessoas que gritam "Justiça!" Qual é o
sentido da justiça evangélica para mim?
2) Como eu me comporto na frente daqueles que não me aceitam como
eu sou? Como Jesus se comportou diante de quem não o aceitou?
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