São João XXIII, Papa |
1ª
Leitura (Joel 1,13-15; 2,1-2): Vesti-vos de luto e chorai,
sacerdotes, entoai lamentações, ministros do altar. Vinde passar a noite com
vestes de penitência, ministros do meu Deus. Porque no templo de Deus,
desapareceram a oferenda e a libação. Proclamai um solene jejum, convocai uma
assembleia. Reuni os anciãos e todos os habitantes do país no templo do Senhor,
vosso Deus. E clamai ao Senhor: «Ah, que dia este!» Está próximo o dia do
Senhor, que vai chegar como devastação que vem do Omnipotente. Tocai a trombeta
em Sião, dai o alarme no meu santo monte. Estremeçam todos os habitantes do
país, porque está a chegar o dia do Senhor. Sim, ele está próximo: será dia de
trevas e de escuridão, dia de nuvens e de sombras. Como a luz da aurora,
estende-se sobre os montes um povo numeroso e forte. Nunca houve povo nenhum
como ele, nem depois dele haverá outro, até às mais longínquas gerações.
Salmo
Responsorial: 9
R. O Senhor julgará a
terra com justiça.
De
todo o coração, Senhor, Vos quero louvar e contar todas as vossas maravilhas.
Quero alegrar-me e exultar em Vós, quero cantar o vosso nome, ó Altíssimo.
Ameaçastes
os pagãos, destruístes os ímpios, apagastes o seu nome para sempre.
Afundaram-se as nações no fosso que abriram, ficaram presos os seus pés na
armadilha que prepararam.
O
Senhor é rei para sempre, firmou o seu trono para julgar. Ele julga a terra com
justiça, governa os povos com retidão.
Aleluia. Chegou a hora
em que vai ser expulso o príncipe deste mundo, diz o Senhor; e quando Eu for
levantado da terra, atrairei todos a Mim. Aleluia.
Evangelho
(Lc 11,15-26): Naquele tempo, depois de que Jesus
expulsou um demônio, alguns disseram: É pelo poder de Belzebu, o chefe dos
demônios, que ele expulsa os demônios. Outros, para tentar Jesus, pediam-lhe um
sinal do céu. Mas, conhecendo seus pensamentos, ele disse-lhes: Todo reino
dividido internamente será destruído; cairá uma casa sobre a outra. Ora, se até
Satanás está dividido internamente, como poderá manter-se o seu reino? Pois
dizeis que é pelo poder de Belzebu que eu expulso os demônios. Se é pelo poder
de Belzebu que eu expulso os demônios, pelo poder de quem então vossos
discípulos os expulsam? Por isso, eles mesmos serão vossos juízes. Mas, se é
pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, é porque o Reino de Deus já
chegou até vós. Quando um homem forte e bem armado guarda o próprio terreno,
seus bens estão seguros. Mas, quando chega um mais forte do que ele e o vence,
arranca-lhe a armadura em que confiava e distribui os despojos. Quem não está
comigo é contra mim; e quem não recolhe comigo, espalha. Quando o espírito
impuro sai de alguém, fica vagando por lugares áridos, à procura de repouso.
Não o encontrando, diz: Vou voltar para minha casa de onde saí. Chegando aí,
encontra a casa varrida e arrumada. Então ele vai e traz outros sete espíritos
piores do que ele, que entram e se instalam aí. No fim, o estado dessa pessoa
fica pior do que antes.
«Alguns disseram: É
pelo poder de Belzebu, o chefe dos demônios, que ele expulsa os demônios»
Rev. D. Josep PAUSAS i Mas (Sant Feliu de Llobregat,
Espanha)
Hoje,
contemplamos comovidos como Jesus é ridiculamente culpado de expulsar demônios:
É pelo poder de Belzebu, o chefe dos demônios, que ele expulsa os demônios (Lc
11,15). É difícil imaginar um bem maior, expulsar, afastar das almas ao diabo,
o instigador do mal e, ao mesmo tempo, escutar a acusação mais grave fazê-lo,
precisamente, pelo poder do próprio diabo. É realmente uma incriminação
gratuita, que manifesta muita cegueira e inveja por parte dos acusadores do
Senhor. Hoje em dia, também, sem perceber, eliminamos de raiz o direito que os
outros têm a discrepar, a serem diferentes e, a terem suas próprias posições
contrárias e, incluso, opostas às nossas.
Quem
o vive fechado em um dogmatismo político, cultural ou ideológico, facilmente
menospreza ao que discrepa, desqualificando todo seu projeto e negando-lhe
competência e, inclusive honestidade. Em tal caso, o adversário político ou
ideológico transforma-se no inimigo pessoal. O confronto degenera em insulto e
agressividade. O clima de intolerância e mútua exclusão violenta pode, então,
nos conduzir à tentação de eliminar de alguma maneira a quem se nos apresenta
como inimigo.
Nesse
clima é fácil justificar qualquer atentado contra pessoas, inclusive, os
assassinatos, se o morto não é dos nossos. Quantas pessoas sofrem hoje com esse
ambiente de intolerância e rechaço mútuo que frequentemente se respira nas
instituições públicas, nos locais de trabalho, nas assembleias e confrontos
políticos!
Entre
todos devemos criar as condições e um clima de tolerância, respeito mútuo e
confronto leal no qual seja possível ir achando caminhos de diálogo. Os
cristãos, longe de endurecer e sacralizar falsamente nossas posições
manipulando a Deus e identificando-o com nossas próprias posturas, devemos
seguir a este Jesus que quando seus discípulos pretendiam que impedisse que
outros expulsaram demônios em nome dele, os corrigiu dizendo-lhes: Não o
proibais, pois quem não é contra vós, está a vosso favor (Lc 9,50). Todo o
inumerável coro de pastores reduz-se ao Corpo de um só Pastor (Santo
Agostinho).
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
*
O evangelho de hoje traz uma longa discussão em torno da expulsão de um demônio
mudo que Jesus acabava de realizar diante do povo.
* Lucas 11,14-16: Três
reações diferentes diante da mesma expulsão
Jesus
estava expulsando demônios. Diante deste fato bem visível, realizado diante de
todos, houve três reações diferentes. O povo ficou admirado, aplaudiu. Outros
diziam: "É por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os
demônios". O evangelho de Marcos informa que se tratava dos escribas que
tinham vindo de Jerusalém para controlar a atividade de Jesus (Mc 3,22). Outros
ainda pediam um sinal do céu, pois não se convenceram diante do sinal tão
evidente da expulsão realizada diante de todo o povo.
* Lucas 11,17-19:
Jesus mostra a incoerência dos adversários
Jesus
usa dois argumentos para rebater a acusação de estar expulsando demônio em nome
de Belzebu. Em primeiro lugar, se o demônio expulsa o próprio demônio, ele se
divide a si mesmo e não vai sobreviver. Em segundo lugar, Jesus lhes devolve o
argumento: Se eu expulso em nome de demônio, os filhos de vocês o fazem em nome
de quem? Com outras palavras, eles também estariam fazendo as expulsões em nome
de Belzebu.
* Lucas 11,20-23:
Jesus é o homem mais forte que chegou, sinal da chegada do Reino
Aqui
Jesus chega no ponto central da sua argumentação: “Quando um homem forte e bem
armado guarda a sua casa, os bens dele estão em segurança. Mas, quando chega um
homem mais forte do que ele e o vence, arranca-lhe a armadura na qual ele
confiava, e reparte o que roubou.”. Na opinião do povo daquele tempo, Satanás
dominava o mundo através de demônios (daimônia). Ele era o homem forte e bem armado
que guardava a sua casa. A grande novidade era o fato de que Jesus conseguia
expulsar os demônios. Sinal de que ele era e é o homem mais forte que chegou.
Com a chegada de Jesus o reino de Belzebu entrou em declínio: “Se é pelo dedo
de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus chegou para vocês”.
Quando os magos do Faraó viram que Moisés fazia coisas que eles não eram
capazes de realizar, foram mais honestos que os escribas diante de Jesus e
disseram: “Aqui tem o dedo de Deus!” (Ex 8,14-15).
* Lucas 11,24-26: A
segunda queda é pior que a primeira
Na
época de Lucas nos anos 80, diante das perseguições, muitos cristãos voltaram
atrás e abandonaram as comunidades. Voltaram à maneira de viver de antes. Para
advertência a eles e a todos nós, Lucas guardou estas palavras de Jesus sobre a
segunda queda que é pior do que a primeira.
* A expulsão dos
demônios
O
primeiro impacto que a ação de Jesus causava no povo era a expulsão dos
demônios: “Até mesmo aos espíritos impuros ele dá ordens e eles lhe obedecem!”
(Mc 1,27). Uma das principais causas da briga de Jesus com os escribas era a
expulsão dos demônios. Eles o caluniavam dizendo: “Ele está possuído por Belzebu!
É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios!” O primeiro poder que
os apóstolos receberam quando foram enviados em missão foi o poder de expulsar
os demônios: “Deu-lhes poder sobre os espíritos maus” (Mc 6,7). O primeiro
sinal que acompanha o anúncio da ressurreição é a expulsão dos demônios: “Os
sinais que acompanharão aqueles que acreditarem são estes: expulsarão demônios
em meu nome!” (Mc 16,17). A expulsão dos demônios era o que mais chamava a
atenção do povo (Mc 1,27). Ela atingia o centro da Boa Nova do Reino. Por meio
dela Jesus devolvia as pessoas a si mesmas. Devolvia-lhes o juízo, a
consciência (Mc 5,15). É sobretudo o evangelho de Marcos, do começo ao fim, com
palavras quase iguais, repete sem parar a mesma mensagem: “E Jesus expulsava os
demônios!” (Mc 1,26.34.39; 3,11-12.22.30; 5,1-20; 6,7.13; 7,25-29; 9,25-27.38; 16,17).
Parece um refrão que sempre volta. Hoje, em vez de usar sempre as mesmas
palavras usaríamos palavras diferentes para transmitir a mesma mensagem e
diríamos: “O poder do mal, o Satanás, que mete tanto medo no povo, Jesus o
venceu, dominou, amarrou, destronou, derrotou, expulsou, eliminou, exterminou,
aniquilou, abateu, destruiu e matou!” O que o Evangelho nos quer dizer é isto:
“Ao cristão é proibido ter medo de Satanás!” Pela sua ressurreição e pela sua
ação libertadora, Jesus afasta de nós o medo de Satanás, cria liberdade no
coração, firmeza na ação e esperança no horizonte! Devemos caminhar na Estrada
de Jesus com sabor de vitória sobre o poder do mal!
Para um confronto
pessoal
1) Expulsar o poder do mal. Qual é
hoje o poder do mal que massifica o povo e roube dele a consciência crítica?
2) Você pode dizer de você mesma que é
totalmente livre e liberta? Caso a resposta for negativa, alguma parte em você
está em poder de outras forças. O que você faz para expulsar este poder que
toma conta de você?
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