S. João Gabriel Perboyre Presbítero e Mártir |
1ª
Leitura (Cl 3,1-11): Irmãos: Se ressuscitastes com
Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus.
Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a
vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa
vida, Se manifestar, também vós vos manifestareis com Ele na glória. Portanto,
fazei morrer o que em vós é terreno: imoralidade, impureza, paixões, maus desejos
e avareza, que é uma idolatria. Por causa destes vícios é que vem a ira de Deus
sobre os rebeldes. Vós também vos comportáveis assim, quando vivíeis entre
eles. Mas agora, afastai de vós tudo o que é cólera, irritação, malícia,
insulto, linguagem torpe. Não mintais uns aos outros, vós que vos despojastes
do homem velho com as suas ações e vos revestistes do homem novo, que, para
alcançar a verdadeira ciência, se vai renovando à imagem do seu Criador. Aí não
há grego ou judeu, circunciso ou incircunciso, bárbaro ou cita, escravo ou
livre; o que há é Cristo, que é tudo e está em todos.
Salmo
Responsorial: 144
R. O Senhor é bom para
com todas as criaturas.
Quero
bendizer-Vos dia após dia e louvar o vosso nome para sempre. O Senhor é grande
e digno de todo o louvor, insondável é a sua grandeza.
Graças
Vos deem, Senhor, todas as criaturas e bendigam-Vos os vossos fiéis. Proclamem
a glória do vosso reino e anunciem os vossos feitos gloriosos.
Deem
a conhecer aos homens o vosso poder, a glória e o esplendor do vosso reino. O
vosso reino é um reino eterno, o vosso domínio estende-se por todas as
gerações.
Aleluia. Alegrai-vos e
exultai, diz o Senhor, porque é grande nos Céus a vossa recompensa. Aleluia.
Evangelho
(Lc 6,20-26): Naquele tempo, Jesus levantou o
olhar para os seus discípulos e disse-lhes: «Felizes vós, os pobres, porque
vosso é o Reino de Deus! Felizes vós que agora passais fome, porque sereis
saciados! Felizes vós que agora estais chorando, porque haveis de rir! Felizes
sereis quando os homens vos odiarem, expulsarem, insultarem e amaldiçoarem o
vosso nome por causa do Filho do Homem. Alegrai-vos, nesse dia, e exultai,
porque será grande a vossa recompensa no céu, pois era assim que os seus
antepassados tratavam os profetas. Mas, ai de vós, ricos, porque já tendes
vossa consolação! Ai de vós que agora estais fartos, porque passareis fome! Ai
de vós que agora estais rindo, porque ficareis de luto e chorareis! Ai de vós
quando todos falarem bem de vós, pois era assim que seus antepassados tratavam
os falsos profetas».
«Felizes vós, os
pobres (...). Ai de vós, ricos!»
Rev. D. Joaquim MESEGUER García (Rubí, Barcelona,
Espanha)
Hoje,
Jesus mostra-nos onde está a verdadeira felicidade. Na versão de São Lucas, as
bem-aventuranças são acompanhadas de dolorosas imprecações por aqueles que não
aceitam a mensagem de salvação, fechando-se numa vida autossuficiente e
egoísta. Com as bem-aventuranças e as imprecações, Jesus faz uma aplicação da
doutrina dos dois caminhos: o caminho da vida e o caminho da morte. Não há uma
terceira possibilidade, neutra: quem não segue o caminho da vida encaminha-se
para a morte; quem não segue a luz, vive nas trevas.
«Felizes
vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus» (Lc 6,20). Esta bem-aventurança
é a base de todas as outras, pois quem é pobre será capaz de receber o Reino de
Deus como um dom. Quem é pobre sabe de que coisas deve ter fome e sede: não de
bens materiais, mas da Palavra de Deus; não de poder, mas de justiça e de amor.
Quem é pobre sabe chorar perante o sofrimento do mundo. Quem é pobre sabe que
Deus é toda a sua riqueza e que, por isso, sofrerá incompreensões e
perseguições.
«Mas,
ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação» (Lc 6,24). Esta imprecação
é também o fundamento de todas as que se seguem, pois quem é rico e autossuficiente,
quem não sabe pôr as suas riquezas ao serviço dos outros, encerra-se no seu
egoísmo e constrói a sua própria desgraça. Que Deus nos livre do afã de
riquezas, de correr atrás das promessas do mundo e de pôr o nosso coração nos
bens materiais; que Deus não permita que fiquemos satisfeitos com os louvores e
adulações humanas, já que isso significaria ter posto o coração na glória do
mundo e não na de Jesus Cristo. Será de grande proveito lembrar o que diz São Basílio:
«Quem ama o próximo como a si mesmo não acumula coisas desnecessárias que
possam ser indispensáveis para os outros».
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
* O evangelho de hoje
traz as quatro bem-aventuranças e as quatro maldições do Evangelho de Lucas. Há uma revelação progressiva na
maneira de Lucas apresentar o ensinamento de Jesus. Até 6,16, ele disse muitas
vezes que Jesus ensinava o povo, mas não chegou a relatar o conteúdo do
ensinamento (Lc 4,15.31-32.44; 5,1.3.15.17; 6,6). Agora, depois de informar que
Jesus viu a multidão desejosa de ouvir a palavra de Deus, Lucas traz o primeiro
grande discurso que começa com as exclamações: "Felizes vocês
pobres!" e "Ai de vocês, ricos!", e ocupa todo o resto do
capítulo (Lc 6,12-49). Alguns chamam este discurso de "Sermão da
Planície", pois, segundo Lucas, Jesus desceu da montanha e parou num lugar
plano onde fez o discurso. No evangelho de Mateus, este mesmo discurso é feito
na montanha (Mt 5,1) e é chamado "Sermão da Montanha". Em Mateus, o
sermão traz oito bem-aventuranças, que traçam um programa de vida para as
comunidades cristãs de origem judaica. Em Lucas, o sermão é mais breve e mais
radical. Ele traz quatro bem-aventuranças e quatro maldições, dirigidas para as
comunidades helenistas, constituídas de ricos e pobres. Este discurso de Jesus
vai ser meditado no evangelho diário dos próximos dias.
* Lucas 6,20: Felizes
vocês, pobres!
Olhando
para os discípulos, Jesus declara: "Felizes vocês pobres, porque o Reino
de Deus é de vocês!" Esta declaração identifica a categoria social dos
discípulos. Eles são pobres! E a eles
Jesus promete: “O Reino é de vocês!” Não é uma promessa para o futuro. O verbo
está no presente. O Reino já é deles. Eles são felizes desde já. No evangelho
de Mateus, Jesus explicita o sentido e diz: "Felizes os pobres em
Espírito!" (Mt 5,3). São os pobres que têm o Espírito de Jesus. Pois há
pobres com cabeça ou espírito de rico. Os discípulos de Jesus são pobres com
cabeça de pobre. Como Jesus, não querem acumular, mas assumem a sua pobreza e,
com ele, lutam por uma convivência mais justa, onde haja fraternidade e
partilha de bens, sem discriminação.
* Lucas 6,21-22:
Felizes vocês, que agora têm fome e choram!
Na
2ª e 3ª bem-aventurança Jesus diz: "Felizes vocês que agora estão com
fome, porque serão saciados! Felizes vocês que agora choram, porque vão dar
risada!" Uma parte das frases está no presente e outra no futuro. Aquilo
que agora vivemos e sofremos não é o definitivo. O definitivo é o Reino que
estamos construindo hoje na força do Espírito de Jesus. Construir o Reino traz
sofrimento e perseguição, mas uma coisa é certa: o Reino vai chegar e “vocês
serão saciados e vão dar risada!”.
* Lucas 6,23: Felizes
serão, quando os homens os odiarem...!
A
4ª bem-aventurança se refere ao futuro: "Felizes serão vocês, quando os
homens os odiarem e rejeitarem por causa do Filho do Homem! Fiquem alegres
naquele dia, porque grande será a sua recompensa, porque assim também foram
tratados os profetas!" Com estas palavras de Jesus, Lucas anima as
comunidades do seu tempo, que estavam sendo perseguidas. O sofrimento não é
estertor de morte, mas sim dor de parto. Fonte de esperança! A perseguição era
um sinal de que o futuro anunciado por Jesus estava chegando para elas. Elas
estavam no caminho certo.
* Lucas 6,24-25: Ai de vocês, ricos! Ai de vocês que agora têm fartura e riem!
Após
as quatro bem-aventuranças a favor dos pobres e excluídos, seguem quatro
ameaças ou maldições contra os ricos e os que passam bem e são elogiados por
todos. As quatro ameaças têm a mesma forma literária que as quatro
bem-aventuranças. A 1ª está no presente. A 2ª e a 3ª têm uma parte no presente
e outra no futuro. E a 4ª se refere inteiramente ao futuro. Estas ameaças só se
encontram no evangelho de Lucas e não no de Mateus. Lucas é mais radical na
denúncia da injustiça.
Diante
de Jesus, naquela planície não havia ricos. Só havia gente pobre e doente,
vinda de todos os lados (Lc 6,17-19). Mesmo assim, Jesus diz: "Ai de
vocês, ricos!" É que Lucas, ao transmitir estas palavras de Jesus, estava
pensando mais nas comunidades do seu tempo. Nelas havia ricos e pobres, e havia
discriminação dos pobres pelos ricos, a mesma que marcava a estrutura do Império
Romano (cf. Tg 5,1-6; Ap 3,17-19). Jesus faz uma crítica dura e direta aos
ricos: Vocês, ricos, já têm sua consolação! Vocês têm fartura, mas vão passar
fome! Vocês estão rindo, mas vão ficar aflitos e vão chorar! Sinal de que para
Jesus, a pobreza não é uma fatalidade, nem é fruto de preguiça, mas é fruto de
enriquecimento injusto dos outros.
* Lucas 6,26:
Ai de vocês quando todos os elogiarem!
“Ai
de vocês quando todos os elogiarem, porque assim seus pais tratavam os falsos
profetas!” Esta quarta ameaça se refere aos filhos dos que no passado elogiavam
os falsos profetas. É que algumas autoridades dos judeus usavam o seu prestígio
e a sua autoridade para criticar Jesus.
Para um confronto
pessoal
1. Será que nós olhamos a vida e as
pessoas com o mesmo olhar de Jesus? Dentro do seu coração, o que você acha: uma
pessoa pobre e faminta é realmente feliz? As novelas da Televisão e a
propaganda do comércio, qual o ideal de felicidade que elas nos apresentam?
2. Dizendo “Felizes os pobres”, será
que Jesus estava querendo dizer que os pobres devem continuar na pobreza?
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