Sta Clara, Virgem |
Salmo
Responsorial: 32
R. Feliz o povo que o
Senhor escolheu para sua herança.
Justos,
aclamai o Senhor, os corações retos devem louvá-l’O. Feliz a nação que tem o
Senhor por seu Deus, o povo que Ele escolheu para sua herança.
Os
olhos do Senhor estão voltados para os que O temem, para os que esperam na sua
bondade, para libertar da morte as suas almas e os alimentar no tempo da fome.
A
nossa alma espera o Senhor, Ele é o nosso amparo e protetor. Venha sobre nós a
vossa bondade, porque em Vós esperamos, Senhor.
2ª
Leitura (Heb 11,1-2.8-19): Irmãos: A fé é a garantia dos bens
que se esperam e a certeza das realidades que não se vêem. Ela valeu aos
antigos um bom testemunho. Pela fé, Abraão obedeceu ao chamamento e partiu para
uma terra que viria a receber como herança; e partiu sem saber para onde ia.
Pela fé, morou como estrangeiro na terra prometida, habitando em tendas, com
Isaac e Jacob, herdeiros, como ele, da mesma promessa, porque esperava a cidade
de sólidos fundamentos, cujo arquitecto e construtor é Deus. Pela fé, também
Sara recebeu o poder de ser mãe já depois de passada a idade, porque acreditou
na fidelidade d’Aquele que lho prometeu. É por isso também que de um só homem –
um homem que a morte já espreitava – nasceram descendentes tão numerosos como
as estrelas do céu e como a areia que há na praia do mar. Todos eles morreram
na fé, sem terem obtido a realização das promessas. Mas vendo-as e saudando-as
de longe, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Aqueles
que assim falam mostram claramente que procuram uma pátria. Se pensassem na
pátria de onde tinham saído, teriam tempo de voltar para lá. Mas eles aspiravam
a uma pátria melhor, que era a pátria celeste. E como Deus lhes tinha preparado
uma cidade, não Se envergonha de Se chamar seu Deus. Pela fé, Abraão, submetido
à prova, ofereceu o seu filho único Isaac, que era o depositário das promessas,
como lhe tinha sido dito: «Por Isaac será assegurada a tua descendência». Ele
considerava que Deus pode ressuscitar os mortos; por isso, numa espécie de
prefiguração, ele recuperou o seu filho.
Aleluia. Vigiai e
estai preparados, porque na hora em que não pensais virá o Filho do homem.
Aleluia.
Evangelho
(Lc 12,32-48): «Não tenhas medo, pequeno rebanho,
pois foi do agrado do vosso Pai dar a vós o Reino. Vendei vossos bens e dai
esmola. Fazei para vós bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não
se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói. Pois onde estiver o vosso
tesouro, aí estará também o vosso coração. Ficai de prontidão, com o cinto
amarrado e as lâmpadas acesas. Sede como pessoas que estão esperando seu senhor
voltar de uma festa de casamento, para lhe abrir a porta, logo que ele chegar e
bater. Felizes os servos que o Senhor encontrar acordados quando chegar. Em
verdade, vos digo: ele mesmo vai arregaçar sua veste, os fará sentar à mesa e
passará para servi-los. E caso ele chegue pela meia-noite ou já perto da
madrugada, felizes serão, se assim os encontrar! Ficai certos: se o dono da
casa soubesse a que horas viria o ladrão, não deixaria que fosse arrombada sua
casa. Vós também ficai preparados! Pois na hora em que menos pensais, virá o
Filho do Homem». Então Pedro disse: «Senhor, é para nós ou para todos que
contas esta parábola?». O Senhor respondeu: «Quem é o administrador fiel e
atento, que o senhor encarregará de dar à criadagem a ração de trigo na hora
certa? Feliz aquele servo que o senhor, ao chegar, encontrar agindo assim! Em
verdade, vos digo: ele lhe confiará a administração de todos os seus bens. Ora,
se um outro servo pensar: ‘Meu senhor está demorando’ e começar a bater nos
criados e nas criadas, a comer, beber e embriagar-se, o senhor daquele servo
chegará num dia inesperado e numa hora imprevista, ele o excluirá e lhe imporá
a sorte dos infiéis. O servo que, conhecendo a vontade do senhor, nada
preparou, nem agiu conforme a sua vontade, será chicoteado muitas vezes. O
servo, porém, que não conhecendo essa vontade fez coisas que merecem castigo,
será chicoteado poucas vezes. Portanto, todo aquele a quem muito foi dado,
muito lhe será pedido; a quem muito foi confiado, dele será exigido muito
mais!».
«Vós também ficai
preparados! Pois na hora em que menos pensais, virá o Filho do Homem»
Rev. D. Melcior QUEROL i Solà (Ribes de Freser, Girona,
Espanha)
Hoje,
o Evangelho recorda-nos e exige-nos que fiquemos em atitude de vigília «pois na
hora em que menos pensais, virá o Filho do Homem» (Lc 12,40). Há que vigiar
sempre, vivendo numa saudável tensão, “desinstalados”, pois somos peregrinos
num mundo que passa, sendo que nossa verdadeira pátria é o céu. É rumo a esse
destino que devemos orientar a nossa vida; quer queiramos quer não, a nossa
existência terrena é um projeto que tem como fim o encontro definitivo com o
Senhor, e neste encontro «a quem muito foi dado, muito lhe será pedido; a quem
muito foi confiado, dele será exigido muito mais!» (Lc 12,48). Não será este,
por acaso, o momento culminante da nossa vida? Vivamos a vida de maneira
inteligente, dando conta de qual é o verdadeiro tesouro! Não andemos atrás dos
tesouros deste mundo, como tanta gente faz. Não tenhamos a mesma mentalidade!
Segundo
a mentalidade mundana; tanto tens tanto vales! As pessoas são valorizadas pelo
dinheiro que possuem, pela sua categoria social, pelo seu prestígio, pelo seu
poder. Tudo isso, aos olhos de Deus, nada vale por si só! Suponhamos que hoje
você descobre que tem uma doença incurável e que os médicos lhe estimam, no
máximo, mais um mês de vida... Que faria então com o dinheiro que acumulou? De
que lhe serviria o seu poder, o seu prestígio, a sua classe social? Não lhe
serviriam para nada! Dê-se conta que tudo aquilo que o mundo tanto valoriza, no
momento da verdade, não vale nada? E então, ao olhar para trás e à sua volta, a
sua escala de valores muda radicalmente: a relação com as pessoas que lhe
rodeiam, o amor, aquele olhar de paz e de compreensão, passam a ser os
verdadeiros valores, autênticos tesouros que você —buscando os falsos deuses
mundanos— sempre tinha menosprezado.
Que
tenha a inteligência evangélica para discernir qual é o verdadeiro tesouro! Que
as riquezas do seu coração não sejam os deuses deste mundo, mas sim o amor, a
verdadeira paz, a sabedoria e todos os dons que Deus concede aos seus filhos
prediletos.
ADVERTÊNCIAS DO SENHOR
(Pe Ignácio, dos padres escolápios)
Semana da Família |
INTRODUÇÃO: O evangelho deste domingo tem três
exortações diferentes, precedidas de um
estímulo inicial: Não temas, (tu) ó pequeno rebanho! (sic) Vamos explicar,
ponto por ponto, as diversas partes do mesmo.
1ª PARTE: ESTÍMULO INICIAL
NÃO TEMAS: Não
temas, ó pequeno rebanho! Porque vosso Pai se agradou em dar-vos o Reino (32). Com
as mesmas palavras [não temas] dirige-se Gabriel, o arcanjo, a Zacarias (Lc 1,
13) e a Maria (1, 30) ao anunciar uma boa-nova, tanto a um como a outra; ou
seja, anuncia o evangelho particular de ambos. Sem dúvida, que aqui, Jesus se
dirige a seus doze discípulos (12, 22), com uma notícia que é de esperança para
eles: porque foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino (32). Que significam
estas palavras? Teremos que compará-las com Lc 22, 28-30: porque permanecestes
constantemente comigo em minhas tentações; também eu disponho para vós o Reino,
como meu Pai o dispôs para mim, a fim de que comais e bebais à minha mesa em
meu Reino, e vos senteis em tronos para julgar as doze tribos de Israel. O
ambiente em que Jesus pronuncia as primeiras palavras é de preocupação, porque
o mesmo Jesus viu-se obrigado a ir furtivamente a Jerusalém; já que, como diz
Marcos, nessa subida, os discípulos estavam assustados e acompanhavam-no com
medo (10,32); ou como narra João, Jesus percorria a Galileia, não podendo
circular pela Judeia, porque os judeus o queriam matar. E por isso subiu para a
festa, não publicamente, mas às ocultas (ver Jo 7,1-14). Que tipo de reino era
esse que o Pai complacentemente iria entregar? Era um convite da mais alta
confiança: seriam os convivas no banquete, ou seja, nas delícias da nova
escolha do povo, que tinha origem em Jesus, como seu rebanho do qual ele era
pastor e rei. Mas dentro das estruturas do Reino, eles deveriam ser os juízes
para julgar os que não quiseram entrar e impediram outros de entrarem dentro de
sua organização. Jesus promete uma distinção especial que é como entregar os
mais cobiçados cargos àqueles que tinham compartilhado das tribulações de Jesus
durante sua vida. Outros identificam o julgar com o reinar como foi o caso do
livro dos Juízes e assim se compreende melhor o porquê dos doze tronos,
próprios dos que reinam e não das cadeiras judiciais. Podemos supor que ambas
as opiniões podem entrar: os apóstolos reinarão e julgarão os seus conterrâneos
acompanhando o soberano principal a quem o Pai deu o Reino, o poder, e que ele
quer compartilhar com seus discípulos, assim como estes compartiram com ele
suas adversidades e tribulações. O poder real e o domínio sobre todos os reinos
debaixo do céu serão entregues ao povo dos santos do Altíssimo (Dn 7, 27). O
pior é que os apóstolos entendem estas palavras de um modo material e estrito
que não é precisamente o que Jesus queria deles.
VENDEI
VOSSAS PROPRIEDADES: Vendei
as vossas possessões e dai esmola; fazei para vós bolsas que não envelhecem um
tesouro inextinguível será vosso nos céus onde ladrão não chega nem traça
corrompe (33). POSSESSÕES: O grego diz
literalmente as coisas sobre as quais tendes propriedade. Forma parte do
primeiro conselho-mandato de Jesus nesta ocasião. Sem dúvida que uma das
preocupações dos discípulos era como manter suas famílias e até a si mesmos sem
ter uma base material. Jesus, de novo, dá uma lição de confiança na providência
divina que cuidará de modo especial daqueles que dedicaram suas posses à ajuda
dos mais necessitados. Quando Pedro pergunta que receberiam eles que tinham
deixado seus bens para segui-lo, Jesus responde que receberão muito mais no tempo
da vida presente e, além disso, a vida eterna (Lc 18,28-30). Marcos dirá que
esse muito mais será cem vezes mais; Mateus, contrariamente ao que Lucas e
Marcos narram, restringe a resposta de Jesus aos doze e, portanto afirmará que
assentar-se-ão em doze tronos para governar as doze tribos de Israel. Feita
esta digressão, observamos como Lucas, no trecho de hoje, aproveita uma lição,
aparentemente particular, para estender o ensino à generalidade dos discípulos
de Cristo. O melhor que podem fazer é segui-lo, deixando toda propriedade;
porque dando seus bens aos pobres terão bolsas que não envelhecem, um tesouro
que não falha nos céus, onde ladrão não se aproxima nem traça corrompe (23).
Evidentemente que se trata de tesouros em forma de grãos ou mercadorias perecíveis.
É a mesma advertência que Mateus recolhe no sermão da montanha: Não ajuntar
tesouros [no sentido explicado de depósito ou armazém] onde a traça e a
ferrugem os corroem. E os ladrões arrombam e roubam (Mt 6, 19-20). O que era
uma exigência para os doze, se transforma agora numa séria advertência para os
que querem ser verdadeiros discípulos.
ONDE
ESTÁ TEU TESOURO: Porque
onde está vosso tesouro aí também estará vosso coração (34). Entendemos por
tesouro um amontoado tanto de metais ou coisas preciosas como de mercancias,
como trigo, frutos, salgados etc. Parece que Jesus cita um provérbio que não é
precisamente religioso, nem muito menos evangélico, e que seria patrimônio de
todas as culturas. Um único comentário: podemos substituir o coração por mente
ou desejo. O coração do homem, ou seja, a imagem que representa a soma de suas
energias e desejos, está sempre concentrado nas coisas que ele pensa serem primárias
em sua vida.
2ª PARTE: A VIGILÂNCIA
A VINDA DO FILHO DO HOMEM: Estejam
vossos lombos cingidos e as candeias acesas (35). Também vós semelhantes a
homens que esperam pelo seu senhor quando voltar da festa, para que vindo e
bater, imediatamente lhe abram (36). Sob este título da vinda do Filho do
homem, podemos interpretar os parágrafos seguintes que constituem a segunda
parte do discurso de Jesus. Com imagens aparentemente de extrema urgência,
Jesus descreve a preparação para o fim escatológico que narra como
iminente. Podemos pensar que a
escatologia não é uma vinda estrondosa ou espetacular, porque o Reino já está
no meio de vós (Lc 17, 21). Alguns comentaristas falam da crise que viria no
momento de paixão e morte de Jesus. É por isso que ele pede no horto das
oliveiras: Orai para não entrardes em tentação (Lc 22, 40), que em Mateus e
Marcos se completa com vigiai e orai para que não entreis em tentação, pois o
espírito está pronto, mas a carne é fraca (Mt 26,41 e Mc 14, 38). Toda
tribulação exige preparação que Jesus descreve com as imagens de cingir os
quadris e ter as lamparinas [luzes]
acessas. Jesus emprega duas imagens para descrever, não tanto a incerteza do
evento como a preparação em termos de vigília dos servidores. Como as túnicas
dos orientais eram longas, como se fossem vestidos talares [até os calcanhares]
eles as recolhiam, dobrando-as no cinto que cingia seus lombos (1 Rs 18, 46).
Devemos distinguir também entre lampas [tocha] que usavam as virgens
acompanhantes do esposo e lyxnoi [candeias ou lamparinas] que iluminavam as
casas. Estas últimas são as que devem permanecer acesas, esperando a volta do
dono de uma festa, pois gamoi em plural, não designa casamento, mas festa em
geral; para que ao bater o dono, a porta lhe seja aberta de imediato.
BEMAVENTURADOS: Ditosos os escravos, aqueles os
quais vindo o Senhor, encontrar vigilantes. Em verdade vos digo que se cingirá
e os reclinará e, passando entre eles, os servirá (37). Na realidade os servos
não fizeram nada mais, além de cumprir seu dever; mas o dono os recompensa de
um modo completamente insólito. Ele se torna escravo e os serve à mesa. É o
tipo de exageração que ressalta o bem conseguido pela conduta impecável dos
servos ao esperar, vigilantes, o seu dono. O caso se torna mais compreensível,
caso seja Deus o dono.
AS
VIGÍLIAS:
E se vier na segunda
vigília e na terceira vigília vier e encontrar dessa forma, ditosos são os
escravos aqueles (38). No cômputo judeu, a noite estava dividida em três
vigílias de quatro horas cada uma. A
parábola ou exemplo diz, pois, que devemos estar vigilantes como se fosse dia a
noite inteira, pois a primeira vigília, é lógico que não sirva para dormir, mas
com a terceira completamos a noite como se fosse um dia de trabalho, neste caso
de espera. Não importa a hora, o que é preciso é estar despertos para que o
dono não encontre os servos dormidos.
O
LADRÃO: Isto, pois,
sabei, que se o dono da casa conhecesse qual a hora, em que o ladrão havia de
vir, vigiaria e não deixaria furar a sua casa (39). Um outro exemplo para
recalcar a necessidade de estar vigilantes e preparados: se o dono da casa
soubesse o momento exato em que o ladrão escolhesse para entrar furtivamente,
ele vigiaria e não deixaria que sua casa fosse furada. Alude Lucas ao modo de
construir as casas, de adobe, de modo que era mais fácil penetrar nelas através
de um buraco nas paredes que arrombando a porta das mesmas.
O FILHO
DO HOMEM:
Também pois vós ficai
preparados porque na hora em que não pensais o Filho do Homem vem (40). Parece
um acréscimo sem sentido esta alusão. É talvez uma redação reflexiva de Lucas,
preocupado com o problema escatológico da vinda do Senhor. Ele traz a
observação como um parêntese surgido ao narrar os fatos do evangelho. É curioso
que o problema do Reino, que enche grande parte das parábolas e ditos de Jesus
nos sinóticos, só aparece em duas ocasiões em João: como explicação a Nicodemos
sobre o nascer de novo para entrar no reino e como resposta a Pilatos que
pergunta se ele é rei. O problema da vinda triunfante do Senhor era crucial nos
primeiros tempos do cristianismo, como vemos na carta primeira aos
Tessalonicenses, escrita no verão do ano 50. Essa expectativa está presente em
todo este trecho de Lucas em que o Senhor Jesus chama a si mesmo Filho do Homem
que aparece em Lucas 24 vezes e sempre com artigo: o Filho do Homem.
Precisamente é o artigo que o distingue de um ser humano comum para entrar na
escatologia; pois é o Jesus que representa o reino divino como chefe e soberano
do mesmo, segundo Daniel 7,13-14. É o Jesus da resposta ao Sumo Sacerdote Caifás:
O Filho do Homem sentado à direita do poder de Deus (Lc 22, 69) e vindo sobre
as nuvens do céu (Mt 26, 64). Deste modo, este segundo trecho está relacionado
com a expectativa escatológica dos primeiros cristãos. A questão da vigilância
é comum com o discurso escatológico da ruína de Jerusalém (Lc 21, 34-36). Esta
passagem tem seus duplicados em Mc 13, 33-37 e Mateus 24, 37-44.
3ª PARTE: O ADMINISTRADOR FIEL.
A
PERGUNTA DE PEDRO:
Então lhe disse Pedro: Senhor, dizes esta parábola para nós ou também para
todos? (41). A parábola é para nós ou para todos? Pedro era o porta-voz dos
doze e, por isso, ele pergunta se o ensinado por Jesus em forma de exemplo, é
só para eles, os doze, ou para toda a multidão dos quais se consideravam como
discípulos. Jesus não responde diretamente à pergunta, mas indiretamente dá uma
lição de conduta para todos os que têm na comunidade um cargo de autoridade, de
mandato, que deve se transformar em serviço. Todos são administradores com
responsabilidade e é sobre como deve ser dirigida e exercitada essa
responsabilidade que Jesus narra a seguinte parábola com três tipos diferentes
de escravos em postos de responsabilidade.
PRIMEIRO
TIPO DE ESCRAVOS: Disse-lhe,
pois, o Senhor: Quem, portanto é o fiel mordomo e prudente o qual constituirá o
Senhor sobre seu serviço para dar no tempo oportuno a porção de trigo? (42). Ditoso
o escravo aquele que vindo o Senhor encontrar fazendo isso (43). MORDOMO
[oikonomos=dispensator] É o mordomo responsável de modo que não exista roubo
nem dolo e ao mesmo tempo sábio, inteligente, de forma que saiba distinguir
entre o necessário e o puramente acidental, entre o que deve ser feito para
gastar e guardar o patrimônio, para o serviço da casa [therapeia =familia] como
diz Lucas, pois o principal era o cuidado de dar no tempo a refeição de pão
necessária [ração de trigo no original]. A VOLTA DO DONO: Parece
que Jesus está pensando numa ausência e que satisfatoriamente o dono encontra
tudo como tinha planejado. Por isso o abençoa e o recompensa como administrador
total de suas posses.
SEGUNDO
TIPO:
Mas se disser o escravo
esse consigo mesmo: Demora meu dono em vir. E começa a bater nos criados e
criadas, a comer e beber e se inebriar (45). Virá o dono desse escravo no dia
em que não espera e na hora que não conhece. E o cortará em dois e a sorte dele
porá com os infiéis (46). O servo irresponsável. Agora Lucas emprega a palavra
certa: doulos, escravo, pois, no
tempo de Jesus, eram os escravos domésticos os que se encarregavam da
administração das casas ricas. Agora o escravo do modelo tem uma conduta que
podemos chamar de irresponsável, pois primeiro pensa que seu dono demorará na
volta e logo começa a atuar como dono real, batendo nos escravos e escravas e
desfrutando da vida, comendo, bebendo e embriagando-se. Parece uma descrição do
que era, na época, a vida dos ricos. O resultado de semelhante conduta não pode
ser mais desastroso. Virá o dono desse escravo no dia não esperado e na hora
que é desconhecida e o partirá em dois (sic) e o colocará entre os que não
merecem confiança. Logicamente partir em dois deve ter um significado
metafórico, não real, porque logo está vivo como para poder ser colocado entre
os servos que não merecem confiança. Ou seja, o tratará como um escravo
fugitivo.
TERCEIRO
TIPO:
Porém, aquele escravo
que conhecendo a vontade do seu dono e não se preparou nem fez conforme a
vontade dele, será espancado muitas vezes (47). Jesus descreve a conduta
daqueles que conhecem a vontade do dono, mas nem se preparam [para recebê-lo]
nem a cumprem, receberão como castigo uma boa surra de paus. Era o castigo
comum na época para os escravos cuja conduta desagradava o dono.
ÚLTIMO
TIPO DE CONDUTA REPROVÁVEL: Aquele,
pois, que não conhece a vontade do dono, mas faz coisas que merecem golpes,
será golpeado poucas (vezes). A todo, pois, que muito foi dado muito
será exigido dele; e ao que muito lhe foi oferecido [apresentado] mais se
pedirá dele (48). O grego termina com o adjetivo poucas ao qual devemos
logicamente acrescentar o nome que aqui parece mais apropriado, vezes ou
golpes. MORAL
DA HISTÓRIA: Deus dá de graça
seus dons [o foi dado tem como sujeito ativo Deus, sendo, pois, uma passiva
impessoal]; mas não quer que estejamos preguiçosos sem nada fazer. Por isso,
termina dizendo que a exigência depende da abundância do dom recebido.
PISTAS:
1) É de destacar a insistência de Lucas
e de sua comunidade na esmola como meio de vida cristã. Existem duas maneiras
de viver em radicalidade, por não dizer totalidade, o evangelho: renunciar aos bens
terrenos, ou repartir com os necessitados as riquezas de que somos
administradores e não donos absolutos. A segunda parte pode ser tomada como uma
adaptação do evangelho aos dirigentes das comunidades em que devia existir uma
administração de bens comuns, como narram os Atos 4, 34-35. Porém, se pensamos
que Deus está presente como dono de tudo, também a segunda parte está
intimamente unida à primeira, de modo que o dinheiro será o teste para saber
quem é melhor administrador e como ele será considerado pelo dono absoluto que
é Deus. O dinheiro é apontado como teste de nossa honradez e fiabilidade para
com Deus.
2) O nosso tesouro é o amor em nossos
corações, que é o maior fruto do Espírito (Gl 5,22). No caso das riquezas
materiais, o amor nos impele a seguir o exemplo de Zaqueu: Dar a metade aos
pobres. Isso pelo menos deve ser feito com o chamado supérfluo de nossos bens.
Melhor: todo o supérfluo como diz Tobias (4,16) pertence aos pobres. Por isso
uma norma que pode ser exigida na atualidade é que gastemos tanto em esmola
como gastamos em diversões. Isso não nos torna mais pobres e torna mais ricos
os pobres.
3) A exortação à vigilância é hoje uma
exortação a uma vida austera e simples. Não temos uma ameaça de destruição como
era a de Jerusalém; porém temos uma ameaça que está num futuro próximo: a do
meio-ambiente. Se não sabemos ser austeros em nossas vidas e dilapidamos o que
temos, que poderão herdar os futuros habitantes da terra?
4) A última parte do evangelho é,
segundo muitos, uma referência ao purgatório. Não é a fé que determina o prêmio
ou o castigo; mas a fidelidade à vontade do Senhor. Especialmente se
consideramos que o dono é uma figura representativa do próprio Deus.
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