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quarta-feira, 31 de julho de 2019

Quinta-feira da 17ª semana do Tempo Comum


Sto Afonso Mª de Ligório
Bispo e Doutor
1ª Leitura (Ex 40,16-21.34-38): Naqueles dias, Moisés fez tudo como o Senhor lhe tinha ordenado. No primeiro dia do primeiro mês do ano segundo, foi erguido o Tabernáculo. Moisés construiu assim o Tabernáculo: assentou as bases, colocou as pranchas, aplicou as travessas e levantou as colunas. Depois estendeu a Tenda sobre o Tabernáculo e pôs sobre ele a cobertura da Tenda, conforme o Senhor lhe tinha ordenado. Colocou as tábuas da Lei dentro da Arca; pôs os varais na Arca e, sobre esta, o propiciatório. Levou a Arca para dentro do Tabernáculo e colocou o véu de proteção para encobrir a Arca da Lei, conforme o Senhor lhe tinha ordenado. Então a nuvem cobriu a Tenda da Reunião e a glória do Senhor encheu o Tabernáculo. Moisés não podia entrar na Tenda da Reunião, porque a nuvem estava pousada sobre ela e a glória do Senhor enchia o Tabernáculo. Sempre que a nuvem se elevava acima do Tabernáculo, os filhos de Israel levantavam o acampamento para nova jornada. Mas se a nuvem não se elevava, eles não se moviam enquanto ela não se elevasse de novo. De dia repousava a nuvem do Senhor sobre o Tabernáculo e de noite aparecia fogo sobre ele, à vista de toda a casa de Israel, em todas as suas jornadas.

Salmo Responsorial: 83
R. Como é agradável a vossa morada, Senhor do Universo!

A minha alma suspira ansiosamente pelos átrios do Senhor. O meu ser e a minha carne exultam no Deus vivo.

Até as aves do céu encontram abrigo e as andorinhas um ninho para os seus filhos, junto dos vossos altares, Senhor dos Exércitos, meu Rei e meu Deus.

Felizes os que moram em vossa casa: podem louvar-Vos continuamente. Felizes os que em Vós encontram a sua força, os que caminham para ver a Deus em Sião.

Um dia em vossos átrios vale por mais de mil longe de Vós. Antes quero ficar no vestíbulo da casa do meu Deus, do que habitar nas tendas dos pecadores.

Aleluia. Abri, Senhor, o nosso coração, para recebermos a palavra do vosso Filho. Aleluia.

Evangelho (Mt 13,47-53): Naquele tempo, disse Jesus ao povo: «Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que pegou peixes de todo tipo. Quando ficou cheia, os pescadores puxaram a rede para a praia, sentaram-se, recolheram os peixes bons em cestos e jogaram fora os que não prestavam. Assim acontecerá no fim do mundo: os anjos virão para separar os maus dos justos, e lançarão os maus na fornalha de fogo. Aí haverá choro e ranger de dentes. Entendestes tudo isso?» — «Sim», responderam eles. Então Ele acrescentou: «Assim, pois, todo escriba que se torna discípulo do Reino dos Céus é como um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas». Quando Jesus terminou de contar essas parábolas, partiu dali.

«Recolhem em cestos o que é bom e jogam fora o que não presta»

Rev. D. Ferran JARABO i Carbonell (Agullana, Girona, Espanha)

Mês do SSmo Salvador
Hoje, o Evangelho constitui uma chamada vital à conversão. Jesus não nos poupa da dura realidade: «Os anjos virão para separar os maus dos justos, e lançarão os maus na fornalha de fogo» (Mt 13,49-50). E a advertência é clara! Não podemos fraquejar.

Agora devemos optar livremente: ou buscamos a Deus e ao bem com todas as nossas forças, ou colocamos nossa vidas à beira da morte. Ou estamos com Cristo ou estamos contra Ele. Converter-se significa, nesse caso, optar totalmente por fazer parte do grupo dos justos e levar uma vida digna de filhos. Porém, temos em nosso interior a experiência do pecado: sabemos o bem que deveríamos fazer, mas fazemos o mal; como podemos dar uma verdadeira unidade às nossas vidas? Sozinhos, não podemos fazer muito. Somente se nos colocamos nas mãos de Deus podemos fazer algum bem e pertencer ao grupo dos justos.

«Por não sabermos quando virá nosso Juiz, devemos viver cada dia como se não houvesse o dia seguinte» (São Jerônimo). Essa frase é um convite a viver com intensidade e responsabilidade nossa vida cristã. Não se trata de ter medo, mas sim de viver com esperança esse tempo de graça, louvor e glória.

Cristo nos ensina o caminho para nossa própria glorificação. Cristo é o caminho, portanto, nossa salvação, nossa felicidade e tudo o que possamos imaginar passa por Ele. E se tudo o temos em Cristo, não podemos deixar de amar a Igreja que nos o apresenta e é seu corpo místico. Contra as visões puramente humanas dessa realidade é necessário que recuperemos a visão divino-espiritual: nada melhor do que Cristo e o cumprimento de sua vontade!

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz a última parábola do Sermão das Parábolas: a história da rede lançada ao mar. Esta parábola encontra-se só no evangelho de Mateus, sem nenhum paralelo nos outros três evangelhos.

* Mateus 13,47-48: A parábola da rede lançada ao mar
"O Reino do Céu é ainda como uma rede lançada ao mar. Ela apanha peixes de todo o tipo. Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e escolhem: os peixes bons vão para os cestos, os que não prestam são jogados fora”.   A história contada é bem conhecida do povo da Galileia que vive ao redor do lago. É o trabalho deles. A história reflete o fim de um dia de trabalho. Os pescadores saem para o mar com esta única finalidade: jogar a rede, apanhar muito peixe, puxar a rede cheia para a praia, escolher os peixes bons para levar para casa e jogar fora os que não servem. Descreve a satisfação do pescador no fim de um dia de trabalho pesado e cansativo. Esta história deve ter provocado um sorriso de satisfação no rosto dos pescadores que escutavam Jesus. O pior é chegar na praia no fim do dia sem ter pescado nada (Jo 21,3).

* Mateus 13,49-50: A aplicação da parábola
Jesus aplica a parábola, ou melhor dá uma sugestão para as pessoas poderem discutir a parábola e aplicá-la em suas vidas. “Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são bons. E lançarão os maus na fornalha de fogo. Aí eles vão chorar e ranger os dentes."  Como entender esta fornalha de fogo? São imagens fortes para descrever o destino daqueles que se separam de Deus ou não querem saber de Deus. Toda cidade tem um lixão, um lugar onde joga os detritos e o lixo. Lá existe um fogo de monturo permanente que é alimentado diariamente pelo lixo novo que nele vai sendo despejado. O lixão de Jerusalém ficava num vale perto da cidade que se chamava geena, onde, na época dos reis havia até uma fornalha para sacrificar os filhos ao falso deus Molok. Por isso, a fornalha da geena tornou-se símbolo de exclusão e de condenação. Não é Deus que exclui. Deus não quer a exclusão nem a condenação, mas que todos tenham vida e vida em abundância. Cada um de nós se exclui a si mesmo

* Mateus 13,51-53: O encerramento do Sermão das Parábola
No final do Sermão das parábolas Jesus encerra com a seguinte pergunta: "Vocês compreenderam tudo isso?" Ele responderam “Sim!” E Jesus termina a explicação com uma outra comparação que descreve o resultado que ele quer obter com as parábolas: "E assim, todo doutor da Lei que se torna discípulo do Reino do Céu é como pai de família que tira do seu baú coisas novas e velhas". Dois pontos para esclarecer:
(1) Jesus compara o doutor da lei com o pai de família. O que faz o pai de família? Ele “tira do seu baú coisas novas e velhas".  A educação em casa se faz transmitindo aos filhos e às filhas o que eles, os pais, receberam e aprenderam ao longo dos anos. É o tesouro da sabedoria familiar onde estão encerradas a riqueza da fé, os costumes da vida e tanta outra coisa que os filhos vão aprendendo. Ora, Jesus quer que, na comunidade, as pessoas responsáveis pela transmissão da fé sejam como o pai de família. Assim como os pais entendem da vida em família, assim, estas pessoas responsáveis pelo ensino devem entender as coisas do Reino e transmiti-la aos irmãos e irmãs da comunidade.
(2) Trata-se de um doutor da Lei que se torna discípulo do Reino. Havia portanto doutores da lei que aceitavam Jesus como revelador do Reino. O que acontece com um doutor na hora em que descobre em Jesus o Messias, o filho de Deus? Tudo aquilo que ele estudou para poder ser doutor da lei continua válido, mas recebe uma dimensão mais profunda e uma finalidade mais ampla. Uma comparação para esclarecer o que acabamos de dizer. Numa roda de amigos alguém mostrou uma fotografia, onde se via um homem de rosto severo, com o dedo levantado, quase agredindo o público. Todos ficaram com a ideia de se tratar de uma pessoa inflexível, exigente, que não permitia intimidade. Nesse momento, chegou um jovem, viu a fotografia e exclamou: "É meu pai!" Os outros olharam para ele e, apontando a fotografia, comentaram: "Pai severo, hein!" Ele respondeu: "Não é não! Ele é muito carinhoso. Meu pai é advogado. Aquela fotografia foi tirada no tribunal, na hora em que ele denunciava o crime de um latifundiário que queria despejar uma família pobre que estava morando num terreno baldio da prefeitura há vários anos! Meu pai ganhou a causa. Os pobres não foram despejados!” Todos olharam de novo e disseram: "Que pessoa simpática!” Como por um milagre, a fotografia se iluminou por dentro e tomou um outro aspecto. Aquele rosto, tão severo adquiriu os traços de uma grande ternura! As palavras do filho, mudaram tudo, sem mudar nada! As palavras e gestos de Jesus, nascidas da sua experiência de filho, sem mudar uma letra ou vírgula sequer, iluminaram o sentido do Antigo Testamento pelo lado de dentro (Mt 5,17-18) e iluminaram por dentro toda a sabedoria acumulada do doutor da Lei. O mesmo Deus, que parecia tão distante e severo, adquiriu os traços de um Pai bondoso de grande ternura!

Para um confronto pessoal
1) A experiência do Filho já entrou em você para mudar os olhos e descobrir as coisas de Deus de outro modo?
2) O que te revelou o Sermão das Parábolas sobre o Reino?

terça-feira, 30 de julho de 2019

Quarta-feira da 17ª semana do Tempo Comum


STO INÁCIO DE LOYOLA
PRESBÍTERO
1ª Leitura (Ex 34,29-35): Quando Moisés descia do monte Sinai, trazendo nas mãos as duas tábuas da Lei, não sabia que o seu rosto irradiava luz, depois de se encontrar com o Senhor. Aarão e todos os filhos de Israel, ao olharem para Moisés, viram que o seu rosto irradiava luz e temeram aproximar-se dele. Então Moisés chamou-os. Aarão e todos os chefes da comunidade aproximaram-se e Moisés falou com eles. Depois todos os filhos de Israel se aproximaram e ele transmitiu-lhes todas as ordens que tinha recebido do Senhor no monte Sinai. Quando Moisés acabou de lhes falar, cobriu o rosto com um véu. Sempre que Moisés comparecia na presença do Senhor para falar com Ele, tirava o véu até sair de lá. Então comunicava aos filhos de Israel as ordens que recebera. Mas como os filhos de Israel viam que o rosto de Moisés irradiava luz, ele voltava a cobrir o rosto com o véu, até voltar a entrar de novo na Tenda para falar com o Senhor.

Salmo Responsorial: 98
R. Vós sois santo, Senhor, nosso Deus.

Aclamai o Senhor, nosso Deus, prostrai-vos a seus pés: Ele é santo.

Moisés e Aarão estão entre os seus sacerdotes e Samuel entre os que invocam o seu nome; invocavam o Senhor e Ele os atendia.

Falava-lhes da coluna de nuvem; eles observavam os seus mandamentos e os preceitos que lhes dera.

Aclamai o Senhor, nosso Deus e prostrai-vos diante da sua montanha santa: é santo o Senhor, nosso Deus.

Aleluia. Eu chamo-vos amigos, diz o Senhor, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. Aleluia.

Evangelho (Mt 13,44-46): Naquele tempo, Jesus disse às pessoas: «O Reino dos Céus é como um tesouro escondido num campo. Alguém o encontra, deixa-o lá bem escondido e, cheio de alegria, vai vender todos os seus bens e compra aquele campo. O Reino dos Céus é também como um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, ele vai, vende todos os bens e compra aquela pérola».

«Vai vender todos os seus bens e compra aquele campo»

Rev. D. Enric CASES i Martín (Barcelona, Espanha)

Hoje, Mateus põe à nossa consideração duas parábolas sobre o Reino dos Céus. O anúncio do Reino é essencial na prédica de Jesus e na esperança do povo eleito. Mas é notório que a natureza desse Reino não era entendida pela maioria. Não a entendia o sinédrio que o condenaram à morte, não a entendiam Pilatos, nem Herodes, também não a entenderam de início os próprios discípulos. Só se encontra uma compreensão como a que Jesus pede ao bom ladrão, cravado junto dele na Cruz, quando lhe diz: «Jesus, Lembra-te de mim quando estiveres no teu Reino» (Lc 23,42). Ambos tinham sido acusados como malfeitores e estavam quase a morrer; mas, por um motivo que desconhecemos, o bom ladrão reconhece Jesus como Rei de um Reino que virá depois daquela terrível morte. Só podia ser um Reino espiritual.

Jesus, na sua primeira prédica, fala do Reino como um tesouro escondido cuja descoberta causa alegria e estimula à compra do campo para poder gozar dele para sempre: «cheio de alegria, vai vender todos os seus bens e compra aquele campo» (Mt 13,44). Mas, ao mesmo tempo, alcançar o Reino requer procurá-lo com interesse e esforço, ao ponto de vender tudo o que se possui: «Ao encontrar uma de grande valor, ele vai vende todos os bens e compra aquela pérola» (Mt 13,46). «A propósito de que se diz buscai e quem busca. Encontra? Arrisco a ideia de que se trata das pérolas e a pérola, pérola que adquire o que deu tudo e aceitou perder tudo» (Orígenes).

O Reino é de paz, amor justiça e liberdade. Alcançá-lo é, por um lado, dom de Deus e por outro lado, responsabilidade humana. Diante da grandeza do dom divino constatamos a imperfeição e instabilidade dos nossos esforços, que às vezes ficam destruídos pelo pecado, as guerras e a malicia que parecem insuperáveis. Não obstante, devemos ter confiança, pois o que parece impossível para o homem é possível para Deus.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz mais duas pequenas parábolas do Sermão das Parábolas. As duas são semelhantes entre si, mas com diferenças significativas para esclarecer melhor determinados aspectos do Mistério do Reino que está sendo revelado através destas parábolas.

* Mateus 13,44: A parábola do tesouro escondido no campo
Jesus conta uma história bem simples e bem curta que poderia acontecer na vida de qualquer um de nós. Ele diz: “O Reino do Céu é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra, e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens, e compra esse campo”. Jesus não explica. Ele só diz: O Reino do Céu é como um tesouro escondido no campo”. Assim, ele provoca os ouvintes a partilhar com os outros o que esta história nele suscitou. Partilho alguns pontos que descobri:
(1) O tesouro, o Reino, já está no campo, já está na vida. Está escondida. Passamos e pisamos por cima sem nos dar conta.
(2) O homem encontrou o tesouro. Foi puro acaso. Ele não esperava encontrá-lo, pois não estava procurando.
(3) Ao descobrir que se trata de um tesouro muito importante, o que ele faz? Faz o que todo mundo faria para ter o direito de poder apropriar-se do tesouro. Ele vai, vende tudo que tem e compra o campo. Assim, junto com o campo adquiriu o tesouro, o Reino. A condição é vender tudo!
(4) Se o tesouro, o Reino, já estava na vida, então é um aspecto importante da vida que começa a ter um novo valor.
(5) Nesta história, o que predomina é a gratuidade. O tesouro é encontrado por acaso, para além das programações nossas. O Reino acontece! E se acontece, você ou eu temos que tirar as consequências e não permitir que este momento de graça passe sem dar fruto.

* Mateus 13,45-46: A parábola do comprador de pedras preciosas
A segunda parábola é semelhante à primeira mas tem uma diferença importante. Tente descobri-la. A história é a seguinte: “O Reino do Céu é também como um comprador que procura pérolas preciosas. Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens, e compra essa pérola”.  Partilho alguns pontos que descobri: 
(1) Trata-se de um comerciante de pérolas. A profissão dele é buscar pérolas. Ele só faz isso na vida: buscar e encontrar pérolas. Buscando, ele encontra uma pérola de grande valor. Aqui a descoberta do Reino não é puro acaso, mas fruto de longa busca. 
(2) Comerciante de pérola entende do valor das pérolas, pois muitas pessoas querem vender para ele as pérolas que encontraram. Mas o comerciante não se deixar enganar. Ele conhece o valor da sua mercadoria. 
(3) Quando ele encontra uma pérola de grande valor, ele vai e vende tudo que tem e compra essa pérola. O Reino é o valor maior.

* Resumindo o ensinamento das duas parábolas. As duas tem o mesmo objetivo: revelar a presença do Reino, mas cada uma revela uma maneira diferente de o Reino mostrar a sua presença: através de descoberta da gratuidade da ação de Deus em nós, e através do esforço e da busca que todo ser humano faz para ir descobrindo cada vez melhor o sentido da sua vida.

Para um confronto pessoal
1) Tesouro escondido: já encontrou alguma vez? Já vendeu tudo para poder adquiri-la?
2) Buscar pérolas: qual a pérola que você busca e ainda não encontrou?

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Terça-feira da 17ª semana do Tempo Comum


1ª Leitura (Ex 33,7-11; 34,5b-9.28): Naqueles dias, Moisés pegou na tenda e armou-a fora do acampamento, a certa distância. Chamava-lhe a ‘Tenda da Reunião’. Quem desejasse consultar o Senhor devia ir à Tenda da Reunião, que estava fora do acampamento. Sempre que Moisés se dirigia para a Tenda, todo o povo se levantava; cada um ficava à entrada da sua própria tenda e seguia Moisés com o olhar até ele entrar na Tenda da Reunião. Quando Moisés entrava na Tenda, a coluna de nuvem descia e ficava à entrada e o Senhor falava com Moisés. E quando o povo via a coluna de nuvem deter-se à entrada da Tenda, toda a gente se levantava e se prostrava à porta da sua tenda. O Senhor falava com Moisés face a face, como quem fala com um amigo. Por fim, Moisés regressava ao acampamento, mas o seu jovem ajudante, Josué, filho de Num, não deixava o interior da Tenda. Moisés invocou o nome do Senhor. O Senhor passou diante dele e exclamou: «O Senhor, o Senhor é um Deus clemente e compassivo, lento para a ira e rico de misericórdia e fidelidade. Mantém a sua misericórdia até à milésima geração, perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, mas não deixa nada impune e castiga a iniquidade dos pais nos filhos e nos netos, até à terceira e quarta geração». Moisés caiu de joelhos e prostrou-se em adoração. Depois disse: «Se encontrei, Senhor, aceitação a vossos olhos, digne-Se o Senhor caminhar no meio de nós. É um povo de cerviz dura, mas Vós perdoareis os nossos pecados e iniquidades e fareis de nós a vossa herança». Moisés ficou ali com o Senhor durante quarenta dias e quarenta noites, sem comer nem beber. E escreveu nas tábuas as palavras da aliança: os dez mandamentos.

Salmo Responsorial: 102
R. O Senhor é clemente e cheio de compaixão.

O Senhor faz justiça e defende o direito de todos os oprimidos. Revelou a Moisés os seus caminhos e aos filhos de Israel os seus prodígios.

O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade. Não está sempre a repreender, nem guarda ressentimento.

Não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos castigou segundo as nossas culpas. Como a distância da terra ao céu, assim é grande a sua misericórdia para os que O temem.

Aleluia. A semente é a palavra de Deus e o semeador é Cristo: quem O encontra permanece para sempre. Aleluia.

Evangelho (Mt 13,36-43): Naquele tempo, Jesus deixou as multidões e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e disseram: «Explica-nos a parábola do joio». Ele respondeu: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os que cortam o trigo são os anjos.  Como o joio é retirado e queimado no fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: o Filho do Homem enviará seus anjos e eles retirarão do seu Reino toda causa de pecado e os que praticam o mal; depois, serão jogados na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça».

«Explica-nos a parábola do joio»

Rev. D. Iñaki BALLBÉ i Turu (Terrassa, Barcelona, Espanha)

Hoje, com a parábola do joio e do trigo, a Igreja nos convida a meditar sobre a convivência do bem e do mal. O bem e o mal dentro do nosso coração; o bem e o mal que vemos em outros, que vemos existir neste mundo.

«Explica-nos a parábola» (Mt 13,36), pedem os discípulos a Jesus. E nós, hoje, podemos fazer o propósito de ter mais cuidado com a nossa oração pessoal, com o nosso trato cotidiano com Deus. Senhor, podemos dizer-lhe, explique-me por que não avanço suficientemente em minha vida interior. Explique-me como posso lhe ser mais fiel, como posso buscar-lhe em meu trabalho, ou através dessa circunstância que não entendo, ou não quero. Como posso ser um apóstolo qualificado. A oração é isso, pedir explicações a Deus. Como é minha oração? É sincera? É constante? É confiante?

Jesus Cristo nos convida a ter os olhos fixos no céu, nossa morada eterna. Frequentemente, vivemos enlouquecidos pela pressa, e quase nunca nos detemos para pensar que um dia próximo ou não, não o sabemos deveremos prestar contas a Deus de nossa vida, de como temos feito frutificar as qualidades que Ele nos tem dado. E o Senhor nos diz que no fim dos tempos haverá uma triagem. Devemos ganhar o Céu na terra, no dia-a-dia, sem esperar situações que possivelmente nunca virão. Devemos viver heroicamente o que é ordinário, o que aparentemente não possui nenhuma transcendência. Viver pensando na eternidade e ajudar os outros a pensar nela: paradoxalmente, «esforça-se para não morrer o homem que há de morrer; e não se esforça para não pecar o homem que há de viver eternamente» (São João de Toledo).

Colheremos o que houvermos semeado. Devemos lutar para dar 100% hoje. Para que quando Deus nos chame a sua presença Lhe apresentemos as mãos cheias: de atos de fé, de esperança, de amor. Que se concretizam em coisas muito pequenas e em pequenos vencimentos que, vividos diariamente, nos fazem mais cristãos, mais santos, mais humanos.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz a explicação que Jesus, a pedido dos discípulos, deu da parábola do joio e do trigo. Alguns estudiosos acham que esta explicação, dada por Jesus aos discípulos, não seja de Jesus, mas sim da comunidade. É possível e provável, pois uma parábola, por sua própria natureza, pede o envolvimento e a participação das pessoas na descoberta do sentido. Assim como a planta já está dentro da sua semente, assim, de certo modo, a explicação da comunidade já está dentro da parábola. É exatamente este o objetivo que Jesus queria e ainda quer alcançar com a parábola. O sentido que nós hoje vamos descobrindo na parábola que Jesus contou dois mil anos atrás já estava implicado na história que Jesus contou, como a flor já está dentro da sua semente.

* Mateus 13,36: O pedido dos discípulos para explicar a parábola do joio e do trigo
Os discípulos, em casa conversam com Jesus e pedem uma explicação da parábola do joio e do trigo (Mt 13,24-30). Várias vezes se informa que Jesus, em casa, continuava o seu ensinamento aos discípulos (Mc 7,17; 9,28.33; 10,10). Naquele tempo não havia televisão e nas longas horas das noites do inverno o povo reunia para conversar e tratar dos assuntos doa vida. Jesus fazia o mesmo. Era nestas ocasiões que ele completava o ensinamento e a formação dos discípulos.

* Mateus 13,38-39: O significado de cada um dos elementos da parábola
Jesus responde retomando cada um dos seis elementos da parábola e lhes dá um sentido: o campo é o mundo; a boa semente são os membros do Reino; o joio são os membros do adversário (maligno); o inimigo é o diabo; a colheita é o fim dos tempos; os ceifadores são os anjos. Experimente você agora ler de novo a parábola (Mt 13,24-30) colocando o sentido certo em cada um dos seis elementos: campo, boa semente, joio, inimigo, colheita e ceifadores. Aí, a história toma um sentido totalmente diferente e você alcança o objetivo que Jesus tinha em mente ao contar esta história do joio e do trigo ao povo. Alguns acham que esta parábola que deve ser entendida como uma alegoria e não como uma parábola propriamente dita.

* Mateus 13,40-43: A aplicação da parábola ou da alegoria
Com estas informações dadas por Jesus você entenderá a aplicação que ele dá: Assim como o joio é recolhido e queimado no fogo, o mesmo também acontecerá no fim dos tempos: o Filho do Homem enviará os seus anjos, e eles recolherão todos os que levam os outros a pecar e os que praticam o mal, e depois os lançarão na fornalha de fogo. Aí eles vão chorar e ranger os dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai”. O destino do joio é a fornalha, o destino do trigo bom é o brilho do sol no Reino do Pai. Por de trás destas duas imagens está a experiência das pessoas. Depois que elas escutaram Jesus e o aceitaram em suas vidas, tudo mudou para elas. O fim chegou. Ou seja, em Jesus chegou aquilo que, no fundo, todos esperavam: a realização das promessas. A vida agora se divide em antes e depois que escutaram e aceitaram Jesus em suas vidas. A nova vida começou como o brilho do sol. Se tivessem continuado a viver como antes, seriam como o joio jogado na fornalha, vida sem sentido e sem serventia para nada.

* Parábola e Alegoria.
Existe a parábola. Existe a alegoria. Existe a mistura das duas que é a forma mais comum. Geralmente tudo é chamado de parábola. No evangelho de hoje temos o exemplo de uma alegoria. Uma alegoria é uma história que a pessoa conta, mas enquanto conta, ela não pensa nos elementos da história, mas sim no assunto que deve ser esclarecido. Ao ler uma alegoria não é necessário olhar primeiro a história como um todo, pois numa alegoria a história não se constrói em torno de um ponto central que depois serve como meio de comparação, mas cada elementos tem a sua função independente a partir do sentido que recebe. Trata-se de descobrir o que cada elemento das duas histórias nos tem a dizer sobre o Reino como fez a explicação que Jesus deu da parábola: campo, boa semente, joio, inimigo, colheita e ceifadores. Geralmente, as parábolas são alegorizantes. Mistura das duas.

Para um confronto pessoal
1) No campo existe tudo misturado: joio e trigo. No campo da minha vida, o que prevalece: o joio ou o trigo?
2) Você já tentou conversar com outras pessoas para descobrir o sentido de alguma parábola?

domingo, 28 de julho de 2019

Festa de Santa Marta de Betânia


1ª Leitura (Ex 32,15-24.30-34): Naqueles dias, Moisés desceu do monte Sinai, trazendo na mão as duas tábuas da Lei, escritas de ambos os lados, em uma e outra face. As tábuas eram obra de Deus; a escritura era letra de Deus gravada nas tábuas. Josué ouviu a vozearia do povo e disse a Moisés: «Há gritos de guerra no acampamento». Moisés respondeu-lhe: «Não são gritos de vitória, nem lamentos de derrota; o que eu ouço são vozes de gente a cantar». Ao aproximar-se do acampamento, viu o bezerro e as danças. Então Moisés, inflamado em cólera, arremessou as tábuas e fê-las em pedaços no sopé do monte. Pegou no bezerro que eles tinham fabricado, queimou-o e triturou-o até o reduzir a pó; espalhou-o na água e deu-a a beber aos filhos de Israel. Moisés perguntou a Aarão: «Que te fez este povo, para o induzires a pecado tão grave?». Aarão respondeu-lhe: «Não se acenda a cólera do meu senhor. Bem sabes como este povo é inclinado para o mal. Foram eles que me disseram: ‘Faz-nos um deus que vá à nossa frente, porque a esse Moisés, o homem que nos fez sair da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu’. Então eu disse-lhes: ‘Quem tem ouro?’ Eles desfizeram-se do ouro que tinham e deram-mo. Depois eu lancei-o ao fogo e saiu este bezerro». No dia seguinte, Moisés disse ao povo: «Vós cometestes um grande pecado. Mas agora vou subir à presença do Senhor, para ver se posso obter o perdão do vosso pecado». Moisés voltou à presença do Senhor e disse-Lhe: «Este povo cometeu um grande pecado, fabricando um deus de ouro. Se quisésseis ainda perdoar-lhe este pecado... Se não, peço que me risqueis do livro que escrevestes». O Senhor respondeu a Moisés: «Riscarei do meu livro aquele que pecou contra Mim. Agora vai e conduz o povo para onde Eu te disse, que o meu Anjo irá à tua frente. Mas no dia em que Eu tiver de intervir, castigarei o seu pecado».

Salmo Responsorial: 105
R. Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom.

Fizeram um bezerro no Horeb e adoraram um ídolo de metal fundido. Trocaram a sua glória pela figura de um boi que come feno.

Esqueceram a Deus que os salvara, que realizara prodígios no Egito, maravilhas na terra de Cam, feitos gloriosos no Mar Vermelho.

E pensava já em exterminá-los, se Moisés, o seu eleito, não intercedesse junto d’Ele e aplacasse a sua ira para os não destruir.

Aleluia. Deus Pai nos gerou pela palavra da verdade, para sermos as primícias das suas criaturas. Aleluia.

Evangelho (Lc 10,38-42): Naquele tempo, Jesus entrou num povoado, e uma mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa. Ela tinha uma irmã, Maria, a qual se sentou aos pés do Senhor e escutava a sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com os muitos afazeres da casa. Ela aproximou-se e disse: «Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda pois que ela venha me ajudar!». O Senhor, porém, lhe respondeu: «Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada».

«Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária»

Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Stos Lázaro, Marta e Maria 
Hoje, também nós que estamos ocupados com muitas coisas devemos ouvir o que o Senhor nos recorda: «No entanto, uma só é necessária» (Lc 10,42): o amor, a santidade. Este é o objetivo, o horizonte que não podemos perder nunca de vista no meio de nossas ocupações cotidianas.

Porque ocupados estaremos sempre se obedecermos à indicação do Criador: «Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a!» (Gn 1,28). A Terra! O mundo: é aqui o nosso lugar de encontro com o Senhor. «Eu não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes do maligno» (Jo 17,15). Sim, o mundo é o altar para nós e para nossa entrega a Deus e aos outros.

Somos do mundo, mas não podemos ser mundanos. Muito pelo contrário, somos chamados a ser como a bela expressão de João Paulo II sacerdotes da criação, sacerdotes do nosso mundo, de um mundo que amamos apaixonadamente.

Eis aqui a questão: o mundo e a santidade, o trabalho diário e a única coisa necessária. Não são duas realidades opostas: temos que procurar a confluência de ambas. E essa confluência se produz em primeiro lugar e sobre tudo em nosso coração, que é onde se pode unir o céu e a terra. Porque no coração humano é onde pode nascer o diálogo entre o Criador e a criatura.

É necessário, portanto, a oração. «O nosso tempo é um tempo em constante movimento, que frequentemente desemboca no ativismo, com o risco fácil de acabar fazendo por fazer. Temos que resistir a essa tentação, procurando ser antes de fazer. Recordamos a este respeito a reprovação de Jesus a Marta: «Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária (Lc 10,41-42)» (João Paulo II).

Não há oposição entre o ser e o fazer, mas sim há uma ordem de prioridade, de precedência: «Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada» (Lc 10,42).

O único necessário


Mais uma vez, o Evangelho de Lucas destaca o fato que Jesus e os seus discípulos “caminhavam”. É caminhando que se faz caminho, e é no caminho que se aprende o que é ser discípulo de Jesus. Todos nós estamos “no caminho”, como Jesus e os outros, só que a nossa caminhada não se mede em quilômetros, mas em anos!

O Evangelho de hoje frisa muito o lado afetivo de Jesus e dos seus discípulos e discípulas. Jesus se dirige à casa de uma família em Betânia, perto de Jerusalém. Era o lugar predileto onde Jesus procurava - e recebia - aconchego humano, carinho, afeto, amizade, acolhimento; onde podia refazer as suas forças nas suas caminhadas evangelizadoras. Do Evangelho do Discípulo Amado aprendemos que: “Jesus amava Marta, a irmã dela e Lázaro” (Jo 11, 5). Este tipo de relacionamento humano é necessário para que formemos verdadeiras comunidades cristãs - e quantas vezes dispensamos esse elemento fundamental!

É gritante a diferença de gênio das duas irmãs! Marta, provavelmente a mais velha, preocupada com os seus afazeres - afinal tinham chegado hóspedes para uma refeição, e tinham que ser bem tratados; Maria, calma, senta-se aos pés do Senhor, para escutar a Palavra. De repente, ressoa o desabafo de Marta: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda que ela venha ajudar-me!” (v. 40). Instintivamente, a nossa simpatia fica com a Marta. Qual é a mãe da família, a dona de casa ou o anfitrião de visita que não sentiria o que Marta sentia? Por isso mesmo, chama a atenção a resposta do Senhor: “Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada com muitas coisas; porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada.” (v. 41s).

Uma coisa é óbvia - Jesus não está defendendo a preguiça, a omissão, a exploração do trabalho dos outros! Num mundo agitado como é o nosso, que não nos deixa tempo para cultivar o relacionamento humano, a amizade, a oração, o nosso próprio ser, esta resposta nos faz lembrar a importância de viver de uma maneira que prioriza as coisas. É óbvio que nós temos que preocuparmo-nos com os afazeres, os trabalhos, - mas na verdade, quantas vezes nós enchemos os nossos dias com ativismo, atividades fúteis, agitação, - e assim não conseguimos escutar nem nós mesmos, nem os irmãos, nem o próprio Deus!

Jesus aqui questiona a agitação e o ativismo - que não se mede pelo número de atividades. O ativismo é uma fuga, uma fuga de um encontro com os anseios mais profundos do nosso ser, dos apelos de Deus, refugiando-nos em um número sem fim de atividades sem objetivos claros, sem organização, sem rumo. A atitude de Maria é a de uma discípula, que aprende viver de maneira nova, ouvindo e ruminando a Palavra de Deus, uma palavra que pode levar à muita atividade, mas nunca ao ativismo.

Jesus de forma alguma quer menosprezar a Marta. Aliás, diversas vezes os evangelhos põem Marta em mais relevo do que Maria. O próprio Lucas diz que foi Marta que recebeu Jesus na sua casa (v. 38). Em João, é Marta que faz a profissão de fé em Jesus, que nos Sinóticos é feita por Pedro: “Sim, Senhor. Eu acredito que tu és o Messias, o Filho de Deus que devia vir a este mundo” (Jo 11, 27). Na realidade, todos nós temos que ser “Marta e Maria”. Temos necessidade de dedicarmo-nos aos nossos afazeres, mas também é preciso achar tempo para ficarmos aos pés do Senhor. O desafio é de conseguir o equilíbrio entre os dois aspectos de vida, entre “lançar as redes” e “consertar as redes” (Mc 1, 16-20), entre “atividade” e “oração”, entre “missão” e “interiorização”. Pois, os dois lados são tão intimamente ligados que o desequilíbrio, do lado que for, trará consequências negativas para a nossa vida de discípulos e discípulas. Também aqui nos traz um alerta – com uma certa frequência: corremos o risco de sobrecarregar as pessoas leigas tão dedicadas às comunidades! Devemos sempre lembrar que elas também precisam de tempo para cultivar os seus laços familiares, de aprofundar a sua própria experiência de Deus, de descanso. Não é a vontade de Deus que alguém “se queime” de tanto serviço, mesmo na evangelização. Precisamos ser sempre “Marta e Maria”.

sábado, 27 de julho de 2019

28 de julho


São Pedro Poveda Castroverde
Presbítero e mártir - Fundador da Instituição Teresiana

Pedro Poveda Castroverde nasceu em Linhares (Jaén) em 3 de dezembro de 1874. Desde criança sentiu atração pelo sacerdócio. Ingressou no seminário de Jaén e concluiu os estudos no de Guadix, diocese na qual recebeu a ordenação em 1897. Começou seu ministério no Seminário e no atendimento pastoral aos que viviam nas margens da população, criando uma escola para eles. Nomeado canônico de Covadonga ocupou-se da formação cristã dos peregrinos e começou a escrever livros sobre educação e a relação entre a fé e a ciência. A partir de 1911, com algumas jovens colaboradoras, começou a fundação de Academias e Centros pedagógicos que dariam início à Instituição Teresiana. Transferiu-se para Jaén para consolidar a mesma Instituição que receberia ali aprovação diocesana e depois, estando ele já em Madri como capelão real, a aprovação pontifícia. Sacerdote prudente e audaz, pacífico e aberto ao diálogo, entregou sua vida por causa da fé na madrugada de 28 de julho de 1936, identificando-se: "Sou sacerdote de Cristo" perante aqueles que o conduziriam ao martírio.

Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.
Oração
Senhor nosso Deus, que concedestes a são Pedro Poveda, fundador da Instituição Teresiana, impulsionar a ação evangelizadora dos cristãos mediante a educação e a cultura, e entregar a sua vida no martírio como «sacerdote de Jesus Cristo»; concedei-nos que saibamos, como ele, participar fielmente da missão da Igreja com o testemunho de nossa vida cristã e a entrega generosa ao anúncio de vosso Reino. Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.

Omite-se esta memória neste ano, por cair em dia da Páscoa Semanal

Domingo XVII do Tempo Comum


1ª Leitura (Gn 18,20-32): Naqueles dias, disse o Senhor: «O clamor contra Sodoma e Gomorra é tão forte, o seu pecado é tão grave que Eu vou descer para verificar se o clamor que chegou até Mim corresponde inteiramente às suas obras. Se sim ou não, hei de sabê-lo». Os homens que tinham vindo à residência de Abraão dirigiram-se então para Sodoma, enquanto o Senhor continuava junto de Abraão. Este aproximou-se e disse: «Irás destruir o justo com o pecador? Talvez haja cinquenta justos na cidade. Matá-los-ás a todos? Não perdoarás a essa cidade, por causa dos cinquenta justos que nela residem? Longe de Ti fazer tal coisa: dar a morte ao justo e ao pecador, de modo que o justo e o pecador tenham a mesma sorte! Longe de Ti! O juiz de toda a terra não fará justiça?». O Senhor respondeu-lhe: «Se encontrar em Sodoma cinquenta justos, perdoarei a toda a cidade por causa deles». Abraão insistiu: «Atrevo-me a falar ao meu Senhor, eu que não passo de pó e cinza: talvez   cinquenta justos faltem cinco. Por causa de cinco, destruirás toda a cidade?». O Senhor respondeu: «Não a destruirei se lá encontrar quarenta e cinco justos». Abraão insistiu mais uma vez: «Talvez não se encontrem nela mais de quarenta». O Senhor respondeu: «Não a destruirei em atenção a esses quarenta». Abraão disse ainda: «Se o meu Senhor não levar a mal, falarei mais uma vez: talvez haja lá trinta justos». O Senhor respondeu: «Não farei a destruição, se lá encontrar esses trinta». Abraão insistiu novamente: «Atrevo-me ainda a falar ao meu Senhor: talvez não se encontrem lá mais de vinte justos». O Senhor respondeu: «Não destruirei a cidade em atenção a esses vinte». Abraão prosseguiu: «Se o meu Senhor não levar a mal, falarei ainda esta vez: talvez lá não se encontrem senão dez». O Senhor respondeu: «Em atenção a esses dez, não destruirei a cidade».

Salmo Responsorial: 137
R. Quando Vos invoco, sempre me atendeis, Senhor.

De todo o coração, Senhor, eu Vos dou graças, porque ouvistes as palavras da minha boca. Na presença dos Anjos hei de cantar-Vos e adorar-Vos, voltado para o vosso templo santo.

Hei de louvar o vosso nome pela vossa bondade e fidelidade, porque exaltastes acima de tudo o vosso nome e a vossa promessa. Quando Vos invoquei, me respondestes, aumentastes a fortaleza da minha alma.

O Senhor é excelso e olha para o humilde, ao soberbo conhece-o de longe. No meio da tribulação Vós me conservais a vida, Vós me ajudais contra os meus inimigos.

A vossa mão direita me salvará, o Senhor completará o que em meu auxílio começou. Senhor, a vossa bondade é eterna, não abandoneis a obra das vossas mãos.

2ª Leitura (Col 2,12-14): Irmãos: Sepultados com Cristo no baptismo, também com Ele fostes ressuscitados pela fé que tivestes no poder de Deus que O ressuscitou dos mortos. Quando estáveis mortos nos vossos pecados e na incircuncisão da vossa carne, Deus fez que voltásseis à vida com Cristo e perdoou-nos todas as nossas faltas. Anulou o documento da nossa dívida, com as suas disposições contra nós; suprimiu-o, cravando-o na cruz.

Aleluia. Recebestes o espírito de adopção filial; nele clamamos: «Abá, ó Pai». Aleluia.

Evangelho (Lc 11,1-13): Um dia, Jesus estava orando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: «Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou a seus discípulos». Ele respondeu: «Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja teu nome; venha o teu Reino; dá-nos, a cada dia, o pão cotidiano, e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todo aquele que nos deve; e não nos introduzas em tentação». E Jesus acrescentou: «Imaginai que um de vós tem um amigo e, à meia-noite, o procura, dizendo: ‘Amigo, empresta-me três pães, pois um amigo meu chegou de viagem e nada tenho para lhe oferecer’. O outro responde lá de dentro: ‘Não me incomodes. A porta já está trancada. Meus filhos e eu já estamos deitados, não posso me levantar para te dar os pães’. Digo-vos: mesmo que não se levante para dá-los por ser seu amigo, vai levantar-se por causa de sua impertinência e lhe dará quanto for necessário. Portanto, eu vos digo: pedi e vos será dado; procurai e encontrareis; batei e a porta vos será aberta. Pois todo aquele que pede recebe; quem procura encontra; e a quem bate, a porta será aberta. Algum de vós que é pai, se o filho pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem!».

«Jesus estava orando num certo lugar… ‘Senhor, ensina-nos a orar’»

Abbé Jean GOTTIGNY (Bruxelas, Bélgica)

S.  Pedro Poveda Castroverde
Presbítero e Mártir

Fundador da Instituição Teresiana
Hoje, Jesus em oração nos ensina a orar. Prestemos atenção no que sua atitude nos ensina. Jesus Cristo experimenta em muitas ocasiões a necessidade de encontrar-se cara a cara com seu Pai. Lucas, em seu Evangelho, insiste sobre este ponto.

Sobre que falavam naquele dia? Não sabemos. No entanto, em outra ocasião, nos chegou um fragmento de conversação entre seu Pai e Ele. No momento em que foi batizado no rio Jordão, quando estava orando, «E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu filho amado; em ti está meu pleno agrado’» (Lc 3,22). No parêntese de um diálogo ternamente afetuoso.

Quando, no Evangelho de hoje, um dos discípulos, ao observar seu recolhimento, lhe implora que lhes ensine a falar com Deus, Jesus responde: «Quando ores, diga: ‘Pai, santificado seja teu nome…’» (Lc 11,2). A oração consiste em uma conversação filial com esse Pai que nos ama com loucura. Não definia Teresa de Ávila a oração como “uma íntima relação de amizade”: «estando muitas vezes tratando a sós com quem sabemos que nos ama»?

Bento XVI encontra «significativo que Lucas situe o Pai-nosso no contexto da oração pessoal do próprio Jesus. Desta forma, Ele nos faz participar de sua oração; conduz-nos ao interior do diálogo íntimo do amor trinitário; ou seja, levanta nossas misérias humanas até o coração de Deus».

É significativo que, na linguagem cotidiana, a oração que Jesus Cristo nos ensinou se resume nestas duas únicas palavras: «Pai Nosso». A oração cristã é eminentemente filial.

A liturgia católica põe esta oração nos nossos lábios no momento em que nos preparamos para receber o Corpo e o Sangre de Jesus Cristo. As sete petições que permite e a ordem em que estão formuladas nos dão uma ideia da conduta que devemos de manter quando recebamos a Comunhão Eucarística.


COMENTÁRIO


Pe. Thomaz Hughes, SVD

O nosso texto de hoje nos traz o ensinamento da Oração do Senhor, na versão Lucana (Lucas). O Novo Testamento nos traz duas versões desta oração - por sinal a única oração que o Senhor nos ensinou: Lucas 11, 2-4 e Mateus 6, 9-13. Normalmente os cristãos rezam na forma mateana (Mateus), com sete petições e sem doxologia (oração de louvor). A versão lucana só tem cinco petições. A forma usada na Missa acrescenta a doxologia “porque Vosso é o Reino, o Poder e a Glória para sempre”, baseada no texto trazido pela Didaché - um documento cristão do início do segundo século. Alguns estudiosos explicam as duas formas pelo fato que Lucas e Mateus estavam se dirigindo a comunidades diferentes, com tradições diferentes. Mateus se dirigia a pessoas que tinham o costume de rezar, mas que estavam correndo o risco de orar de uma maneira muita formal e rotineira (judeu-cristãos), enquanto Lucas estava escrevendo para pessoas recém-convertidas (gentio-cristãos) e que precisavam aprender, talvez pela primeira vez, a rezar continuamente.

Embora não haja unanimidade entre exegetas sobre qual é a forma mais original, parece que o consenso tende em favor da versão Lucana. A versão mateana apresenta a forma mais litúrgica do seu uso (p. ex. “Pai Nosso” em lugar do simples “Pai”), mas na verdade não há diferença essencial entre as duas versões. Baseando-nos no trabalho de um exegeta alemão, Joaquim Jeremias, propomos a seguinte versão como a mais aproximada às palavras aramaicas de Jesus (devemos sempre lembrar que Jesus falava em aramaico, os evangelhos foram escritos em grego, e nós os lemos em português!):
“Querido Pai, santificado seja o Teu nome; venha o Teu Reino; o pão nosso de amanhã nos dá hoje; perdoa-nos as nossas dívidas, como queremos perdoar os nossos devedores, e não nos deixes sucumbir à Tentação”.
Seguindo este autor, tratamos a oração como uma “oração escatalógica”, ou seja a oração da comunidade cristã que experimenta o Reino como uma realidade já presente, mas que espera e pede a sua consumação final.
Uma chave para a compreensão lucana da Oração do Senhor, nós encontramos no primeiro versículo do texto: “Um dia, Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um dos discípulos pediu: “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou os discípulos dele” (Lc 11, 1). Essa frase nos faz lembrar que muitos grupos religiosos do tempo de Jesus tinham uma oração que identificasse os seus discípulos, como por exemplo, os Essênios, os Fariseus e os Batistas. Então, o discípulo de Jesus pede uma oração que pudesse identificar o seu programa de vida, como discípulos de Jesus. Aí, podemos ver a Oração do Senhor como mais do que uma oração - como um “manifesto” da nossa proposta de vivência da nossa fé. Vejamos mais de perto o texto:

1. “Querido Pai” (ABBÁ):
É possível que muita gente tenha dificuldade em rezar o “Pai Nosso” por causa da sua experiência com o seu próprio pai. Se nós tivemos um pai carinhoso, com quem desde criança nós nos sentíamos bem, então teremos facilidade de rezar a Deus como “Pai”. Mas se o nosso pai era pessoa dura, ameaçadora, sem expressão de carinho, então podemos ter mais dificuldade em poder nos relacionar com Deus como “Pai Nosso”. Outras pessoas - especialmente feministas - talvez achem que o título “Pai” para Deus traz conotações demasiadamente masculinizantes, quando não machistas. Por isso, é importante aprofundar o sentido bíblico do termo, e o que significava na boca de Jesus.
Quando o Antigo Testamento descreve Deus como Pai, implica muito de que a nossa cultura atribui à mãe. O Antigo Testamento se refere a Deus como Pai quinze vezes e enfatiza a ternura, a misericórdia, o carinho e o amor de Deus para o seu povo. Isso fica especialmente claro nos Profetas. Vejamos alguns textos: “Serei um pai para Israel, e Efraim será o meu primogênito” (Jr 31, 9); “Será que Efraim não é o meu filho predileto? Será que não é um filho querido? Quanto mais o repreendo, mais me lembro dele. Por isso minhas entranhas se comovem, e eu cedo à compaixão - oráculo de Javé” (Jr 31, 20); “Eu tinha pensado contar você entre os meus filhos, dar-lhe uma terra invejável... esperando que você me chamasse de “Meu Pai”, e não se afastasse de mim (Jr 3, 19); “Quando Israel era menino, eu o amei; do Egito chamei o meu filho... fui eu que ensinei Efraim a andar, segurando-o pela mão... Eu os atraí com laços de bondade, com cordas de amor. Fazia com eles como quem levanta até seu rosto uma criança; para dar-lhes de comer, eu me abaixava até eles (Os 11, 1ss).
Nestes textos podemos sentir muitas das características que a nossa cultura ocidental atribui à mãe - portanto o termo “Pai” no Antigo Testamento não traz qualquer conotação machista.
Embora o Antigo Testamento fale de Deus como “Pai” 15 vezes, jamais alguém invoca Deus como “meu Pai”, ou “nosso Pai”. O respeito do judeu diante da transcendência de Deus não permitia. Mas, nos Evangelhos nós achamos o termo “Pai” para Deus na boca de Jesus 170 vezes. Isso era coisa tão inédita que podemos ter certeza que se trata de uma palavra autêntica de Jesus e não somente proveniente da Igreja primitiva. Marcos a usa 4 vezes, Lucas 15 vezes, Mateus 42 vezes e João 109 vezes! Na comunidade do Discípulo Amado, pelo fim do primeiro século, “Pai” é o termo para Deus.
A expressão que Jesus mesmo usava era “Abbá”, uma palavra aramaica sem sinônimo em português. Fazia parte da linguagem da intimidade do lar, um termo carinhoso usado tanto por crianças como por adultos, para o seu pai. Então, ultrapasse o sentido da palavra nossa “papai”. Devemos dar muito peso a este ensinamento de Jesus, pois embora não exista na literatura rabínica um exemplo sequer do uso do termo “Abbá” para Deus, Jesus sempre se dirigia a Deus deste jeito, exceto em Mc 15, 34 (quando na cruz, citando um salmo, ele chama Deus de “Eloí”, meu Deus). Jesus, então conversava com Deus com a segurança, intimidade e carinho com quem se conversa na ternura do seio familiar. E mais, ele autorizou os seus discípulos a usar o mesmo termo. Isso indica o novo relacionamento com Deus, que Jesus nos trouxe. É algo além do normal poder reivindicar tal relacionamento com Deus. São Paulo mantinha o termo aramaico, mesmo escrevendo em grego em Gálatas 4, 6 e Romanos 8, 15, quando ele diz: “A prova de que vocês são filhos é o fato de que Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho que clama: Abbá Pai!” (Gl 4, 6); “...receberam um Espírito de filhos adotivos, por meio do qual clamamos: Abbá, Pai!” (Rm 8, 15)
O “endereço” da oração determina não somente o nosso relacionamento com Deus, mas, com os nossos irmãos e irmãs. Pois, se Deus é o “Abbá” de todos nós, então somos todos iguais, e rezar esta oração exige que nós não nos compactuemos com qualquer coisa que nos discrimine - racismo, machismo, clericalismo, exploração etc.
Todas as petições seguintes da oração dependem deste endereço. Pois, não estamos nos dirigindo a um Espírito perfeitíssimo, criador do céu e da terra, onipresente, onipotente e onisciente! Estamos nos dirigindo ao nosso “Querido Pai”, e é este novo relacionamento, um dom incrível do próprio Deus, que faz possível as petições. Por isso, na liturgia, a Igreja pede que se faça uma introdução à oração, como “Orientados pela Palavra de Jesus, ousamos rezar”, para que nós tomemos consciência da enormidade do dom de filiação que recebemos por Jesus.

2. “Santificado seja o Teu nome”
Na forma atual, esta petição pode expressar tanto um louvor (“Santificado seja o teu nome”), como uma petição (“Que o Teu Nome se torne santificado”). No contexto, devemos entendê-la como pedido. Podemos entender melhor a frase se voltamos de novo para um profeta do Antigo Testamento, Ezequiel: “Vou santificar o meu nome grandioso, que foi profanado entre as nações, porque vocês o profanaram entre elas. Então as nações ficarão sabendo que eu sou Javé. quando eu mostrar a minha santidade em vocês diante deles” (Ez 36, 23).
Então, com este pedido rezamos que o mundo chegue a conhecer o nome (isto é, a realidade íntima) de Deus (que Ele é o nosso “querido pai”) através da nossa vivência. Se torna uma oração missionária, com três elementos:
 - primeiro, que nós cheguemos a conhecer cada vez mais quem é Deus.
 - segundo, que o mundo chegue a este conhecimento através do nosso testemunho;
 - terceiro, que a plenitude da revelação da realidade de Deus venha logo; este é o aspecto escatológico.

3. “Venha o Teu Reino”     
O tema central da pregação de Jesus era a iminência do Reino de Deus. Se o “nome” de Deus se refere à sua natureza íntima, o “Reino” se refere à sua atividade. Pedimos aqui a consumação final do Reino. É a oração da comunidade que reconhece a presença do Reino, mas sente que ainda não é estabelecido definitivamente entre nós. Temos outros trechos do Novo Testamento que expressam este desejo com a palavra aramaica “Maranathá”, (Vem, Senhor Jesus!), por exemplo 1Cor 16, 22 e Ap 22, 20.
A versão mateana que nós costumamos rezar, acrescenta “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”. Isso é outra maneira de expressar a mesma ideia, pois, quando a vontade de Deus é feita na terra como já se faz no céu, então o Reino estará plenamente realizado entre nós.

4. “O pão nosso de amanhã nos dá hoje”
Os primeiros dois pedidos almejam a chegada do Reino na sua plenitude, mas as duas petições seguintes põem a ênfase sobre o “agora”, o “hoje”!
A primeira dificuldade que enfrentamos é com a tradução, pois aqui se usa uma palavra grega “epiousios” que não é usada em outro lugar no Novo Testamento. Há quatro sentidos básicos possíveis para este termo:
 - necessário para a nossa existência;
 - para hoje;
 - para o dia que virá;
 - para o futuro.
As várias traduções usadas nas nossas bíblias (e seria bom verificar) refletem a dificuldade em ter certeza sobre o que significa o termo no contexto desta oração. Muitos exegetas concluem, com São Jerônimo, que a palavra quer dizer “dá-nos hoje o nosso pão de amanhã”.
Aqui, “amanhã” significaria o “grande amanhã” da parusia, da consumação final do Reino de Deus. Assim estamos pedindo que nós possamos experimentar hoje o que pertence à plenitude do Reino.
E isso tem implicações muito concretas para a nossa vivência. Pois, jamais será possível experimentar a plenitude do Reino enquanto falta o pão material na mesa dos nossos irmãos e irmãs. Quem faz este pedido se compromete com a luta por uma sociedade mais justa, mais fraterna, onde todos possam ter uma vida digna.
Quando Jesus e os seus discípulos faziam a refeição, era muito mais do que simplesmente tirar a fome. Significava o banquete messiânico, desejado pelos profetas, onde todos teriam vida plena. Quem reza esta petição, se compromete com a concretização de uma sociedade onde “todos tenham a vida e a vida em abundância” (Jo 10, 10), coisa impossível sem o pão material nas mesas.
Não é possível participar do banquete eucarístico, sem este compromisso concreto com a construção de um mundo sem empobrecidos, onde todos terão “o pão nosso de cada dia”.

5. “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós queremos perdoar os nossos devedores”
Um dos grandes dons da era escatológica é o perdão. Já vimos em outros trechos como Jesus manifestava esse dom gratuito do Pai. Aqui pedimos que nós possamos experimentar esse grande dom, aqui e agora. Mas, o trecho levanta a questão da relação entre o perdão de Deus e o nosso perdão.
A maneira que nós rezamos o “Pai Nosso” - “perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” - pode dar a impressão que estamos pedindo que Deus nos perdoe na medida em que perdoamos os outros! Se Deus vai nos perdoar conforme os critérios humanos, estamos em maus lençóis! Aqui é necessário que olhemos melhor o que significa “assim como”.
Quase todos os estudiosos estão de acordo que esta frase não deve ser entendida como uma comparação entre o perdão de Deus e o nosso. Diversas parábolas sugerem que o perdão de Deus precede o perdão humano (Mt. 18, 23-25; Lc 7, 41-47). O nosso perdão é consequência e resposta ao perdão de Deus. Sendo perdoados, não temos desculpa para não perdoar! Mas qual é então o papel do perdão humano? (Mt 6, 14s). É que o perdão de Deus só se torna real para mim quando eu o assumo na minha vida ao ponto que procuro perdoar quem me ofendeu. O nosso perdão mútuo então é a prova de até onde temos aceito o perdão de Deus. Devemos então lembrar três pontos:
 - O perdão de Deus sempre precede o perdão humano;
 - O perdão humano é reação ao perdão divino;
 - O perdão divino só se torna eficaz para nós quando nós temos vontade de perdoar o outro.
Joaquim Jeremias, teólogo, explica a frase assim: “Nós estamos prontos a repassar a outros o perdão que nós recebemos. Dá-nos, querido Pai, o dom da era da salvação, o teu perdão, para que, na força do perdão recebido, possamos perdoar os que têm nos ofendido”. (J. Jeremias, A Oração do Senhor).
E o grande exemplo desta realidade continua sendo a mulher “pecadora” de Lc 7, 36-50), cujo grande amor foi consequência do grande perdão recebido de Deus.

6. “E não nos deixes sucumbir à tentação”
Esse é o único pedido formulado em termos negativos. Aqui não somente pedimos para não cair nas pequenas ou grandes tentações que nós enfrentamos no dia-a-dia, mas que não caiamos na Grande Tentação, de não acreditar na realidade da presença do Reino, de perder a fé na ação transformadora de Deus, de não acreditar mais na concretização da vontade de Deus. E este “sucumbir” não vem normalmente “de vez” - é um processo lento, que pode acontecer sem que nós demos conta. É o perder do élan, da vibração com a causa do Reino, que reduz a religião a um mero “cumprir tabela”, sem alegria, sem esperança, - enfim uma frustração. Esse pedido ecoa uma mensagem e advertência clara dos evangelhos - a necessidade de vigilância! Estamos na luta escatológica entre o bem e o mal, onde até Jesus foi tentado. Aqui reconhecemos a nossa fraqueza, a nossa tendência para o desânimo, e pedimos a força de Deus para que não sucumbamos à Grande Tentação.

Assim a Oração do Senhor resume o projeto de vida dos seus seguidores e discípulos. É uma oração que traz consequências bem concretas para o nosso relacionamento com os irmãos e com a sociedade. É uma oração que desinstala e desacomoda. Pois, nós estamos nos comprometendo com a construção diária do Reino, através do seguimento de Jesus.

A segunda parte do trecho de hoje insiste na necessidade de perseverança na oração. Faz contraste (e não comparação!) entre Deus e o amigo humano. Pois, se o “amigo” só atende o pedido para não ser amolado, Deus é bem diferente. Ele dará o mais importante - o Espírito Santo, com todos os seu dons, àqueles que o pedirem! Peçamos as coisas pequenas - mas importantes - necessárias para a nossa vivência diária, mas saibamos também pedir os grandes dons do Reino, o perdão, o pão da vida, a misericórdia sem limites, que Deus jamais negará!