Textos:
Zac 12, 10-11; Gal 3, 26-29; Lc 9, 18-24
Evangelho (Lc
9,18-24): Jesus estava orando, a sós, e os
discípulos estavam com ele. Então, perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que
eu sou?». Eles responderam: «Uns dizem que és João Batista; outros, que és
Elias; outros ainda acham que algum dos antigos profetas ressuscitou». Mas
Jesus perguntou: «E vós, quem dizeis que eu sou?». Pedro respondeu: «O Cristo
de Deus». Mas ele advertiu-os para que não contassem isso a ninguém. E explicou: «É necessário o Filho do Homem
sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser
morto e, no terceiro dia, ressuscitar». Depois, Jesus começou a dizer a todos:
«Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz, cada dia, e
siga-me. Pois quem quiser salvar sua vida a perderá, e quem perder sua vida por
causa de mim a salvará».
«E vós, quem dizeis
que eu sou?»
Rev. D. Ferran JARABO i Carbonell (Agullana, Girona, Espanha)
Hoje, no
Evangelho, Jesus coloca-nos diante de uma pergunta fundamental. Da resposta
depende a nossa vida: «E vós, quem dizeis que eu sou?» (Lc 9,20). Pedro
respondeu em nome de todos: «O Cristo de Deus». Qual é a nossa resposta?
Conhecemos Jesus suficientemente para poder responder? A oração, a leitura do
Evangelho, a vida sacramental e a Igreja são fontes inseparáveis que nos levam
a conhecê-Lo e a "vivê-Lo". Até que sejamos capazes de responder com
Pedro, com todo o coração e a mesma humildade, certamente ainda não nos deixámos
transformar por Ele. Temos de conseguir sentir como Pedro, de sentir como a
Igreja para poder responder satisfatoriamente à pergunta de Jesus!
Mas o
Evangelho de hoje acaba com uma exortação a seguir o Senhor desde a humildade,
desde a negação e a cruz. Seguir Jesus deste modo só pode dar salvação,
liberdade. «O que acontece com o ouro puro, também acontece com a Igreja; ou
seja, quando passa pelo fogo, não lhe acontece nenhum mal, pelo contrário,
aumenta o seu esplendor» (Santo Ambrósio). Nem as contrariedades, nem a
perseguição por causa do Reino, nos devem assustar, devem antes ser motivo de
esperança e até de alegria. Dar a vida por Cristo não é perdê-la, é ganhá-la
para toda a eternidade. Jesus pede que nos humilhemos totalmente por fidelidade
ao Evangelho, Ele quer que, livremente, lhe demos toda a nossa existência. Vale
a pena dar a vida pelo Reino!
Seguir,
imitar, viver a vida da graça, enfim, permanecer em Deus é o objetivo da nossa
vida cristã: «Deus fez-se homem para que, imitando o exemplo de um homem, o que
é possível, cheguemos a Deus, algo que antes era impossível» (Santo Agostinho).
Que Deus, com a força do seu Espirito Santo, a isso nos ajude!
Seguir a Cristo nunca
é fácil.
Pe. Antonio Rivero, L.C.
Seguir a
Cristo requer levar a sério as condições que hoje Cristo nos coloca: “Se alguém
quiser vir detrás de mim, que não se busque a si, que tome a sua cruz de cada
dia e me siga”. Não buscarmos a nós mesmos, que é egoísmo, mas a vontade de
Deus. Pegar cada um a sua própria cruz de cada dia, participação de alguma
farpa da cruz de Cristo: cruz física, cruz psicológica, cruz moral, cruz
espiritual. Seguir a Cristo, pois Ele deixou bem nítidas as pegadas no
evangelho, no Sacrário e no pobre necessitado.
Em primeiro
lugar, não foi fácil seguir a Cristo durante a sua vida terrena. Perguntemos a
esse jovem rico do evangelho que deu as costas a Cristo (cf. Mc 10, 17-30).
Perguntemos a esses escribas e fariseus, que embora escutavam, não se abriram à
fé Nele e preferiram seguir atados aos seus pergaminhos, tradições e sobretudo,
à sua soberba. Perguntemos a quantos Cristo deu de comer e encheu o estômago
deles de pão material, mas quando lhes vaticinou o outro Pão, o Pão do seu
Corpo (cf. Jo 6), retiraram-se muitos e o abandonaram. Perguntemos a Pedro que
quando Cristo fez o se anúncio da paixão e morte, quis dissuadi-lo para mudar
de ideia; e Cristo somente lhe disse bem firme: “Afasta-te de mim, Satanás,
pensas como os homens e não como Deus”. Perguntemos aos mesmos apóstolos,
escolhidos por Cristo, que demoraram tanto em entender a mensagem de Jesus, e
falharam justamente na hora da Paixão, deixando-o sozinho, a exceção de João.
Perguntemos a quantos escutaram aquelas palavras: “Quem quiser me seguir,
renuncie a si mesmo, pegue a sua cruz e siga-me” (Mt 16, 24); fizeram como que
não ouviram e seguiram outro caminho, em busca talvez de um profeta que lhes
prometa a felicidade sem cruz e sem renúncia. Com quantos amigos terminou
Cristo na sua vida terrena? Podemos contar com os dedos das mãos. Sim, seguir a
Cristo é difícil, porque é subida, o caminho é espinhoso em muitas ocasiões,
poucos momentos de oásis e muito suor e lágrimas. Mas a presença de Cristo
consola, anima, fortalece e fortifica a nossa alma e o nosso corpo. E hoje
encontramos essa presença especialmente na oração, nos sacramentos e na
caridade com o pobre, onde Ele se faz também carne necessitada de um gole de
água, de um pedaço de vestido, de um teto para abrigar-se.
Em segundo
lugar, não foi fácil seguir a Cristo durante os primeiros séculos do
Cristianismo, quando Jesus subiu ao céu. “Crucifica-o”. Este grito dos judeus
contra Jesus continua sendo escutado durante três primeiros séculos contra os
cristãos. “Christiani ne sint” (morram os cristãos), reza o edito imperial. Mas
os discípulos de Cristo crucificado, sem outras armas que a sua paciência e a
sua verdade, superam todas as ciladas. Até o governo de Nero a Igreja pôde se
propagar com certa liberdade. Deste este imperador até o século IV se perseguiu
à morte os cristãos, procurando aniquilá-los por todos os meios. Eles
mantiveram firmes a sua fé até a morte, com o auxílio divino: homens, mulheres
e crianças sofreram alegres os tormentos e a morte por se confessarem cristãos.
Muitos pagãos se converteram ao ver o seu valor nos tormentos e o exemplo na
sua vida impecável: Quantas perseguições? Houve 10 perseguições gerais, que se
estendiam por todo o Império; e muitas perseguições locais que afetavam só tal
o qual província. Que tormentos? Às vezes serviam de espetáculo à plebe ávida
de sangue e emoções fortes: crucifixão, bestas no circo, fogo lento, tochas…
Estes tormentos foram sem dúvida terríveis nas últimas perseguições, nas que se
pretendia quebrantar a vontade e conseguir a sua apostasia: fome, dentes de
ferro, flagelação até deixar descobertos os ossos, azeite fervendo e pele
derretendo, etc. Como sofriam e morriam os primeiros cristãos? Serenos e em
paz, com ânsias de se unirem a Cristo. Humildes e caridosos, perdoando os seus
verdugos e rogando pela sua salvação. Às vezes discutiam com os seus juízes
demonstrando-lhes a verdade da religião. O Espírito que neles habitava colocava
na boca deles as palavras que tinha que responder. Causas das perseguições? A
verdadeira causa era que a vida exemplar dos cristãos constituía uma constante
repreensão dos vícios pagãos. Jesus tinha anunciado claramente: “Sereis
perseguidos porque não sois do mundo”. Os pretextos que punham os perseguidores
eram: são inimigos do estado, poia não acatam às ordens do imperador, são
ímpios e atraem as maldições dos deuses, não querem tributar-lhes culto.
Tertuliano lhes respondeu: “Ide aos vossos cárceres e vede quantos pagãos
criminais há neles e quantos criminais cristãos: depois julgai vós”. Outros
pretextos: cometem crimes tremendos na celebração dos seus mistérios: p.e.,
comem crianças… São causa de divisão dentro do império.
Finalmente,
não será fácil para cada um de nós, os seus seguidores. Seguir a Cristo na
política não é fácil. Como acabou sir Thomas Moro, primeiro ministro, na
Inglaterra do século XVI, com o rei adúltero Henrique VIII? Seguir a Cristo na
medicina não é fácil. Quantos médicos diante da objeção de consciência, por não
aceitar o aborto, foram despedidos das clínicas! Seguir a Cristo na economia
não é fácil. Como acabam os economistas que fazem luz às corrupções? Seguir a
Cristo no meio pagão e descristianizado, não é fácil; esses cristãos honestos
não conseguem postos e são marginalizados e humilhados. Seguir a Cristo no
matrimônio e na família, não é fácil. Seguir a Cristo como jovem que não se
deixa levar por esses ambientes que oferecem “pão e circo”, não é fácil. Seguir
a Cristo como religiosas e freiras, não é fácil. Seguir a Cristo como
sacerdotes fiéis ao celibato, não é fácil. Seguir a Cristo cuidando e
dedicando-se aos pobres, enfermos e anciãos, não é fácil.
Para refletir: Penso seguir a Cristo desde a
comodidade? Levo a minha cruz com serenidade e amor, unida à cruz de Cristo? Já
coloquei os meus pés nas pegadas que Cristo deixou no evangelho?
Para rezar: Nem sempre sois o meu tesouro,
Senhor. Nem sempre tenho-vos no centro da minha vida. Porém, quero lutar para
optar cada vez mais por Vós. Quero descobrir-vos e ter-vos como o único e mais
prezado tesouro da minha vida. Nem sempre sois o meu Senhor. As riquezas, o
ter, o consumo… me atraem demais e me acostumam ao cômodo, ao que é fácil. Sei
que seguir-vos exige sacrifício, que deixar-me levar por esses senhores,
afastar-me-á irremediavelmente de Vós. Quero ser livre e ter-vos como o meu
único Senhor.
Qualquer sugestão ou
dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
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