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sábado, 30 de março de 2019

IV Domingo da Quaresma


1ª Leitura (Jos 5,9a.10-12): Naqueles dias, disse o Senhor a Josué: «Hoje tirei de vós o opróbrio do Egito». Os filhos de Israel acamparam em Gálgala e celebraram a Páscoa, no dia catorze do mês, à tarde, na planície de Jericó. No dia seguinte à Páscoa, comeram dos frutos da terra: pães ázimos e espigas assadas nesse mesmo dia. Quando começaram a comer dos frutos da terra, no dia seguinte à Páscoa, cessou o maná. Os filhos de Israel não voltaram a ter o maná, mas, naquele ano, já se alimentaram dos frutos da terra de Canaã.

Salmo Responsorial: 33
R. Saboreai e vede como o Senhor é bom.

A toda a hora bendirei o Senhor, o seu louvor estará sempre na minha boca. A minha alma gloria-se no Senhor: escutem e alegrem-se os humildes.

Enaltecei comigo ao Senhor e exaltemos juntos o seu nome. Procurei o Senhor e Ele atendeu-me, libertou-me de toda a ansiedade.

Voltai-vos para Ele e ficareis radiantes, o vosso rosto não se cobrirá de vergonha. Este pobre clamou e o Senhor o ouviu, salvou-o de todas as angústias.

2ª Leitura (2Cor 5,17-21): Irmãos: Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. As coisas antigas passaram; tudo foi renovado. Tudo isto vem de Deus, que por Cristo nos reconciliou consigo e nos confiou o ministério da reconciliação. Na verdade, é Deus que em Cristo reconcilia o mundo consigo, não levando em conta as faltas dos homens e confiando-nos a palavra da reconciliação. Nós somos, portanto, embaixadores de Cristo; é Deus quem vos exorta por nosso intermédio. Nós vos pedimos em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus. A Cristo, que não conhecera o pecado, Deus identificou-O com o pecado por causa de nós, para que em Cristo nos tornemos justiça de Deus.

Vou partir, vou ter com meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti.

Evangelho (Lc 15,1-3.11-32): Todos os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar. Os fariseus e os escribas, porém, murmuravam contra ele. «Este homem acolhe os pecadores e come com eles». Então ele contou-lhes esta parábola: E Jesus continuou. «Um homem tinha dois filhos. O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada. Quando tinha esbanjado tudo o que possuía, chegou uma grande fome àquela região, e ele começou a passar necessidade. Então, foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu sítio cuidar dos porcos. Ele queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam. Então caiu em si e disse: “Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. Vou voltar para meu pai e dizer-lhe: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados’.  Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e foi tomado de compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e o cobriu de beijos. O filho, então, lhe disse: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos empregados: ‘Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. Colocai-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei um novilho gordo e matai-o, para comermos e festejarmos. Pois este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’. E começaram a festa.  O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. Ele respondeu: ‘É teu irmão que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque recuperou seu filho são e salvo’. Mas ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai, saindo, insistiu com ele. Ele, porém, respondeu ao pai: ‘Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. Mas quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com as prostitutas, matas para ele o novilho gordo’. Então o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado’».

«Pai, pequei contra Deus e contra ti»

Rev. D. Joan Ant. MATEO i García (La Fuliola, Lleida, Espanha)

Hoje, domingo Laetare (“Exultai”), quarto da Quaresma, escutamos este fragmento íntimo do Evangelho segundo São Lucas, no que Jesus justifica a sua pratica inaudita de perdoar os pecados e recuperar os homens para Deus.

Sempre me perguntei se a maioria das pessoas entendia bem a expressão “o filho pródigo” com a qual se designa esta parábola. Penso que devíamos rebatizá-la com o nome da parábola do “Pai prodigioso”.

Efetivamente, o Pai da parábola — que se comove ao ver que volta aquele filho perdido pelo pecado— é um ícone do Pai do Céu refletido no rosto de Cristo: «Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e foi tomado de compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e o cobriu de beijos» (Lc 15, 20). Jesus dá-nos a entender claramente que todo o homem, inclusive o mais pecador, é para Deus uma realidade muito importante que não quer perder de nenhuma maneira; e que Ele está sempre disposto a conceder-nos com gozo inefável o seu perdão (até ao ponto de não poupar a vida de seu Filho).

Este domingo tem um matiz de serena alegria e, por isso, é designado como o domingo “exultai”, palavra presente na antífona de entrada da Missa de hoje: «Alegra-te, Jerusalém; rejubilai, todos os seus amigos. Exultai de alegria». Deus compadeceu-se do homem perdido e extraviado, e manifestou-lhe em Jesus Cristo – morto e ressuscitado – a sua misericórdia.

João Paulo II dizia na sua encíclica Deves in misericórdia que o amor de Deus, numa história ferida pelo pecado, converteu-se em misericórdia, compaixão. A Paixão de Jesus é a medida desta misericórdia. Assim entendemos que a alegria maior que damos a Deus é deixar-nos perdoar apresentando à sua misericórdia a nossa miséria, o nosso pecado. Às portas da Páscoa acudimos de bom grado ao sacramento da penitência, a sua fonte da divina misericórdia: daremos a Deus uma grande alegria, ficaremos cheios de paz e seremos mais misericordiosos com os outros. Nunca é tarde para nos levantarmos e voltar para o Pai que nos ama!

Tiremos ao proscênio da nossa vida os personagens da parábola, sob a inspiração de alguns Santos Padres da Igreja.

Pe. Antonio Rivero L.C.

O Papa Francisco diz na sua carta “Misericordiae vultus”: “Nas parábolas dedicadas à misericórdia, Jesus revela a natureza de Deus como a de um Pai que jamais se dá por vencido até que não tenha dissolvido o pecado e superado a rejeição com a compaixão e a misericórdia. Conhecemos estas parábolas; três em particular: a da ovelha perdida e da moeda extraviada, e a do pai e os dois filhos (cf. Lc 15,1-32). Nestas parábolas, Deus se apresenta sempre cheio de alegria, sobretudo quando perdoa. Nelas encontramos o núcleo do Evangelho e da nossa fé, porque a misericórdia se mostra como a força que vence tudo, que enche de amor o coração e que consola com o perdão” (n.9). O homem que teve dois filhos é Deus, que tem dois povos. O filho maior é o povo judeu; o menor, o gentil. A herança recebida do pai é a inteligência, a mente, a memória, o engenho e tudo aquilo que Deus nos deu para que conhecêssemos e louvássemos. 

Em primeiro lugar, o filho menor. É o povo gentil. Afastou-se da casa do Pai rumo a uma região longínqua, para esbanjar o tesouro e dissipar a herança que Deus prodigamente lhe tinha confiado. E lá nessa região do pecado a sua imagem e a sua semelhança que o Criador tinha impresso na sua alma foi se escurecendo. Queria uma liberdade sem limites. Deixou-se levar por enganos ilusórios, tratando de saciar a sede de felicidade que se aninhava no seu coração com os prazeres deste mundo. O que aconteceu? Caiu na mais profunda degradação espiritual moral existencial. Dois elementos foram fundamentais para voltar para casa: a reflexão e o sentido da família na formação espiritual dos filhos. Primeiro, a reflexão. Este filho menor refletiu. Deus permite a nossa miséria para que, voltando sobre nós mesmos, experimentando a nossa indigência, sintamos saudade da casa do Pai e voltemos ao único Bem que pode apagar a nossa sede de infinito. “Fizestes-nos, Senhor, para Vós, e os nosso coração está inquieto até não descansar em Vós” (Santo Agostinho, Confissões, I, 1). Será a reflexão sobre os nossos passos que nos permitirá conhecer-nos melhor à luz de Deus, confessando assim a nossa miséria. Santa Teresa de Jesus, mestra do diálogo entre a alma e Deus, dizia que o primeiro passo da vida de oração era conhecer-se à luz de Deus. E segundo, o sentido da família. Se este filho menor decide voltar é porque na casa do seu Pai sente segurança, o amor e a ternura do seu Pai, ademais das comodidades que lhe brindava a vida familiar. Atenção aos pais de família para que encham os seus filhos de carinho, calor e abraços, para que não se deixem levar das exigências da carne e dos paraísos enganosos da droga e das falsas ideologias! É na família onde se semeiam as primeiras sementes da fé se formam os hábitos que libertam os filhos da escravidão interior.  

Em segundo lugar, o filho maior. É o povo judeu cumpridor da lei, fiel à Aliança divina, guiado pelos Patriarcas e Profetas. Porém, pouco a pouco, um verme foi carcomendo esta fidelidade, o pior dos males, a soberba. Esquecendo que a eleição divina era um dom gratuito, e não algo que lhe era devido em justiça, começou a desprezar aqueles que tinham ido a regiões longínquas. Perdeu o sentido universal da sua missão, enterrou o talento que lhe tinha sido confiado, sem fazê-lo produzir para o bem de todos. Povo este sem misericórdia e despiedado com quem não cumpriam ao pé da letra o que eles consideravam a lei de Deus. Pensavam ter direitos diante do seu pai. Achavam que eram justos. À soberba e presunção do mérito próprio, juntaram o ressentimento, a inveja, a ira, a tristeza interior. Que pena, pois este filho maior veio para quebrar a sinfonia maravilhosa da casa e não quis entrar na festa da misericórdia!

Finalmente, o Pai misericordioso. Misericordioso com o filho menor e com o maior, também. Com os dois usou da sua infinita misericórdia. Com o filho menor, misericórdia concretizada nestes detalhes: respeita a liberdade, sabe esperar com paciência o tempo da maduração do seu filho, recebe-o com júbilo e esplendidez, e o restitui na sua dignidade humana e espiritual. Com o filho maior, misericórdia concretizada nestes detalhes: sai para chamar o filho, convida-o à festa comum, suporta a humilhação do seu filho ao jogar na sua cara tanta misericórdia com o menor, e lhe diz que em casa não é escravo, mas filho, e que pode dispor dos bens da família. Derramou lágrimas de alegria, sim, pela volta do filho menor, mas também de tristeza e pena, pelo filho maior.

Bta Joana de Toulouse
Virgem de nossa Ordem
1ª Irmã Terceira Carmelita
Para refletir: Sou consciente da luta e violência terrível que o demônio e o espirito do mundo desatam contra a família, contra a pureza do amor humano tal qual Deus os criou e redimiu em Cristo, contra a inocência das crianças despertando neles a desconfiança aos seus pais e à toda autoridade legítima, propondo “novos mestres”, falando de amor livre, de divórcio, chamando normais condutas destrutivas para a família, manipulando a vida humana pelos abusos da engenharia genética? Com qual dos dois filhos me identifico? Tenho coração misericordioso como esse pai da parábola?

Para rezar: Nunca melhor do que hoje para rezar o ato de contrição: “Meu Senhor Jesus Cristo! Deus e Homem verdadeiro, Criador, Pai e Redentor meu; por ser Vós quem sois, Bondade infinita, e porque vos amo sobre todas as coisas, pesa-me de todo coração ter-vos ofendido; também me pesa porque podeis me castigar com as penas do inferno. Ajudado pela vossa divina graça, proponho firmemente nunca mais pecar, confessar-me e cumprir a penitencia que for imposta. Amém”. Ou estas linhas de Santa Faustina Kowalska: “Desejo me transformar na vossa misericórdia e ser um vivo reflexo de Vós, ó Senhor. Que este maior atributo de Deus, isto é a sua insondável misericórdia, passe através do meu coração e da minha alma ao próximo. Ajudai-me, Senhor, para que o meu coração seja misericordioso, para que eu sinta todos os sofrimentos do meu próximo. A ninguém recusarei o meu coração. Serei sincera inclusive com aqueles dos quais sei que abusarão da minha bondade. E eu mesmo me fecharei no misericordiosíssimo Coração de Jesus. Suportarei os meus próprios sofrimentos em silêncio. Que a vossa misericórdia, xodó Senhor, repouse dentro de mim. Meu Jesus, transformai-me em Vós porque Vós podeis tudo. Amém”. (Diário 163). 

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org

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