S. Cláudio la Colombière, presbítero |
1ª Leitura (Gn 3,1-8):
A serpente era o mais astuto de todos os
animais dos campos que o Senhor tinha feito. Ela disse à mulher: «É verdade que
Deus vos disse: ‘Não podeis comer fruto de nenhuma árvore do jardim’?». A
mulher respondeu à serpente: «Nós podemos comer do fruto das árvores do jardim.
Mas sobre o fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: ‘Não podeis
comer dele nem tocar-lhe, senão morrereis’». A serpente disse então à mulher:
«Não, não morrereis. Mas Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, os vossos
olhos se abrirão e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal». A mulher
reparou então que a árvore era boa para comer, agradável à vista e desejável
para adquirir conhecimento. Colheu do seu fruto, comeu-o e deu-o a seu marido
que estava junto dela e ele também comeu. Então abriram-se os olhos aos dois e
perceberam que estavam nus. Por isso entrelaçaram folhas de figueira e
cingiram-se com elas. Mas ao ouvirem os passos do Senhor Deus, que passeava no
jardim pela brisa da tarde, o homem e a mulher esconderam-se do Senhor Deus
entre as árvores do jardim.
Salmo Responsorial: 31
R.
Feliz o que foi absolvido do seu pecado.
Feliz daquele a quem
foi perdoada a culpa e absolvido o pecado. Feliz o homem a quem o Senhor não
acusa de iniquidade e em cujo espírito não há engano.
Confessei-vos o meu
pecado e não escondi a minha culpa. Disse: Vou confessar ao Senhor a minha
falta e logo me perdoastes a culpa do pecado.
Por isso a Vós se
dirige todo o fiel no tempo da tribulação. Quando se transbordarem as águas
caudalosas, só a ele não hão de atingir.
Vós sois o meu
refúgio, defendei-me dos perigos, fazei que à minha volta só haja hinos de
vitória.
Aleluia. Abri, Senhor, o nosso
coração, para recebermos a palavra do vosso Filho. Aleluia.
Evangelho (Mc 7,31-37):
Jesus deixou de novo a região de Tiro,
passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da
Decápole. Trouxeram-lhe, então, um homem que era surdo e mal podia falar, e
pediram que impusesse as mãos sobre ele. Levando-o à parte, longe da multidão,
Jesus pôs os dedos nos seus ouvidos, cuspiu, e com a saliva tocou-lhe a língua.
Olhando para o céu, suspirou e disse: «Efatá!» — que quer dizer: «Abre-te». Imediatamente, os ouvidos do homem se abriram,
sua língua soltou-se e ele começou a falar corretamente. Jesus recomendou, com
insistência, que não contassem o ocorrido para ninguém. Contudo, quanto mais
ele insistia, mais eles o anunciavam. Cheios de grande admiração, diziam: «Tudo
ele tem feito bem. Faz os surdos ouvirem e os mudos falarem».
«Tudo ele tem feito bem»
Rev.
D. Joan MARQUÉS i Suriñach (Vilamarí, Girona, Espanha)
Hoje o Evangelho
apresenta-nos um milagre de Jesus: fez voltar a ouvir e destravou a língua a um
surdo. A gente ficou admirada e dizia: «Tudo ele tem feito bem» (Mc 7,37).
Esta é a biografia de
Jesus feita pelos seus contemporâneos. Uma biografia curta e completa. Quem é
Jesus? É aquele que tudo tem feito bem. No duplo sentido da palavra: no que e
no como, na substância e na maneira. É aquele que só fez boas obras, e que
realizou bem as boas obras, de uma maneira perfeita, bem acabada. Jesus é uma
pessoa que tudo faz bem, por que só faz ações boas e aquilo que faz deixa-o
acabado. Não entrega nada a meio fazer; e não espera a depois para terminar.
Procure também você
deixar as coisas totalmente terminadas agora: a oração; o trato com os
familiares e as outras pessoas; o trabalho; o apostolado; a formação espiritual
e profissional; etc. Seja exigente consigo mesmo, e seja também exigente,
suavemente com quem depende de você. Não tolere trabalhos mal feitos. Deus não
gosta e incomodam ao próximo. Não tenha essa atitude para ficar bem, nem porque
é o que más rende, humanamente; senão porque a Deus não lhe agradam as obras
más nem as obras “boas” mal feitas. A Sagrada Escritura afirma: «Suas obras são
perfeitas» (Dt 32,4). E o Senhor através de Moisés, manifesta ao Povo de
Israel: «Nenhuma coisa, porém, que tiver defeito oferecereis, porque não será
aceita a vosso favor» (Lv 22,20). Pede a ajuda maternal da Virgem Maria. Ela,
como Jesus, também fez tudo bem feito.
São Josemaria
oferece-nos o segredo para consegui-lo: «Faz o que deves e está no que fazes».
É essa a sua maneira de atuar?
Reflexões de Frei Carlos Mesters,
O.Carm
No evangelho de hoje,
Jesus cura um surdo que gaguejava. Este episódio é pouco conhecido. No episódio
da Mulher Cananéia, Jesus ultrapassou as fronteiras do território nacional e
acolheu uma mulher estrangeira que não era do povo e com a qual era proibido
conversar. A mesma abertura continua no evangelho de hoje.
*
Marcos 7,31. A região da Decápole
“Jesus saiu de novo da
região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia,
atravessando a região da Decápole”. Decápole significa, literalmente, Dez
Cidades. Era uma região de dez cidades ao sudeste da Galileia, cuja população
era pagã.
*
Marcos 7,31-35. Abrir o ouvido e soltar a língua.
Um surdo gago é levado
a Jesus. O jeito de curar é diferente. O povo queria que Jesus apenas impusesse
as mãos sobre ele. Mas Jesus foi muito além do pedido. Ele levou o homem para
longe da multidão, colocou os dedos nas orelhas e com saliva tocou na língua,
olhou para o céu, fez um suspiro profundo e disse: “Éfata!”, isto é, “Abra-se!”
No mesmo instante, os ouvidos do surdo se abriram, a língua se desprendeu e o
homem começou a falar corretamente. Jesus quer que o povo abra o ouvido e solte
a língua!
*
Marcos 7,36-37: Jesus não quer publicidade.
“Jesus recomendou com
insistência que não contassem nada a ninguém. No entanto, quanto mais ele
recomendava, mais eles pregavam. Estavam muito impressionados e diziam:
"Jesus faz bem todas as coisas. Faz os surdos ouvir e os mudos
falar". Ele proíbe a divulgação da cura, mas não adiantou. Quem teve
experiência de Jesus, vai contar para os outros, queira ou não queira! As
pessoas que assistiram à cura começaram a proclamar o que tinham visto e
resumiram a Boa Notícia assim: "Jesus faz bem todas as coisas. Faz os surdos
ouvir e os mudos falar". Esta afirmação do povo faz lembrar a criação,
onde se diz: “Deus viu que tudo era muito bom!”(Gn 1,31). E evoca ainda a
profecia de Isaías, onde este diz que no futuro os surdos vão ouvir e os mudos vão
falar (Is 29,28; 35,5. cf. Mt 11,5).
*
A recomendação de não contar nada a ninguém.
Às vezes, se exagera a
atenção que o evangelho de Marcos atribui à proibição de divulgar a cura, como
se Jesus tivesse um segredo a ser preservado. Na maioria das vezes que Jesus
faz um milagre, ele não pede silêncio. Uma vez até pediu publicidade (Mc 5,19).
Algumas vezes, porém, ele dá ordem para não divulgar a cura (Mc 1,44; 5,43;
7,36; 8,26), mas ele obtém o resultado contrário. Quanto mais proíbe, tanto
mais a Boa Nova se espalha (Mc 1,28.45; 3,7-8; 7,36-37). Não adianta proibir!
Pois a força interna da Boa Nova é tão grande que ela se divulga por si mesma!
*
Abertura crescente no evangelho de Marcos
Ao longo das páginas
do evangelho de Marcos há uma abertura crescente em direção aos outros povos.
Assim, Marcos leva os leitores e as leitoras a abrir-se, aos poucos, para a
realidade do mundo ao redor e a superar os preconceitos que impediam a
convivência pacífica entre os povos. Na sua passagem pela Decápole, região pagã,
Jesus atende ao pedido do povo do lugar e cura um surdo gago. Ele não tem medo
de contaminar-se com a impureza de um pagão, pois ao curá-lo, toca-lhe os
ouvidos e a língua. Enquanto as autoridades dos judeus e os próprios discípulos
têm dificuldades de escutar e entender, um pagão que era surdo e gago passa a
ouvir e a falar pelo toque de Jesus. Lembra o cântico do servo “O Senhor Iahweh
abriu-me os ouvidos e eu não fui rebelde” (Is 50,4-5). Ao expulsar os
vendedores do templo, Jesus critica o comércio injusto e afirma que o templo
deve ser casa de oração para todos os povos (Mc 11,17). Na parábola dos
vinhateiros homicidas, Marcos faz alusão ao fato de que a mensagem será tirada
do povo eleito, os judeus, e será dada aos outros, aos pagãos (Mc 12,1-12).
Depois da morte de Jesus, Marcos apresenta a profissão de fé de um pagão ao pé
da cruz. Ao citar o centurião romano e seu reconhecimento de Jesus como Filho
de Deus, está dizendo que o pagão é mais fiel do que os discípulos e mais fiel
do que os judeus (Mc 15,39). A abertura para os pagãos aparece de maneira muito
clara na ordem final dada por Jesus aos discípulos, depois da sua ressurreição:
”Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15).
Para
um confronto pessoal
1. Jesus teve muita abertura para as
pessoas de outra raça, de outra religião e de outros costumes. Será que nós
cristãos hoje temos a mesma abertura? Será que eu tenho?
2. Definição da Boa Nova: “Jesus fez
bem todas as coisas!” Sou Boa Nova de Deus para os outros?
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