Sto André Corsini, Bispo |
1ª Leitura (1Jo
4,11-18):
Caríssimos:
Se Deus nos amou tanto, também nós devemos amar-nos uns aos outros. A Deus
ninguém jamais O viu. Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e em
nós o seu amor é perfeito. Nisto conhecemos que estamos n’Ele e Ele em nós:
porque nos deu o seu Espírito. E nós vimos e damos testemunho de que o Pai
enviou o seu Filho como Salvador do mundo. Se alguém confessar que Jesus é o
Filho de Deus, Deus permanece nele e ele em Deus. Nós conhecemos o amor de Deus
por nós e acreditamos no seu amor. Deus é amor: quem permanece no amor
permanece em Deus e Deus nele. Nisto se realiza a perfeição do amor de Deus em
nós, porque somos neste mundo como é Jesus e assim temos plena confiança no dia
do juízo. No amor não há temor; o amor que é perfeito expulsa o temor, porque o
temor supõe um castigo. Quem teme não é perfeito no amor.
Salmo Responsorial: 71
R. Virão adorar-Vos, Senhor, todos
os povos da terra.
Deus,
concedei ao rei o poder de julgar e a vossa justiça ao filho do rei. Ele
governará o vosso povo com justiça e os vossos pobres com equidade.
Os reis de
Társis e das ilhas virão com presentes, os reis da Arábia e de Sabá trarão suas
ofertas. Prostrar-se-ão diante dele todos os reis, todos os povos o hão de
servir.
Socorrerá o
pobre que pede auxílio e o miserável que não tem amparo. Terá compaixão dos
fracos e dos pobres e defenderá a vida dos oprimidos.
Aleluia. Glória a Vós,
Jesus Cristo, anunciado aos gentios; glória a Vós, Jesus Cristo, acreditado no mundo. Aleluia.
Evangelho (Mc 6,45-52): Logo em seguida, Jesus mandou que os
discípulos entrassem no barco e fossem na frente para Betsaida, na outra
margem, enquanto ele mesmo despediria a multidão. Depois de os despedir, subiu
a montanha para orar. Já era noite, o barco estava no meio do mar e Jesus,
sozinho, em terra. Vendo-os com dificuldade no remar, porque o vento era
contrário, nas últimas horas da noite, foi até eles, andando sobre as águas; e
queria passar adiante. Quando os discípulos o viram andar sobre o mar, acharam
que fosse um fantasma e começaram a gritar. Todos o tinham visto e ficaram
apavorados. Mas ele logo falou: «Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!» Ele subiu
no barco, juntando-se a eles, e o vento cessou. Mas os discípulos ficaram ainda
mais espantados. De fato, não tinham compreendido nada a respeito dos pães. O
coração deles continuava sem entender.
«O Espírito do Senhor
está sobre mim, pois ele me consagrou com a unção»
Rev. D. Llucià POU i Sabater (Granada, Espanha)
Hoje
lembramos que «quem ama a Deus, ame também seu irmão» (1Jo 4,21). Como
poderíamos amar a Deus a quem não vemos, se não amamos a quem vemos, imagem de
Deus? Depois que São Pedro renegara, Jesus lhe perguntou se o amava: «Senhor,
tu sabes tudo; tu sabes que te amo» (Jo 21,17), respondeu. Como a São Pedro,
também Jesus nos pergunta: «Tu me amas?»;e queremos lhe responder agora mesmo:
«Tu o sabes tudo, Senhor, tu sabes que te amo apesar de minhas deficiências;
mas, ajuda-me a demonstrar-te; ajuda-me a descobrir as necessidades de meus
irmãos, a me entregar de verdade aos outros, a aceita-los tal como são, a
valorizá-los».
A vocação
do homem é o amor, é vocação a se entregar, procurando a felicidade do outro e,
assim encontrar a própria felicidade. Como diz São João da Cruz, «No crepúsculo
da vida, seremos julgados no amor». Vale a pena que nos perguntemos ao terminar
cada jornada, cada dia, num breve exame de consciência, com foi este amor e,
pontualizar algum aspecto a melhorar para o dia seguinte.
«O Espírito
do Senhor está sobre mim» (Lc 4,18), dirá Jesus, fazendo seu este texto
messiânico. É o Espírito do Amor que assim como fez o do Messias a «que
consagrou com a unção, para anunciar a Boa Nova aos pobres» (cf. Lc 4,18),
também “repousa” sobre nós e nos conduz até o amor perfeito: Como diz o
Concilio Vaticano II: «Todos os fiéis cristãos, de qualquer estado ou ordem,
são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade». O Espírito
Santo nos transformará como fez com os Apóstolos, para que possamos agir sob
sua moção, nos outorgando seus frutos e, assim levá-los a todos os corações: «O
fruto do Espírito, porém, é: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade,
bondade, lealdade, mansidão, domínio próprio» (Gal 5,22-23).
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm
* Depois da multiplicação dos pães (evangelho de ontem),
Jesus obriga os discípulos a entrar no barco. Por que? Marcos não explica. O
evangelho de João informa o seguinte. De acordo com a esperança da época, o
Messias iria repetir o gesto de Moisés de alimentar o povo no deserto. Por
isso, diante da multiplicação dos pães, o povo concluiu que Jesus devia ser o
messias esperado, anunciado por Moisés (cf. Dt 18,15-18) e quis fazer dele um
rei (cf. Jo 6,14-15). Este apelo do povo era uma tentação tanto para Jesus como
para os discípulos. Por isso, Jesus obrigou-os a embarcar. Queria evitar que
eles se contaminassem com a ideologia dominante, pois o “fermento de Herodes e
dos fariseus”, era muito forte (Mc 8,15). Jesus, ele mesmo, enfrenta a tentação
por meio da oração.
* Marcos descreve com arte os acontecimentos. De um
lado, Jesus sobe o monte para rezar. De outro lado, os discípulos descem para o
mar e entram no barco. Parece até um quadro simbólico que prefigura o futuro: é
como se Jesus já subisse para o céu, deixando os discípulos sozinhos em meio às
contradições da vida, no barquinho frágil da comunidade. Era noite. Eles
estavam em alto mar, todos juntos num pequeno barco, querendo avançar remando,
mas o vento era contrário. Estavam cansados. Já era a quarta vigília, isto é,
entre 3 e 6 da madrugada. As comunidades do tempo de Marcos eram como os
discípulos. Noite! Vento contrário! Não conseguiam nada, apesar de todo o
esforço que faziam! Jesus parecia ausente! Mas ele estava presente e vinha até
elas, mas elas, como os discípulos de Emaús, não o reconheciam (Lc 24,16).
* No tempo de Marcos, em torno do ano 70, o barquinho
das comunidades enfrentava o vento contrário tanto de alguns judeus convertidos
que queriam reduzir o mistério de Jesus ao tamanho das profecias e figuras do
Antigo Testamento, como de alguns pagãos convertidos que pensavam ser possível
uma certa aliança da fé em Jesus com o império. Marcos procura ajudar os
cristãos a respeitar o mistério de Jesus e a não querer reduzir Jesus ao
tamanho dos próprios desejos e ideias.
* Jesus chega andando sobre as águas do mar da vida.
Eles gritam de medo, porque pensam que se trata de um fantasma. Como na
história dos discípulos de Emaús, Jesus faz de conta que quer seguir adiante
(Lc 24,28). Mas o grito deles faz com que ele mude de rumo, se aproxime deles e
diga: “Calma, gente! Sou eu! Não tenham medo!” Aqui, de novo, quem conhece a
história do Antigo Testamento, lembra alguns fatos muito importantes:
(1)
Lembra como o povo, protegido por Deus, atravessou sem medo o Mar Vermelho.
(2)
Lembra como Deus, ao chamar Moisés, declarou várias vezes o seu nome dizendo:
“Sou eu!” (cf. Ex 3,15).
(3) Lembra ainda o livro de Isaías que apresenta o
retorno do exílio como um novo êxodo, onde Deus aparece repetindo inúmeras
vezes: “Sou eu!” (cf. Is 42,8; 43,5.11-13; 44,6.25; 45,5-7).
Esta maneira de
evocar o Antigo Testamento, de usar a Bíblia, ajudava as comunidades a perceber
melhor a presença de Deus em Jesus e nos fatos da vida. Não tenham medo!
* Jesus sobe no barco e o vento pára. Mas o espanto dos
discípulos, em vez de terminar, aumenta. O próprio evangelista Marcos faz um
comentário crítico e diz: “Eles não tinham entendido nada a respeito dos pães.
O coração deles estava endurecido” (6,52). A afirmação coração endurecido evoca
o coração endurecido do faraó (Ex 7,3.13.22) e do povo no deserto (Sl 95,8) que
não queria ouvir Moisés e só pensava em voltar para o Egito (Nm 20,2-10), onde
havia pão e carne com fartura (Ex 16,3).
Para um confronto pessoal
1. Noite, mar agitado, vento contrário! Você já se sentiu
assim alguma vez? Como fez para vencer?
2. Você já se espantou alguma vez porque não reconheceu
Jesus presente e atuante em sua vida?
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