S. Rafael de São José (Kalinowski) Presbítero de nossa Ordem |
1ª Leitura (Ap 1,1-4; 2,1-5a): Revelação de Jesus Cristo, que Deus Lhe concedeu para mostrar aos seus servos o que há de acontecer muito em breve. Ele deu-o a conhecer ao seu servo João, pelo Anjo que enviou, e João confirma a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, em tudo o que viu. Feliz de quem ler e dos que ouvirem as palavras desta profecia e observarem o que nela está escrito, porque o tempo está próximo. João às sete Igrejas da Ásia: A graça e a paz vos sejam dadas por Aquele que é, que era e que há de vir, e pelos sete Espíritos que estão diante do seu trono. Eu ouvi o Senhor que me dizia: «Ao Anjo da Igreja de Éfeso, escreve: ‘Eis o que diz Aquele que tem as sete estrelas na sua mão direita e caminha no meio dos sete candelabros de ouro: Conheço as tuas obras, o teu trabalho e a tua perseverança. Sei que não podes suportar os maus, que puseste à prova aqueles que se dizem apóstolos sem o serem e descobriste que eram mentirosos. Tens perseverança e sofreste pelo meu nome, sem desanimar. Mas tenho contra ti que perdeste a tua caridade primitiva. Lembra-te de onde caíste, arrepende-te e pratica as obras anteriores».
Salmo Responsorial: 1
R. Ao vencedor darei a comer da
árvore da vida.
Feliz o
homem que não segue o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos
pecadores, mas antes se compraz na lei do Senhor, e nela medita dia e noite.
É como
árvore plantada à beira das águas: dá fruto a seu tempo e sua folhagem não
murcha. Tudo quanto fizer será bem sucedido.
Bem
diferente é a sorte dos ímpios: são como palha que o vento leva. O Senhor vela
pelo caminho dos justos, mas o caminho dos pecadores leva à perdição.
Aleluia. Eu sou a luz
do mundo, diz o Senhor; quem Me segue terá a luz da vida. Aleluia.
Evangelho (Lc
18,35-43): Naquele tempo, quando Jesus se aproximou
de Jericó, um cego estava sentado à beira do caminho, pedindo esmola. Ouvindo a
multidão passar, perguntou o que estava acontecendo. Disseram-lhe: «Jesus
Nazareno está passando». O cego então gritou: «Jesus, Filho de Davi, tem
compaixão de mim!» As pessoas que iam na frente mandavam que ele ficasse
calado. Mas ele gritava mais ainda: «Filho de Davi, tem compaixão de mim!»
Jesus parou e mandou que lhe trouxessem o cego. Quando ele chegou perto, Jesus
perguntou: «Que queres que eu te faça?» O cego respondeu: «Senhor, que eu
veja». Jesus disse: «Vê! A tua fé te salvou». No mesmo instante, o cego começou
a enxergar de novo e foi seguindo Jesus, glorificando a Deus. Vendo isso, todo
o povo deu glória a Deus».
«A tua fé te salvou»
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès,
Barcelona, Espanha)
Hoje o cego
Bartimeu (cf. Mc 10,46) dá-nos toda uma lição de fé, manifestada com franca
simplicidade perante Cristo. Quantas vezes nos seria útil repetir a mesma
exclamação de Bartimeu: «Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!» (Lc
18,37). É tão proveitoso para a nossa alma sentir-nos indigentes! O fato é que
o somos, mas, infelizmente, poucas vezes o reconhecemos de verdade. E....,
claro está: fazemos o ridículo. São Paulo adverte-nos: «Que tens que não tenhas
recebido? Mas, se recebeste tudo que tens, por que, então, te glorias, como se
não o tivesses recebido?» (1Cor 4,7).
Bartimeu
não tem vergonha de se sentir assim. Em não poucas ocasiões, a sociedade, a
cultura do politicamente correto querem fazer-nos calar: com Bartimeu não o
conseguiram. Ele não se encolheu. Apesar de o «mandarem ficar calado, (...) ele
gritava mais ainda: Filho de Davi, tem compaixão de mim!» (Lc 18,39). Que
maravilha! Apetece dizer: —Obrigado, Bartimeu, por esse exemplo.
E vale a
pena fazê-lo como ele, porque Jesus ouve. E ouve sempre! Por mais confusão que
alguns organizem à nossa roda. A confiança simples -sem preconceitos- de
Bartimeu desarma Jesus e rouba-lhe o coração: «Mandou que lhe trouxessem o cego
e (...) perguntou-lhe: «Que queres que eu te faça?» (Lc 18,40-41). Perante
tanta fé, Jesus não anda com rodeios! E Bartimeu também não: «Senhor, que eu
veja!» (Lc 18,41). Dito e feito: «Vê! A tua fé te salvou» (Lc 18,42). Assim,
pois, —a fé, se é forte, defende toda a casa— (Santo Ambrósio), quer dizer,
tudo pode.
Ele é tudo;
Ele dá-nos tudo. Então, que outra coisa podemos fazer perante Ele, se não lhe
dar uma resposta de fé? E esta resposta de fé equivale a deixar-se encontrar
por este Deus que —movido pelo afeto de Pai— nos procura sempre. Deus não se
impõe, mas passa frequentemente muito perto de nós: aprendamos a lição de
Bartimeu e ... Não o deixemos passar ao largo!
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
* O
evangelho de hoje descreve a chegada de Jesus em Jericó. É a última parada
antes da subida para Jerusalém, onde será realizado o “êxodo” de Jesus conforme
tinha sido anunciado na sua Transfiguração (Lc 9,31) e nos avisos ao longo da
caminhada até Jerusalém (Lc 9,44; 18,31-33).
* Lucas 18,35-37: O cego à beira da
estrada
“Quando
Jesus se aproximava de Jericó, um cego estava sentado à beira do caminho,
pedindo esmolas. Ouvindo a multidão passar, ele perguntou o que estava
acontecendo. Disseram-lhe que Jesus Nazareno passava por ali”. No evangelho de
Marcos, o cego se chama Bartimeu (Mc 10,46). Por ser cego, ele não podia
participar da procissão que acompanhava Jesus. Naquele tempo, havia muitos
cegos na Palestina, pois o sol forte que bate na terra pedregosa embranquecida
fazia mal aos olhos sem proteção.
* Lucas 18,38-39: O grito do cego e
a reação do povo
“Então o
cego gritou: "Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!" Ele invoca
Jesus sob o título de “Filho de Davi”. O catecismo daquela época ensinava que o
messias seria da descendência de Davi, “filho de Davi”, messias glorioso. Jesus
não gostava deste título. Citando o salmo messiânico, ele chegou a perguntar:
“Como é que o messias pode ser filho de Davi se até o próprio Davi o chama de
“meu Senhor” (Lc 20,41-44)? O grito do cego incomodava o povo que acompanhava
Jesus. Por isso, “as pessoas que iam na frente mandavam que ele ficasse quieto.
Elas tentavam abafar o grito. Mas ele gritava mais ainda: "Filho de Davi,
tem piedade de mim!" Até hoje, o grito dos pobres incomoda a sociedade
estabelecida: migrantes, aidéticos, mendigos, refugiados, tantos!
* Lucas 18,40-41: A reação de Jesus
diante do grito do cego
E Jesus, o
que faz? “Parou, e mandou que levassem o cego até ele. Os que queriam abafar o
grito incômodo do pobre, agora, a pedido de Jesus, são obrigados a ajudar o
pobre a chegar até Jesus. O evangelho de Marcos acrescenta que o cego largou tudo
e foi até Jesus. Não tinha muito. Apenas um manto. Mas era o que tinha para
cobrir o seu corpo (cf. Ex 22,25-26). Era a sua segurança, o seu chão! Também
hoje Jesus escuta o grito calado dos pobres que nós, às vezes, não queremos
escutar. Quando o cego chegou perto, Jesus perguntou: "O que quer que eu
faça por você?" Não basta gritar. Tem que saber por que grita! O cego respondeu: "Senhor, eu quero ver
de novo."
* Lucas 18,42-43: “Veja! Sua fé
curou você!”
Jesus
disse: "Veja. A sua fé curou você." No mesmo instante, o cego começou
a ver e seguia Jesus, glorificando a Deus. Vendo isso, todo o povo louvou a
Deus”. O cego tinha invocado Jesus com ideias não inteiramente corretas, pois o
título “Filho de Davi” não era muito bom. Mas ele teve mais fé em Jesus, do que
nas suas próprias ideias sobre Jesus. Assinou em branco. Não fez exigências
como Pedro (Mc 8,32-33). Soube entregar sua vida aceitando Jesus sem impor
condições. A cura é fruto da sua fé em Jesus. Curado, ele segue Jesus e sobe
com ele para Jerusalém. Deste modo, tornou-se discípulo modelo para todos nós
que queremos “seguir Jesus no caminho” em direção a Jerusalém: acreditar mais
em Jesus do que nas nossas ideias sobre Jesus! Nesta decisão de caminhar com
Jesus está a fonte da coragem e a semente da vitória sobre a cruz. Pois a cruz
não é uma fatalidade, nem uma exigência de Deus. Ela é a consequência do
compromisso de Jesus, em obediência ao Pai, de servir aos irmãos e de recusar o
privilégio.
* A fé é uma força que transforma as
pessoas
A Boa Nova
do Reino anunciada por Jesus era como um fertilizante. Fazia crescer a semente
da vida que estava escondida no povo, escondida como fogo debaixo das cinzas
das observâncias sem vida. Jesus soprou nas cinzas e o fogo acendeu, o Reino
desabrochou e o povo se alegrou. A condição era sempre a mesma: crer em Jesus.
A cura do cego esclarece um aspecto muito importante da nossa fé. Mesmo
invocando Jesus com ideias não inteiramente corretas, o cego teve fé e foi
curado! Converteu-se, largou tudo e seguiu Jesus no caminho para o Calvário! A
compreensão plena do seguimento de Jesus não se obtém pela instrução teórica,
mas sim pelo compromisso prático, caminhando com ele no caminho do serviço,
desde a Galileia até Jerusalém. Quem insiste em manter a ideia de Pedro, isto
é, do Messias glorioso sem a cruz, nada vai entender de Jesus e nunca chegará a
tomar a atitude do verdadeiro discípulo. Quem souber crer em Jesus e fazer a
entrega de si (Lc 9,23-24), aceitar ser o último (Lc 22,26), beber o cálice e
carregar sua cruz (Mt 20,22; Mc 10,38), este, como o cego, mesmo tendo ideias
não inteiramente corretas, conseguirá enxergar e “seguirá Jesus no caminho” (Lc
18,43). Nesta certeza de caminhar com Jesus está a fonte da coragem e a semente
da vitória sobre a cruz.
Para um confronto pessoal
1) Como vejo e sinto o grito dos pobres: migrantes,
negros, aidéticos, mendigos, refugiados, tantos?
2) Como é a minha fé: fixo-me mais nas minhas ideias
sobre Jesus ou em Jesus?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI SEU SUA SUGESTÃO