S. João Crisóstomo, Bispo e Doutor |
1ª Leitura (1Cor 8,1b-7.11-13): Irmãos: A ciência envaidece, ao passo que a caridade edifica. Se alguém
pensa que sabe alguma coisa, ainda não sabe como deve saber. Mas se alguém ama
a Deus, é conhecido por Deus. Sobre a questão de comer carnes imoladas aos
ídolos, bem sabemos que um ídolo não é nada no mundo e que não há senão um
único Deus. Porque, embora digam haver deuses no céu e na terra, – na verdade
são muitos esses deuses e esses senhores – para nós há um só Deus: o Pai, de
quem tudo procede e para o qual fomos criados; e há um só Senhor, Jesus Cristo,
pelo qual tudo existe e pelo qual também nós existimos. Mas nem todos têm esta
ciência. Alguns, habituados até há pouco tempo à idolatria, comem as carnes
imoladas como se estivessem consagradas aos ídolos, e a sua consciência, que é
fraca, fica manchada. Deste modo, pela tua ciência, perecerá o fraco, esse
irmão por quem Cristo morreu! E ao pecardes assim contra esses irmãos, ferindo
a sua consciência, que é fraca, é contra Cristo que pecais. Por isso, se o
alimento se torna para o meu irmão ocasião de pecado, nunca mais comerei carne,
a fim de não ser para ele ocasião de pecado.
Salmo Responsorial: 138
R.
Conduzi-me, Senhor, pelo caminho da eternidade.
Senhor, Vós conheceis
o íntimo do meu ser: sabeis quando me sento e quando me levanto. De longe
penetrais o meu pensamento, observais todos os meus passos.
Vós formastes as
entranhas do meu corpo e me criastes no seio de minha mãe. Dou-Vos graças por
me terdes feito tão maravilhosamente: admiráveis são as vossas obras.
Sondai-me, Senhor, e
vede o meu coração, observai a intimidade dos meus pensamentos. Vede que não
ande pelo mau caminho, conduzi-me pelo caminho da eternidade.
Aleluia. Se nos amarmos uns aos outros,
Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito. Aleluia.
Evangelho (Lc 6,27-38):
Naquele tempo, disse Jesus a seus
discípulos: «A vós, porém, que me escutais, eu digo: amai os vossos inimigos e
fazei o bem aos que vos odeiam. Falai bem dos que falam mal de vós e orai por
aqueles que vos caluniam. Se alguém te bater numa face, oferece também a outra.
E se alguém tomar o teu manto, deixa levar também a túnica. Dá a quem te pedir
e, se alguém tirar do que é teu, não peças de volta. Assim como desejais que os
outros vos tratem, tratai-os do mesmo modo. Se amais somente aqueles que vos
amam, que generosidade é essa? Até os pecadores amam aqueles que os amam. E se
fazeis o bem somente aos que vos fazem o bem, que generosidade é essa? Os
pecadores também agem assim. E se prestais ajuda somente àqueles de quem
esperais receber, que generosidade é essa? Até os pecadores prestam ajuda aos
pecadores, para receberem o equivalente. Amai os vossos inimigos, fazei o bem e
prestai ajuda sem esperar coisa alguma em troca. Então, a vossa recompensa será
grande. Sereis filhos do Altíssimo, porque ele é bondoso também para com os
ingratos e maus. Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso. Não
julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai
e sereis perdoados. Dai e vos será dado. Uma medida boa, socada, sacudida e
transbordante será colocada na dobra da vossa veste, pois a medida que usardes
para os outros, servirá também para vós».
«Sede misericordiosos como vosso Pai
é misericordioso»
Rev.
D. Jaume AYMAR i Ragolta (Badalona, Barcelona, Espanha)
Hoje, no Evangelho, o
Senhor pede-nos duas vezes que amemos os nossos inimigos. E oferece,
seguidamente, três situações concretas e positivas deste mandamento: fazei o
bem aos que vos odeiam, benzei aos que vos maldizem e orai por aqueles que vos
caluniam. É um mandamento que parece difícil de cumprir: como podemos amar os
que não nos amam? Mais ainda, como podemos amar aqueles que temos a certeza de
que nos querem mal? Chegar a amar desta maneira é um dom de Deus, mas é preciso
que estejamos abertos a Ele. Bem pensado, amar os inimigos é humanamente
falando, a coisa mais sábia que podemos fazer: o inimigo amado sente-se
desarmado; amá-lo pode ser condição da possibilidade de deixar de ser inimigo.
Jesus continua nesta mesma linha, dizendo: «Se alguém te bater numa face,
oferece também a outra» (Lc, 6,29). Poderia parecer um excesso de mansidão.
Mas, que fez Jesus quando foi esbofeteado na sua Paixão? Certamente não
contra-atacou, mas respondeu com tal firmeza, cheia de caridade, que deve ter
surpreendido aquele servo irado: «Se falei mal, mostra em que falei mal; e se
falei certo, por que me bates?» (Jo 18,22-23).
Todas as religiões têm
uma máxima de ouro: «Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti».
Jesus é o único que a formula de modo positivo: «Assim como desejais que os
outros vos tratem, tratai-os do mesmo modo» (Lc 6,31). Esta regra de ouro
constitui o fundamento de toda a moral. São João Crisóstomo, comentando este
versículo, ensina-nos: «Ainda há mais, porque Jesus não disse somente: desejai
todo o bem para os outros, mas fazei o bem aos outros»; logo, a máxima de ouro
proposta por Jesus não pode reduzir-se a um mero desejo, mas tem que se
traduzir em obras.
Reflexões de Frei Carlos Mesters,
O.Carm.
*
O evangelho de hoje traz a segunda parte do “Sermão da Planície”. Na primeira parte (Lc 6,20-26),
Jesus se dirigia aos discípulos (Lc 6,20). Na segunda parte (Lc 6,27-49), ele
se dirige “a vocês que me escutam”, isto é, àquela multidão imensa de pobres e
doentes, vinda de todos os lados (Lc 6,17-19).
*
Lucas 6,27-30: Amar os inimigos!
As palavras que Jesus
dirige a este povo são exigentes e difíceis: amar os inimigos, não amaldiçoar,
oferecer a outra face a quem bate no rosto, não reclamar quando alguém toma o
que é nosso. Tomadas ao pé da letra, estas frases parecem favorecer os ricos
que roubam. Mas nem o próprio Jesus as observou ao pé da letra. Quando o
soldado lhe bateu no rosto, não ofereceu a outra face, mas reagiu com firmeza.
“Se falei errado, prove! Se falei certo, porque me bates?” (Jo 18,22-23).
Então, como entender estas palavras? Os versículos seguintes ajudam a entender
o que Jesus quer ensinar.
*
Lucas 6,31-36: A Regra de Ouro! Imitar Deus
Duas frases de Jesus
ajudam a entender o que ele quis ensinar. A primeira frase é a assim chamada
Regra de Ouro: "O que vocês desejam que os outros lhes façam, façam vocês
a eles!” (Lc 6,31). A segunda frase é: "Procurem ser misericordiosos como
o Pai do céu é misericordioso!" (Lc 6,36). Estas duas frases mostram que
Jesus não quer simplesmente virar a mesa ou inverter a situação, pois aí nada
mudaria. Ele quer mudar o sistema. O Novo que ele quer construir vem da nova
experiência de Deus como Pai cheio de ternura que acolhe a todos! As palavras
de ameaça contra os ricos não podem ser ocasião para os pobres se vingarem.
Jesus manda ter a atitude contrária: "Amai os vossos inimigos!" O
amor não pode depender do que eu recebo do outro. O amor verdadeiro deve querer
o bem do outro independentemente do que ele ou ela faz por mim. O amor deve ser
criativo, pois assim é o amor de Deus por nós: "Procurem ser
misericordiosos como o Pai do céu é misericordioso!". Mateus diz a mesma coisa com outras palavras:
“Sede perfeitos como vosso Pai do céu é perfeito” (Mt 5,48). Nunca ninguém
poderá chegar a dizer: Hoje fui perfeito como o Pai do céu é perfeito! Fui
misericordioso como o Pai do céu é misericordioso”. Estaremos sempre abaixo da
medida que Jesus colocou diante de nós.
* No evangelho de Lucas, a Regra de
Ouro diz: "O que vocês desejam que os outros lhes façam, façam vocês a
eles!” (Lc 6,31) O evangelho de Mateus traz uma formulação um pouco diferente:
"Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também
a eles” e acrescenta: “Pois nisso consistem a Lei e os Profetas" (Mt
7,12). Praticamente todas as religiões do mundo inteiro tem a mesma Regra de
ouro com formulações diversas. Sinal de que aqui se expressa uma intuição ou um
desejo universal que nasce do fundo do coração humano.
*
Lucas 6,37-38: A medida que vocês usarem para os outros, será usada para vocês.
"Não julguem, e
vocês não serão julgados; não condenem, e não serão condenados; perdoem, e
serão perdoados. Deem, e será dado a vocês; colocarão nos braços de vocês uma
boa medida, calcada, sacudida, transbordante. Porque a mesma medida que vocês
usarem para os outros, será usada para vocês”. São quatro conselhos: dois na
forma negativa: não julgar, não condenar; e dois na forma positiva: perdoar e
doar com medida abundante. Quando diz “e será dado a vocês”, Jesus alude ao
tratamento que Deus quer ter para conosco. Mas quando a nossa maneira de tratar
os outros é mesquinha, Deus não pode usar para conosco a medida abundante e
transbordante que Ele gostaria de usar.
*
Celebrar a visita de Deus
O Sermão da Planície
ou Sermão da Montanha, desde o seu começo, leva os ouvintes a fazer uma
escolha, uma opção, a favor dos pobres. No Antigo Testamento, várias vezes,
Deus colocou o povo diante da mesma escolha de bênção ou de maldição. Ao povo
era concedida a liberdade para escolher: "Eu lhes propus a vida ou a
morte, a bênção ou a maldição. Escolha, portanto, a vida, para que você e seus
descendentes possam viver" (Dt 30,19). Não é Deus quem condena, mas é o
próprio povo de acordo com a escolha que fará entre a vida e a morte, entre o
bem e o mal. Estes momentos de escolha são os momentos da visita de Deus ao seu
povo (Gn 21,1; 50,24-25; Ex 3,16; 32,34; Jr 29,10; Sl 59,6; Sl 65,10; Sl 80,15,
Sl 106,4). Lucas é o único evangelista a empregar esta imagem da visita de Deus
(Lc 1,68. 78; 7,16; 19,44; At 15,16). Para Lucas Jesus é a visita de Deus que
coloca o povo diante da escolha da bênção ou da maldição: "Felizes vocês,
pobres!" e "Ai de vocês, ricos!" Mas o povo não reconheceu a
visita de Deus (Lc 19,44).
Para
um confronto pessoal
1) Será que nós olhamos a vida e as
pessoas com o mesmo olhar de Jesus?
2) O que quer dizer hoje "ser
misericordioso como o Pai do céu é misericordioso"?
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