B. Ângelo Mazzinghi, Presbítero de nossa Ordem |
1ª
Leitura (Ez 16,1-15.60.63):
O Senhor dirigiu-me a palavra, dizendo:
«Filho do homem, mostra a Jerusalém as suas ações abomináveis e diz-lhe: Assim
fala o Senhor Deus a Jerusalém: Pela tua origem e nascimento, és da terra de
Canaã. O teu pai era amorreu e a tua mãe hitita. Quando nasceste, no dia em que
vieste ao mundo, não te cortaram o cordão, nem te banharam para seres
purificada; não te fizeram as fricções de sal, nem te envolveram em panos.
Ninguém lançou sobre ti um olhar compassivo; ninguém te prestou esses cuidados,
nem teve pena de ti. No dia em que nasceste, foste deixada no meio do campo,
pela repugnância que inspiravas. Quando passei junto de ti, vi que te revolvias
no teu sangue. E, vendo-te ensanguentada, Eu disse-te: ‘Quero que vivas’; e
fiz-te crescer como a erva dos campos. Cresceste, ganhaste corpo e chegaste à
idade florida. Formaram-se os teus seios, cresceram os teus cabelos, mas
estavas nua. Passei de novo junto de ti e vi que tinhas chegado à idade dos
amores. Estendi sobre ti a aba do meu manto e escondi a tua nudez. Fiz então um
juramento e estabeleci uma aliança contigo, – diz o Senhor Deus – e ficaste a
pertencer-Me. Lavei-te com água, limpei-te do sangue que te cobria e ungi-te
com óleo. Vesti-te com roupas bordadas, calcei-te sandálias de fino cabedal,
dei-te uma faixa de linho e um manto de seda. Adornei-te com joias, coloquei
braceletes nos teus pulsos e um colar ao teu pescoço. Pus-te um anel no nariz,
brincos nas orelhas e um precioso diadema na cabeça. Tinhas adornos de ouro e
de prata, os teus vestidos eram de linho fino, de seda e tecidos bordados, e o
teu alimento era a flor da farinha, mel e azeite. Tornaste-te cada vez mais
bela e chegaste a ser rainha. A tua fama divulgou-se entre as nações, por causa
da tua formosura, que era perfeita, graças ao esplendor com que Eu te tinha
revestido, – diz o Senhor Deus –. Mas tu confiaste na tua beleza e aproveitaste
a tua fama para te prostituires com todos os que passavam. Eu, porém,
lembrar-Me-ei da aliança que fiz contigo nos dias da tua juventude e
estabelecerei contigo uma aliança eterna, de modo que te lembres do passado e
te humilhes e não voltes a abrir a boca de vergonha, quando Eu te perdoar o que
fizeste – diz o Senhor Deus».
Salmo
Responsorial: Is
R. Passou a vossa ira
e Vós me consolastes, Senhor.
Deus
é o meu Salvador, tenho confiança e nada temo. O Senhor é a minha força e o meu
louvor. Ele é a minha salvação.
Tirareis
água com alegria das fontes da salvação. Agradecei ao Senhor, invocai o seu
nome; anunciai aos povos a grandeza das suas obras, proclamai a todos que o seu
nome é santo.
Cantai
ao Senhor, porque Ele fez maravilhas, anunciai-as em toda a terra. Entoai
cânticos de alegria, habitantes de Sião, porque é grande no meio de vós o Santo
de Israel.
Aleluia. Escutai o que
diz o Senhor, não como palavra dos homens, mas como palavra de Deus. Aleluia.
Evangelho
(Mt 19,3-12): Naquele tempo, alguns fariseus
aproximaram-se de Jesus e, para experimentá-lo, perguntaram: «É permitido ao
homem despedir sua mulher por qualquer motivo?». Ele respondeu: «Nunca lestes
que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e disse: Por isso, o
homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois formarão uma só
carne? De modo que eles já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus
uniu, o homem não separe». Perguntaram: «Como então Moisés mandou dar atestado
de divórcio e despedir a mulher?». Jesus respondeu: «Moisés permitiu despedir a
mulher, por causa da dureza do vosso coração. Mas não foi assim desde o
princípio. Ora, eu vos digo: quem despede sua mulher fora o caso de união
ilícita e se casa com outra, comete adultério». Os discípulos disseram-lhe: «Se
a situação do homem com a mulher é assim, é melhor não casar-se». Ele
respondeu: «Nem todos são capazes de entender isso, mas só aqueles a quem é
concedido. De fato, existem homens impossibilitados de casar-se, porque
nasceram assim; outros foram feitos assim por mão humana; outros ainda, por
causa do Reino dos Céus se fizeram incapazes do casamento. Quem puder entender,
entenda».
«Portanto, o que Deus
uniu, o homem não separe»
Fr. Roger J. LANDRY (Hyannis, Massachusetts, Estados
Unidos)
Sta Beatriz da Silva, virgem |
Hoje,
Jesus responde às perguntas dos seus contemporâneos sobre o verdadeiro
significado do matrimônio, ressaltando a indissolubilidade do mesmo.
Sua
resposta, no entanto, também proporciona a base adequada para que nós,
cristãos, possamos responder a aqueles cujos corações teimosos os obrigam a
procurar a ampliação da definição de matrimônio para os casais homossexuais.
Ao
fazer retroceder o matrimônio ao plano original de Deus, Jesus ressalta quatro
aspectos relevantes pelos quais só se pode unir em matrimônio a um homem e uma
mulher:
1)
«O Criador, desde o início, os fez macho e fêmea» (Mt 19,4). Jesus nos ensina
que, no plano divino, a masculinidade e a feminilidade têm um grande significado.
Ignorar, pois, é ignorar o que somos.
2)
«Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe, e se unirá à sua mulher» (Mt
19,5). No plano de Deus não é que o homem abandone os seus pais e vá embora com
quem ele queira, mas sim com uma esposa.
3)
«De maneira que já não são dois, e sim uma só carne» (Mt 19,6). Esta união
corporal vai mais além da pouco duradoura união física que ocorre no ato
conjugal. Refere-se à união duradoura que se apresenta quando um homem e uma
mulher, através do seu amor, concebem uma nova vida que é o matrimônio
perdurável ou união dos seus corpos. Logicamente, que um homem com outro homem,
ou uma mulher com outra mulher, não pode ser considerado um único corpo dessa
maneira.
4)
«Pois o que Deus uniu, o homem não separe» (Mt 19,6). Deus mesmo uniu em
matrimônio ao homem e à mulher e, sempre que tentamos separar o que Ele uniu,
estaremos fazendo por nossa própria conta e por conta da sociedade.
Em
sua catequese sobre Gênesis, o Papa João Paulo II disse: «Em sua resposta aos
fariseus, Jesus Cristo comenta aos interlocutores a visão total do homem, sem o
qual não é possível oferecer uma resposta adequada às perguntas relacionadas
com o matrimônio».
Cada
um de nós está chamado a ser o eco desta Palavra de Deus em nosso momento.
Reflexão
•
Contexto. Até o capítulo 18, Mateus mostrou como os discursos de Jesus marcaram
as diferentes fases da constituição progressiva e formação da comunidade dos
discípulos em torno de seu Mestre. Agora em 19,1, este pequeno grupo se afasta
dos territórios da Galileia e chega aos territórios da Judéia. O chamado de
Jesus que envolve os seus discípulos avança até a escolha decisiva: a aceitação
ou rejeição da pessoa de Jesus. Esta fase ocorre ao longo da estrada que leva a
Jerusalém (capítulos 19-20), e, finalmente, com a chegada à cidade e junto ao
Templo (capítulos 21-23). Todos os encontros que Jesus experimenta no decorrer
desses capítulos ocorrem ao longo do percurso da Galileia a Jerusalém.
•
Encontro com os fariseus. Passando pela Transjordânia (19,1), o primeiro
encontro é com os fariseus e o tema de discussão de Jesus com ele se torna
motivo de reflexão para o grupo dos discípulos. A pergunta dos fariseus é sobre
o divórcio e, especialmente, coloca Jesus em dificuldade sobre o amor dentro do
casamento, a realidade mais sólida e estável para toda a comunidade judaica. A
intervenção dos fariseus quer acusar o ensinamento de Jesus. Trata-se de um
verdadeiro processo: Mateus o considera como "colocar à prova",
"um tentar". A pergunta é realmente crucial: “É permitido a um homem
rejeitar sua mulher por um motivo qualquer?” (19,3). Ao leitor não escapa a
tentativa equivocada dos fariseus de interpretar o texto de Dt 24,1 para
colocar Jesus em dificuldade: “Se um homem toma uma mulher e se casa com ela, e
esta depois não lhe agrada porque descobriu nela algo inconveniente, ele lhe
escreverá uma certidão de divórcio e assim despedirá a mulher”. Este texto deu
origem ao longo dos séculos a inúmeras discussões: a admitir o divórcio por
qualquer motivo, exigir um mínimo de mau comportamento, um verdadeiro
adultério.
•
É Deus que une. Jesus responde aos fariseus recorrendo a Gn 1,17; 2,24, trazendo
o assunto à vontade primária de Deus criador. O amor, que une o homem e a
mulher, vem de Deus e por essa origem, unifica e não pode separar. Se Jesus
cita Gênesis 2,24: “Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à
sua mulher; e os dois formarão uma só carne”
(19,5), é porque ele quer enfatizar um princípio particular e absoluto:
é a vontade criadora de Deus que une um homem e uma mulher. Quando um homem e
uma mulher se unem em matrimônio, é Deus que os une; o termo
"cônjuge" vem do verbo conjungir (ligar intimamente), conjugar
(associar, ligar e unir), ou seja, que a conjunção dos dois parceiros sexuais é
o efeito da palavra criadora de Deus. A resposta de Jesus aos fariseus atinge o
seu cume: o casamento é indissolúvel na sua constituição original. Jesus
continua desta vez tempo de Ml 2,13-16: repudiar a própria mulher é romper a
aliança com Deus e segundo os profetas, esta aliança é vivida principalmente
pelos esposos em sua união conjugal (Os 1-3; Is 1,21-26; Jr 2,2; 3,1.6-12; Ez
16; 23; Is 54,6-10; 60-62). A resposta de Jesus aparece em contradição com a
lei de Moisés, que dá a possibilidade de conceder um certificado de divórcio.
No motivar a sua resposta, Jesus lembra aos fariseus: se Moisés deu essa
possibilidade é por causa da dureza dos vossos corações (v. 8), mais
especificamente por causa da vossa desobediência à Palavra de Deus. A lei de Gn
1,26; 2,24 nunca foi modificada, mas Moisés foi forçado a adaptá-la a uma
atitude de desobediência. O primeiro casamento não foi anulado pelo adultério.
Ao homem de hoje e, especialmente, às comunidades eclesiais a palavra de Jesus
diz claramente que não deve haver divórcio, e, no entanto, vemos que existem;
na vida pastoral das pessoas divorciadas são acolhidas, às quais está sempre
aberta à possibilidade de entrar no reino. A reação dos discípulos foi
imediata: “Se tal é a condição do homem a respeito da mulher, é melhor não se
casar!” (v.10). A resposta de Jesus continua a sustentar a indissolubilidade do
matrimônio, impossível para a mentalidade humana, mas possível para Deus. O
eunuco de que Jesus fala não é aquele que não pode gerar, mas aquele que,
separado de sua esposa, continua a viver em continência , mantendo-se fiel ao
primeiro vínculo conjugal: é eunuco em relação a todas as outras mulheres.
Para um confronto
pessoal
1) Em relação ao casamento sabemos
acolher o ensinamento de Jesus com simplicidade, sem adaptá-lo às nossas
próprias escolhas legítimas de conveniência?
2) O Evangelho recorda-nos que o plano
do Pai para o homem e a mulher é um maravilhoso projeto de amor. Você está
ciente de que o amor tem uma lei imprescindível: implica o dom total e cheio da
própria pessoa para o outro?
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