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domingo, 8 de abril de 2018

A Anunciação do Senhor


1ª Leitura (Is 7,10-14;8,10): Naqueles dias, o Senhor mandou ao rei Acaz a seguinte mensagem: «Pede um sinal ao Senhor teu Deus, quer nas profundezas do abismo, quer lá em cima nas alturas». Acaz respondeu: «Não pedirei, não porei o Senhor à prova». Então Isaías disse: «Escutai, casa de David: Não vos basta que andeis a molestar os homens para quererdes também molestar o meu Deus? Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: a virgem conceberá e dará à luz um filho e o seu nome será ‘Emanuel’, porque Deus está conosco».

Salmo Responsorial: 39
R. Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade.
Não Vos agradaram sacrifícios nem oblações, mas abristes-me os ouvidos; não pedistes holocaustos nem expiações, então clamei: «Aqui estou.

De mim está escrito no livro da Lei que faça a vossa vontade. Assim o quero, ó meu Deus, a vossa lei está no meu coração».

Proclamei a justiça na grande assembleia, não fechei os meus lábios, Senhor, bem o sabeis.

Não escondi a vossa justiça no fundo do coração, proclamei a vossa fidelidade e salvação. Não ocultei a vossa bondade e fidelidade no meio da grande assembleia.

2ª Leitura (Hb 10,4-10): Irmãos: É impossível que o sangue de touros e cabritos perdoe os pecados. Por isso, ao entrar no mundo, Cristo disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formaste-Me um corpo. Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado. Então Eu disse: ‘Eis-Me aqui; no livro sagrado está escrito a meu respeito: Eu venho, meu Deus, para fazer a tua vontade’». Primeiro disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações, não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado». E, no entanto, eles são oferecidos segundo a Lei. Depois acrescenta: «Eis-Me aqui: Eu venho para fazer a tua vontade». Assim aboliu o primeiro culto para estabelecer o segundo. É em virtude dessa vontade que nós somos santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita de uma vez para sempre.

O Verbo fez-Se carne e habitou entre nós e nós vimos a sua glória.

Evangelho (Lc 1,26-38): Quando Isabel estava no sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem de nome José, da casa de Davi. A virgem se chamava Maria. O anjo entrou onde ela estava e disse: «Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo». Ela perturbou-se com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. O anjo, então, disse: «Não tenhas medo, Maria! Encontraste graça junto a Deus. Conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande; será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará para sempre sobre a descendência de Jacó, e o seu reino não terá fim». Maria, então, perguntou ao anjo: «Como acontecerá isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu: «O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice. Este já é o sexto mês daquela que era chamada estéril, pois para Deus nada é impossível». Maria disse: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra”. E o anjo retirou-se.

«Alegra-te, cheia de graça!»

Dr. Johannes VILAR (Köln, Alemanha)

Hoje, no «Alegra-te, cheia de graça!» (Lc 1,28) escutamos pela primeira vez o nome da Mãe de Deus: Maria (segunda frase do arcanjo Gabriel). Ela tem a plenitude da graça e dos dons. Chama-se assim: «kecharitoméne» , «cheia de graça» (saudação do Anjo).

Possívelmente com 15 anos e só, Maria tem que dar uma resposta que mudará a história inteira da humanidade. São Bernardo suplicava: «Oferece-se te o preço de nossa Redenção. Seremos libertos imediatamente, se dizei que sim. O orbe todo está a seus pés esperando sua resposta. Ó minha senhora, dizei uma palavra e recebei a Palavra proferi uma palavra e recebei a palavra divina, dizei uma palavra transitória e recebei a eterna, Deus espera uma resposta livre e cheia de graça, representando a todos os necessitados da Redenção, responde: «Génoitó moi» Faça-se em mim! A partir de hoje Maria fica livremente unida à Obra do seu Filho, hoje começa sua Mediação. A partir de hoje é Mãe dos que são um só, em Cristo Jesus (Gal 3,28).

Bento XVI disse em uma entrevista; «Ousai decisões definitivas, porque na verdade são as únicas que não destroem a liberdade, mas lhe criam a justa direção, possibilitando seguir em frente e alcançar algo de grande na vida. Sem dúvida, a vida só pode valer se tiverdes a coragem da aventura, a confiança de que o Senhor nunca vos deixará sozinhos. Eu digo-vos: Coragem! Tomar o risco—o salto ao decisivo— e com isso aceitar a vida por inteira, isso desejo transmitir». Maria: Eis aqui um exemplo!

São José também não fica à margem dos planos de Deus: ele deve receber sua esposa e pôr o nome ao filho (cfr. Mt 1,20s): Jesua, «o Senhor salva». E o faz. Outro exemplo!

A Anunciação revela também à Trindade: O Pai envia o Filho, encarnado por obra do Espírito Santo. E a Igreja canta: E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós. Sua obra redentora —Natal, Sexta Santa, Páscoa— está presente nesta semente. Ele é Emanuel, «Deus convosco» (Is 7,15). Alegra-te humanidade!

«Não tenhas medo, Maria! Encontraste graça junto a Deus»

+ Rev. D. Josep VALL i Mundó (Barcelona, Espanha)

Hoje, celebramos a festa da Anunciação do Senhor. Com o anúncio do anjo Gabriel e a aceitação de Maria da vontade divina expressa de encarnar nas suas entranhas, Deus assume a natureza humana – «assumiu em tudo a nossa condição humana, salvo no pecado» – para nos elevar à condição de filhos de Deus e fazer-nos assim participantes da Sua natureza divina. O mistério da fé é tão grande que Maria, perante este anúncio, fica como que assustada. Gabriel diz-lhe: «Não tenhas medo, Maria!» (Lc 1,30): o Todo-Poderoso olhou-te com predileção, escolheu-te para Mãe do Salvador do mundo. As iniciativas divinas destroem os débeis argumentos humanos.

«Não tenhas medo! », palavras que lemos frequentemente no Evangelho; o próprio Senhor as terá de repetir aos Apóstolos quando estes sintam de perto a força sobrenatural e também o medo ou susto perante as obras prodigiosas de Deus. Podemos perguntar-nos qual a razão deste medo. Será um medo mau, um temor irracional? Não!; é um temor lógico naqueles que se veem pequenos e pobres face a Deus, que sentem distintamente a sua fraqueza, a debilidade perante a grandeza divina e experimentam a sua penúria frente à riqueza do Onipotente. O Papa São Leão pergunta: «Quem não verá em Cristo a sua própria debilidade? ». Maria, a humilde jovem da aldeia, acha-se tão pouca coisa…, mas em Cristo sente-se forte e o medo desaparece!

Então compreendemos bem que Cristo «tenha escolhido o que para o mundo é fraqueza, para envergonhar o que é forte (1Cor 1,26). O Senhor olha-a, vendo a pequenez da sua escrava e realizando nela a maior maravilha da história: a Encarnação do Verbo Eterno como Cabeça de uma Humanidade renovada. Que bem se aplicam a Maria aquelas palavras que Bernanos disse à protagonista de “La alegria”: «Reconfortava-a e consolava-a maravilhosamente um sentido raro da sua própria fraqueza, porque era como se fosse o sinal inefável da presença de Deus nela; o próprio Deus resplandecia no seu coração».

Meditemos no Mistério mais importante da história: A Encarnação do Verbo de Deus no seio de uma jovem chamada Maria de Nazaré.

Pe. Antonio Rivero, L.C.

Acabamos de escutar esse Mistério no evangelho de hoje: um menino foi concebido, de mãe solteira, já prometida em casamento, mas não casada. E esse filho não tem pai. Ponto final! Foi concebido um menino; o filho é de outro. Aborto? Mas a mãe é mulher demais, mãe demais e crê demais como para assassinar o filho e o filho é filho demais porque é Filho de Deus, que não se deixaria assassinar impunemente. E esse filho não tem pai; nem conhecido nem desconhecido nem suspeitado. Simplesmente não tem pai. Surpresa? Aliás, nem geração espontânea nem inseminação artificial nem menino à prova de teste. Caso único de partenogênese humana na história da biologia cientifica. Ponto final! Creiamos, admiremos, agradeçamos e adoremos o Mistério.

Em primeiro lugar, temos que encaixar este Mistério. As pessoas perderam o sentido do poderoso, do sagrado e do divino. Por isso existem tantos que rejeitam os mistérios. Isso é interessante, pois essas pessoas tomam café da manhã, almoçam, merendam e jantam com mistérios: a eletricidade na televisão, os átomos e moléculas, o amor e a vida. Por que elas comungam com estes mistérios com minúsculo e não se admiram diante do grande Mistério da Encarnação que tanta alegria deveria produzir, ao saber que Deus quer armar a sua tenda entre nós? Em alguns que negam este Mistério é porque não encaixa nas suas mentes compostas só de matéria cinza e dizem que é irracional: não encaixa no seu coração onde só cabe ele sozinho como a história do gigante egoísta; não encaixa na sua vontade porque este mistério pede muita mudança de vida e dizem que é chato. Maria nos dá exemplo de como encaixar esse Mistério: abrindo os ouvidos da alma, refletindo com serenidade no que implicava esse mistério e abrindo-se a esse Mistério, deixando-se possuir por ele.

Em segundo lugar, temos que crer neste Mistério. Crer é muito mais que entender. É mais, é ir além do mero entender, confiando na Palavra de Deus que não engana, nem decepciona. Crer é entregar o cheque em branco a Deus para Ele escrever o que Ele quiser, porque sempre será para a nossa salvação e felicidade. Maria nesses segundos ou minutos de silêncio reflexivo de discernimento, antes de dar o seu “sim, creio”, repassaria toda a história de fidelidade de Deus no Antigo Testamento, desde Abraão até o último profeta… e deixou que uma imensa paz a invadisse e também um contentamento interior e uma grande certeza, a fé em Deus. Diz-nos santo Agostinho: “Cheia de fé concebeu Cristo na sua mente antes que no seu seio, ao responder: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa Palavra” (Lc 1,35). Antes de habitar o Filho de Deus no seio de Maria, sem dúvida já “morava Cristo pela fé no coração” (Ef 3,17) de quem, pela fé, “concebeu antes na sua mente que no seu ventre virginal”. “Na alma a fé, y no ventre Cristo”. Assim “Maria foi mais feliz por receber a fé de Cristo do que por conceber a carne de Cristo” “já que não teria nenhum proveito a divina maternidade de Maria, se não tivesse sido mais feliz por levar Cristo no seu coração que na sua carne”.

Finalmente, temos que viver este Mistério e segundo este Mistério. Logicamente este Mistério não pode ficar só no nível intelectual e afetivo. Tem que invadir a nossa vida, tocar e transformar a nossa vida. São João Paulo II na sua primeira viagem ao México em 1979 ao tratar da fé, vista em Maria, disse: “Coerência, é a terceira dimensão da fidelidade. Viver de acordo com o que se crê. Ajustar a própria vida ao objeto da própria adesão. Aceitar incompreensões, perseguições antes que permitir rupturas entre o que se vive e o que se crê: esta é a coerência. Aqui se encontra, talvez, o núcleo mais íntimo da fidelidade… E só pode chamar-se fidelidade uma coerência que dura ao longo de toda a vida. O fiat de Maria na Anunciação encontra a sua plenitude no fiat silencioso que repete ao pé da cruz. Ser fiel é não trair nas trevas o que se aceitou publicamente”. Por isso, que se abre a este Mistério da Encarnação tem que viver as consequências da sua fé: uma fidelidade nas boas e nas más, nos momentos duros e nos momentos alegres.

Para refletir: Já encaixei este Mistério ou ainda tenho as portas fechadas como narra a poesia de José Maria Pemán sobre o estalajadeiro: “O Evangelho começa diante de uma porta/ de uma pousada em Belém e um estalajadeiro./ – Não terá um quarto para esta noite?/ – Nenhuma cama livre; tudo cheio./ E Deus seguiu adiante. Que pena, estalajadeiro!” ? Já cri neste Mistério no profundo do meu ser e me enche de alegria? Estou vivendo conforme este Mistério?

Para rezar: Por ser um Mistério incompreensível, ajoelho-me e vos adoro, Senhor. Por ser um Mistério de imensa beleza, extasio-me e vos agradeço, Senhor. Por ser um Mistério inefável, presto-vos a minha boca para levar este Mistério por todas as partes onde eu for.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org

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