Textos: Ex 22, 20-26; 1 Tes 1, 5-10; Mateus
22, 34-40
Evangelho (Mt
22,34-40): Os fariseus ouviram dizer que
Jesus tinha feito calar os saduceus. Então se reuniram, e um deles, um doutor
da Lei, perguntou-lhe, para experimentá-lo: «Mestre, qual é o maior mandamento
da Lei?» Ele respondeu: «Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com
toda a tua alma e com todo o teu entendimento!’ Esse é o maior e o primeiro
mandamento. Ora, o segundo lhe é semelhante: ‘Amarás teu próximo como a ti
mesmo’. Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos».
«Amarás o Senhor, teu
Deus, com todo o teu coração (…) Amarás teu próximo como a ti mesmo»
Dr. Johannes VILAR (Köln, Alemanha)
Hoje, a
Igreja recorda-nos um resume da nossa “atitude de vida” «Toda a Lei e os
Profetas dependem desses dois mandamentos» (Mt 22,40). São Mateus e São Marcos
o põem nos lábios de Jesus Cristo; São Lucas nos de um fariseu. Sempre em forma
de diálogo. Provavelmente fariam várias vezes, perguntas similares ao Senhor.
Jesus responde com o princípio do Shema: oração composta por duas citações do
Deuteromio e uma dos Números, que os judeus fervorosos recitavam pelo menos
duas vezes por dia: «Ouve Israel! O Senhor teu Deus (…)». Recitando-a tem-se
consciência de Deus no trabalho quotidiano, ao mesmo tempo em que nos recorda o
mais importante da nossa vida: Amar a Deus sobre todos os “deusezinhos” e ao
próximo como a si mesmo. Depois ao terminar a Última Ceia, e com o exemplo do
lava-pés, Jesus pronuncia “um mandamento novo”: amarmo-nos como Ele nos ama,
com a “força divina” (cf. Jo 14,34-35).
É mesmo
necessária a decisão de praticar de fato este dulcíssimo mandamento — mais que
um mandamento é elevação e capacidade — no trato com os outros: homens e
coisas, trabalho e descanso, espírito e matéria, porque tudo é criatura de
Deus.
Por outro
lado, ao ser impregnados pelo Amor de Deus, que nos toca em todo o nosso ser,
ficamos capacitados para responder “ao divino”, a este Amor. Deus
Misericordioso não apenas tira o pecado do mundo (cf. Jo 1,29), mas também nos
diviniza, torna-nos “participes” (apenas Jesus é Filho por Natureza) da
natureza divina; somos filhos do pai, no Filho, pelo Espírito Santo. São
Josémaria gostava de falar de “endeusamento”, palavra muito enraizada nos
Padres da Igreja. Por exemplo, escrevia São Basílio: «Assim como os corpos
claros e transparentes, quando recebem a luz, começam a irradiar luz por si
próprios, assim reluzem os que foram iluminados pelo Espírito. Isto leva ao dom
da graça, alegria interminável, permanência em Deus… e à meta máxima: o
Endeusamento». Desejemo-lo!
O primeiro mandamento é
amar a Deus. O segundo, amar o próximo.
Pe. Antonio Rivero, L.C.
Síntese da
mensagem: a pergunta que o doutor da lei faz para Jesus no evangelho de hoje
sobre qual é o maior mandamento da lei é muito oportuna, pois os judeus tinham
centenários de preceitos: exatamente 365 “negativos” (começam com um “não…”) e
248 “positivos” (começam com um “deves…”). Toda sociedade tende a multiplicar
com o tempo as suas leis e normas, e às vezes sem necessidade. E hoje Jesus nos
dá a chave para ser cristãos: dois mandamentos que se reduzem no amor; amar a
Deus e amar o próximo.
Em primeiro
lugar, o amor de Deus não consiste em sentir a vertigem do divino: um gosto
espiritual na comunhão, duas emoções que estremecem, três Ave-Marias noturnas,
quatro lágrimas, cinco procissões… e nove primeiras sextas-feiras de mês. Não.
Amar a Deus é centrar a minha vida em Deus: o que pensa Deus, o que diz Deus, o
que Deus quer… E eu, a mesma coisa. O que Deus está me pedindo, não o que está
pedindo para o vizinho! Agora, sem dar voltas ao assunto! Já, sem fingir de
surdo! E aqui está, obras, que isso é o amor. Amar a Deus é abandonar os ídolos
e nos converter ao Deus vivo e verdadeiro, para servi-lo (segunda leitura).
Em segundo
lugar, amar os demais é centrar a minha vida nos demais: uma aceitação (são
como são), um respeito (são o que são), uma transigência (são como podem), uma
tolerância (não dão mais de si), um compromisso foragido pelo seu pão, pela sua
justiça, sua escola, seus seguros, a sua liberdade. Obras, e o que não são
obras é pecado, egoísmo, fábula. Trata-se, pois, de dar e dar-se, de negar-se e
abnegar-se, de sair do eu e passar ao você. Chegar ao ponto de poder dizer com
honradez: “amo muito você”. Não é dizer “gosto de você”, cuja tradução honrada
é “te desejo”, “te necessito”, “ você é boa gente”, “você faz conta de mim”,
etc… que pertencem a linguagem zoológica e instintiva. Amar os demais é cuidar
das viúvas e dos órfãos, dar dinheiro ao pobre, cobrir o nu (primeira leitura).
Finalmente,
tudo o que não seja interpretar assim o mandamento do duplo amor é um erro, um
egoísmo e um pecado. Isto é, assinar com a assinatura de pagão durante toda a
vida. Se amarmos nestas duas vertentes, poderemos dizer com santo Agostinho:
“Ama e faze o que quiseres. Se calas, cala por amor; se perdoas, perdoa por
amor; tem a raiz do amor no fundo do teu coração: desta maneira somente pode
sair o que é bom” (Comentário a Primeira Epístola de São João, 7). E para
aprender a amar temos que olhar a Cristo, expressão viva deste preceito do
amor. Com a sua própria vida nos ensinou o mandamento único da caridade que
tem, como uma moeda, as duas caras que explicamos: o amor a Deus e o amor ao
próximo. Cristo amou antes de tudo o seu Pai, na aceitação e cumprimento
perfeito da sua vontade, entregando a sua vida para reparar a glória de Deus pisoteada
pelos homens e assim saldar a nossa dívida contraída, que era bem alta. E amou
os homens, fazendo-se carne para nos salvar e perdoando deste modo os nossos
pecados: “Não existe outra causa da Encarnação que somente uma: Ele nos viu
derrubados na terra e viu que íamos sofrer, oprimidos pela tirania da morte, e
se compadeceu de nós” (São João Crisóstomo).
Para refletir: posso dizer que amo a Deus sobre todas
as coisas? Como demonstro: só com palavras ou também com obras, “pois obras são
amores e não boas razões”? Posso dizer que amo o próximo, mínimo como eu me
amo? Posso dizer que amo o próximo como Cristo o ama? Demonstro isto com a
minha paciência, bondade, misericórdia, doação, preocupação sincera por ele,
uma ajuda concreta?
Para rezar: Senhor, que me deixe amar por Vós,
para que depois possa amar-Vos como mereceis e amar o próximo, como Vós o
amais. Perdoai-me tanto egoísmo na minha vida, o contrário do amor. Que nunca
esqueça que “ao final da vida serei examinado do amor e pelo Amor”.
Qualquer sugestão ou
dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
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