Sto Antonio de Sant'Ana Galvão Presbítero |
Evangelho
(Lc 12,39-48): Naquele tempo, o Senhor
disse aos seus discípulos: Ficai certos: se o dono da casa soubesse a que horas
viria o ladrão, não deixaria que fosse arrombada sua casa. Vós também ficai
preparados! Pois na hora em que menos pensais, virá o Filho do Homem. Então
Pedro disse: Senhor, é para nós ou para todos que contas esta parábola? O
Senhor respondeu: Quem é o administrador fiel e atento, que o senhor
encarregará de dar à criadagem a ração de trigo na hora certa? Feliz aquele
servo que o senhor, ao chegar, encontrar agindo assim! Em verdade, vos digo:
ele lhe confiará a administração de todos os seus bens. Ora, se outro servo
pensar: Meu senhor está demorando e começar a bater nos criados e nas criadas,
a comer, beber e embriagar-se, o senhor daquele servo chegará num dia
inesperado e numa hora imprevista, ele o excluirá e lhe imporá a sorte dos
infiéis. O servo que, conhecendo a vontade do senhor, nada preparou, nem agiu
conforme a sua vontade, será chicoteado muitas vezes. O servo, porém, que não
conhecendo essa vontade fez coisas que merecem castigo, será chicoteado poucas
vezes. Portanto, todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será pedido; a
quem muito foi confiado, dele será exigido muito mais!
«Vós também ficai
preparados! Pois na hora em que menos pensais, virá o Filho do Homem»
Rev. D. Josep Lluís SOCÍAS i Bruguera (Badalona,
Barcelona, Espanha)
Hoje, com a
leitura deste fragmento do Evangelho, podemos ver que cada pessoa é um
administrador: quando nascemos, nos é dada uma herança nos genes e algumas
capacidades para nos realizarmos na vida. Descobrimos que estas potencialidades
e a própria vida são dons de Deus, pois nós nada fizemos para consegui-las. É
um presente pessoal, único e intransferível e, é isso o que nos confere a nossa
personalidade. São os talentos de que o próprio Jesus nos fala (cf. Mt 25,15),
as qualidades que devemos fazer crescer durante a nossa existência.
«Pois na
hora em que menos pensais, virá o Filho do Homem» (Lc 12,40), Termina dizendo
Jesus no primeiro parágrafo. A nossa esperança está na vinda do Senhor Jesus no
fim dos tempos; mas agora e aqui também Jesus se faz presente na nossa vida, na
simplicidade e na complexidade de cada momento. É hoje quando, com a força do
Senhor, podemos viver o seu Reino. Santo Agostinho nos o lembra com as palavras
do Salmo 32,12: «Ditosa a nação cujo Deus é o Senhor, para que podamos ser
conscientes disso, formando parte desta nação».
«Vós também
ficai preparados!» (Lc 12,40), esta exortação representa uma chamada à
fidelidade, a qual está subordinada ao egoísmo. Temos a responsabilidade de
saber "dar resposta" aos bens que recebemos juntos com a nossa vida.
«Conhecendo a vontade do senhor» (Lc 12,47), é aquilo a que chamamos a nossa
"consciência" e, é o que nos torna dignamente responsáveis pelos nossos
atos. A resposta generosa pela nossa parte à face da humanidade, à face de cada
um dos seres vivos, é algo justo e cheio de amor.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
* O
evangelho de hoje traz novamente uma exortação à vigilância com outras duas
parábolas. Ontem, a parábola era de patrão e empregado (Lc 12,36-38). Hoje, a
primeira parábola é do dono de casa e do ladrão (Lc 12,39-40) e a outra fala do
proprietário e do administrador (Lc 12,41-47).
* Lucas 12,39-40: A parábola do dono
da casa e do ladrão
“Fiquem
certos: se o dono da casa soubesse a hora em que o ladrão iria chegar, não
deixaria que lhe arrombasse a casa. Vocês também estejam preparados! Porque o
Filho do Homem vai chegar na hora em que vocês menos esperarem”. Assim como o
dono da casa não sabe a que hora chega o ladrão, assim ninguém sabe a hora da
chegada do Filho do Homem. Jesus deixa bem claro: "Quanto a esse dia e
essa hora, ninguém sabe nada, nem os anjos, nem o Filho, mas somente o
Pai!" (Mc 13,32). Hoje, muita gente vive preocupada com o fim do mundo.
Nas ruas das cidades, se vê escrito nas paredes: Jesus voltará! Teve até gente
que, angustiada com a proximidade do fim do mundo, chegou a cometer suicídio.
Mas o tempo passa e o fim não chega! Muitas vezes, a afirmação “Jesus voltará”
é usada para meter medo nas pessoas e obrigá-las a frequentar uma determinada
igreja! De tanto esperar e especular em torno da vinda de Jesus, muita gente já
nem percebe mais a presença dele no meio de nós, nas coisas mais comuns da
vida, nos fatos do dia-a-dia. Pois o que importa mesmo não é saber a hora do
fim deste mundo, mas sim ter um olhar capaz de perceber a vinda de Jesus já
presente no meio de nós na pessoa do pobre (cf. Mt 25,40) e em tantos outros
modos e acontecimentos da vida de cada dia.
* Lucas 12,41: A pergunta de Pedro
“Então
Pedro disse a Jesus: "Senhor, estás contando essa parábola só para nós, ou
para todos?”Não se vê bem o porquê desta pergunta de Pedro. Ela evoca outro
episódio, no qual Jesus respondeu a uma pergunta semelhante dizendo: “A vocês é
dado conhecer o mistério do Reino de Deus, mas aos outros tudo é dado a
conhecer em parábolas” (Mt 13,10-11; Lc 8,9-10).
* Lucas 12,42-48ª: A parábola do
proprietário e do administrador
Na resposta
à pergunta de Pedro Jesus formula outra pergunta em forma de parábola:
"Quem é o administrador fiel e prudente, que o senhor coloca à frente do
pessoal de sua casa, para dar a comida a todos na hora certa?” Logo em seguida,
o Jesus mesmo, na própria parábola, já dá a resposta: bom administrador é
aquele que cumpre sua missão de servidor, nunca usa os bens recebidos em
proveito próprio, e está sempre vigilante e atento. Talvez seja uma resposta
indireta à pergunta de Pedro, como se dissesse: “Pedro, a parábola é realmente
para você! É para você saber administrar bem a missão que Deus lhe deu como
coordenador das comunidades. Neste sentido, a resposta vale também para cada um
de nós. E aí toma muito sentido a advertência final: “A quem muito foi dado,
muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido”.
* A chegada do Filho do Homem e o
fim deste mundo
A mesma
problemática havia nas comunidades cristãs dos primeiros séculos. Muita gente
das comunidades dizia que o fim deste mundo estava perto e que Jesus voltaria
logo. Alguns da comunidade de Tessalônica na Grécia, apoiando-se na pregação de
Paulo, diziam: “Jesus vai voltar logo!” (1 Tes 4,13-18; 2 Tes 2,2). Por isso,
havia até pessoas que já não trabalhavam, porque achavam que a vinda fosse
coisa de poucos dias ou semanas. Trabalhar para que, se Jesus ia voltar logo?
(cf 2Ts 3,11). Paulo responde que não era tão simples como eles imaginavam. E
aos que já não trabalhavam avisava: “Quem não quiser trabalhar não tem direito
de comer!” Outros ficavam só olhando o céu, aguardando o retorno de Jesus sobre
as nuvens (cf. At 1,11). Outros reclamavam da demora (2Pd 3,4-9). Em geral, os
cristãos viviam na expectativa da vinda iminente de Jesus. Jesus viria realizar
o Juízo Final para encerrar a história injusta deste mundo cá de baixo e inaugurar
a nova fase da história, a fase definitiva do Novo Céu e da Nova Terra. Achavam
que isto aconteceria dentro de uma ou duas gerações. Muita gente ainda estaria
viva quando Jesus fosse aparecer glorioso no céu (1Ts 4,16-17; Mc 9,1). Outros,
cansados de esperar, diziam: “Ele não vai voltar nunca! (2 Pd 3,4). Até hoje, a
vinda final de Jesus ainda não aconteceu! Como entender esta demora? É que já
não percebemos que Jesus já voltou, já está no nosso meio: “Eis que eu estarei
com vocês todos os dias, até o fim do mundo." (Mt 28,20). Ele já está do
nosso lado na luta pela justiça, pela paz, pela vida. A plenitude ainda não
chegou, mas uma amostra ou garantia do Reino já está no meio de nós. Por isso,
aguardamos com firme esperança a libertação plena da humanidade e da natureza
(Rm 8,22-25). E enquanto esperamos e lutamos, dizemos acertadamente: “Ele já
está no meio de nós!”(Mt 25,40).
Para um confronto pessoal
1) A resposta de Jesus a Pedro serve também para nós,
para mim. Será que sou um bom administrador, uma boa administradora da missão
que recebi?
2) Como faço para estar vigilante sempre?
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