Textos: Sir 27, 33; 28, 9; Rm 14, 7-9; Mt
18, 21-35
Sto Alberto, Patriarca de Jerusalém Legislador de nossa Ordem |
«Senhor, quantas vezes
devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim?»
Rev. P. Anastasio URQUIZA Fernández MCIU (Monterrey,
México)
Hoje, no
Evangelho, Pedro consulta Jesus sobre um tema muito concreto que continua
guardando no coração de muitas pessoas: pergunta pelo limite do perdão. A
resposta é que esse limite não existe: «Digo-te, não até sete vezes, mas até
setenta vezes sete vezes» (Mt 18,22). Para explicar esta realidade, Jesus
utiliza uma parábola. A pergunta do rei centra o tema da parábola: «Não devias
tu também ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?» (Mt
18,33).
O perdão é
um dom, uma graça que procede do amor e da misericórdia de Deus. Para Jesus, o
perdão não tem limites, sempre e quando o arrependimento seja sincero e veraz.
Mas exige abrir o coração à conversão, quer dizer, obrar com os outros segundo
os critérios de Deus.
O pecado
grave afasta-nos de Deus (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 1470). O veiculo
ordinário para receber o perdão desse pecado grave da parte de Deus é o
sacramento da penitência, e o ato do penitente que o coroa é a sua satisfação.
As obras próprias que manifestam essa satisfação são o signo do compromisso
pessoal —que o cristão assumiu perante Deus— de começar uma existência nova,
reparando, na medida do possível, os danos causados ao próximo.
Não pode
haver perdão do pecado sem algum tipo de satisfação, cujo fim é: 1. Evitar
deslizar-se a outros pecados mais graves; 2. Recusar o pecado (pois as penas
satisfatórias são como o feno e tornam o penitente mais cauto e vigilante); 3.
Tirar com os atos virtuosos os maus hábitos contraídos pelo mau viver; 4.
Assemelhar-nos a Cristo.
Como
explicou S. Tomás de Aquino, o homem é devedor perante Deus, tanto pelos
benefícios recebidos, como pelos pecados cometidos. Pelos primeiros deve
tributar-lhe adoração e ação de graças; e pelo segundo, satisfação. O homem da
parábola não esteve disposto a realizar o segundo, pelo que se tornou incapaz de
receber o perdão.
O perdão cristão: 70
vezes 7, ou seja, sempre.
Pe. Antonio Rivero, L.C.
A vingança
era uma lei sagrada em todo o Antigo Oriente e o perdão, humilhante; porém,
para o cristão, a contrapartida da vingança é o perdão sem limite, no estilo de
Deus.
Em primeiro
lugar, na mentalidade semita, a de Jesus, o 7 é um número vindo da Lua e
símbolo de perfeição. Como a Lua tem 4 fases-quarto crescente, minguante, etc.
– e cada fase tem 7 dias, resulta que o 7 define um ciclo completo, é um número
redondo, a ideia de um todo acabado. Diziam os rabinos de Israel que 2.000 anos
antes da criação do mundo, Deus tinha criado 7 coisas: a Torá (lei), a
penitencia, o Éden, a gehena (inferno), o Trono da Glória, o santuário celeste
e o nome do Messias. 7 é um número que cheira algo divino: Deus fez o mundo em
7 jornadas, dos dons do Espírito são 7, a família macabeia foi perfeita porque
teve 7 filhos - dizia são Gregório Nazianzeno, da Capadócia. Na catedral de
Aachen temos o trono de Carlos Magno, fundador do Sacro Império Romano
Germânico, com os seus 7 degraus em honra do trono de Salomão. Diante do
Knesset, parlamento de Jerusalém, está o candelabro de bronze, dos 7 braços,
símbolo do poder total de Deus e da plenitude da luz, que é Deus.
Em segundo
lugar, Jesus diz a Pedro que deve- que devemos- perdoar 70 vezes 7; isto é,
sempre. Cristo sabe que o homem é vingativo por natureza. Não entrava na cabeça
de Pedro o perdão ilimitado de Jesus. Natural, pois na sinagoga ouviu muitas
vezes que um judeu se perdoa até três vezes, mas a um estrangeiro jamais. E
também ouvia que uma mulher se perdoa uma vez, cinco um amigo. Sente-se então
generoso e resolve perguntar a Jesus se se pode perdoar ate 7 vezes. Para ter
força para perdoar temos que contemplar muitas vezes a Deus que sempre nos
perdoa. E mais, temos que pedir-lhe um transplante de coração e uma infusão do
seu Espírito de amor na alma. Se não, é impossível. Jesus passou toda a vida
perdoando. E nos ofereceu o sacramento da reconciliação onde encontramos o
perdão de Deus, sempre, a todas as horas, sem limites. Basta que estejamos
arrependidos e com propósito de emendar-nos.
Finalmente,
e nós? Temos muitas ocasiões, na vida de família e de comunidade, nas relações
sociais e laborais, de imitar ou não esta atitude de Deus que sabe perdoar. Os
pais tem que perdoar os filhos a sua progressiva decolagem, a sua resistência e
as suas trapaças. Os filhos têm que perdoar os seus pais o egoísmo, o seu
autoritarismo, o seu paternalismo, a sua incompreensão. O marido a mulher e o
fato de que não saiba valorizar o seu trabalho, nem respeitar a sua fatiga ou o
irrite com pretensões descabeladas. Como a mulher o marido a sua incompreensão
das 60 horas laborais em casa- ele que tem somente 40- as suas faltas de
sensibilidade afetiva, a sua cegueira, diária e defraudadora de sonhos, para o
detalhe. Que os laicos perdoem os seus sacerdotes os extravios, a sua
ignorância para ajudar e compreender, a sua gravidade ao falar. Como o
sacerdote deve perdoar os fiéis as suas escapadas da igreja, as suas
inapetências religiosas, inclusive o seu fazer caso omisso à palavra de Deus. E
assim o patrão o obreiro e vice-versa, o governante os súditos, os alunos o
professor… E sempre vice-versa. Todos diariamente 70 vezes 7.
Para
refletir: Realmente somos conscientes do que rezamos no Pai Nosso, essa oração
“perigosa”? Temos um coração magnânimo, fácil para perdoar? Se o filho pródigo,
ao voltar a casa, tivesse se encontrado conosco, em vez de se encontrar com o
seu pai, a historia teria terminado igual? Se não perdoamos facilmente, não
será que é porque nos aproximamos pouco ao sacramento da reconciliação? O que
se sabe perdoado, perdoa com mais facilidade. Quando perdoamos, é como se
déssemos uma esmola porque já não tem outro jeito ou tudo ao contrário,
queremos imitar o perdão de Deus?
Para rezar: Senhor, que saiba contemplar o
vosso coração cheio de misericórdia e Vos imite. Senhor, me faça uma transfusão
de sangue ou um transplante para que aprenda a perdoar meus irmãos. Senhor,
limpa as veias do meu coração, obturado por tanto rancor, ódio e ressentimento
e possa perdoar o meu irmão, como Vos. Quero ser autêntico cristão, que possa
perdoar a quem me ofendeu e pedir perdão a quem ofendi.
Qualquer sugestão ou
dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:
arivero@legionaries.org
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