S. Jerônimo Presbítero e Doutor da Igreja |
«O Filho do Homem vai
ser entregue às mãos dos homens»
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès,
Barcelona, Espanha)
Hoje,
depois de mais de dois mil anos, o anúncio da paixão de Jesus continua a nos
provocar. Que o Autor da Vida anuncie a sua entrega às mãos daqueles pelos
quais veio para dar tudo, é uma provocação, claramente. Poderia dizer-se que
não era necessário, que foi uma exageração. Esquecemos, muitas vezes, a dor que
abruma o coração de Cristo, o nosso pecado, o mais radical dos males, causa e
efeito de situarmos no lugar de Deus. Até mesmo, de não deixar-nos amar por
Deus, e de empenhar-nos em ficar dentro de nossas curtas categorias e no
imediatismo da vida atual. É muito necessário reconhecer que somos pecadores
como também é necessário admitir que Deus nos ama em seu Filho Jesus Cristo.
Depois de tudo, somos como os discípulos, «mas eles não compreendiam esta
palavra. O sentido lhes ficava oculto, de modo que não podiam entender. E
tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto» (Lc 9,45).
Para di-lo
com uma imagem: podemos encontrar no Céu todos os vícios e pecados, menos a
soberbia, já que o soberbo não reconhece nunca o seu pecado e, não se deixa
perdoar por um Deus, que ama até o ponto de morrer por nós. E no inferno,
poderemos encontrar todas as virtudes, menos a humildade, pois o humilde se
reconhece tal como ele é e, sabe muito bem que sem a graça de Deus não pode deixar
de ofender-lhe, como tampouco pode corresponder a sua Bondade.
Uma das
chaves da sabedoria cristã é reconhecer a grandeza e a imensidade do Amor de
Deus e, ao mesmo tempo admitir a nossa pequenez e a vileza do nosso pecado.
Somos tão lentos para entender isso! No dia que descubramos que temos o Amor de
Deus bem ao nosso alcance, diremos como Santo Agostinho, com lagrimas de Amor:
«Tarde te amei, meu Deus!». Esse dia pode ser hoje. Pode ser hoje. Pode ser.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
30 de setembro Morte de Sta Teresa do Menino Jesus |
* Lucas 9,43b-44: O contraste.
“O povo
estava admirado com tudo o que Jesus fazia. Então Jesus disse aos discípulos:
"Prestem atenção ao que eu vou dizer: o Filho do Homem vai ser entregue na
mão dos homens”. O contraste é muito grande. De um lado, a vibração e a
admiração do povo por tudo que Jesus dizia e fazia. Jesus parece corresponder a
tudo aquilo que o povo sonho, crê e espera. Por outro lado, a afirmação de
Jesus de que será preso e entregue na mão dos homens. Ou seja, a opinião das
autoridades sobre Jesus é totalmente contrária à opinião do povo.
* Lucas 9,45: O anúncio da Cruz.
“Mas os
discípulos não compreendiam o que Jesus dizia. Isso estava escondido a eles,
para que não entendessem. E tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto”. Os
discípulos o escutam, mas não entendem a palavra sobre a cruz. Mesmo assim, não
pedem esclarecimento. Eles têm medo de deixar transparecer sua ignorância!
* O título Filho do Homem
Este nome
aparece com grande frequência nos evangelhos: 12 vezes em João, 13 vezes em
Marcos, 28 vezes em Lucas, 30 vezes em Mateus. Ao todo, 83 vezes nos quatro evangelhos. É o nome que Jesus mais gostava de usar. Este
título vem do AT. No livro de Ezequiel, ele indica a condição bem humana do
profeta (Ez 3,1.4.10.17; 4,1 etc.). No livro de Daniel, o mesmo título aparece
numa visão apocalíptica (Dn 7,1-28), na qual Daniel descreve os impérios dos
Babilônios, dos Medos, dos Persas e dos Gregos. Na visão do profeta, estes
quatro impérios têm a aparência de “animais monstruosos” (cf. Dn 7,3-8). São
impérios animalescos, brutais, desumanos, que perseguem, desumanizam e matam
(Dn 7,21.25). Na visão do profeta, depois dos reinos anti-humanos, aparece o
Reino de Deus que tem a aparência, não de um animal, mas sim de uma figura
humana, Filho de homem. Ou seja, é um reino com aparência de gente, reino
humano, que promove a vida. Humaniza. (Dn 7,13-14). Na profecia de Daniel a
figura do Filho do Homem representa, não um indivíduo, mas sim, como ele mesmo
diz, o “povo dos Santos do Altíssimo” (Dn 7,27; cf Dn 7,18). É o povo de Deus
que não se deixa desumanizar nem enganar ou manipular pela ideologia dominante
dos impérios animalescos. A missão do Filho do Homem, isto é, do povo de Deus,
consiste em realizar o Reino de Deus como um reino humano. Reino que não
persegue a vida, mas sim a promove! Humaniza as pessoas.
Apresentando-se
aos discípulos como Filho do Homem, Jesus assume como sua esta missão que é a
missão de todo o Povo de Deus. É como se dissesse a eles e a todos nós: “Venham
comigo! Esta missão não é só minha, mas é de todos nós! Vamos juntos realizar a
missão que Deus nos entregou, e realizar o Reino humano e humanizador que ele
sonhou!” E foi o que ele fez e viveu durante toda a sua vida, sobretudo, nos
últimos três anos. Dizia o Papa Leão Magno: “Jesus foi tão humano, mas tão
humano, como só Deus pode ser humano”. Quanto mais humano, tanto mais divino.
Quanto mais “filho do homem” e tanto “filho de Deus!” Tudo que desumaniza as
pessoas afasta de Deus. Foi o que Jesus condenou, colocando o bem da pessoa
humana como prioridade acima das leis, acima do sábado (Mc 2,27). Na hora de
ser condenado pelo tribunal religioso do sinédrio, Jesus assumiu este título.
Perguntado se era o “filho do Deus” (Mc 14,61), ele responde que é o “filho do
Homem: “Eu sou. E vocês verão o Filho do Homem sentado à direita do
Todo-poderoso” (Mc 14,62). Por causa desta afirmação foi declarado réu de morte
pelas autoridades. Ele mesmo sabia disso pois tinha dito: “O Filho do Homem não
veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate para muitos”
(Mc 10,45).
Para um confronto pessoal
1) Como você na sua vida combina sofrimento e fé em Deus?
2) No tempo de Jesus havia o contraste: povo pensava e
esperava de um jeito, enquanto as autoridades religiosas pensavam e esperavam
de outro jeito. Existe hoje o mesmo contraste.
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