Textos: Jr 20, 7-9; Rm 12, 1-2; Mt 16,
21-27
Evangelho
(Mt 16,21-27): A partir de então, Jesus
começou a mostrar aos discípulos que era necessário ele ir a Jerusalém, sofrer
muito da parte dos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, no
terceiro dia, ressuscitar. Então Pedro o chamou de lado e começou a censurá-lo:
«Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça!» Jesus, porém,
voltou-se para Pedro e disse: «Vai para trás de mim, satanás! Tu estás sendo
para mim uma pedra de tropeço, pois não tens em mente as coisas de Deus, e sim,
as dos homens!». Então Jesus disse aos discípulos: «Se alguém quer vir após
mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar sua
vida a perderá; e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará. De fato,
que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida? Ou que
poderá alguém dar em troca da própria vida? Pois o Filho do Homem virá na
glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo
com a sua conduta».
«Se alguém quer vir
após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me»
Rev. D. Joaquim MESEGUER García (Sant Quirze del
Vallès, Barcelona, Espanha)
Hoje,
contemplamos Pedro — figura emblemática e grande testemunho e mestre da fé —
também como homem de carne e osso, com virtudes e debilidades, como cada um de
nós. Devemos agradecer aos evangelistas o fato de nos terem apresentado a
personalidade dos primeiros seguidores de Jesus com realismo. Pedro, que faz
uma excelente confissão de fé — como vemos no Evangelho do XXI Domingo — e
merece um grande elogio por parte de Jesus e a promessa da autoridade máxima
dentro da Igreja (cf. Mt 16,16-19), recebe também do Mestre uma severa
reprimenda, porque no caminho da fé ainda tem muito que aprender: «Vai para
trás de mim, satanás! Tu estás sendo para mim uma pedra de tropeço, pois não
tens em mente as coisas de Deus, e sim, as dos homens!» (Mt 16,23).
Ouvir a
reprimenda de Jesus a Pedro é um bom motivo para fazer um exame de consciência
sobre a nossa forma de ser cristão. Somos de verdade fiéis aos ensinamentos de
Jesus Cristo, até ao ponto de pensarmos realmente como Deus, ou preferimos
moldar-nos à forma de pensar e aos critérios deste mundo? Ao longo da história,
os filhos da Igreja caímos na tentação de pensar segundo o mundo, de nos
apoiarmos nas riquezas materiais, de procurarmos com afinco o poder político e
o prestigio social; e por vezes movem-nos mais os interesses mundanos que o
espírito do Evangelho. Perante estes fatos, volta a se apresentar-nos a
pergunta: «De fato, que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se perde a
própria vida?» (Mt 16,26).
Depois de
ter posto as coisas bem claras, Jesus ensinou-nos o que quer dizer pensar como
Deus: amar, com tudo o que isso comporta de renuncia pelo bem do próximo. Por
isso o seguir a Cristo passa pela cruz. É um segui-lo entranhável, porque «com
a presença de um amigo e capitão tão bom como Cristo Jesus, que se pôs na
vanguarda dos sofrimentos, tudo se pode sofrer: ajuda-nos e anima; não falha
nunca, é um verdadeiro amigo» (Santa Teresa de Ávila). E…, quando a cruz é
signo de amor sincero, converte-se em luminosa e signo de salvação.
“Ou pensamos como
Deus, ou pensamos como o mundo”
Pe. Antonio Rivero L.C.
São Gregório Magno, Papa |
Quando
Jesus anuncia por primeira vez que vai a Jerusalém para padecer e que será
entregue à morte ali, e ressuscitará ao terceiro dia, se encontra com a reação,
de boa fé, mas exagerada, de Pedro que quer impedir esse fracasso a Cristo. A
resposta de Jesus hoje não é certamente de louvor, como no domingo passado, mas
uma das mais duras palavras que saíram da boca de Jesus: “Afasta-te de mim,
Satanás”. Cristo o convida- nos convida- a pensar como Deus e não como os
homens.
Em primeiro
lugar, os homens, pensamos de ordinário em clave de êxito, e não de fracasso.
E, quando o êxito não vem, nos invade a depressão, o desânimo e a tristeza.
Perguntemos se não é assim, ao profeta Jeremias na primeira leitura. Profeta do
tempo final do desterro e figura de Jesus no seu caminho de paixão, e de todo
cristão que quiser ser consequente com a sua fé. Era jovem e o ministério que
lhe foi conferido não era nada fácil: anunciar desgraças, se nos mudavam de
conduta e inclusive de planos políticos de alianças. Ninguém deu bola.
Perseguiram-no e o ridicularizaram. Não encontrou apoio nem na sua família nem
na sociedade. Jeremias sofreu angustia, crise pessoal e pensou em abandonar a
sua missão profética. Que fácil acomodar-se às palavras dos governantes e do
povo para ganhar o êxito e o aplauso! Os profetas verdadeiros, os cristãos
verdadeiros, não costumam ser populares e frequentemente terminam mal por
denunciar injustiças. Nesses momentos, olhemos Cristo no Getsemani.
Em segundo
lugar, os homens, pensamos de ordinário em clave de poder e ambição, e não de
humildade e desprendimento. Não entra na cabeça de Pedro a ideia da humilhação,
do despojo, do último lugar. Não tinha entendido que toda autoridade deve ser
exercida como serviço, e não como domínio. Faltava tanto para amadurecer.
Pensamos como homens e não como Deus. E quando Pedro entendeu, enfrentou todo
tipo de perseguições, até a morte final em Roma, em tempos de Nero, como
testemunha de Cristo. Os projetos humanos vão por outros caminhos, de vantagens
materiais e manipulações para poder prosperar e ser mais que os outros e
dominar quantos mais, melhor. Mas os projetos de Deus são outros.
Finalmente,
os homens, pensamos de ordinário em clave de comodidade, e não de cruz. Nem
Pedro nem nós gostamos da cruz, já seja ela física-doenças-, moral-abandono,
calúnia, incompreensão - ou espiritual - noites escuras da alma que nada e nem
sente; somente existe um túnel escuro. Quem gosta da cruz? Jesus já nos avisou.
Não nos prometeu que o seu seguimento seria fácil e cômodo. “Carrega a cruz e
segue-me”. Preferimos um cristianismo “ao cardápio”, aceitando algumas coisas do
evangelho e omitindo outros. Queremos Tabor, não Calvário. Queremos consolo e
euforia, não renuncia nem sacrifício. A cruz que temos, talvez, como enfeite
nas paredes ou pendurada no pescoço. Mas que essa cruz penetre nas nossas
carnes e nos nossos corações, de jeito nenhum. São Paulo nos dá a clave na
segunda leitura de hoje aos romanos para quando nos visitar a cruz de Cristo:
oferecer-nos a Deus como oferenda viva, santa e agradável a Deus. Somente assim
pensaremos como Deus.
Para refletir: Pensamos como Deus em matéria de
negócios, de moral sexual, de política, de relações humanas? Diz o papa
Francisco: “O mundanismo espiritual que se esconde detrás de aparências de
religiosidade e inclusive de amor à Igreja, é buscar, em lugar da glória do
Senhor, a glória humana e o bem estar pessoal… Se invadisse a Igreja (este
mundanismo) seria infinitamente mais desastroso do que qualquer outro
mundanismo simplesmente moral” (Evangelii gaudium, n. 93).
Qualquer sugestão ou
dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:
arivero@legionaries.org
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