São Rafael Kalinowiski Presbítero de nossa Ordem |
Evangelho
(Lc 20,27-40): Naquele tempo,
aproximaram-se de Jesus alguns saduceus, os quais negam a ressurreição, e lhe
perguntaram: «Mestre, Moisés deixou-nos escrito: Se alguém tiver um irmão
casado e este morrer sem filhos, deve casar-se com a mulher para dar descendência
ao irmão. Ora, havia sete irmãos. O primeiro casou e morreu, sem deixar filhos.
Também o segundo e o terceiro se casaram com a mulher. E assim os sete: todos
morreram sem deixar filhos. Por fim, morreu também a mulher. Na ressurreição,
ela será esposa de qual deles? Pois os sete a tiveram por esposa». Jesus respondeu-lhes: «Neste mundo, homens e
mulheres casam-se, mas os que forem julgados dignos de participar do mundo
futuro e da ressurreição dos mortos não se casam; e já não poderão morrer, pois
serão iguais aos anjos; serão filhos de Deus, porque ressuscitaram. Que os
mortos ressuscitam, também foi mostrado por Moisés, na passagem da sarça
ardente, quando chama o Senhor de Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó.
Ele é Deus não de mortos, mas de vivos, pois todos vivem para ele». Alguns
escribas responderam a Jesus: «Mestre, falaste muito bem». E não mais tinham
coragem de lhe perguntar coisa alguma.
«Ele é Deus não de
mortos, mas de vivos, pois todos vivem para ele»
Rev. D.
Ramon CORTS i Blay (Barcelona,
Espanha)
Hoje, a
Palavra de Deus nos fala do tema capital da ressurreição dos mortos.
Curiosamente, como os saduceus, também nós não nos cansamos de formular
perguntas inúteis e fora do lugar. Queremos solucionar as coisas do além com os
critérios daqui de baixo, quando no mundo que está por vir tudo será diferente:
«mas os que serão julgados dignos do século futuro e da ressurreição dos mortos
não terão mulher nem marido». (Lc 20,35). Partindo de critérios errados
chegamos a conclusões errôneas.
Se nos
amassemos mais e melhor, não estranharíamos que no céu não houvesse a
exclusividade do amor que vivemos na terra, totalmente compreensível devido à
nossa limitação, que nos dificulta o poder sair de nossos círculos mais
próximos. Mas no céu nos amaremos todos e com um coração puro, sem invejas, nem
receios e, não somente ao esposo ou à esposa, aos filhos ou aos do nosso
sangue, mas sim a todo o mundo, sem exceções, nem discriminações de língua,
nação, raça ou cultura, uma vez que o «amor verdadeiro alcança uma grande
força» (São Paulino de Nola).
Faz-nos
muito bem escutar essas palavras da Escritura que saem dos lábios de Jesus.
Faz-nos bem, porque nos poderia suceder que, agitados por tantas coisas que não
nos deixam nem tempo para pensar e influenciados por uma cultura ambiental que
parece negar a vida eterna, chegássemos a estar tocados pela dúvida com
respeito a ressurreição dos mortos. Sim, nos faz um grande bem que o Senhor
mesmo seja quem nos diga que existe um futuro além da destruição do nosso corpo
e deste mundo que passa: «Por outra parte, que os mortos hão de ressuscitar é o
que Moisés revelou na passagem da sarça ardente (Ex 3,6), chamando ao Senhor:
Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacó» (Lc 20,37-38).
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
*
Lucas 20,27: A ideologia dos Saduceus
O evangelho de hoje começa com esta
afirmação:“Os saduceus afirmam que não existe ressurreição”. Os saduceus eram
uma elite aristocrata de latifundiários e comerciantes. Eram conservadores. Não
aceitavam a fé na ressurreição. Naquele tempo, esta fé começava a ser valorizada
pelos fariseus e pela piedade popular. Ela animava a resistência do povo contra
a dominação tanto dos romanos como dos sacerdotes, dos anciãos e dos próprios
saduceus. Para os saduceus, o reino messiânico já estava presente na situação
de bem-estar que eles estavam vivendo. Eles seguiam a assim chamada “Teologia
da Retribuição” que distorcia a realidade. Segundo esta teologia, Deus retribui
com riqueza e bem-estar os que observam a lei de Deus, e castiga com sofrimento
e pobreza os que praticam o mal. Assim, se entende por que os saduceus não
queriam mudanças. Queriam que a religião permanecesse tal como era, imutável
como o próprio Deus. Por isso, para criticar e ridicularizar a fé na
ressurreição, contavam casos fictícios para mostrar que a fé na ressurreição
levaria a pessoa ao absurdo.
*
Lucas 20,28-33: O caso fictício da mulher que casou sete vezes
Conforme a lei da época, se o marido morre
sem filhos, o irmão dele deve casar com a viúva do falecido. Era para evitar
que, caso alguém morresse sem descendência, a propriedade dele passasse para
outra família (Dt 25,5-6). Os saduceus inventaram a história de uma mulher que
enterrou sete maridos, irmãos um do outro, e ela mesma acabou morrendo sem
filho. E eles perguntam a Jesus: “E agora, na ressurreição, de quem a mulher
vai ser esposa? Todos os sete se casaram com ela!" Caso inventado para mostrar
que a fé na ressurreição cria situações absurdas.
*
Lucas 20,34-38: A resposta de Jesus que não deixa dúvida
Na resposta de Jesus transparece a irritação
de quem não aguenta fingimento. Jesus não aguenta a hipocrisia da elite que
manipula e ridiculariza a fé em Deus para legitimar e defender seus próprios
interesses. A sua resposta tem duas partes:
1) vocês não entendem nada de ressurreição: "Nesta
vida, os homens e as mulheres se casam, mas os que Deus julgar dignos da
ressurreição dos mortos e de participar da vida futura, não se casarão mais,
porque não podem mais morrer, pois serão como os anjos. E serão filhos de Deus,
porque ressuscitaram” (vv. 34-36). Jesus explica que a condição das pessoas
depois da morte será totalmente diferente da condição atual. Depois da morte já
não haverá mais casamento, mas todas serão como os anjos no céu. Os saduceus
imaginavam a vida no céu igual à vida aqui na terra.
2) vocês não entendem nada de Deus: “E que os mortos
ressuscitam, já Moisés indica na passagem da sarça, quando chama o Senhor de 'o
Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó'. Deus não é Deus de mortos,
mas de vivos, pois todos vivem para ele." No fim, Jesus conclui: “Nosso
Deus não é um Deus de mortos, mas sim de vivos! Vocês estão muito errados!” Os
discípulos e as discípulas, que estejam de sobreaviso e aprendam! Quem estiver
do lado destes saduceus estará do lado oposto de Deus!
* Lucas 20,39-40: A reação dos
outros frente à resposta de Jesus
“Alguns doutores da Lei disseram a Jesus:
"Foi uma boa resposta, Mestre." E ninguém mais tinha coragem de
perguntar coisa nenhuma a Jesus”. Muito
provavelmente, estes doutores da lei eram dos fariseus, pois os fariseus
acreditavam na ressurreição (cf Atos 23,6).
Para um
confronto pessoal
1. Como
hoje os grupos de poder imitam os saduceus e armam ciladas para impedir
mudanças no mundo e na igreja?
2. Você
acredita na ressurreição? Dizendo que crê na ressurreição, você pensa em algo
do passado, do presente ou do futuro? Já aconteceu alguma vez uma experiência
de ressurreição em sua vida?
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