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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

XXVII Domingo do Tempo Comum

Evangelho (Lc 17,5-10): Os apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta a nossa fé!». O Senhor respondeu: «Se tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria.  Se alguém de vós tem um servo que trabalha a terra ou cuida dos animais, quando ele volta da roça, lhe dirá: ‘Vem depressa para a mesa?’ Não dirá antes: ‘Prepara-me o jantar, arruma-te e serve-me, enquanto eu como e bebo. Depois disso, tu poderás comer e beber?’ Será que o senhor vai agradecer o servo porque fez o que lhe havia mandado? Assim também vós: quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: ‘Somos simples servos; fizemos o que devíamos fazer’».

«Somos simples servos; fizemos o que devíamos fazer».

+ Rev. D. Josep VALL i Mundó (Barcelona, Espanha).

Hoje, Cristo fala-nos mais uma vez de serviço. O Evangelho insiste sempre no espírito de serviço. Para isso, ajuda-nos a contemplação do Verbo de Deus encarnado — o servo de Iavé, de Isaias — que «despojou-se, assumindo a forma de escravo» (Fl 2,2-7). Cristo afirma também: «Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve» (Lc 22,27), pois «o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos» (Mt 20,28). Numa ocasião, o exemplo de Jesus concretizou-se realizando o trabalho dos escravos ao lavar os pés dos discípulos. Queria deixar bem claro, com este gesto, que seus seguidores deviam servir, ajudarem-se e, amarem-se uns aos outros, como irmãos e servidores de todos, como propõe a parábola do bom samaritano.

Devemos viver toda a vida cristã com sentido de serviço sem crer que estamos fazendo algo extraordinário. A vida familiar, profissional, e social — no mundo político, econômico, etc.— deve estar impregnada desse espírito. «Para servir, servir», afirmava São Josemaria Escrivá; ele queria expressar que para “ser útil” é preciso viver uma vida de serviço generoso e não buscar honras, glórias humanas ou aplausos.

Os antigos afirmavam o “nolentes quaerimus” — «procuramos para os cargos de governo pessoas que não os ambicionam; aqueles que não desejam figurar» — quando deviam fazer nomeações hierárquicas. Esta é a intencionalidade própria dos bons pastores dispostos a servir à Igreja como ela quer ser servida: assumir a condição de servos como Cristo. Recordemos, segundo as palavras de Santo Agostinho, como deve exercer-se uma função eclesial: «Non tam praeesse quam prodesse»; não com o mando ou a presidência, mas com a utilidade e o serviço.

“Aumenta a nossa fé!”

Stos Anjos da Guarda
Lucas reúne nos primeiros dez versículos deste capítulo diversos dizeres de Jesus sobre algumas atitudes fundamentais para a vida de quem quer segui-Lo pelo caminho do discipulado. Podemos dividir o trecho de hoje em duas partes: vv. 5-7 e vv. 8-10.

A primeira parte trata da questão da fé inabalável, que deve ser característica do discípulo. Inicia-se o diálogo com os apóstolos expressando diante de Jesus a sua insegurança quanto à sua fé: “Os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!”(v.5). Tal pedido tem outros ecos nos evangelhos. Faz-nos lembrar do pai do moço epiléptico em Marcos: “Eu tenho fé, mas ajude a minha falta de fé!”(Mc 9, 24)

É a experiência de todo (a) discípulo (a) - acreditamos em Jesus, queremos seguir a sua pessoa e o seu projeto, mas a vida se encarrega de nos demonstrar como é fraca a nossa fé - quantas caídas, traições, incoerências, recaídas! O único recurso é pedir este dom gratuito de Deus, que ninguém pode merecer, que é a fé inabalável. Do fundo no nosso ser gritamos com os Doze: “Aumenta a nossa fé!”
Com a hipérbole (exagero) típica do oriental, Jesus enfatiza tanto a necessidade da fé quanto a sua força, através das imagens do grão de mostarda (semente bem pequena), e do sicômoro - árvore mais ou menos grande que tem um sistema extensivo de raízes: “Se vocês tivessem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderiam dizer a este sicômoro: “Arranque-se daí, e plante-se no mar. E ela obedeceria a vocês.” (v. 6)

A segunda parte do trecho fala sobre a atitude correta de quem tem um ofício ou ministério dentro da comunidade cristã. Em outros trechos - como 12, 35-37 - Lucas enfatiza a gratuidade de Deus diante da escolha dos seus discípulos. Aqui temos o outro lado - a responsabilidade de quem foi chamado sem mérito algum da sua parte.

Mas, o ensinamento não é que os discípulos não valem nada, nem que o seu trabalho não tem valor. O ponto central é que o fato de terem desenvolvido bem as suas tarefas e missão não lhes dá o direito de exigir a graça de Deus, por causa dos seus méritos. Tal graça é, e sempre será, um dom gratuitamente oferecido.

Hoje nós estamos na mesma situação dos apóstolos - fomos chamados à fé sem mérito algum da nossa parte. Agradecendo a Deus por este dom, procuremos sempre mais aprofundar essa fé, não nos contentando com uma mera adesão intelectual aos dogmas mas assumindo a nossa parte - a de cumprir bem a missão recebida, sem nos vangloriarmos disso, pois se nós conseguimos fazer bem as coisas, também é porque podemos contar com a graça de Deus. Sem falsa humildade, mas também sem vaidade, devemos rezar: “Somos empregados inúteis; fizemos o que devíamos fazer” (v. 19)

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