Textos: Gn 15, 5-12. 17-18; Fl 3, 17 4,1: Lc
9, 28b-36
Evangelho
(Lc 9,28-36): Uns oito dias depois
destas palavras, Jesus levou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu à montanha
para orar. Enquanto orava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou
branca e brilhante. Dois homens conversavam com ele: eram Moisés e Elias.
Apareceram revestidos de glória e conversavam sobre a saída deste mundo que
Jesus iria consumar em Jerusalém. Pedro
e os companheiros estavam com muito sono. Quando acordaram, viram a glória de
Jesus e os dois homens que estavam com ele. E enquanto esses homens iam se
afastando, Pedro disse a Jesus: «Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três
tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias». Nem sabia o que
estava dizendo. Estava ainda falando, quando desceu uma nuvem que os cobriu com
sua sombra. Ao entrarem na nuvem, os discípulos ficaram cheios de temor. E da
nuvem saiu uma voz que dizia: «Este é o meu Filho, o Eleito. Escutai-o!».
Enquanto a voz ressoava, Jesus ficou sozinho. Os discípulos ficaram calados e,
naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.
«Jesus subiu à montanha
para orar»
Rev. D. Jaume GONZÁLEZ i Padrós (Barcelona, Espanha)
Hoje,
segundo Domingo da Quaresma, a liturgia da palavra traz-nos invariavelmente o
episódio evangélico da Transfiguração do Senhor. Este ano, com os matizes
próprios de São Lucas.
O
terceiro evangelista é quem mais salienta o Jesus orante, o Filho que está
permanentemente unido ao Pai através da oração pessoal, às vezes íntima,
escondida, outras vezes na presença dos Seus discípulos, cheia da alegria do
Espírito Santo.
Consideremos,
então, que Lucas é o único dos sinópticos que começa a narração deste relato
assim: «Jesus (...) subiu à montanha para orar» (Lc 9,28), e que, portanto,
também é o que especifica que a transfiguração do Mestre se produziu «Enquanto
orava» (Lc 9,29). Este não é um fato de importância secundária.
A
oração é apresentada como o contexto, natural, para a visão da glória de
Cristo: quando Pedro, João e Tiago acordaram, «viram a glória de Jesus» (Lc
9,32). Não só a glória dele, mas também a glória que Deus já manifestara na Lei
e nos Profetas; estes —diz o evangelista— «Apareceram revestidos de glória» (Lc
9,31). Efetivamente, também eles encontram o próprio esplendor quando o Filho
fala ao Pai no amor do Espírito. Assim, no coração da Trindade, a Páscoa de
Jesus, «a saída deste mundo que Jesus iria consumar em Jerusalém» (Lc 9,31) é o
sinal que manifesta o desígnio de Deus desde sempre, levado a cabo no seio da
história de Israel, até ao seu cumprimento definitivo na plenitude dos tempos,
na morte e ressurreição de Jesus, o Filho encarnado.
Convém-nos
recordar, nesta Quaresma e sempre, que só deixando aflorar o Espírito de
piedade na nossa vida, estabelecendo com o Senhor uma relação familiar,
inseparável, poderemos gozar a contemplação da sua glória. É urgente
deixarmo-nos impressionar pela visão do rosto do Transfigurado. À nossa
vivência cristã, talvez sobrem palavras e falte espanto, aquele que fez de
Pedro e dos seus companheiros testemunhas autênticas do Cristo vivo.
Subamos a colina do
Tabor.
Pe. Antonio Rivero, L.C.
Depois
de ter lido e meditado no domingo passado a luta contra as tentações e o mal,
hoje com a passagem da transfiguração temos assegurado que a vida cristã
termina com a vitória e a glorificação, se lutarmos com e do lado de Cristo.
Reflitamos na colina do Tabor. Sabemos que Ocidente repousa sobre três colinas:
a Acrópoles, o Capitólio e o Gólgota. A Acrópoles está em Atenas e Atenas deu
ao mundo o homem livre e pensador. O Capitólio está em Roma e Roma nos deu o
homem do direito e do império. O Gólgota está em Jerusalém, que deu a síntese
dos homens ateniense e romano: o homem livre, não “de” mas “para”, o
mandamento, a Igreja ecumênica e os destinos eternos. Portanto, Ocidente
descansa, culturalmente, sobre estas colinas: liberdade, direito e religião.
Em
primeiro lugar, tem uma quarta colina, que se levanta do chão apenas uns 588
metros, mas gloriosa pela glória do Filho de Deus que brilho no seu topo, que
transtorna o sentido e transfigura a visão de Atenas, de Roma e de Jerusalém. E
essa colina é o Tabor. E um dia Jesus deixou no pé da montanha os apóstolos e,
com Pedro, João e Tiago, subiu ao seu cume, no momento em que descia uma nuvem
branca, redonda e luminosa, que a cobriu. Na nuvem vinha Deus e, com Ele, os
homens de grande expoente na história de Israel, Moisés, legislador de Deus e
libertador do seu povo Israel. E Elias, vidente de Israel e defensor da
religião de Javé. Vinham para celebrar com Jesus, e nunca melhor dito, uma
reunião de topo. Nesse topo Jesus autorizou por única vez, e que não serviu de
precedente, que a divindade saísse pelos poros do corpo e o convertesse, pela
luz da sua glória, em homem de alabastro luminoso na altura da colina e da
noite. Falou então o seu Pai e fez a revelação mais transcendental da história:
“Este é o meu Filho, o predileto, escutai-o”.
Em
segundo lugar, por que não subimos também nós nessa colina do Tabor? Atrevo-me
a gritar desde aqui: “Homens e mulheres livres de Jesus Cristo, os que viveis
instalados na montanha mágica do bem-estar material, os satisfeitos com a vossa
transfiguração econômica, rejeitai, por favor, a saída de tom burguês de São
Pedro e hoje comum a tantos: “Que bem se está aqui…!”. Pedro não sabia o que
dizia, esse coitado. Olhai para baixo, onde vivem mal os desgraçados do vale e
os proletariados da vida- que tanto nos recorda e nos recorda até à saciedade o
Papa Francisco-: os que carecem das primárias e urgentes liberdades de um
trabalho, um salário, um seguro, uma pensão, um prestígio, um saber, um futuro
pessoal e familiar. Estas são as urgências de um filho da liberdade, de um
filho de homem, de um filho de Deus. A estes, escutai-os!”.
Finalmente,
e continuo gritando desde o cume plano do Tabor, cuja glória muda totalmente a
visão do Capitólio de Roma e o sentido do homem do direito imperial: “Homens e
mulheres com os direitos humanos de Jesus Cristo, os que viveis instalados na
montanha fastuosa do poder (político, religioso, econômico, social, cultural),
satisfeitos com a vossa própria transfiguração social, rejeitai, por favor, a
ideia classista de São Pedro: “Façamos aqui três chalés residenciais…”. Para
quem? E para os outros, que? Pedro não sabia o que dizia. Olhem para baixo,
onde pululam como formigueiro os párias das terras. Os explorados pelo ditador
político, cultural, sindical, fiscal. Ou pelo negreiro das terras, Fazenda
estatal, sindicato político, empresário ou trabalhador. Mais os marginalizados
sem título de um prestígio na parede, sem um livro na cabeça nem no coração a
esperança de um dia levantar a cabeça. A este, temos que escutar”. E se me
permitirem, continuo gritando hoje assim: “Homens e mulheres de Jesus Cristo,
os que viveis instalados na montanha mística dessa religiosidade, os
satisfeitos da vossa transfiguração espiritual, rejeitai, por favor, o
desproposito pietista de São Pedro: “Que bem…! Façamos três chalés
residenciais”. A desfrutar da glória, não é mesmo? E dos outros, os que se
afastaram de Deus, prescindiram da redenção, os de costas à Igreja, os
matrimônios fracassados e em outras uniões, os jovens que não pisam a Igreja…
que?”.
Para
refletir: Prefiro
esse quietismo cômodo e egoísta de São Pedro, quando sei que só 1 de cada 4
ouviu falar de Cristo, e de 10, só 2 se aproximam da Igreja? Sou dos que beijam
Deus na Igreja e fora dela o jogam na esquina, ou seja, deixam de lado o homem
pobre, necessitado, agnóstico, indiferente ou de outra cultura? Não são estes
os filhos prediletos de Deus, a carne de Cristo, como nos diz o Papa Francisco?
Para
rezar: Senhor, dai-me
forças para subir a colina do Tabor. Dai-me olhos para ver a vossa glória e
formosura, e desde ali ver as necessidades dos meus irmãos. Dai-me coração para
sentir a vossa beleza e me comover diante do meu irmão pobre, que vos
representa. Dai-me ouvidos para escutar a voz do vosso Pai e a voz dos meus
irmãos excluídos. Dai-me pés para descer dessa colina rapidamente e ir e buscar
esses irmãos e levá-los a essa colina do Tabor para que também eles façam a
experiência de Vós e do vosso amor. E transfigurem a sua dor em gozo.
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre
Antonio neste e-mail:
arivero@legionaries.org
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