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terça-feira, 7 de abril de 2015

O sentido do domingo da Páscoa e da oitava a partir dos Padres da Igreja.

Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA)

Introdução
A Páscoa é a festa das festas, na expressão de Gregório de Nazianzo e em outros padres da Igreja, na qual Jesus Cristo saiu vitorioso da morte. Aludindo também a nossa páscoa, aqueles e aquelas que acreditarem na ressurreição da carne para a vida eterna, essa é a palavra final do Deus Uno e Trino para todas as pessoas que amaram a Deus, ao próximo como a si mesmo. Deus Pai ressuscitou o seu Filho, não deixando-o na morte. Como esta festa é grandiosa, é celebrada não só no dia pascal mas também em outros dias, como a oitava e durante todo o período da Páscoa. Os padres da Igreja colocam-nos ensinamentos sobre a ressurreição de Jesus, na qual esta verdade de fé nos concedeu a alegria de uma nova criação, de um novo êxodo para assim viver a superação da morte eterna. Como diz Agostinho é preciso ter fé nele, porque Aquele que morreu, ressuscitou dos mortos, de modo que agora o Ressuscitado não é visto, mas Ele está conosco. A seguir nós temos considerações dos primeiros teólogos cristãos, os padres da Igreja sobre o domingo da Páscoa e da oitava que segue a grande a festa.

Domingo da Páscoa
A obra "Odes de Salomão", escrito cristão do final do segundo e início do terceiro século, tem presente a Páscoa da ressurreição do qual afirma que o sol da justiça manifestou-se não proveniente dos céus, mas dos infernos, da mansão dos mortos. De fato algo de extraordinário ocorreu: os infernos tornaram-se imagens do Oriente e o sol da justiça se levantou daquela parte (cf. Ml 3,20) porque Cristo Jesus desceu para iluminar aqueles que estavam em baixo, por meio da sua morte, e saiu para iluminar aqueles e aquelas que estavam no alto por meio da sua ressurreição. Ele alegrou aqueles e aquelas que estavam nos infernos (mansão dos mortos), iluminou aqueles e aquelas que habitavam sobre a terra, deu alegria para aqueles e aquelas que estavam nos céus. Ele ao descer na mansão dos mortos, ressuscitou os mortos para dessa forma sair para os céus e anunciar a felicidade aos seres espirituais. A obra Odes de Salomão tem presente a ação de Jesus Cristo como Ressuscitado dos mortos. O Criador de Adão visitou Adão nos infernos: desceu e o chamou na região inferior, ele que o colocou entre as árvores do paraíso. Aquela mesma voz que o chamou entre as árvores, desceu para chamá-lo entre os mortos. Se a chamada entre as árvores Adão respondeu com angústia, porque tinha pecado, agora entre os que dormiam, respondeu ao Cristo com alegria. Na região das trevas, o Senhor Jesus o chamou e esse foi logo ao encontro do Senhor, porque o débito por ele realizado foi pago pelo seu Senhor e a sua debilidade fora reparada. Então ele levantou a sua cabeça com confiança e o fez sair da região dos prisioneiros. Dessa forma, o Senhor Jesus deu uma nova condição de vida para o gênero humano, homem e mulher. Assim, a morte que fez morrer a todos, morreu pela morte de um só e pelo poder que tudo submeteu foi destruído pela ressurreição de um só: Jesus Cristo.

Segunda Feira na oitava da Páscoa
São Jerônimo coloca-nos reflexões bonitas a respeito da segunda-feira da Páscoa. Ele diz que todo o saltério canta Nosso Senhor Jesus na qual possui a chave de Davi, que abre e ninguém fecha, é Ele que fecha e ninguém abre (cf. Ap 3,7). No entanto anuncia-se de uma forma evidente pelo Salmo 117(118) o mistério da ressurreição. É Ele que na sua subida vitoriosa ao Pai dá a ordem aos anjos de abrir as portas da justiça para entrar e confessar o Senhor (cf. 117, 118,19). Ou também pelo saltério encontramos a referência que diz que as portas antigas deveriam se elevar para que entrasse o rei da glória (cf. Sl 23,4, 7-9). É coisa linda que se mande as portas levantarem-se pelo desígnio de salvação, do mistério da encarnação e da vitória sobre a cruz, na retornou o Senhor ao céu, maior de quando veio sobre a terra. Esta é a porta do Senhor e os justos nela entrarão (Sl 117(118), 20). Através desta porta entrou Pedro, Paulo, os apóstolos, os mártires e cada dia entram os santos e as santas. Tenham confiança e esperem que seja assim também para vocês. O salmo fala não só em uma categoria de pessoas, mas dos justos e das justas que nela entrarão. Quem age na justiça e mereça ser enumerado entre os justos e as justas do Senhor entrará através da porta, que é o Senhor Jesus Ressuscitado.

Terça feira na oitava da Páscoa
O papa Leão Magno(440-461) falou a respeito da terça feira da oitava da Páscoa como participantes da ressurreição neste corpo. A observância dos quarenta dias em preparação à Páscoa do Senhor possibilitou a experiência da cruz no tempo da paixão do Senhor para que assim participássemos da ressurreição de Cristo, passando da morte à vida (cf. Jo 5, 24), enquanto vivamos neste corpo. O povo de Deus reconheça ser uma nova criatura (cf. 2 Cor 5,17) e com ânimo vivo compreenda por quem essa criatura foi assumida e o que tenha acolhido nela, de modo que não se torne criatura velha. Ninguém recaia nesta situação também se a fragilidade do corpo é ainda enfraquecida, mas deseje ardentemente ser curada e de poder elevar-se até às alturas. De fato é esse o caminho da salvação e a imitação da ressurreição iniciada por Cristo Jesus que transferiu os nossos passos do terreno escorregadio àquele sólido, pela sua vida nova dada a nós. Leão convida os féis para ressurgir de toda a caída no pecado ou limitação para assim alcançar a ressurreição da carne que será glorificada em Jesus Cristo, Nosso Senhor, que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos.

Quarta feira na oitava da Páscoa
Cipriano de Cartago teve presentes considerações a respeito da quarta feira depois da Páscoa. Ele observa as considerações de Paulo para que ninguém se desespere na morte de seus caros, familiares para não cair na tristeza como se não tivesse mais esperança, mas pelo fato de que se acredita em Jesus que morreu e ressuscitou, cremos que Deus por meio de Jesus, conduzirá os mortos à ressurreição (cfr. 1Ts 4,13-14). Nós que vivamos de esperança, temos fé em Deus, acreditamos que Cristo sofreu por nós e ressuscitou dos mortos, permaneçamos em Cristo para ressurgir por meio dele e nele. Quando Jesus diz que é a ressurreição e aquele que acredita nele, também se morre viverá e aqueles que vivem e crêem nele não morrerão para sempre (cf. Jo 11,25-26), devem possibilitar fé em Cristo nas suas palavras e nas suas promessas para assim jamais morrer, com confiança alegre de andar com Cristo, com o qual viveremos e reinaremos para sempre. A morte não é um fim, mas uma passagem à vida eterna ao final do caminho neste mundo. Quem não desejaria receber o quanto antes a forma de Cristo e a dignidade da graça celeste? O Cristo Jesus promete-nos a transformação para que nós possamos nos alegrar com Ele nas demoras eternas e no reino dos céus.

Quinta feira na oitava da Páscoa
Nós queremos trazer para o povo de Deus as considerações de Agostinho de Hipona. Quem passou da morte à vida, ressuscitou. Ele interpreta desta forma as palavras de João (cf. Jo 5,24) que quem acredita nas palavras de Jesus tem a vida eterna, passando da morte à vida. Agostinho afirma que ninguém passaria da morte à vida se antes não fosse morto, privado da vida, mas uma vez ressuscitado será vivo e não mais morto. A ressurreição se realiza quando as pessoas passam da morte à vida. O Senhor Jesus fez-nos conhecer uma primeira ressurreição dos mortos que precede à ressurreição dos mortos, a segunda ressurreição, a final dos tempos. Não se trata de uma ressurreição como aquela de Lázaro, ou do filho da viúva de Naim e outros relatos nas quais Jesus ressuscitou as pessoas de sua morte porque elas ressuscitaram para depois morrerem de novo, mas se trata daquela que tem a vida eterna porque a pessoa passa da morte à vida eterna. Os mortos que ressurgirão no fim do mundo passarão à vida eterna. Dessa forma para Agostinho é claro o ponto de que se nós acreditarmos em Jesus e fizermos o bem, pela morte, somos já ressuscitados através da primeira ressurreição, de modo que esperamos a outra ressurreição ao fim do mundo.

Sexta feira na oitava da Páscoa
Basílio de Silêucia compreende que o lenho da cruz trouxe o triunfo. É inexprimível o amor de Cristo para todas as pessoas no mundo de modo que enriqueceu a sua Igreja. Aquele que é grande nos pensamentos e potente nas obras (cf. Jr 3,19) nos resgatou da maldição da Lei (cf. Gl 3,13), libertou-nos do antigo documento escrito pelo nosso débito (cf. Cl 2,14). Sobre a cruz triunfou Jesus sobre aquele que o enganara (Adão) por meio de um lenho, de uma árvore. Pelo túmulo que o acolheu por três dias, fez a porta da ressurreição. A todos quantos estranharam os sofrimentos da promessa, concedeu-lhes os mistérios celestes. A quantos eram sem Deus neste mundo, deu-lhes a graça de serem templos da Trindade pela graça de sua ressurreição.

Sábado na oitava da Páscoa
Agostinho de Hipona fala para os seus féis para terem fé, porque Aquele que não se vê, está com a pessoa. Ele fala dessa forma ao interpretar o encontro do Senhor Jesus ressuscitado dos mortos com os dois discípulos que falam das coisas ocorridas na cidade santa de Jerusalém. Tendo Jesus aparecido no meio deles, viam-no, mas não o reconheceram. O Mestre caminhava com eles no caminho, sendo Ele mesmo o caminho, mas eles não caminhavam no caminho verdadeiro. Ele tinha dito antes da paixão que sofreria, morreria e ressurgiria no terceiro dia. Jesus tinha predito toda coisa, mas a sua morte foi para eles uma perda de memória. Cristo vive e a esperança neles é morta. O Cristo vivente encontra mortos os corações dos discípulos. Ele era visível e também escondido para eles. Ainda que caminhasse com eles no caminho como um companheiro, era Jesus ressuscitado quem os conduzia. Eles eram incapazes não de vê-lo, mas de reconhecê-lo. Porém na fração do pão quis Ele ser reconhecido. Temos a certeza de que ao repartir o pão, reconhecemos o Senhor. Ele quis esse reconhecimento por causa nossa, que nós não o tínhamos visto na carne, porém o comamos na sua carne, pelo pão eucarístico. A fração do pão é a nossa consolação porque manifesta a sua ressurreição. Deste modo é preciso ter fé porque aquele que não se vê, está conosco.

Conclusão
O sentido da Páscoa e da Oitava tiveram considerações lindas a partir dos padres da Igreja. Eles viveram o mistério da ressurreição em unidade com Cristo Jesus e com a comunidade. Para eles, a Páscoa é a alegria da vida sobre a morte a partir de Jesus Cristo. È a passagem de sua morte para a vida. Cristo sofreu pelo ser humano, homem e mulher, morreu na cruz e ressuscitou dos mortos por Deus Pai pelo seu Espírito. Nós afirmamos que o mistério da morte de cada pessoa humana é bem lembrado pelos padres por uma doutrina sobre a ressurreição dos corpos a partir da ressurreição de Jesus. Hoje fazemos Páscoa todos os dias quando superamos o egoísmo, o individualismo, para se dar na generosidade e no serviço aos outros. Nós ressurgimos com Cristo quando amamos a vida familiar, comunitária, social dando testemunho da verdade e do amor em Deus para um dia ressurgir para sempre com Jesus Cristo no Espírito Santo na unidade com o Pai para sempre.

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