Textos: Atos 10, 34.37-43; Col 3,
1-4; Jo 20, 1-9
Evangelho
(Jo 20,1-9): No primeiro dia da semana,
bem de madrugada, quando ainda estava escuro, Maria Madalena foi ao túmulo e
viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo. Ela saiu correndo e foi se
encontrar com Simão Pedro e com o outro discípulo, aquele que Jesus mais amava.
Disse-lhes: «Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o colocaram». Pedro e o outro discípulo saíram e foram ao
túmulo. Os dois corriam juntos, e o outro discípulo correu mais depressa,
chegando primeiro ao túmulo. Inclinando-se, viu as faixas de linho no chão, mas
não entrou. Simão Pedro, que vinha seguindo, chegou também e entrou no túmulo.
Ele observou as faixas de linho no chão, e o pano que tinha coberto a cabeça de
Jesus: este pano não estava com as faixas, mas enrolado num lugar à parte. O
outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo, entrou também, viu e
creu. De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura segundo a qual
ele devia ressuscitar dos mortos.
Comentário: Mons. Joan Enric VIVES i Sicília Bispo de
Urgell (Lleida, Espanha)
O outro discípulo, que
tinha chegado primeiro ao túmulo, entrou também, viu e creu
Hoje
«é o dia que o Senhor fez», iremos cantando ao longo de toda a Páscoa. Essa
expressão do Salmo 117 inunda a celebração da fé cristã, O Pai ressuscitou o
seu Filho Jesus Cristo, o Amado, Aquele em quem se compraz porque amou a ponto
de dar sua vida por todos.
Vivamos
a Páscoa com muita alegria. Cristo ressuscitou: celebremo-lo cheios de alegria
e de amor. Hoje, Jesus Cristo venceu a morte, o pecado, a tristeza… e nos abriu
as portas da nova vida, a autêntica vida que o Espírito Santo continua a nos
dar por pura graça. Que ninguém fique triste! Cristo é nossa Paz e nosso Caminho
para sempre. Ele, hoje, «revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação
sublime» (Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes 22).
O
grande sinal que nos dá o Evangelho é que o sepulcro de Jesus está vazio. Já
não temos de procurar entre os mortos Aquele que vive, porque ressuscitou. E os
discípulos, que depois o verão Ressuscitado, isto é, que o experimentarão vivo
em um maravilhoso encontro de fé, percebem que há um vazio no lugar de sua
sepultura. Sepulcro vazio e aparições serão os grandes sinais para a fé do
crente. O Evangelho diz que «o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao
túmulo, entrou também, viu e creu» (Jo 20,8). Ele soube compreender, pela fé,
que aquele vazio e, por sua vez, aquela mortalha e aquele sudário bem dobrados,
eram pequenos sinais do passo de Deus, da nova vida. O amor sabe captar, a
partir de pequenos detalhes, o que os outros, sem ele, não captam. O «discípulo
que Jesus mais amava» (Jo 20,2) guiava-se pelo amor que havia recebido de
Cristo.
O
“ver” e o “crer” dos discípulos hão de ser também os nossos. Renovemos nossa fé
pascoal. Que Cristo seja, em tudo, o nosso Senhor. Deixemos que sua Vida
vivifique a nossa e renovemos a graça do batismo que recebemos. Façamo-nos seus
apóstolos e seus discípulos. Guiemo-nos pelo amor e anunciemos a todo o mundo a
felicidade de crer em Jesus Cristo. Sejamos testemunhos esperançosos de sua
Ressurreição.
Comentário da Ordem do
Carmo em Portugal
O
texto começa com uma indicação aparentemente cronológica, mas que deve ser
entendida sobretudo em chave teológica: “no primeiro dia da semana”. Significa
que começou um novo ciclo – o da nova criação, o da Páscoa definitiva. Aqui
começa um novo tempo, o tempo do homem novo, que nasce a partir da doação de
Jesus.
A
primeira personagem em cena é Maria Madalena: ela é a primeira a dirigir-se ao
túmulo de Jesus, ainda o sol não tinha nascido, na manhã do “primeiro dia da
semana”. Ela representa a nova comunidade que nasceu da ação criadora e
vivificadora do Messias; essa nova comunidade, testemunha da cruz, acredita –
inicialmente – que a morte triunfou e vai procurar Jesus no sepulcro: é uma
comunidade perdida, desorientada, insegura, desamparada, que ainda não conseguiu
descobrir que a morte foi derrotada; mas, diante do sepulcro vazio, a nova
comunidade apercebe-se de que a morte não venceu e que Jesus continua vivo.
Na
sequência, João apresenta uma catequese sobre a dupla atitude dos discípulos
diante do mistério da morte e da ressurreição de Jesus. Essa dupla atitude é
expressa no comportamento de dois discípulos que, na manhã da Páscoa, correm ao
túmulo de Jesus: Simão Pedro e um “outro discípulo” não identificado (mas que
parece ser esse “discípulo amado”, apresentado no Quarto Evangelho como modelo
ideal do discípulo).
João
coloca, aliás, estas duas figuras lado a lado em várias circunstâncias (na
última ceia, é o “discípulo amado” que percebe quem está do lado de Jesus e
quem O vai trair – cf. Jo 13,23-25; na paixão, é ele que consegue estar perto
de Jesus no átrio do sumo sacerdote, enquanto Pedro O trai – cf. Jo
18,15-18.25-27; é ele que está junto da cruz quando Jesus morre – cf. Jo
19,25-27); é ele quem reconhece Jesus ressuscitado nesse vulto que aparece aos discípulos
no lago de Tiberíades – cf. Jo 21,7). Nas outras vezes, o “discípulo amado”
levou sempre vantagem sobre Pedro. Aqui, isso irá acontecer outra vez: o “outro
discípulo” correu mais e chegou ao túmulo primeiro que Pedro (o facto de se
dizer que ele não entrou logo pode querer significar a sua deferência e o seu
amor, que resultam da sua sintonia com Jesus); e, depois de ver, “acreditou” (o
mesmo não se diz de Pedro).
Provavelmente,
o autor do Quarto Evangelho quis descrever, através destas figuras, o impacto
produzido nos discípulos pela morte de Jesus e as diferentes disposições
existentes entre os membros da comunidade cristã. Em geral Pedro representa,
nos Evangelhos, o discípulo obstinado, para quem a morte significa fracasso e
que se recusa a aceitar que a vida nova passe pela humilhação da cruz (Jo
13,6-8.36-38; 18,16.17.18.25-27; cf. Mc 8,32-33; Mt 16,22-23). Ao contrário, o
“outro discípulo” é o “discípulo amado”, que está sempre próximo de Jesus, que
faz a experiência do amor de Jesus; por isso, corre ao seu encontro de forma
mais decidida e “percebe” – porque só quem ama muito percebe certas coisas que
passam despercebidas aos outros – que a morte não pôs fim à vida.
Esse
“outro discípulo” é, portanto, a imagem do discípulo ideal, que está em
sintonia total com Jesus, que corre ao seu encontro com um total empenho, que
compreende os sinais e que descobre (porque o amor leva à descoberta) que Jesus
está vivo. Ele é o paradigma do Homem Novo, do homem recriado por Jesus.
Comentários de Frei
Carlos Mesters, OCarm.
Os
quatro evangelhos relatam os acontecimentos do Dia da Ressurreição, cada um de
acordo com as suas tradições e visão teológica. Mas, certos elementos são
comuns a todos: o fato do túmulo vazio, que as primeiras testemunhas eram as
mulheres (embora divirjam quanto ao seu número e identidade e o motivo da sua
ida ao túmulo - para ungir o corpo, ou para vigiar e lamentar), e que uma delas
era Maria Madalena. Podemos tirar disso a conclusão que as mulheres tinham
lugar muito importante entre o grupo dos discípulos de Jesus, e que elas eram
mais fiéis do que os homens, seguindo Jesus até a Cruz e além dela!
Infelizmente, outras gerações fizeram questão de diminuir a importância das
discípulas na Tradição - e a Igreja sofre até hoje as consequências.
Fica
claro que ninguém esperava a Ressurreição. Para os Doze, especialmente, a Cruz
era o fim da esperança, a maior desilusão possível. Se somarmos a isso o fato
de que todos eles traíram Jesus (por revolta, por dinheiro, ou por covardia),
podemos imaginar o ambiente pesado entre eles na manhã do Domingo. Nesse meio,
chegou Maria Madalena com a notícia de que o túmulo estava vazio - e ela,
naturalmente, pensava que o corpo tivesse sido roubado. Ressurreição - nem
pensar!
No
nosso texto, Pedro (que tem um papel importante nos textos pós-ressurrecionais)
e o Discípulo Amado (anônimo, mas quase certamente não um dos Doze, conforme os
maiores exegetas) correm até o túmulo. O texto deixa entrever a tensão
histórica que existia entre a comunidade do Discípulo Amado e a comunidade
apostólica (representada por Pedro). Pois, o Discípulo Amado espera por Pedro
(reconhece a sua primazia), mas enquanto Pedro vê sem acreditar, o Discípulo
Amado acredita. No Quarto Evangelho, Pedro só realmente vai conseguir amar
Jesus no Capítulo 21, enquanto o Discípulo Amado é o tal desde Capítulo 13. Só
quem olha com os olhos do coração, do amor, penetra além das aparências!
Como
na história dos Discípulos de Emaús (Lc 24, 13-36), o texto demonstra que a
nossa fé não pode estar baseada em um túmulo vazio! Não é o túmulo vazio que
fundamenta a nossa fé na Ressurreição, mas o contrário - é a experiência da
presença de Jesus Ressuscitado que explica porque o túmulo está vazio! Cuidemos
de não procurar bases falsas para a nossa fé no Ressuscitado!
Hoje
em dia, quando olhamos para o mundo ao nosso redor, é fácil não acreditar na
vitória da vida sobre a morte. Há tanto sofrimento e injustiça - guerra,
violência, corrupção endêmica, pobreza exagerada, terremotos, desastres e
tragédias como a de Santa Maria (RS) poucas semanas atrás, etc.! Só uma
experiência profunda da presença de Jesus libertador no meio da comunidade
poderá nos sustentar na luta por um mundo melhor, com fé na vitória final do
bem sobre o mal, da luz sobre as trevas, da graça sobre o pecado! Nós todos
somos “discípulos amados”, pois “nada nos separa do amor e Deus em Jesus
Cristo” (Rm 8), mas será que somos “discípulos amantes”? Será que amamos a
Jesus e ao próximo? Lembramos que o amor proposto pelo Evangelho, não é um
sentimento, mas uma atitude de vida, de solidariedade, de partilha, de justiça.
“O amor consiste no seguinte: não fomos nós que amamos a Deus; mas, foi Ele que
nos amou, e nos enviou o seu Filho como vítima expiatória por nossos pecados.
Se Deus nos amou a tal ponto, também nós devemos amar-nos uns aos outros” (1Jo
4, 10-11).
Que
a mensagem da Ressurreição, da vitória da vida sobre a morte, nos anime e dê
força, especialmente quando a Cruz pesar muito em nossas vidas! Aleluia!
Vivamos uma vida pascal,
pois há em nós um desejo de ser imortais.
Pe. Antonio Rivero, L.C.
Páscoa
é muito mais que uma festa ou tempo litúrgico. É um estilo de vida, um modo de
pensar, de sentir, de querer, de agir, de falar, que começa aqui na terra e se
prolonga na eternidade. Páscoa é compromisso com uma nova vida com Cristo
Ressuscitado, que implica um morrer ao homem velho e um viver segundo o homem
novo. E este compromisso começou no dia do batismo. E se prolonga na eternidade.
Em
primeiro lugar, antes da Páscoa os apóstolos atuavam de modo muito humano na
sua vida. Pensavam com categorias humanas. Reagiam e se comportavam muito
humanamente. Buscavam só as coisas daqui de baixo, como nos lembra hoje são
Paulo na sua carta aos colossenses. Agora entendemos tantos defeitos destes
apóstolos de Jesus: as suas invejas e ambições, as suas brigas e
intransigências, as suas fraquezas e debilidades, medos e covardias. A
ressurreição de Cristo lhes deu a força, a coragem e a valentia que
necessitavam para levar uma vida nova de maior entrega aos demais, uma energia
para o bem, maior valentia na luta contra mal, uma fé e esperança mais firmes.
E depois da ressurreição se lançaram a serem testemunhas da ressurreição de
Cristo por todo o mundo com ousadia, até sofrer o martírio por Ele. Sim, por
convencidos pregaram essa ressurreição que eles presenciaram; por pregá-la eles
puseram em jogo a vida e, por pôr em jogo a própria vida, perderam-na, dando o
seu sangue por Cristo. E agora vivem eternamente essa vida do
Ressuscitado.
Em
segundo lugar, pela força do testemunho e da vida destes apóstolos, detrás
deles correram à fé milhões de todas as raças, séculos, culturas, continentes,
civilizações... Por dois mil anos, como heróis. E também mudaram de vida. De
uma vida talvez dissipada a uma vida boa. De uma vida boa a uma vida melhor. De
uma vida melhor a uma vida santa. Isto é viver segundo a Páscoa. Que nos falem
santa Maria Madalena e santo Agostinho, que falem santa Catarina de Sena e são
Bernardo de Claraval; que falem santa Teresa e santo Inácio de Loiola. E que
fale cada um de nós. Cada ano nós entramos no sepulcro como são João: “vemos e
cremos”. E graças a essa fé podemos viver uma vida nova, por ter morto ao homem
velho e passional.
Finalmente,
para quem vive como disse o poeta alemão Hans Thomma: “Venho e não sei de onde,
sou e não sei quem sou, vivo sem saber quanto, morro e não sei quando, parto
sem saber para onde, maravilha-me ser feliz”, eu sim sei responder a isto:
Cristo ressuscitado dá a resposta; ou melhor, Ele é a resposta. E se a
ressurreição for mentira? Confesso que não tenho uma só razão filosófica para
rejeitar essa ideia, mas desafio a qualquer um que me mostre pelo menos uma
razão para eu refutá-la. E se a ressurreição for verdade? Confesso que não
tenho uma só razão filosófica para demonstrá-la, mas desafio a qualquer um que
me mostre uma só razão para eu refutá-la. Eu não tenho razões humanas. Mas
tenho razão: os testemunhos, vidas heroicas, mortes soberanas, das testemunhas
do ressuscitado. E quando doze homens e, milhões depois deles, morrem por
alguém é que morrem por algo: pela verdade. Quem dá mais? Levamos dentro a
ânsia de uma vida nova e o desejo de ser imortais.
Para refletir:
Percebe-se em mim a
vida nova de Cristo ressuscitado? Em que: nos meus pensamentos limpos e nobres,
nos meus afetos ordenados e puros, nas minhas palavras sinceras e autênticas,
nas minhas decisões honestas e retas?
Para
rezar: Senhor, que
também eu dê testemunho da vossa ressurreição para que os que me cercam creiam
que Vós estais vivo e eles vos sigam.
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre
Antonio neste e-mail:
arivero@legionaries.org
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