Evangelho (Mt
21,33-43.45-46): «Escutai esta outra
parábola: Certo proprietário plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, cavou
nela um lagar para pisar as uvas e construiu uma torre de guarda. Ele a alugou
a uns agricultores e viajou para o estrangeiro. Quando chegou o tempo da
colheita, ele mandou os seus servos aos agricultores para receber seus frutos.
Os agricultores, porém, agarraram os servos, espancaram a um, mataram a outro,
e a outro apedrejaram. Ele ainda mandou outros servos, em maior número que os
primeiros. Mas eles os trataram do mesmo modo. Por fim, enviou-lhes o próprio
filho, pensando: ‘A meu filho respeitarão’. Os agricultores, porém, ao verem o
filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Vamos matá-lo e tomemos posse de
sua herança! ’ Então agarraram-no, lançaram-no fora da vinha e o mataram. Pois
bem, quando o dono da vinha voltar, que fará com esses agricultores?». Eles
responderam: «Dará triste fim a esses criminosos e arrendará a vinha a outros
agricultores, que lhe entregarão os frutos no tempo certo». Então, Jesus lhes
disse: «Nunca lestes nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram,
esta é que se tornou a pedra angular. Isto foi feito pelo Senhor, e é admirável
aos nossos olhos’? Por isso vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e
entregue a um povo que produza frutos». Os sumos sacerdotes e os fariseus
ouviram as parábolas de Jesus e entenderam que estava falando deles. Procuraram
prendê-lo, mas ficaram com medo das multidões, pois elas o tinham na conta de
profeta.
Comentário: Rev.
D. Melcior QUEROL i Solà (Ribes de Freser, Girona, Espanha)
A pedra que os construtores rejeitaram, esta é
que se tornou a pedra angular.
V Centenário do Nascimento (1515-2015) |
Hoje, Jesus, por
meio da parábola dos vinhateiros homicidas, fala-nos da infidelidade; compara a
vinha com Israel e os vinhateiros com os chefes do povo escolhido. Foi a estes
e a toda a descendência de Abraão que tinha sido confiado o Reino de Deus, mas
tinham maltratado esta herança: «Por isso vos digo: o Reino de Deus vos será
tirado e entregue a um povo que produza frutos» (Mt 21,43).
No início do
Evangelho segundo São Mateus, a Boa Nova parece ser dirigida unicamente a
Israel. O povo escolhido, já na Antiga Aliança, tem a missão de anunciar e de
levar a salvação a todas as nações. Mas Israel não foi fiel à sua missão.
Jesus, o mediador da Nova Aliança, congregará à sua volta os doze Apóstolos,
símbolo do “novo” Israel, chamado a dar frutos de vida eterna e a anunciar a
todos os povos a salvação.
Este novo Israel
é a Igreja, todos os batizados. Nós temos recebido, na pessoa de Jesus e na Sua
mensagem, uma graça única que temos que fazer frutificar. Não podemos
conformar–nos com uma vivência individualista e fechada à nossa fé; há que
comunicá-la e oferecê-la a cada pessoa que está próxima de nós. Daqui decorre
que o primeiro fruto é viver a nossa fé no calor da nossa família, bem como no
da comunidade cristã. Tal será simples pois «onde estiverem dois ou três
reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles» (Mt 18,20).
Mas trata-se de
uma comunidade cristã aberta, o que quer dizer que é eminentemente missionária
(segundo fruto). Pela força e pela beleza do Ressuscitado “no meio de nós”, a
comunidade atrai através todos os seus gestos e atos, e cada um dos seus
membros goza da capacidade de envolver homens e mulheres na nova vida do
Ressuscitado. E um terceiro fruto consiste em que vivamos na convicção e na
certeza de que no Evangelho encontramos a solução para todos os problemas.
Vivamos no santo
temor de Deus, para que não aconteça que o Reino de Deus nos seja tirado e dado
a outros.
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
* O texto do
evangelho de hoje faz parte de um conjunto mais amplo que engloba Mateus
21,23-46. Os chefes dos sacerdotes e os anciãos tinham perguntado a Jesus com
que autoridade ele fazia as coisas (Mt 21,23). Eles se consideravam os donos de
tudo e achavam que ninguém podia fazer nada sem a licença deles. A resposta de
Jesus consta de três partes:
1) Ele faz uma
contra-pergunta e quer saber deles se João Batista era do céu ou da terra (Mt 21,24-27).
2) Conta a parábola
dos dois filhos (Mt 21,28-32).
3) Conta a parábola
da vinha (Mt 21,33-46) que é o evangelho de hoje.
* Mateus 21,33-40: A parábola da vinha. Jesus começa assim: "Escutem essa outra
parábola: Certo proprietário plantou uma vinha, cercou-a, fez um tanque para
pisar a uva, e construiu uma torre de guarda”. A parábola é um resumo bonito da
história de Israel, tirado do profeta Isaías (Is 5,1-7). Jesus se dirige aos
chefes dos sacerdotes, aos anciãos (Mt 21,23) e aos fariseus (Mt 21,45) e dá
uma resposta à pergunta que eles tinham feito sobre a origem da sua autoridade
(Mt 21,23). Por meio desta parábola, Jesus esclarece várias coisas:
(1) Revela qual a
origem da sua autoridade: ele é o filho, o herdeiro.
(2) Denuncia o abuso
da autoridade dos vinhateiros, isto é, dos sacerdotes e anciãos que não
cuidavam do povo de Deus.
(3) Defende a
autoridade dos profetas, enviados por Deus, mas massacrados pelos sacerdotes e
anciãos.
(4) Desmascara as
autoridades que manipulam a religião e matam o filho, porque não querem perder
a fonte de renda que conseguiram acumular para si, ao longo dos séculos.
* Mateus 21,41: A sentença dada por eles
mesmos. No fim da parábola, Jesus pergunta:
“Pois bem: quando o dono da vinha voltar, o que irá fazer com esses
agricultores?” Eles não se deram conta de que a parábola estava falando deles
mesmos. Por isso, pela resposta dada eles decretaram sua própria condenação:
“Os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: É claro que mandará
matar de modo violento esses perversos, e arrendará a vinha a outros
agricultores, que lhe entregarão os frutos no tempo certo". Várias vezes
Jesus usa esse mesmo método. Ele leva a pessoa a dizer a verdade sem ela se dar
conta de que está se condenando-se a si mesma. Por exemplo, no caso do fariseu
que condenou a moça como pecadora (Lucas 7,42-43) e no caso da parábola dos
dois filhos Mt 21,28-32).
* Mateus 21,42-46: A sentença dada por eles
mesmos é confirmada pelo comportamento deles.
Pelo esclarecimento de Jesus, os sacerdotes, os anciãos e os fariseus
entenderam que a parábola falava deles mesmos, mas eles não se converteram.
Pelo contrário! Mantiveram o seu projeto de matar Jesus. Rejeitaram “a pedra
fundamental”. Mas não tiveram a coragem de fazê-lo abertamente porque tinham
medo do povo.
* Os vários grupos no poder no tempo de Jesus. No evangelho de hoje apareceram alguns dos
grupos que, naquele tempo, exerciam o poder junto ao povo: sacerdotes, anciãos
e fariseus. Segue aqui uma breve informação sobre o poder de cada um destes e
de alguns outros grupos:
1. Sacerdotes: Eram
os encarregados do culto no Templo. Era para o Templo que o povo levava o
dízimo e as outras taxas e ofertas para pagar suas promessas. O sumo sacerdote
ocupava um lugar muito importante na vida da nação, sobretudo depois do exílio.
Era escolhido ou nomeado entre as três ou quatro famílias aristocratas, que
detinham mais poder e maior riqueza.
2. Anciãos ou Chefes do povo: Eram
os líderes locais nas várias aldeias e cidades. Sua origem vinha das chefias
das tribos de antigamente.
3. Saduceus:
Eram a elite leiga aristocrata da sociedade. Muitos deles eram ricos
comerciantes ou latifundiários. Do ponto de vista religioso eram conservadores.
Não aceitavam as mudanças defendidas pelos fariseus, como por exemplo, a fé na
ressurreição e a existência de anjos.
4. Fariseus: Fariseu significa: separado. Eles lutavam
para que, através da observância perfeita da lei da pureza, o povo chegasse a
ser puro, separado e santo como o exigiam a Lei e a Tradição! Por causa do
testemunho exemplar da sua vida dentro das normas da época, eles tinham uma
liderança moral muito grande nas aldeias da Galiléia.
5. Escribas ou doutores da lei: Eram
os encarregados do ensino. Dedicavam sua vida ao estudo da Lei de Deus e
ensinavam ao povo como fazer para observar em tudo a Lei de Deus. Nem todos os
escribas eram da mesma linha. Uns estavam ligados aos fariseus, outros, aos
saduceus.
Para um confronto pessoal
1. Alguma vez, você
já se sentiu controlada, indevidamente, em casa, no trabalho, na igreja? Qual
foi a sua reação? Como Jesus?
2. Se Jesus
voltasse hoje e contasse a mesma parábola, como eu iria reagir?
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